Uma ajuda com os menos experientes...

A escolha era um tanto simples, mas ao mesmo tempo era bem complexa. Seguir um desconhecido por um caminho sinistro? Ou ficar e lutar uma batalha aparentemente perdida? Seja lá qual fosse as opções, Gray e Rayssa decidiram seguir pelo caminho indicado pelo homem misterioso. Passaram pela fenda logo depois do encapuzado, com Gray guiando o grupo ao lado de Priscila, e uma revoltada Rayssa logo em seguida. O protesto era bem legítimo: ele deixaria de lutar pelas pessoas que ama? Deixaria o Centro Pokémon ser destruído assim, sem resistência? Não fazia sentido! Os jovens treinadores se viram em um cômodo pequeno, com uma escada improvisada que descia para um tipo de poço. Era o único caminho por ali, para baixo. Mas onde era essa abaixo?

Depois de descer as escadas, seguindo a mesma ordem de entrada, Gray era o primeiro a alcançar o solo firme. O ambiente úmido e mal cheiroso já dizia tudo: estavam nas galerias de esgoto da cidade. Depois de constatar esse óbvio, o jovem de cabelos brancos tentou dar um passo, mas foi parado antes de pousar o pé. O homem encapuzado estava diante dele, e este apontava para o rosto de Gray uma espada! - Oh, vejo que escolheram a saída burra! Talvez tenham esperança… - disse, retirando o capuz e mantendo a arma na direção de Gray. O homem já era de mais idade e tinha um tapa olho cobrindo um dos olhos, além de cicatrizes de corte por todo o rosto. Uma longa cabeleira branca presa em um coque/rabo de cavalo completava a parte visível de seu rosto. O velho solta o ar pelo nariz e guarda sua espada na bainha usando apenas uma mão. - Não se percam crianças. - começa a caminhar na direção de onde a enfermeira estava. - O nome é Akshan, mesmo que nessa linha do tempo vocês me conheçam por outro nome. - ele mantinha a espada embainhada repousada sobre o ombro - Bem vindos a Lavender. População: menos alguns milhares que foram brincar e heróis. Enfermeira, conte a esses paspalhos o que viveu. - Akshan então deixa a enfermeira para trás e segue por uma das galerias do esgoto.

A enfermeira então se aproxima dos três, coçando os olhos avermelhados e fungando um pouco. - Não levem ele tão a sério. - começou, olhando para o lado antes de continuar - Começou a alguns dias. Uma nave sobrevoou a cidade e estacionou acima da torre. Logo todos foram expulsos de lá, e esses… esses monstros tomaram conta da cidade. Prenderam as autoridades, decretaram toque de recolher, estabeleceram um pedágio. Todos os treinadores que chegam na cidade devem pagar… alguns deles somem no meio da noite. - suas mãos tremem enquanto ela fala, revivendo algum medo ou terror bem real e recente. - Akshan e seus companheiros chegaram na mesma rachadura nos céus que a nave. Eles tentaram, mas aquele homem… - sua voz falou, ficando ainda mais fina. A Chansey que estava com ela tentou ampará-la - Nunca vi um homem tão mal e perverso! Aquele cabelo branco… e aqueles olhos… - ela volta a chorar, um choro de dor e terror. O momento é interrompido por uma pequena explosão próxima a eles, e tanto a escada quando a parede do fosse de acesso que eles usaram fora derrubado. - P-pelo visto Senhor Akshan implodiu o fosso… - ela comentou, tentando se recuperar. - E-estamos indo para a base da resistência. Vocês deveriam vir. - ela disse, por fim, abraçando sua Chansey e indo para o mesmo sentido que Akshan foi.          

A pequena trupe nada convencional avançava pelos corredores dos esgotos em direção a tal base da resistência. No entanto, não necessariamente em silêncio, mas também não era para menos. Tanto Rayssa quanto Gray estavam completamente no escudo, sem informações, sem entender nada como que praticamente do nada uma cidade do tamanho de Lavender foi tomada por Rockets! A impaciência da garota era compreensível, mas não menos irritante aos ouvidos de Akshan. - Ah, você quer respostas? - ele pára, subitamente, e avança na direção da ruiva. - Bom, então vamos usar parte do nosso tempo precioso de fuga para responder as suas questões essências, não é? Primeiro, sim temos um plano. Segundo, bela observação, capitã óbvio. Terceiro, não há Rangers. Quarto, tem várias pessoas que foram deixadas para trás se recuperando na base, pode fazer um enquete com ela se chegarmos lá… - ele respondia às questões de Rayssa, com o tom de voz mais ríspido que poderia ter - E quanto a defender minha família, a última coisa que me lembro é de ver um desses desgraçados atravessando a cabeça da minha filha com uma bala. Quando voltei a mim, estava numa maca… assim. - ele faz um movimento violento e abre o lado esquerdo de seu quimono, jogando o manto para o lado, revelando uma cena horrível. Todo o seu lado esquerdo fora comprometido, havia marcas de queimaduras bem feias. Ele não possuía um braço, e no lugar da perna havia uma prótese metálica, bem surrada e gasta. - Minha filha também era faladora e gostava de fazer muitas perguntas, talvez você tenha hoje a mesma idade dela quando morreu. Quer fazer companhia a ela no céu do multiverso? - era uma pergunta retórica, tanto que ele nem esperou uma resposta - Então não me faça perder tempo.

