Não havia muito a se fazer ali - afinal, a única possibilidade restante ao rapaz se resumia à seguir em frente, ou pelo menos se desejasse se reunir com o companheiro de dança, aparentemente. O retorno era inviável, pois as pétalas só seguiam por um caminho, o exterior era periculoso e o deixava às cegas e, bem, por mais que o vento e o clima dos túneis piorassem toda a situação do frio que agarrava-se ao corpo do moreno, poderia minimamente agradecer que a chuva não era mais constante sobre sua cabeça. Preparando-se para o pior, o treinador tomou entre os dedos a esfera de seu simpático ermitão (há pouco recolhido, pobre coitado) e pediu pela discrição de sua inicial, que se limitou a revirar os olhos e emitir um miado baixo, inquieto e claramente desgostoso com toda a situação.
Com cuidado, seguiram pelo corredor parcialmente iluminado pela luz esmeralda que a entrada lateral emitia, suave. Ao longe, a chuva e os trovões ecoavam seus sussurros pelos túneis que se embrenhavam nas vísceras do monte, trabalhando para que o caos da tormenta alcançassem e atingissem, à sua própria maneira, aqueles que em seu abraço gélido se escondiam. Raríssimas eram as ocasiões, mas também ocorriam momentos em que um guincho frustrado e altíssimo - emitido por sabe-se lá o quê - ribombava por entre as esquinas daquele labirinto escuro, capaz até mesmo de perturbar os cadáveres que por ali há muito descansavam.
Aproximaram-se. Pé ante pé, respiração controlada e quase segurada. Não havia nenhum som distinto reverberando do interior daquela ala, mas a iluminação já fazia papel suficiente em explicitar que muito provavelmente não estariam sozinhos - e foi com essa mentalidade que a dupla seguiu em frente, corpo colado com a parede e hesitação rabiscada nos atos -. Uma espiada cuidadosa revelava um "cômodo" muito mais amplo do que os corredores que até então haviam percorrido. O salão guardava em seu interior inúmeros túmulos enfileirados, simplórios, a maior parte com as lápides desgastadas pelo tempo: Um 6x5, se o treinador se dispusesse à contar.
Mas, não era essa a parte importante.
Apoiando-se na ponta dos pés sobre uma das sepulturas - apenas duas fileiras de distância da entrada -, era uma figura familiar a que se mantinha imóvel. A capa em suas costas balançava com suavidade, e o buquê esquerdo se erguia em direção ao teto: Acima das flores azuladas, uma pulsante esfera de energia esverdeada se acumulava, expandia e permitia dissipar aos poucos, sem jamais se extinguir - e ela era a responsável por iluminar todo o precário ambiente. A atenção do venenoso se mantinha fixa em um ponto específico da sala, embora não fosse possível dizer em primeiro momento o que o impedia - ou, pelo menos, o por quê - de agir ou sequer se mover dali, se é que existia alguma coisa. Diante da visão do gramíneo, a felina pareceu relaxar. Talvez pela frustração ou meramente vontade de ir embora, por um singelo instante abandonou a cautela e, num movimento incalculado, arriscou um passo para frente, e foi quando uma de suas patas afundou sonoramente em uma poça d'água acumulada na porta.
Tudo aconteceu muito rápido. Como uma verdadeira bomba que finda os segundos para explodir, a movimentação do mascarado ocorreu com a mesma perfeição de um compasso; O eco das águas foi o suficiente para que Buddy volvesse parte do corpo imediatamente na direção da entrada, e o buquê avermelhado acumulou quase que instantaneamente uma esfera bem parecida com aquela que utilizava para iluminar a área e, num tiro veloz, a Energy Ball cruzou o ar e explodiu bem ao lado da pobre Meo-Mey, que só não foi atingida por conta da reação veloz da felina, que saltou para trás num sibilo engasgado e se agarrou ao corpo do treinador, grudando-se ao seu tronco e prendendo as garras no tecido molhado de suas roupas.
Foi nesse momento, ao ouvir o barulho emitido pela companheira - que já conhecia por tempo o suficiente para que pudesse identificar sem muitos problemas -, que o dançarino percebeu seu erro. A expressão fechada se desarmou de repente, e os músculos tesos da planta relaxaram aos poucos - as rosas vermelhas se baixaram com certa hesitação, embora as azuis se mantivessem em direção ao teto, sustentando a outra esfera, para impedir que o lugar fosse tragado pela escuridão. Em seguida, um meio sorriso aliviado dominou a expressão do venenoso e, com um breve (e perfeito!) salto de um túmulo para o outro, aproximou-se mais da entrada em busca da imagem de seu treinador. A concentração ainda precisava ser mantida para que não dissipasse sua única fonte de luz, mas isso não impediu o animal de emitir um cry suave, apontando com o buquê livre para um dos cantos do lugar, o mesmo que anteriormente observava com tanta fixação.
