[Rota atemporal] Filler de Natal v2

... Oi?

Quer dizer, sim, claro, oi pra todo mundo, mas... Oi???

Bem, ninguém pareceu perceber que eu só entrei porque minha Sylveon me obrigou, então ponto para mim, eu acho. Mal exibi um sorriso e já fui recebido por diversas vozes conhecidas, apesar de não muito regulares no meu cotidiano até então. O primeiro a me receber foi Daisuke, um cara de cabelos avermelhados que eu tinha conhecido na internet na época que tava procurando umas bandanas estilosas para malhar com meus Pokémon. Ele parecia estar ocupado com alguma coisa — pelo que entendi, um problema que ele mesmo criou — então eu só dei passo tímido para dentro da casa.

De longe, também fui capaz de discernir a voz de Shion, que havia participado de alguns eventos e atividades comigo anteriormente. Pelo que eu tinha entendido, a mansão e várias das coisas ali estavam sob seu nome. — Shion! Quanto tempo... Gostei do novo visual! — Comentei, apontando para o cabelo grande do rapaz. Da última vez que o vi, ele era curtinho, e... mais amarelado. — Parece que viver do campo e do que a natureza oferece rendeu bem, né! — Brinquei por fim, lembrando de quando nós dois não tínhamos nada além de humilhação diante de um Pikachu.

E bem... Parece que foi só falar de humilhações passadas que surgiu mais alguém para me recordar de uma. Longos fios dourados, com algumas mechas tingidas de cor-de-rosa, que envolviam uma figura confiante e animada. — Ah... Karinna, né? — Perguntei, um pouco receoso. Lembrava dela. Foi a treinadora que ordenou um semi-esquartejamento do meu inicial em rede nacional. Ela me pegou pela mão, e por um instante, hesitei. A memória do evento me deixava um pouco inseguro, e...

Calma aí, ela acabou de liberar duas raposinhas pra brincar com Laylah???

Esquece. Qualquer sombra de dúvida ou questionamento que existisse em mim desapareceu, e eu alegremente segui a loira para uma rodinha. Vai me levar pra fofocar e ainda arranja companhia pra minhas crianças? Ah, eu não poderia pedir por coisa melhor. Claro, ainda tô meio tímido com toda essa gente que eu não conheço, mas isso não vai me impedir de sorrir e tentar aproveitar um pouco a noite. Karinna me introduziu a outros dois treinadores, que foram bastante receptivos. Tentei me intrometer um pouco na conversa. — Oi! Ah, vocês ainda vão se arrumar? Eu tentei colocar uma roupa bonitinha e tal, mas esse tempo ruim acabou com meu look... Vou precisar me trocar também.

E foi depois disso que tudo despirocou.

Camisinha? No banho? Incenso? Ah, droga, será que é isso mesmo? Por algum motivo eu duvido muito que a loira tava usando o diminutivo pra falar de uma camisa baby look. Eu senti o sangue subir ao meu rosto, e minha face enrubescer. — A-ah... Que isso, tá-tá tudo bem sim... — Consegui murmurar em resposta, olhando fixamente pro chão. Eu acho que nunca em toda minha vida havia tido uma conversa tão... direta assim. Não que isso seja ruim, eu só... não estou muito acostumado. A menção contínua de sexo, fumo e camisinha apenas ajudou a me deixar ainda mais constrangido, tanto que mal cumprimentei o outro rapaz que chegara na rodinha.

— A-ah... Desculpa, tô meio distraído haha. — Falei repentinamente, forçando uma risada, tentando não deixar um clima muito estranho. — Sendo sincero eu nunca... acendi um incenso. — Consegui exprimir, meio sem graça. — Na-na verdade eu dei meu primeiro beijo só há alguns meses atrás... — Comentei por fim, deixando claro que tinha zero experiências para compartilhar sobre o assunto. — A-ah! Mas não se preocupem... Não me importo de falar sobre isso não. Eu só... não tenho muito o que dizer, mesmo.

Ah, que bela primeira impressão, Ren. Você saiu como um gaguinho bobo.