Ele volta seu kimono ao estado normal e devolve o manto à posição original, voltando ao caminho. A enfermeira observa a cena com uma expressão de reprovação, mas volta a seguí-lo. O espaço era grande o suficiente para Dragapult conseguir serpentear, mas estava começando a ficar claustrofóbico. Alguns corredores à frente e já estavam chegando a galerias mais amplas, talvez mais próximos da tal base.  

Há claramente dois grupos distintos naquele esgoto: um é a dupla adolescente e idoso, onde claramente as partes não estão se entendendo; e o outro era o casal de protetores junto a enfermeira desolada. Humores diferentes, preocupações semelhantes e aparente noção do risco antagônico. Rayssa não entendia muito a forma de agir e portar de Akshan, que respondia todas as questões dela de uma bem direta e crua. Restou as palavras de conforto e empatia, buscando um entendimento mútuo para melhor cooperação entre eles. O homem sorriu com as palavras da pequena, e usando sua única mão, afagou a cabeça da ruiva. - Não estou irritado, tampouco triste. E pare de se sentir mal por algo longe dessas suas pernas curtas. Nem se fossemos do seu universo você teria como ajudá-los. - por mais incrível que isso possa parecer, não havia pesar ou rancor nas palavras de Akshan, só a mais pura verdade, nua e crua. Nem de longe dava para saber o que ele passou nesse tempo de caça aos RR’s, e essa talvez fosse a coisa mais complicada para a pequena escoteira compreender.

Quanto a Gray, ele parecia ter outras preocupações. A enfermeira balançou a cabeça ao começar a respondê-lo. - Só sabemos da torre. E meu nome é Selene! - simples, direta e seca, talvez pelo fato de, bem, TODOS já tenham a chamado de Joy em algum momento de sua vida, assim como todas as oficiais de segurança serem insistentemente chamadas de Oficial Jennie! - Ficamos sabendo de ataques em outros lugares, mas nada sobre bases... - ela mantinha uma postura curvada e o gesto pacificador de abraçar a si própria, como se estivesse com frio, mesmo estando fazendo calor naqueles túneis. O frio que afetava a enfermeira era puro nervosismo. - Um sela? Mal conseguimos sair vivos com meia dúzia de suprimentos, está mesmo achando que ALGUÉM levou uma cela??? - Selene sim, parecia bem irritada e à flor da pele, ainda mais com a pergunta feita por Gray! - Fala dos Rattata? Chegaram junto com os Rockets, e só fizeram estrago. Não faço ideia onde encontrá-los. - era novamente uma resposta limpa e rápida, típica de alguém sem paciência, irritada ou sob estresse alto. Bom, dava para julgá-la.

Avançaram alguns metros até alcançar um ponto de interligação de galerias, formando uma espécie de cruz. - Já volto. Façam algo de útil e protejam-na, ela é bem mais útil que vocês. - o jeito ríspido e mal encarado de Akshan continuava, e ele saiu para um dos lados, em um grande cano onde jorrava um líquido mais espesso. Restaram o casal de apaixonados, Rayssa, Selene e a Chansey, que parecia incomodada com algo. - Channie, o que foi? - Selene perguntou para sua assistente, que foi até à beira d'água e puxou algo brilhante. Acontece que preso a esse algo brilhante havia um braço decepado! Se tratava de um relógio, e agora Chansey havia tirado aquele membro da água fétida! A surpresa horrenda provocou uma reação histérica de Selene, que soltou um grito longo e agudo!

SQUEEK!

Sons diversos começaram a surgir de vários lados do esgoto! Quando menos esperavam, o grupo estava cercado por uma trupe de roedores, prontos para a encrenca!