Pokémon Mythology RPG
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[Mahogany] Memórias

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Ao ser despertada do transe Ralts parecia confusa. A psíquica observa tudo claramente se perguntando "onde caralhos estou e como vim parar aqui?", olhava para Thomas e dava um sorriso. Por fim a Pokémon caia em campo, por sorte apenas dormindo.

O caminho de volta ao Centro Pokémon foi tranquilo, a tempestade que até então parecia pesada demais começava a acalmar. Thomas já não sabia entretanto se a chuva era apenas um efeito climático natural ou uma peça que alguém vinha pregando nele também, estava cansado e com sono e já não conseguia distinguir muito bem as coisas. Bronzor, Sadie e Bonnie acompanhavam o treinador, que segurava a psíquica por dentro da capa de chuva para que não se molhasse.

De volta ao quarto o treinador encontrou Ilíada repousando, por sorte calma. A moça de cabelos rosados dormia agarrada na fofa lã de Abel. Já Néftis se deitara em um tapetinho no chão próximo da garota. Thomas decidiu que não iria acordá-la e apenas colocou Ralts ao lado de sua treinadora, o que mudava seu semblante claramente influenciada pela presença da Pokémon. O treinador estava cansado e não queria pensar em muita coisa, mas isso não o impedia de ficar impressionado com a conexão que a mono treinadora tinha com seus monstrinhos.

O treinador pegava a capa de chuva molhada e a colocava em um cabideiro próximo, fazendo o mesmo com as capas de suas Pokémon. Enquanto tirava seus tênis notou que os monstrinhos já começavam a se aninhar no quarto, todos pareciam ter tanto sono quanto ele. Sadie se empoleirava no cabideiro e fechava seus grandes olhos de coruja, já Bonnie e Bronzor arrumavam seu próprio cantinho na cama e descansavam ali mesmo. Thomas não pensou muito e após tirar sua roupa molhada desabou na cama ao lado da amiga e dormiu ali mesmo. Havia sido um longo dia e só queria dormir agora.

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The yesterday is today
Mahogany Town


Ousado, eu diria. Assim que voltaram para o quarto e viram que estava tudo certo, Thomas e seus pokémon arrumaram as coisas e foram dormir. E bem, o treinador deitou-se na mesma cama que Illíada... Poderia ser embaraçante, caso ele parasse para pensar um pouco. Coisa que não fez.  Se há algo que notei ao longo de sua estadia em Mahogany, foi que Thomas não era um ser movido pela razão.

De qualquer forma, talvez ele não se importasse, e ela também não. Contudo, ainda acho que Abel foi o mais beneficiado em toda essa situação, se é que me entende. Pois bem. Quando acordasse, Thomas provavelmente não veria Illíada, o que poderia ser um pouco confuso. Ainda assim, Ralts dormia em seu lugar, também abraçando o Mareep.

... Por quê não, afinal?

Caso fosse atrás da garota, encontraria-na dentro da cozinha, com Bronzor, ajudando a fazer o café da manhã. — Thomas! Bom dia! — provavelmente ela diria, caso acabasse encontrando-o lá. Talvez ela acabasse por ruborizar também, não sei. — Pensei em ajudar no café como agradecimento para você! Que tal?

Ah, além disso, hoje não iríamos precisar fazer o trabalho de sempre, de qualquer forma. — ela então explicaria, com um sorriso travesso. — Novos voluntários chegam hoje, então você provavelmente vai precisar explicar a eles o que fazer, e coisas do tipo. — novos voluntários, é? Poderia vir a ser útil.

Por que não acorda Ralts, também? Preferi deixá-la dormindo, você sabe, depois de tudo ontem. Além disso, ela não gosta muito de cozihar. — divagou brevemente, lembrando-se da fadinha que ficara dormindo agarrada à lã da ovelhinha. — Ah, por que não leva ela com você? Quando eu terminar as coisas aqui, juntarei-me a vocês!

Ela não citou o fato de terem dormido na mesma cama, apesar de alguns dos ajudantes da cozinha ficarem dando algumas risadinhas o tempo todo, observando a conversa da dupla, quase como se soubessem de algo que o próprio Thomas não sabia. Ah, os jovens de hoje em dia!





