Cerulean era... diferente.
Mas não que isso fosse ruim. A cidade era apenas uma realidade em nada sinônima àquela com a qual ele estava acostumado. Quase como se... estivesse viva. Desde a grande quantidade de pessoas e Pokémon, até mesmo à capacidade hídrica. Cerulean pulsava com uma energia contagiante. Para todos os lados, via-se algo diferente. Novo.
Sinceramente, Ren não tinha dificuldade nenhuma em enxergar-se tirando férias ali. A rede de rios e lagos era simplesmente estupenda: Asherah certamente adoraria mergulhar naquelas águas. Bem, ele não sabia exatamente se as águas eram próprias para banho, mas imaginava que ao menos algum lugar do tipo deveria existir. Será que todos os habitantes aprendiam a nadar em piscinas? Não, isso parece besteira.
...
Ele suspirou, tentando organizar a cabeça um pouco. Ainda não tinha certeza da razão pela qual estava no continente. Para ser honesto, estava apenas deixando as emoções e a espontaneidade tomarem conta de si. Sabe, tentar parar de preocupar-se um pouco, e só... deixar o vento levar. Afinal, Ren vinha tentando utilizar a cabeça até demais, nos últimos dias. Provavelmente, fazia bem seguir o coração às vezes — mesmo que isso fosse uma total bobagem, e você terminasse perdido.
Quero dizer, ainda mais perdido. Por que, convenhamos, o coordenador já há muito tinha desencontrado-se dentro de sua própria mente. Questionamentos, perguntas sem respostas. Respostas, clarificações, mas ideias quase que inaceitáveis. Desde de que visitara Brawly em sua academia-ginásio — além de algumas conversas que tivera com outros treinadores que encontrara em sua jornada —, Ren deparou-se com a defacetação de algo que para si, era uma verdade imutável.
Batalhas. Desde muito pequeno, o jovem era averso aos embates que utilizavam monstrinhos. Acreditava serem irracionais e repletas de crueldade e falta de apreço e consideração. Contudo, encontrara com Roxanne fatos científicos que provavam as batalhas como sendo benéficas, afeiçoadoras. Ademais, muitas foram as pessoas que disseram enxergarem os combates como forma de estreitar os laços treinador-Pokémon. E bem, o coordenador tivera provas empíricas pessoais de que falavam a verdade.
Contudo, algo ainda não ficava claro: mesmo com isso tudo, algo dentro de si ainda recusava-se a aceitar aquilo. Recusava-se a permitir que laços fossem criados ou fortalecidos. Recusava-se a ouvir a voz da razão. Recusava-se a apenas... acreditar.
E ele queria respostas. Opiniões. Formas de entender o que se passava dentro de si. Como resolver isso. Claro, no extremo fundo de sua alma, Ren sabia a resposta. Ele sabia os motivos, e imaginava como poderia resolvê-los. Mas mesmo a possibilidade era dolorosa demais. Não, era muito mais fácil procurar uma resposta alternativa. Fugir para longe dos problemas, visitar uma região distante. Procurar treinadores exímios, para saber a opinião deles. Mas nunca, nunca sequer cogitar olhar para os fantasmas do passado diretamente para seus rostos.
E ali estava ele. Vagando pela cidade dos lagos floríferos. De fato, belos. Ele havia sentado-se em um banquinho de madeira, que tinha a vista para um dos lagos. Suspirou profundamente. Não sabia o que esperava encontrar ali. Não era como a fosse aparecer uma presença inexplicavelmente experiente, disposta a compartilhar seus conhecimentos com um jovem inseguro, não? Sim, isso é besteira também. Ele provavelmente deveria apenas ler um panfleto e ficar sabendo que havia um ginásio ali. Muito mais fácil, de fato.
...
Fácil. Desde quando a vida é fácil, Ren?
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OFF :
Desafiando indiretamente o seu moço destruidor de vidas.
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