[Breaking Illusions] - Limbo -

Particularmente, eu não tenho certeza de como se manisfestava cada sentimento naquele embaraço confuso dentro da mente da jovem. Não creio que poderia ser desvendado por quaisquer máquinas ou mesmo pessoas, tão difuso seria o método que findasse aquele gosto amargo no peito. A única coisa que posso garantir é que aquele sorriso, vago e quase insano - se comparado com toda a situação que a levara até o espaço atual - não morreria com tanta facilidade.

Os destroços de uma alma nunca se recuperam de maneira simplória, hm?

- Eeh... Você é algum rei? Oficial? Nabucodonosor? - Um riso vago... Inclinou-se sutilmente na direção do rapaz; Pendeu a cabeça para o lado, os dedos remexendo-se em silêncio. Mnf... - Meu nome? Você não sabe? Awnnn... Não parece tão morto. Está? - E... Avançou alguns poucos passos, os pulsos se esfregando suavemente um contra o outro por dois segundos atrás das costas - Aah, sim, sim, eu acho que não sou daqui mesmo. Mas, uhh, você é importante mesmo? Parece que vai pra uma festa à fantasia. É divertido. Você lembra tanta gente, sabia? - Sacudiu levemente as mãos - Não dá pra existir em dois lugares ao mesmo tempo, não? Eu acho que é. Ou tem mais coisas como essa? É estranho, sabe... - Fitou o espelho espatifado... E um tremor subiu pela espinha da garota; A visão retornou imediatamente ao outro residente de... Bem, sabe-se lá onde - Eu não sei. Eu olhei um círculo e, ka-bum, estava aqui! Esse lugar é tãão solitário... Você gosta de viver assim? Sabe, sabe, não sei se sou só eu quem acha, mas aqui poderia ser um lugar tão interessante pra um exílio. Tem os toques suficientes pra um! - E... Dois passos para o lado oposto ao que os fragmentos prateados se espalhavam ao chão - Mas você, você pode me chamar de Natalie. Ou o que quiser. O que é um nome hoje em dia, nee?... É algo tão fútil! Sempre se pode apenas fazer o que bem entender e quem impedir na maioria das vezes fica pra trás, ué!.. Mas você, você. O que é você, hein?

A ruiva chegou a franzir o cenho e piscar por alguns segundos com as consecutivas declarações... Até que seu próprio corpo optasse por um sorriso sutil de canto. O fato de tentar distanciar-se de maneira curta logo se mostraria inútil, visto que ela fazia o favor de acompanhar silenciosamente os passos do rapaz - cobrindo os sons dos próprios ao sincronizá-los com os opostos. Talvez mais do que deveria, porém, só se aquietou novamente quando o loiro não mais se moveu.

- Soa como algo grande que se mexe. - Pendeu a cabeça para o lado com sutileza. Ok, talvez fosse um trocadilho (?) infame, mas... Unf. - Deuses? Eu duvido que eles existam. Não parecem servir de nada atualmente. - Deu de ombros os dedos se retorcendo uns contra os outros. - Aliás, devia ser um rei bem fraco, já que não pôde evitar a decadência e "afogamento" da cidade. - Cobriu os lábios com um punho cerrado... Suprimiu-os, um sorriso divertido emoldurando-lhe a boca pálida - Espelho? - Caminhou alguns passos à frente; Rodeou-o, os orbes correndo curiosos pelo corpo oculto do que ali se mantinha. Aliás, se ela ainda prestasse atenção, o único cujo diálogo poderia ser considerado com algum fundo lógico... Ou não. - Não sei do que está falando.

Talvez a mente não acompanhasse todos os acontecimentos ombro a ombro, porém, pode ter certeza que o corpo não poderia fugir de tal maldição. O tremor da estrutura não apenas arrancou-lhe o equilíbrio, mas deixou as marcas de uma bela possibilidade de queda - evitada apenas e singularmente graças ao apoio que as costas encontraram na parede com um recuo instintivo... E foi nesse momento que um brilho prateado suave e momentâneo atraiu-lhe o olhar para as cápsulas bicolores que deveriam resguardar os companheiros que lhe serviram de base contra Gabriel.

Então, a mente quase colapsou quando as imagens de mutilações correram quadro a quadro em seu cérebro. Os dedos lentamente se apertaram contra as próprias roupas - não quis conferir para saber da realidade ou falta dela. Aliás, não foi uma opção considerada: Principalmente quando o olhar encontrou aquele projeto que mais parecia uma mistura de animal e humano - não com simultaneidades apenas em seu molde físico.

Neste momento, a risada voltou - um tom indefinido, que talvez mesclasse o desespero e a simples graça. Sinceramente, eu apostaria na loucura. Não seria surpresa que alguém perdesse o chão num local tão ilógico quanto ao que estavam no momento, seria? Depois de tantos impactos contra a própria razão, o ambiente em si mostrava seu poderio e se alavancava contra uma existência de conhecimento limitado ao mundo onde não mais estava - e quem poderia dizer que voltaria à tal realidade espaço-temporal?

- Como se qualquer ação sua fosse mudar a realidade atual que te prende...

- Dano...? - Um sorriso simples escapou, e os ombros lentamente se retesaram. Um vulto correu pelos orbes acinzentados, ao passo que um dos punhos se cerrava com vagarosidade - Eu quem estou causando o dano...? Está de palhaçada comigo. - Ela respirou fundo, os lábios entreabertos auxiliando na suavidade da entrada e saída de ar. O apoio bambeou nos próprios músculos - sua alternativa extra foi deslizar com as costas na parede até o chão. Um riso rouco... A face se baixou em centímetros e a franja fez o trabalho de ocultar-lhe os orbes foscos - Você realmente não tem o direito de dizer isso.

Eu não sei exatamente o motivo na hora, mas foi neste momento que uma das esferas bicolores criou vida própria - um sopro gélido percorreu o ar envolta da materialização do raio esbranquiçado que repentinamente rasgou o nada e ricocheteou na parede para levitar um metro acima do solo - o momento em que a figura hexagonal tomou forma e os orbes azuis vazios encontrassem a dupla do lado oposto da sala. A ruiva não reagiu; O cristal de gelo nada fez. Suas correntes balançaram no ar tais quais sinos de vento, ao passo que um gemido retorcido escapava de uma de suas fissuras negras - onde se expandiam pequeninas esferas claras. Como uma estatueta viva, o espécime cruzou seu foco contra ambos os orbes escarlates que cintilavam a alguns passos de distância; Aumentou e diminuiu a altura de sua levitação - aquietou-se.

Eu realmente adoraria saber o que aquela criatura pretendia fazer - ou se simplesmente estava ali por um mero acaso.

- Como se eu estivesse adorando estar aqui! - Cruzou os braços e virou o rosto - Eu nem sei do que você está falando! A única coisa que isso aqui fez!... - E a voz morreu, tão rápida quanto se iniciou. Os dedos se apertaram silenciosamente, a respiração pesando no peito.

A dor, o medo.
A confusão das peças sem encaixe.

E o floco de neve gélido, que girou segundos no próprio lugar antes de estender lentamente uma das correntes que pendia do corpo na direção do rapaz. Lento e receoso; Buscando um contato qualquer. Os orbes azuis friorentos cintilando na cavidade escura onde residiam; Tranquilidade, embora não exatamente como a de segundos atrás. Afinal, quem manteria uma postura sólida frente àquele que, de acordo com o próprio, poderia facilmente ser comparado com um rei em exílio na localidade que um dia comandara?...