Aquelas poucas palavras proferidas por Anna pegavam Gabriel completamente desprevenido, o loiro ficava chocado e sem palavras, sendo arrastado para o mesmo estado em que a criança estava.
Por alguns segundos ambos “pai” e “filha” permaneciam afastados do resto do mundo, não percebiam o que acontecia fora de suas próprias mentes e tampouco eram capazes de notar a presença de um novo ser no local: Um segundo Raichu, idêntico ao de Gabriel em cor e tamanho, fato muito estranho quando se considera a raridade dos chamados Shinies. A expressão em seu rosto também não demonstrava emoções positivas, era estranho e chegava a assustar o Raichu de Gabriel, que dava alguns passos para trás e tocava em seu dono com a cauda.
O treinador enfim abriu seus olhos, acordando de seu transe. Anna ainda estava presente em seus braços, de olhos fechados e evidentemente com medo de ser deixada só, a criança segurava o rapaz com toda a sua força... se é que ela tinha força para isso, a julgar pelo estado de seu corpo que apenas há alguns segundos havia recebido alguns nutrientes. O rapaz que a segurava começava a levantar-se, não deixando de segurar o pequeno corpo, e após ficar de tocou a bochecha da albina com uma de suas mãos.
- Não tenha medo... não te abandonarei, tá? – Falou, seu tom de voz, apesar de gentil, demonstrava que ele também não tinha um emocional forte e estava abalado por seu passado. Anna finalmente abria os olhos e o fitava, esforçando-se para mostrar um pequeno sorriso antes de adormecer em seus braços... Ela desejava poder confiar em alguém, ter um pai para cuidar dela... será que Gabriel poderia fazer isso por ela? O fato é que o loiro também se sentia assim.
Os olhos castanhos logo focavam-se nos Pokémon presentes, ambos os Raichus, Trapinch e Growlithe, a cena havia mudado consideravelmente desde que o “combate” havia tido início. O rapaz sabia que, enquanto aqueles Pokémon estranhos estivessem presentes, Anna correria perigo, era necessário pôr um fim em tudo aquilo... e dessa vez ele sabia que estava certo em atacar as criaturas, já que a garota parecia não conhecê-las. Logo, com seu braço livre, o jovem pegou uma de suas cápsulas e liberou a Pokémon ali contida: Ayako, que surgia em campo de forma elegante, mas sem conhecimento quanto ao que ali ocorria... e sua confusão aumentava ao ver dois Raichus idênticos.
- Raichu, sei que você não gosta disso mas... tenho que te retornar, caso contrário não terá como sabermos qual é qual! – Anunciou, recebendo uma afirmação do roedor que estava em seus pés. Hesitante, Gabriel retornou à pokebola aquele Pokémon que sempre esteve ao seu lado durante sua jornada, era temporário, mas um ato estranho e novo. Após isso o loiro pegou sua pokedex e apontou o aparelho sequencialmente para os Pokémon selvagens, obtendo certa confirmação quanto às suas respectivas identidades. – Eh?! Isso é interessante... dois desses aparecendo por aqui. Ayako e Trapinch, preparem-se, são Dittos!
Após o anúncio a dupla voltou-se para o rapaz, prestando atenção para o que ele tinha a dizer.
- Preciso que derrotem aqueles dois, Trapinch proteja Ayako quando necessário, não deixe que ela receba ataques do tipo fogo! Ayako lance as Sementes da Discórdia na Growlithe e prossiga com um Energy Ball naquele Raichu! Trapinch use o Sand Tomb na Growlithe e continue com outro ataque, lembre-se de priorizar a defesa de Ayako caso necessário! – Após as ordens o rapaz voltou seu olhar para Anna, observava o inocente rosto da criança que enfim parecia ter encontrado alguma paz... Foi impossível evitar que seus músculos faciais criassem um sorriso, Gabriel sentia-se feliz e tranquilo, depois de tudo ele finalmente havia ganhado alguém para proteger... alguém frágil e que parecia ter vivido um bom tempo no abandono.