Cara, você tem noção do quanto custa o Kg de um Kobe Beef? A carne mais cara do mundo, de um Tauros Paldeniano do Breed Aquático com estatísticas de treino e peso perfeitamente ajustados com o balanço exatos de nutrientes? Não?! PK$ 6000 o Kg. Sim, caralho, eu vendi um rim pra comprar o caralho da carne que o Daisuke QUEIMOU NO INFERNO DO FORNO.

Ele sabia disso, sabia que eu planejei tudo com meses de antecedência, que testei a receita com ingredientes de qualidade inferior, sabia que tinha conversado tudo com fornecedores, visto tudo com a Flora, com o Shion e... ele deixou a carne 30 minutos a mais no forno. Só tinha sobrado o miolo da porra da carne. Flora me ajudava, e até brincava comigo, falando que me daria um presente mais tarde, mas honestamente, naquele momento eu só queria chorar. Achei muito fofo da parte dela me animar e lhe dei um beijo na bochecha.

Shion, felizmente, chegava para tentar me ajudar com a carne. - É, acho que da pra salvar se colocarmos num cozido... - Falei, meio mordendo o lábio enquanto engolia o choro. Felizmente, ele sugeria me ajudar na preparação de alguns comes e bebes enquanto eu fazia o prato principal, e ai... o meu lado metódico apareceu. - ...acho que pode dar certo. O que você trouxe aí? - Perguntei, enquanto começava a fuçar as sacolas. Felizmente, tinham tomahawks e uns filezinhos de carne aqui e ali, além de algumas boas coisas pra sobremesa.

Claro, ele tinha pensado no próprio prato também. Sorri, porque felizmente, eu podia contar com ele. - Ta, façamos o seguinte, foque nas sobremesas primeiro, você trouxe bastante coisa e a Flora pode ajudar, ela entende bastante disso. - Me virei pra Torres e a segurei pelas mãos. - Me desculpa te arrastar pra isso, mas eu prometo que compenso mais tarde. - E dei uma piscadela pra Flora.

Pra vocês, leigos, imaginam que isso signifique sexo. E, bom, eu não vou dizer que não queria um sexo selvagem mas a querida em questão não funciona desse jeito, deixando claras as minhas intenções, amaciei a voz o máximo que pude e falei pausadamente enquanto sussurrava em seu ouvido. - Eu comprei o Super Mario Bros Wonder e decorei todas as fases pra batermos o recorde de speedrun juntas. - E puxei ela pra me ajudar na cozinha.

Enquanto eu preparava os temperos para os tomahawks e os peitos de Staravia, Shion puxava um assunto sobre meu irmão, o que me causava certa aflição momentânea, confesso. - Bom... é meio difícil dizer. - Admiti. - Daisuke era um prodígio nas lutas de MMA, imagino que não ter um começo tão bom na jornada deve ta fazendo a cabeça dele até hoje. Ele tem se esforçado bastante, acho que até demais, se você me entende. - E parei um pouco. - Ele me falou também sobre Unova, mas eu não sei bem o que pensar sobre isso. Quer dizer, são vocês quem esbarram com uma divindade e um povo maluco a cada esquina, e entendo um pouco disso, mesmo com minha pouca experiência. - E ri. - Acho que não faz mal ele ir atrás de descobrir se é verdade, bem, por conta própria, sabe? Se conseguir acompanhá-lo, eu agradeceria e ficaria mais tranquila. - E sorri para meu amigo.

No entanto, antes mesmo que eu começasse a assar alguma coisa, Flora me interrompia e dizia que queria entregar meu presente e que precisávamos ir para meu quarto. Na mesma hora, arregalei os olhos e olhei pro Shion, pedindo que me cobrisse. Olhei se minhas unhas estavam de tamanho aceitável e lavei as mãos rapidamente na pia. - Claro meu bem, tô ansiosa pra saber o que me comprou. - Falava, meio enrubescida enquanto ia com Torres para o quarto.

...será?

Ora, veja bem, mesmo eu conhecendo Flora não conseguia deixar de ficar vermelha. Quando a garota TRANCOU a porta do quarto, eu já sabia que vinha alguma coisa completamente diferente do que eu imaginava. Não é que eu não queira, é que depois de um tempo, a gente aprende a lidar com as expectativas que criamos, sabe? Flora, NUNCA deu um passo mais... ousado, digamos assim.

