XXXIV - I have a dream

Confiante de que estava no caminho certo e, certamente empolgado com o cenário fantasioso que enfrentava, Chris seguiu na direção do Castelo coberto por nuvens monstruosas. O rapaz era guiado pelos sussurros assombrosos do que parecia ser um marionete rebelde. Ou será que havia entendido errado? Enfim... Conforme se aproximava do pátio principal da entrada desta colossal estrutura, Chris podia notar que finos fios quase transparentes desciam dos dendritos das nuvens, como da mão de um titereiro, encontrando-se em algum lugar... Ao menos fazia algum sentido diante das frases que havia ouvido.

Continuando, agora por uma escada de pedras, o rapaz chegaria frente a frente com um portão enorme de madeira que encerrava o caminho para a edificação principal. Ali, antes mesmo do Portão, as cordas quase mágicas se encontravam e apoiavam os membros e cabeça de uma figura sombria e misteriosa. Um ser vestindo uma túnica maltrapilha, com uma postura nada natural e uma máscara dupla sobre seu rosto. De um lado, a comédia. Do outro, a tragédia. Era impossível saber se isto se tratava de um humano ou criatura, nem tão pouco era possível ler sua expressão em uma face de madeira. Além disso, a tal máscara dupla parecia fazer parte do próprio rosto, fundindo-se ao material debaixo. Pele? Couro? Pano? Quem sabe...

Se não fosse o bastante, a figura ainda começou a mover-se de maneira descompensada, sem padrão, fazendo um som de madeira batendo no próprio corpo da criatura, ao mesmo tempo que retumbava em um trovão sobre a estranha nuvem a muitos metros acima da cabeça do treinador e do topo da torre mais alta do Castelo — Um visitante acaba de chegar e no Castelo deseja entrar. Quem ousa vir, não tão rápido poderá partir! Resposta cinco perguntas do Ventríloquo ou aceite o pesar do Oblívio! — Tentou rimar o ser, apontando por fim para trás de Chris, onde uma névoa se aproximava, corroendo todo o cenário da cidade abandonada... Chris não tinha muita escolha, mas uma pergunta lhe fora feita. Aceitaria ou não o Desafio de 5 perguntas?  

Apesar de não ter entendido nada do que o Ventríloquo dizia, Chris estava disposto a jogar O Jogo (perdemos), custe o que custar. Ele demonstra suas intenções em alto e bom som para o Mascarado e aguarda pelo que viria. O Ventríloquo, por sua vez, não demonstrava muita emoção. Ele parecia aguardar por isso... Com o sacodir das mãos, puxadas pelos fios quase imperceptíveis, a figura misteriosa fez névoa rosácea se reorganizar e solidificar, formando letras no ar, que por sua vez formavam frases. Uma pergunta....


— Primeira pergunta feita. Responda certo e tudo de bom lhe seja! — Continuou o Ventríloquo, esperando a resposta de Chris. 

Após ouvir a frase de difícil "digestão", Chris tentou conversar com o tal Ventríloquo para facilitar o vocabulário e melhorar a compreensão. Contudo, era como se a figura misteriosa não se importasse, pois o enigma foi ditado em uma cifrada bastante complexa. Como não havia escolha, o jovem resolveu utilizar todo o tempo que tinha para pensar bastante sobre a resposta. E pensou... E pensou... E pensou... Bem, talvez o tempo passasse diferente por aqui, pois parecia ter raciocinado uma eternidade antes de chutar palpitar. O Pokémon em questão poderia ser um Drifblim. Restava saber se estava certo.

Alguns segundos de silêncio ditaram um clima de tensão, até que o "Ding, ding, ding" no ar, quebrou o ritmo daquela cena, indicando uma resposta correta. Com leves palmas, o Ventríloquo esboçou um sorriso. Ou melhor, apenas virou seu rosto deixando a máscara feliz sobressair na visão do treinador. Não havia tempo para descanso. Próxima pergunta!


— Segunda pergunta chegou. Erro ou acerto, algo mudu... — Inferiu o Ventríloquo, esperando a resposta de Chris. 

Aos poucos Chris conseguia identificar a forma de falar do Ventríloquo, o que facilitava na hora de compreender e resolver o enigma. Dessa vez, o "Ding, ding, ding" que indicava o acerto veio até mais rápido do que antes. Desta vez, sem palmas, o Ventríloquo fez uma pausa dramática e suspirou, antes de continuar o desafio. Ele agitou suas mãos para que as letras voadoras formassem uma nova frase-enigma para o treinador.


— Terceira pergunta chegou. Vamos ver até onde pode acertar... — Disse. 

Não era apenas coincidência, Chris estava ficando cada vez melhor nesse "jogo" de adivinhar. Desta vez, não foram necessários mais do que meros segundos para que a resposta correta viesse sem problema algum. O Ventríloquo, antes descontraído, apesar da sua posição curiosa, preso por finíssimas cordas às nuvens, agora mantinha-se tão sério que era difícil saber se estava entediado, neutro ou raivoso... Ele nem esboçou reação ao acerto de Chris e se reservou apenas ao direito de fazer o próximo enigma surgir para o jovem. Dito isto, a frase se formou diante dos olhos de Chris...


— Quarta charada...