Não era muito difícil de descobrir o por quê: Por detrás de uma das lápides, um corpo muito que mal oculto do que parecia ser um pássaro se escondia, trêmulo e encolhido. Sinceramente, sua presença poderia até passar despercebida... Se não fosse a cabeça de um alho-poró que muito casualmente se erguia por cima da pedra da sepultura, o que de maneira bem patética - e até infantil, se quiser saber minha opinião - denunciava por completo o esconderijo do pobre... Pato.
...
Oh, bem.
E então?
Com cuidado, seguiram pelo corredor parcialmente iluminado pela luz esmeralda que a entrada lateral emitia, suave. Ao longe, a chuva e os trovões ecoavam seus sussurros pelos túneis que se embrenhavam nas vísceras do monte, trabalhando para que o caos da tormenta alcançassem e atingissem, à sua própria maneira, aqueles que em seu abraço gélido se escondiam. Raríssimas eram as ocasiões, mas também ocorriam momentos em que um guincho frustrado e altíssimo - emitido por sabe-se lá o quê - ribombava por entre as esquinas daquele labirinto escuro, capaz até mesmo de perturbar os cadáveres que por ali há muito descansavam.
Aproximaram-se. Pé ante pé, respiração controlada e quase segurada. Não havia nenhum som distinto reverberando do interior daquela ala, mas a iluminação já fazia papel suficiente em explicitar que muito provavelmente não estariam sozinhos - e foi com essa mentalidade que a dupla seguiu em frente, corpo colado com a parede e hesitação rabiscada nos atos -. Uma espiada cuidadosa revelava um "cômodo" muito mais amplo do que os corredores que até então haviam percorrido. O salão guardava em seu interior inúmeros túmulos enfileirados, simplórios, a maior parte com as lápides desgastadas pelo tempo: Um 6x5, se o treinador se dispusesse à contar.
Mas, não era essa a parte importante.
Apoiando-se na ponta dos pés sobre uma das sepulturas - apenas duas fileiras de distância da entrada -, era uma figura familiar a que se mantinha imóvel. A capa em suas costas balançava com suavidade, e o buquê esquerdo se erguia em direção ao teto: Acima das flores azuladas, uma pulsante esfera de energia esverdeada se acumulava, expandia e permitia dissipar aos poucos, sem jamais se extinguir - e ela era a responsável por iluminar todo o precário ambiente. A atenção do venenoso se mantinha fixa em um ponto específico da sala, embora não fosse possível dizer em primeiro momento o que o impedia - ou, pelo menos, o por quê - de agir ou sequer se mover dali, se é que existia alguma coisa. Diante da visão do gramíneo, a felina pareceu relaxar. Talvez pela frustração ou meramente vontade de ir embora, por um singelo instante abandonou a cautela e, num movimento incalculado, arriscou um passo para frente, e foi quando uma de suas patas afundou sonoramente em uma poça d'água acumulada na porta.
Tudo aconteceu muito rápido. Como uma verdadeira bomba que finda os segundos para explodir, a movimentação do mascarado ocorreu com a mesma perfeição de um compasso; O eco das águas foi o suficiente para que Buddy volvesse parte do corpo imediatamente na direção da entrada, e o buquê avermelhado acumulou quase que instantaneamente uma esfera bem parecida com aquela que utilizava para iluminar a área e, num tiro veloz, a Energy Ball cruzou o ar e explodiu bem ao lado da pobre Meo-Mey, que só não foi atingida por conta da reação veloz da felina, que saltou para trás num sibilo engasgado e se agarrou ao corpo do treinador, grudando-se ao seu tronco e prendendo as garras no tecido molhado de suas roupas.
Foi nesse momento, ao ouvir o barulho emitido pela companheira - que já conhecia por tempo o suficiente para que pudesse identificar sem muitos problemas -, que o dançarino percebeu seu erro. A expressão fechada se desarmou de repente, e os músculos tesos da planta relaxaram aos poucos - as rosas vermelhas se baixaram com certa hesitação, embora as azuis se mantivessem em direção ao teto, sustentando a outra esfera, para impedir que o lugar fosse tragado pela escuridão. Em seguida, um meio sorriso aliviado dominou a expressão do venenoso e, com um breve (e perfeito!) salto de um túmulo para o outro, aproximou-se mais da entrada em busca da imagem de seu treinador. A concentração ainda precisava ser mantida para que não dissipasse sua única fonte de luz, mas isso não impediu o animal de emitir um cry suave, apontando com o buquê livre para um dos cantos do lugar, o mesmo que anteriormente observava com tanta fixação.
Não era muito difícil de descobrir o por quê: Por detrás de uma das lápides, um corpo muito que mal oculto do que parecia ser um pássaro se escondia, trêmulo e encolhido. Sinceramente, sua presença poderia até passar despercebida... Se não fosse a cabeça de um alho-poró que muito casualmente se erguia por cima da pedra da sepultura, o que de maneira bem patética - e até infantil, se quiser saber minha opinião - denunciava por completo o esconderijo do pobre... Pato.
...
Oh, bem.
E então?