Treino Difícil, Combate Fácil!

Independente de ter ou não tirado um bom descanso, era quase impossível para o rapaz evitar o peso tanto das pálpebras, quanto de seus próprios músculos, que ainda sentiam os efeitos do treinamento do dia anterior - e, não obstante, da madrugada em claro (ou, ao menos, parte dela) que havia passado. De qualquer jeito, Gray se mantinha de pé, fosse por conta da perda do "ritmo" do sono ao ser obrigado a acordar para se despedir de Allstar, ou simplesmente por mero desejo de colocar em prática seus planos, seja lá quais e quantos passassem por sua cabeça.

Em compensação, existia algo - ou alguém - capaz de auxiliar o monotreinador para que permanecesse em consciência: A própria Rag Doll que, talvez movida pelo humor alegre de ter sido presenteada com a pilha de doces no dia anterior, havia optado por permanecer longe de sua esfera bicolor, e agora aproveitava o clima morno do dia junto ao seu mestre - ou melhor dizendo, um amigo? Bem, isso era um detalhe que, embora nem sempre explícito, certamente se mantinha vivo. Do contrário, como haveria a menor possibilidade daquele tipo de interação?

Como bem especificado antes, o dia tinha nascido bom. Poucas nuvens pintavam o céu e, embora com um espaço mais que suficiente, o Sol não era forte o suficiente para castigar aqueles que por baixo dele se voluntariavam a passear. As árvores que se espalhavam pela cidade auxiliavam na manutenção da temperatura amena, e grande parte de Petalburg era agraciada com as sombras alongadas de suas copas. Como se deve imaginar, não era difícil ver pássaros sobrevoando o local, ou mesmo fazendo ninhos - alguns deles, aliás, observavam curiosamente a passagem do exótico monotreinador. Alguns mais atrevidos arriscavam voar perto, mas a mera presença de Banette era suficiente para espantá-los, infelizmente.

Existiam, em algumas esquinas, placas que indicavam as principais áreas da cidade. Basicamente elas se resumiam nas zonas residenciais, industriais e de comércio. A dupla - seria trio? -, naquele exato momento, não se encontrava em nenhuma em específico. Existiam casas ao redor, e algumas pequenas lojinhas de bairro, mas nada que chamasse a atenção: Teria Gray, então, algum plano de rota a seguir?

Após uma breve análise das opções que lhe foram apresentadas, o monotreinador optou por seguir em direção às zonas comerciais, imaginando que talvez assim pudesse encontrar alguns pokémons xeretando em latas de lixo de becos ou mesmo pelas ruas - e, por que não?, até pelas lojas, auxiliando os comerciantes com algumas tarefas: Elétricas, principalmente. A primeira coisa que aconteceu antes que sequer pudesse ir em frente, porém, foi o fato de Banette escalar os ombros do rapaz e lá se pendurar. A fantasma não era um dos mais pesados pokémons, mas Gray também não era a pessoa mais forte, considerando sua forma pequena e ainda magra. Inevitavelmente, então, o garoto bambeou, e a dupla quase foi ao chão; E isso provavelmente teria acontecido, se Rag Doll não voltasse ao chão num breve lapso de sobriedade - apesar de descontente.

Seguiram, então, em direção ao centro da cidade. Ainda era cedo, mas Petalburg parecia fadada à acordar junto com a natureza, e o movimento do lado de fora era um grande indicativo desse fato. Alguns ônibus rodavam pelas ruas, e até mesmo táxis, embora grande parte destes veículos ainda fossem vistos estacionados pelos cantos. Por sorte, o trânsito não estava caótico, e atravessar as ruas era uma tarefa relativamente fácil para treinador e pokémon.

Ao longe, já se era possível enxergar um dos shoppings da cidade, com de quatro andares, e outros prédios comerciais mais altos ainda, embora não tão largos quanto. Claro, existiam as lojas menores, dos mais variados tipos - mas o garoto optaria por seguir pelas ruas, ou checar algum dos estabelecimentos maiores para ver suas opções?

Considerar mesmo a segurança dos estabelecimentos maiores era uma atitude perspicaz do monotreinador. Com esse mínimo pensamento, facilmente riscava as grandes lojas e os infinitos andares de prédios que se espalhavam por aquela área, e quem sabe se não diminuía, de maneira drástica, até mesmo o tempo que gastaria em busca de novos pokémons? Enfim, não foi preciso muito mais antes que o jovem se dirigisse então até um pequeno estacionamento nas proximidades, onde pôde recuperar a sua bicicleta que, por sorte, havia amarrado outrora: Certamente o veículo seria útil para minimizar as chances de que seu cansaço surgisse com mais velocidade.

