[Rota Atemporal]Dia de Praia

— Agora vai.

Ao fundo da praia, o kantoniano usava trajes nada convencionais — todavia, tinha a ver com o ambiente. Com uma camisa manga curta e um short — ambos de neoprene, o melhor material para esportes aquáticos —, Nicholas estava no mar com uma... prancha de surfe? Pois é, caro leitor; devo reiterá-lo de que a Pallet, sua cidade natal é uma cidade litorânea conhecida por suas marés propícias para a prática do esporte, e como todo morador, saber só o básico não tem problema.

A onda iniciava a se erguer e o loiro posicionava suas mãos na prancha, fazendo força para ficar de pé sobre a mesma; com sucesso. Começou a fazer algumas manobras singelas e algumas curvas, mas em determinado momento do curto trajeto, acabou perdendo o pé de apoio, tomando um caldo. Como o instrumento estava amarrado à sua perna, ele não se perdeu, e Nicholas rapidamente foi erguido de volta com o auxílio de Critias, sua Gyarados, que aproveitava o momento que tinha no litoral.

— Valeu, garota. Vou tomar alguma coisinha e já volto. Aproveita aí — afagou a cabeça da serpente marinha. Critias auxiliava também o rapaz a chegar mais perto da areia, descendo seu colossal corpo para que o louro, outrora apoiado em cima de si, descesse.

E com a prancha de baixo braço, ergueu sua mão canhota até suas madeixas, jogando-as para trás em um rápido movimento. Com a inércia, o seu pescoço foi lançado infimamente também, forçando o treinador ás a balançar um pouco sua cabeça. Em passos morosos, dirigiu-se até onde estavam as suas coisas; deixou a prancha em pé, apoiada sobre a fofa areia. Dentro de um cooler, arqueou uma garrafa de água, hidratando-se depois de tomar um caldo.

Vindo na sua perpendicular, notou seu fiel escudeiro em meio a grunhidos jocosos com uma bola de futebol; em seu idioma ininteligível, Balerdroch, o Charizard, convidava seu treinador para brincar — ora, eram raros os momentos em que Nicholas tinha algum lazer.

— Vamos fazer o seguinte: eu chuto pro alto e você vai buscar. Combinado? — e quase de imediato, o réptil ígneo assentiu.

Droch arremessou a bola no alto. Eximiamente, o loiro dominou de coxa, jogando-a para o alto. Começou a fazer algumas embaixadinhas, zerinhos, como uma roda de altinha normal. Em determinado momento, arrumou para a perna esquerda e disparou um voleio para o alto com toda a sua força. Antes da bola iniciar sua trajetória descendente, Charizard levantou voo para buscá-la no alto.

Nesse tempo, quando pensou em olhar novamente para suas coisas para se sentar sobre o cooler fechado, vislumbrou três rostos familiares. Como, do nada, seus colegas de sociedade estavam ali?

— Mas será possível isso? — coçou a nuca, semicerrando as pálpebras para enxergá-los melhor. Afinal, vai que é um engano e não são eles; ademais, eles não estão tão longe assim.

E no fim das contas, eram realmente alguns rostos familiares. Ouviu o grito de longe de uma das garotas, Artemísia, e mesmo de longe, retribuiu com um aceno. Deu alguns passos à frente, mas foi interrompido pelo grunhido do alto de Balerdroch. Jubiloso, o réptil alaranjado lançou a bola com a sua mão após capturá-la, todavia, era um tremendo de um tijolo.

Ali onde estava, jazeu, com o braço erguido e a palma da mão amostra; em outras palavras, um sinal de “pera aí” para dominar a geladeira lançada por Charizard. E, habilmente, deu dois passos para trás, cruzando o pé destro, perpendicular com a perna esquerda na altura do tornozelo; e de letra, matou a pedrada lançada pelo monstrinho. A bola ainda foi um pouco para o alto e já estava controlada. Bastou ao loiro só dominar com a perna direita, colocando a bola no chão.

De longe, ainda caminhando em passos morosos, viu Artemísia e Flora indo para alguma direção. Luch veio de encontro. Logo de longe, semicerrou as pálpebras, e pôde perceber claramente que o unoviano nem estava em si; calcorreava mais lendo que o normal, guardando mais algumas coisas dentro do bolso.

Pararam, um na frente do outro. Nicholas arqueou uma sobrancelha, afinal, Luch parecia estar olhando para o nada como se fosse falar alguma coisa. E em falas lentas, por fim, deu a sugestão de ir até um quiosque para pegar umas cadeiras e guarda-sol. Com um aceno de cabeça, taciturno, concordou.

— Só espera um minuto. Preciso pegar umas coisas minhas que tão ali atrás — disse o louro, volvendo o corpo para trás. Deu meia volta e fez o movimento com a mão para que seu Charizard se aproximasse e o acompanhasse. Chegando próximo às suas coisas, abriu seu cooler, bebeu um pouco de um isotônico que lá tinha – ora, estava surfando um bom tempo, então era necessário se hidratar após engolir água caldo após caldo –, colocou-o de volta, pegou uma garrafa de água e o cerrou. — Leva o cooler e a bola, por favor.

Prontamente, o réptil alado assentiu. Nicholas tomou uma de suas esferas bicolores e liberou seu gastrópode aquático, Nalu, para que brincasse ao ar livre também; o monstrinho nem pensou duas vezes antes de acompanhar Critias no mar. Embaixo de seu braço direito, levava a prancha e com a destra, o loiro levava a garrafa de água. Junto de seu fiel escudeiro com algumas tranqueiras que estavam juntos, achegou-se de Luch.

Seguiram andando agora os três.

— Aí, cê já surfou alguma vez? — pergunta despretensiosa, mas que fazia sentido dado o apetrecho que carregava consigo. — Dá pra jogar uma altinha também. Um futevôlei, não sei. Bem melhor do que ficar só sentado olhando pro nada, né não? — olhou para os lados, volvendo a olhar para frente, só correndo os olhos pelos arredores despretensiosamente – vai que com o cabelo mais longo e com pique de surfista, ele passa a pinta de galã. — E pega aí pra você, bebe um pouco.

Ergueu o braço na direção de Luch com a garrafa de água. Ele deve estar com sede, esse olho vermelho engana ninguém...