Diante da dentada-rasga-atmosfera oferecida por Karinna, o homem simplesmente riu - mais um pigarro divertido, em realidade -. Não por qualquer motivo desmotivado, mas pelo fato de que a atitude simplesmente confirmava o "cãozinho" dito mais cedo e, fala sério, não tinha coisa melhor do que uma imagem daquelas pra poder aliviar um pouco a tensão... mesmo que o sentimento tencionado fosse exatamente o inverso.
Afinal, naquele lugar, não havia fila nenhuma para esperar. E tomando todos os detalhes da situação, aquele Oswald-descendente provavelmente era um daqueles que
realmente seriam capazes de levar a ameaça até o fim.
Felizmente, ele não parecia tão inclinado a fazê-lo... naquele momento.
— ...Não vou entrar no papo de entender tragédia. — A voz veio um pouco ríspida, cortando o ar enquanto a loira começava a organizar seus pingos nos i's.
— O que você pode ter passado, o que eu passei... Não importa. Não é igual. Nunca vai ser. — Balançou a cabeça, puxando a cadeira e finalmente se sentando, os dedos brincando cuidadosamente com a esfera pulsante que tinha entre as mãos. Evidentemente, não era uma opinião que estava aberto à mudar de ideia - e considerando que grande parte de seu corpo não estava mais verdadeiramente ali, talvez tivesse sua razão.
Ele não respondeu diante ao pedido da loira quando à bebida, embora seu olhar tenha rapidamente direcionado à garrafa antes de retornar para o seu "brinquedinho". Tudo o que havia restado era mais ou menos metade da metade e, a julgar que não se moveu quando ela foi atrás de seu biquinho pra molhar a goela, não parecia se importar.
— ...Seguir você... — Murmurou, balançando a cabeça brevemente.
— ...Eu tentei, por um tempo. Não achei e, eventualmente, desisti. — O olhar se ergueu, suave, para repousar mais uma vez em sua
convidada especial.
— Encontrar você hoje foi, hmm... Um fortúnio bem fortuito. — Comentou, um sorriso brevíssimo pintou os lábios.
— Matar seu namorado? — O olhar se desviou na direção do ruivo, analisando-o de cima a baixo por longos segundos.
— ... ...No máximo, tenho pena dele. Parece que ele consegue se matar sozinho por uma corridinha matinal. — Não era uma provocação, mas entendo que possa soar como uma. Mas vamos combinar, você realmente não tá na melhor das formas, tá, Fernandez?
— Matar você... — Dessa vez, ele deu uma pausa, os orbes volvendo mais uma vez sobre a imagem da especialista.
— ...tenho, sim, um pouco de vontade. Mas. — Uma breve pausa.
— ...se eu te matasse, tudo isso teria sido pra nada. Então, não; No fim das contas, eu não tenho interesse de te matar. Iria de encontro reto ao que ele queria e eu não estou aqui pra isso. — Estalou a língua, apoiando um dos tornozelos em cima da perna oposta.
Aí, veio o "cuzão". E dessa vez, não foi o homem quem reagiu.
Já estando ao lado, foi com extrema violência que o Pidgeot sentou o bico de uma vez só na mesa bem à frente, bem
próximo de Karinna, com tamanha agressividade que foi suficiente para quebrar um pedaço do móvel e afastar algumas rachaduras ao longo de sua extensão - o que queria dizer bastante coisa, pois o material claramente era firme e de boa qualidade. O ato se seguiu com um barulho gutural, irritado, que escapou direcionado à especialista, um fogo no olhar que tão bem era conhecido pela mesma.
Em contra-resposta direta e em velocidade assombrosa, Manju saltou sobre a mesa como uma sombra. A canídea bateu de frente com o peito da gigantesca ave, emitindo um rosnado alto, arranhado, as longas orelhas se abaixando e a cauda se balançando em um estresse visível, ameaçador - um aviso tão explícito quanto o de seu não-oponente. Nenhum dos dois se moveu, olho no olho, a tensão palpável dos pokémons inundando o ambiente como uma peste que se espalha antes mesmo que as outras pessoas ao redor possam se dar conta do fato.