Quando ela se aproximou sorrindo, dizendo que não fugiria dela, eu imediatamente sorri. - Jamais fugiria de você. - A respondi, olhando-a nos olhos, enquanto ela entoava mais frases de duplo sentido. Okay, minha querida, se for me beijar, pode fazer a muito tempo, não precisa de todo esse suspense.

Ela se aproximava cada vez mais, e por uma fração de segundo, realmente acreditei que Torres ia me beijar, até que ela se afastou e me entregou um presente. Olha, não esperava mesmo, ainda mais pelo conteúdo! Uma roupa idêntica a dela. E me pedia para passar o natal com ela, combinandinho cara! Me derreti toda, confesso. - Claro! Aceito passar o natal assim com você. - Disse sorrindo, enquanto pegava a roupa e a colocava na cama. Por um momento, no entanto, eu parei e pensei. Será que só o jogo do Mario seria um bom presente? Hmm... ela já tomou esse spoiler, né? Acho que preciso inovar.

- Ei, Flora. Eu também tenho que te dar seu presente. Fecha os olhos. - Falava, antes de sorrir levemente pra ela. - Não pode expiar, ta bom? - Dizia, após ela fechar os olhos e me aproximar devagar. - Tem muito tempo que quero te dar isso. - Falei, antes de passar uma mecha de seu cabelo para trás de sua orelha e ficar bem perto de seu rosto. - Feliz natal, Florinha. - Foi a última coisa que disse, antes de beijar Torres e puxa-la contra meu corpo.

Ah, todo mundo sabe que eu não sou de pisar em ovos pra falar as coisas. Estava tão animada pra contar pra Mísia que cheguei nos finalmente com Daisuke que sequer reparei que deixei o pobre Ren sem graça. Quando o garoto de cabelos cor-de-rosa disse que deu seu primeiro beijo há poucos meses, me senti uma pervertida que fala de sexo como quem fala, sei lá, de café da manhã.

- Ah, desculpa, Ren. - balancei a cabeça, rindo - Acho que não temos tanta intimidade assim, mas é bom que você já acostuma com meu jeitinho. - brinquei, voltando a atenção pra Luch e Mísia novamente - Claro que me contou, né? Eu sou a irmã mais velha. Se ela não contasse seria sacanagem. - e aí que cocei a cabeça, respondendo a loira - Ah... Não dá nada não, né? - era quase uma pergunta meio desesperada - Quer dizer... A gente tava no banho. Eu não tomei nada depois também, mas com a água corrente e tal... Não dá nADA NÃO NÉ MÍSIA PELO AMOR DE MELOETTA-- segurei os ombros dela, os olhos levemente arregalados, principalmente depois que Luch fez o sinal de barriga de grávida - ... Luch, me dá isso aí que quem tá precisando sou eu. - apontei com o queixo para o que o próprio estava bolando - Como é que vou conversar com o Simba sobre isso, porra? - suspirei, tentando me acalmar de leve - Foi na emoção, a culpa não é minha que meu namorado é gostoso. - Artemísia comentava sobre dar uma chamada no Simba, o que me arrancou uma risada - Olha, ele errou também, então pode comer ele no esporro mesmo.

Bom, acho que é fácil dizer que, mais uma vez, não percebi exatamente quem estava por perto pra falar essas intimidades. Aliás, vocês já falaram alguma baixaria sem querer na frente do irmão mais novo de vocês? É assim que me sinto com o Tyrant. Tá, tudo bem que ele namora a Karen há muito tempo mas eu vejo os dois quase como aquele casal de adolescente puritanos, sabe? Que você quer proteger a qualquer custo? Pois é.

- Oi, Tyzinho. - abracei o moreno de lado, deitando minha cabeça na dele já que sou um pouquinho mais alta - Viu que tem outro Sylveon na casa? É do Ren, a Laylah. - apontei para dentro da casa - Ela, Finn, Manju, Mantou, Ukko, devem estar todos destruindo alguma coisa por aí. Com ajuda da Ivy, provavelmente, se envolver comida.