Oferecendo uma carona à boneca de pano assombrada - que não foi besta de recusar, e inclusive pareceu se divertir com a chance de montar na bicicleta -, o adolescente partiu, pedalando tranquilamente pelas ruas que se espalhavam pelas zonas comerciais. De vez em quando, era necessário fazer uma ou outra parada por conta de semáforos ou de carros no caminho, mas nada drástico: Como bem dito anteriormente, o dia mal havia começado e o movimento ainda era escasso.

As lojas menores não eram maioria em Petalburg, e isso ficou claro com a raridade em que elas apareciam, esmagadas entre os gigantescos shoppings e prédios comerciais. De vez em quando, se era possível ver placas do lado de fora de uma sala pequena, tentando atrair atenção para sua venda de frutas, tecidos ou mesmo algum outro item simplório: E até mesmo anúncios de fechamento ou aluga-se. Eram poucos os becos que existiam, pois as áreas que não haviam sido engolidas pelas construções, eram tomadas pelos verdes das árvores. Mesmo os raros becos não aparentavam nada interessante além de caçambas de lixo ou entulhos escondidos, na verdade.

E então?

Decidindo que sua melhor opção talvez fosse aumentar seu próprio campo de visão, Gray libertou seu (quase) recém-evoluído balão para auxiliar naquela busca - dessa vez, porém, também cobrindo a via aérea. Na mesma calmaria de sempre, o voador assentiu com um balançar de fitas, e permitiu que seu corpo flutuasse em direção ao céu, rodopiando e averiguando as zonas mais próximas. Rag Doll, embora não parecesse tão interessada quando o passeio acabou e a necessidade da procura se viu presente, relaxou e combinou consigo mesma de ajudar com a oferta do monotreinador.

Como bem dito, não existiam tantos becos quando lojas grandes. A maior dificuldade de revirá-los, porém, se encontrava no fato de que se encontravam relativamente distantes um do outro, e alguns nem mesmo mereciam ser chamados de becos, tão estreito que eram - sem permitir que o treinador e nem mesmo sua pokémon fossem capazes de adentrá-los de maneira usual.

Verificaram, então, um, dois, três, quatro, cinco. O sexto beco, assim como todos os outros, não parecia especial - na verdade, sequer parecia um beco, e não era por ser estreito. Existia uma luz em uma curva à direita de seu fim, que quase fez Banette passar direto: Porém, ao contrário do que poderia ter feito, a fantasma parou, quase depois de atravessar completamente para a próxima loja. Parou, o rosto se voltou à passagem e recuou uns três passos, um olhar desconfiado - e então, bateu no braço de seu treinador com uma das mangas compridas, antes de apontar na direção do caminho.

Não existia realmente nada de especial - apenas umas duas caçambas. Entre uma e outra, porém, quase escondida, alguma coisa alaranjada se destacava no concreto, rente ao chão, mas daquela distância era impossível dizer ao certo o que seria...

Gray tinha um plano bem simples em mente: Poderia desenrolar um combate fácil caso encontrasse um pokémon, ou então apenas guardar na mochila qualquer objeto que fosse. Como guarda costas, libertou também o ciclope recém-evoluído, que tomou a dianteira naquele curto caminho até a estranha coisa alaranjada - seja lá o que poderia ser. Um pouco atrás, o seguiu, com Rag Doll em seu encalço, aguardando alguma resposta de ~X~ sobre que caminho tomariam a partir dali.

O fantasma, porém, quando alcançou as caçambas e verificou qual era a situação, apenas ficou parado algum tempo, e o olhar se voltou para Gray, permitindo que o rapaz avançasse beco adentro. Entre os depósitos de resíduos, na verdade, não existia nada de especial. A cor viva que Banette havia visto nada mais era que cascas de - irônico ou não - laranja. Próximo à elas, também existiam restos de maçãs e cascas de banana jogadas de qualquer jeito: Algo normal, se não fosse o pequeno detalhe das mordidas desregulares nos lixos orgânicos, e que ainda pareciam "frescos", por assim dizer. Algum pokémon teria estado por ali recentemente?

Enfim, talvez esse detalhe não fizesse tanta diferença, considerando que o local agora parecia vazio. Mas então, por onde o monotreinador seguiria: Voltaria pelo mesmo lugar que havia entrado, ou continuaria para o outro lado da passagem?