— ...Eu não vou te avisar de novo. — Foi o que disse, simplesmente, uma das mãos se estendendo para que pudesse afagar as plumagens bem cuidadas das costas do grande pássaro.
— Ele fazia o que tinha o que fazer, independente do quão sensível você é pra um putinha. — Uma breve pausa e, durante ela, a cabeça se balançou em uma afirmativa silenciosa.
— ...Mas, sim. Eu sei que você não é... diretamente... responsável. De qualquer jeito, eu também queria pelo menos sentir um pouco do seu desespero nas minhas mãos. — Admitiu sem pesar, passando a esfera vítrea de uma mão para a outra, relaxado.
E ele havia conseguido.
Mais uma vez, o silêncio. Um que se instaurou apenas para que pudesse ouvir as próximas palavras de Bley que, sinceramente, tinham um peso cheio de dualidade em seu coração: De um lado, a admissão que o aproveitamento era recente; De outro, a afirmação de que ele finalmente acontecia. Era difícil dizer, mas aquilo era incômodo, de algum jeito.
— ...Demorou. — Uma pausa curta, o olhar travando no de Bley por alguns segundos.
— Você não pode morrer. — Disse, simplesmente, a coluna se deitando de maneira relaxada na cadeira.
— ...Não sei sobre todo o seu passado, mas posso dizer uma coisa: Pra você estar aqui, alguém teve que não estar. — Apertou brevemente as pálpebras, balançando a cabeça no processo.
— A sua obrigação mínima é viver. Por eles, se não por você. — Um peso. Um peso que repassava para os ombros da loira que, de algum jeito, era para o bem. Engraçado, até, se parasse para pensar.
— ...Sua filha? — Os dedos se movimentaram mais uma vez na esfera, um sorriso debochado brincando pelos lábios.
— ...Tudo bem. E eu quero meu velho, que tal uma troca? — Ofereceu; Uma troca claramente impossível de ser feita, o que trazia consigo uma implicação
extremamente perigosa...
— ...Sua Dragonite não me interessa. — ...que, felizmente (para o bem de todos os envolvidos), não perdurou muito tempo. Finalmente, após tanto tempo, correria e desespero, o moreno apontou a esfera vítrea para um canto da sala - o objeto, então, se abriu, deixando escapar a pulsante energia que se direcionou ao lugar apontado e, ali, tratou de materializar uma nova existência.
Laranja. Gordona, com asinhas minúsculas. De bundão pra cima, rabo largado no ar, babando e roncando como se não houvesse um amanhã.
Ivy.
— ...Mas, eu quero... Duas coisas. — Continuou, pressionando a esfera transparente e a diminuindo antes de guardá-la no bolso mais uma vez. Sua tecnologia era um mistério, mas talvez fosse melhor não tentar se aprofundar muito a respeito.
— A primeira delas... — Um suspiro manso.
— ...o velho se metia em muitas coisas. Ele também nunca treinou um pokémon, o que era... idiota... — Uma pausa breve, um balanço de cabeça.
— ...mas era o que era. Mesmo assim, ele gostava de tirar um tempo pra, de vez em quando, fazer resgate de alguns. Principalmente em Briga de Torchic, coisa do tipo. Ele trabalhava na reabilitação deles. — Comentou, antes de apontar o Pidgeot ao lado com um breve movimento de cabeça.
— ...Esse aqui foi um dos primeiros. Na época, ainda era um Pidgey. — O que explicava a atitude da ave quanto às palavras de Karinna, com toda a certeza. Não dá pra desonrar a memória de um herói - um pai? - na frente de um Pokémon, não?
— ...O que eu quero saber... — Uma pausa.
— ...Em uma dessas, ele tinha pego uma Staryu. Eu e ele estávamos tentando lidar com ela juntos, mas era difícil. Era um bicho arisco. — Suspirou, os ombros caindo vagarosamente no processo.
— Quando finalmente tava começando a dar certo... Bem, você já sabe a história. — Um sorriso duro, sem emoção.
— Nós procuramos, mas nunca chegamos a achar. Não vou te dizer que chegamos na hora, também. — E nem tinha como, considerando a situação.
— ...Quero saber se você sabe de alguma coisa._________________
O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?