Os segundos pareciam passar mais lentamente, quase era possível ouvir o lento “tic-tac” de um relógio, mesmo que não houvesse nenhum ali por perto. Ao se ver completamente cercado, Thomas teve uma única certeza: aquela situação estava estranha demais para o seu gosto. O treinador tentava descobrir o que estava acontecendo, mas a única teoria coerente a qual conseguiu chegar foi que um grupo de baderneiros eram os responsáveis por aquilo, pregando peças nas duas garotas com a ajuda de seus Pokémons. Sim, já era possível deduzir que os misteriosos seres amarelados eram monstros de bolso, embora sua espécie exata ainda fosse desconhecida. Ao menos, desconhecida para Thomas.
Zuko pulou para trás de seu treinador, escondendo-se atrás das pernas do mesmo. O tímido Cyndaquil nunca se sentira à vontade quando percebia olhares voltados para si, mas ali, sendo espiado por algumas dezenas de seres desconhecidos, o roedor parecia particularmente inseguro. Leves tremores abalavam o pequeno corpo do inicial de fogo, fato que não passou despercebido aos olhos sensíveis de Sadie. A coruja percebeu o estado de seu parceiro, e, ignorando a situação estranha em que se encontrava, voou até ele e piou algo baixinho, provavelmente perguntando se ele estava bem.
Enquanto isso, movido pela curiosidade de descobrir a identidade dos espiões, Thomas apontava sua Pokedex para o mesmo. Infelizmente, a máquina apresentava problemas em identificar os Pokémons, uma vez que estes pareciam simplesmente sumir e reaparecer em outro lugar magicamente, o que dificultava que fossem escaneados. Foram necessários alguns minutos até que um dos seres ficasse no lugar por tempo o suficiente para que a Pokedex carregasse os dados sobre ele.
Abra
Casey Usar poderes psíquicos causa tanta tensão em seu cérebro que ele precisa dormir 18 horas por dia. Por essa razão, é difícil ver um Abra usando qualquer golpe diferente do Teleportar.
Kanaria parecia cada vez mais nervosa, mordia o lábio inferior com tanta força que este começara a sangrar. Pizzicato de aproximou de sua dona, olhando-a de modo preocupado, todavia logo voltou sua atenção para os espiões, agora identificados como Abras. Ao menos estava explicado o fato de eles parecerem sumir e reaparecer em um local diferente, uma vez que aquela espécie era capaz de aprender um ataque chamado Teleport.
Néftis permaneceu com Hina Ichigo, passava uma de suas nadadeiras suavemente sobre os a cabeça da pequenina, em uma clara tentativa de acalmá-la. A aquática havia se apegado à menina e não gostava de vê-la tão assustada, mesmo não sabendo o motivo por trás de tanto medo. Até mesmo Hero, que estava sendo sufocado pela irmã de Kanaria há poucos minutos, não pôde se conter e logo assumiu uma pose protetora, ficando na frente tanto da criança quanto da Quagsire como se fosse o guardião destas. Aparentemente, a inocência e a animação de Hina conquistaram a ambos os Pokémons, e estes agora estavam determinados a mantê-la segura, mesmo ainda não sabendo o que acontecia e nem mesmo o motivo por trás do medo da garotinha.
– Então você está aqui também... – A voz de Kanaria chamou a atenção de Thomas. A violinista estava de pé, segurava firmemente seu instrumento musical em uma das mãos, parecia apegada demais ao objeto para deixá-lo desprotegido. Por um instante o treinador perguntou-se mentalmente se ela falava consigo, porém logo percebeu que o olhar da garota estava fixo em um ponto de uma árvore. – Quando vai devolvê-la?
Um Abra, que aparentava ser o líder do grupo, estava sentado sobre o galho de uma árvore. O Pokémon balançou a cabeça negativamente, como se respondesse à pergunta da garota, o que indicava que era com ele que ela falava. Seu olhar era indecifrável, uma vez que essa espécie é incapaz de abrir os olhos, mas sua expressão facial demonstrava uma mistura estranha o desinteresse e indignação. Lentamente, como se o movimento lhe doesse, o psíquico apontou para Kanaria, bradando algo em sua própria língua.
Imediatamente, os outros Abras se puseram em movimento. Teletransportando-se de árvore em árvore, o grupo de Pokémons se aproximava cada vez mais. Néftis e Hero identificaram a ameaça, e colocaram-se em posição de combate, determinados a proteger Hina Ichigo. Sadie e Zuko saltaram para a frente de seu treinador, por mais que estivessem assustados e confusos, jamais permitiriam que algo ruim acontecesse com Thomas. Pizzicato assumiu uma pose protetora à frente de Kanaria, suas bochechas estalavam eletricidade. A violinista, por sua vez, ainda estava concentrada no líder dos Abras.
– Por quê? Já não basta tudo o que você e os outros fizeram, por que ainda se recusam a devolvê-la? – As mãos da garota estavam fechadas em punhos, todo o seu corpo tremia de raiva. Minun olhou tristemente para sua dona, não gostava de vê-la daquele modo, mas não havia nada que pudesse fazer. A violinista já nem mesmo parecia a menina alegre e gentil que Thomas conhecera alguns minutos atrás, a raiva e a tristeza pareciam ter dominado a talentosa violinista. – Eu a quero de volta, e quero já! Pizzicato!
Entendendo o chamado, Pizzicato imediatamente lançou uma descarga elétrica contra o Abra mais próximo. O Pokémon psíquico parou de se movimentar no mesmo instante, sentindo os efeitos do Thunder Wave. O Minun não parou por ali, passou a disparar um ataque elétrico após o outro, fazendo seu melhor para paralisar todos os Abras ali presentes antes que eles alcançassem Kanaria ou Hina Ichigo. Infelizmente, a cada Abra que caía, outro aparecia para ocupar seu lugar, e os demais conseguiam desviar de grande parte dos Thunder Waves com seu Teleport.
– Berrybell! – Ao ver Pizzicato batalhando bravamente contra Pokémons em vantagem numérica, Hina Ichigo enfim conseguiu reunir coragem o suficiente para falar. Pronunciou apenas uma palavra, o nome de sua Pokémon, entretanto a Pachirisu compreendeu melhor do que a qualquer ordem elaborada.
A Pokémon elétrica, apesar de estar muito assustada, compartilhava um desejo com Néftis e Hero: queria manter Hina segura, e faria isso a qualquer custo. O esquilo logo juntou-se a Pizzicato, ajudando-o a paralisar os inimigos. Contudo, mesmo com todos os esforços de ambos os Pokémons, eles não seriam capazes de impedir tantos oponentes sozinhos. Precisavam de ajuda, e rápido.