#006 - A espera de um sopro

Atento as palavras que eram ditas pela criadora, o garoto assentia enquanto a seguia em meio a vegetação nativa daquela rota, olhando para trás vez ou outra para conferir se o pequeno símio continuava a segui-los. Então, logo chegavam diante a uma cena um tanto, como poderia dizer, triste perante aos olhos do jovem, a visão de algumas criaturas ao rodeá-los bastante machucados em função da disputa pelo território. Certamente, não era algo que estava acostumado a ver.

Sendo assim, seguindo as palavras de Jane, passou a acompanha-la por aquele cenário de perto, observando suas ações e se mostrando levemente perdido quanto ao que fazer, principalmente em função do medo de fazer algo errado e piorar aquela situação que já não era das melhores.

Então, tomado pela vontade de ajudar de alguma forma, mas de maneira que não atrapalhasse, fez o que parecia ser obvio, indagou.

- Jane? – Começou um tanto sem graça. – Tem algo que possa ajudar? Não sei muito bem o que posso faze por aqui...

- Certo. – Respondera o jovem de cabelos verdes a criadora diante a ajuda que iria prestar.

Assim, a medida que ele a observava examinar o estado de cada uma das criaturas presentes passava a agir de acordo com as instruções dela, indo de encontro a mochila dela e pegando pouco a pouco os itens necessários e não tardando em convergir na direção das criaturas machucadas, passando a aplicar os medicamentos com cuidado sobre seus ferimentos, tentando se conter para não produzir nenhum movimento brusco ou fazer aquele trabalho de maneira nervosa demais, assim como se sentia. De fato, suas mãos queriam tremer enquanto manuseava os frascos, sendo assim, só lhe restava se esforçar para não derruba-los ou aplica-los de maneira errada.

Sendo assim, seguia seu trabalho de maneira cega, sem prestar muita atenção na maneira como tais ferimentos haviam se originado, até o momento que Jane chamava atenção para os machucados gélidos, fazendo-o tomar conhecimento que os guaxinins listrados não aprendiam tais movimentos de maneira natural. Certamente, tal fato era um tanto estranho, não fazia sentido tais criaturas usar movimentos que eram tão desconexos com sua realidade selvagem.

- Então... Quer dizer que pode ter tido influência de alguém nessa disputa? – Indagou. – Acho que também não poderíamos descartar a possibilidade de algum deles ter tido um treinador antes, não sei... – Emendou de maneira um tanto leiga. – Mas é muito estranho.

Apesar de em um primeiro momento não ter levado aqueles aspectos em consideração, ao passo que a criadora falava, pode perceber o quanto fazia sentido tais palavras. De fato, não fazia sentido ensinar tais movimentos a aquelas criaturas dada a forma como a maioria dos treinadores vinham agindo ultimamente, então o porquê de fazer tudo aquilo? Naquele momento, nada que fizesse sentido passava pela cabeça do garoto de cabelos verdes. Só lhe restava continuar seu serviço ali.

Então, orientado por Jane, passou a aplicar algumas poções nos outros primatas presentes ali, não deixando de dar uma breve observada no símio lilás para ver como ele estava se comportando diante a tudo isso. Enquanto aplicava o produto sobre o ferimento do Mankeys, não se conteve em falar um pouco mais.

- Mas... – Começou enquanto pegava outro frasco para aplicar. – Não faz muito sentido se dar a esse esforço. A menos que... Bom, quisesse provocar essa disputa e chamar atenção para ela. É o que me parece. Mas um por que não me vem a cabeça.

Numa situação como aquela, o jovem não sabia muito o que fazer senão continuar a escutar as palavras da criadora e deixar que ela conduzisse a situação, já que se sentia um tanto perdido diante daquelas informações quanto a tudo que ocorria ali. Porém, ao passo que fazia o que lhe era pedido, notava que de forma bastante estranha as criaturas que ajudava simplesmente ia embora, como se tal disputa não fosse mais importante. Não que quisesse que elas voltassem simplesmente a batalhar por aquele espaço, mas sair daquela maneira lhe era estranho e, infelizmente, era somente mais uma das coisas que sem aparente resposta que lhe incomodava em toda aquela situação.

Não deixara também de continuar a observar o pequeno símio, estranhando de início, devido a todas as coisas que ocorreram naquele dia em companhia dele, a forma como ele reagia a toda aquele cenário, aparentemente de maneira triste para Raiko. Então, diante a isso, decidira se aproximar do lilás como que em busca de abandonar sua desconfiança, com certa razão, ao que via nele naquele momento.

- Ei. – Chamou pelo Aipom. – Não quer ajudar também?

Logo, enquanto esperava pela resposta dele, tornou a escutar a voz de Jane, que afirmava o fato de que após ajudarem um pouco mais iriam fazer uma busca pelo local.

- Certo. – Assentiu o jovem em resposta. Parando por alguns instantes de maneira pensativa antes de tornar a falar. – Jane...Tem algo em mente do que teve aqui?

Quando o pequeno lilás começara a agir, um simples sorriso não deixara de se desenhar nos lábios do jovem, denotando que ficara mais tranquilo diante ao fato dele se sensibilizar e tentar ajudar as outras criaturas que ali estavam, porém, não poderia se dizer que seu receio fosse sumir de uma outra para outra, ainda não confiava nele. Sendo assim, ficara a observá-lo enquanto fazia o seu trabalho até o momento que Jane anunciara que partiriam para a busca, seguindo em frente sem esperar por ele.

Aos poucos, começava a estranhar as últimas atitudes da moça, que desde a descoberta daqueles incomuns movimentos que as criaturas usavam se mostrou um tanto distante, inclusive deixando de responder à pergunta feita por Raiko, o que lhe levava a suspeitar que havia algo mais em tudo aquilo. Somando sua suspeita, não poderia atribuir a essa estranha atitude o fato da disputa de territórios, já que de início ela se mostrara bem acostumada a essa situação. Sendo assim, começava a achar que a jovem poderia saber de algo mais em relação a tudo aquilo, só não sabia se seria certo pergunta-la diretamente sobre isso, já que mal a conhecia e tampouco queria passar impressões erradas.

Entretanto, sentia a necessidade, e talvez o dever, de não deixar as coisas daquela forma.

Vendo que ela se afastava, não teve outra reação senão olhar para o pequeno primata e balbuciar um “vamos”, passando a segui-la então e se adiantar para alcança-la, colando a mão no seu ombro.

- Jane? – Chamou. – Está se sentindo bem? Digo, você me parece meio... Desanimada.