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Thomas não havia de forma alguma dormido ao lado de Ilíada com maldade em sua mente, porém seu cansaço era tanto e enxergar a garota já dormindo quando ele chegara da busca por Ralts fez com que ele não pensasse muito e apenas que jogasse ali. Quando o treinador acordou e teve noção do que acontecera pensou que talvez tivesse feito algo muito errado, será que a moça de cabelos rosa havia se sentido incomodada com sua atitude. O moreno deixou os Pokémon ainda dormindo e foi até cozinha, onde encontrou a treinadora.

Bom, ela não parecia incomodada afinal. A treinadora de Pokémon psíquicos trabalhava na cozinha e preparava um café como agradecimento ao salvamento de sua Ralts pelo nosso herói. Thomas ficava lisonjeado e um pouco envergonhado ao mesmo tempo, afinal não havia feito aquilo em busca de recompensas.

- Bom dia Ilíada - respondeu a mulher. - Não precisava se incomodar com isso, mas eu fico agradecido de verdade.

Conversaram mais um pouco e mono treinadora revelou que novos voluntários estariam chegando para auxiliar na reconstrução da cidade e que seria papel de Thomas ensiná-los o que deveriam fazer. Apesar de um pouco tímido em comandar tanta gente o treinador se sentia até que agradecido em participar assim da equipe, aparentemente havia adquirido um papel importante entre os outros voluntários.

- Irei me aprontar e chamar os Pokémon então.

O treinador se virou e voltou até o quarto, onde terminaria de se arrumar e chamaria os dorminhocos. Todos os monstrinhos estavam aconchegados, mas o moreno tratou de chamar todos eles. Logo Abel, Bonnie, Sadie e Néftis foram acordando, além de é claro Ralts.

- Mocinha hoje sua treinadora pediu para que você me acompanhasse, estaremos conhecendo os novos voluntários. Pode me ajudar nisso?

Quando por fim estivessem prontos o treinador sairia marchando dali com sua trupe de monstrinhos até o ponto de encontro.

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The yesterday is today
Mahogany Town


Felizmente, nada parecia estar errado. Apesar de o fato de terem dormido, supostamente, "juntos", Illíada e Thomas não pareciam ver aquilo como um grande problema. O jovem parecia gostar do agradecimento que a amiga estava preparando para ele, também, apesar de ter recebido a tarefa de passar um tempo com Ralts.

Todos os monstrinhos pareceram acordar com bom humor, principalmente Abel. Aparentemente, ser abraçado durante a noite toda deixou o cordeirinho muito feliz. Parecia que ele sairia voando para levar amor para o mundo todo. Adorável. A fadinha da treinadora parecia estar contente também, e apesar de fazer uma caretinha ao ouvir que não ficaria com Illíada, sorriu e levantou o punho para Thomas.

A pequenina parecia estar disposta, até. Bem, provavelmente a ajuda dela seria bastante útil, também. Um pokémon que sabe Psychic é sempre bem-vindo, não? De qualquer forma, assim que ele estivesse pronto, poderia acompanhar uma outra voluntária, aparentemente, a treinadora de Phantump e Lilligant, até o lugar no qual receberiam os novos voluntários.

E aí? — diria ela, cumprimentando-o com um aceno. Tinha curtos cabelos louros, e em suma, tinha uma aparência bastante "usual". Não disse ou perguntou nomes, apenas chamou o jovem até o lugar. Seriam dois grupos, totalizando quase que vinte pessoas. Ela iria receber aqueles que viriam de barco, e Thomas deveria ir até o grupo menor que viria de helicóptero.

Ela deu um mapa para o treinador, indicando o ponto. Talvez ele não se sentisse como sendo a melhor pessoa para fazer o trabalho, mas como dito, ele parecia ter conquistado a confiança dos voluntários. Aparentemente, as notícias sobre o resgate de Ralts haviam se espalhado por aí, contando os heroicos feitos de um treinador que aventurou-se na grande tempestade. Tudo bem, pode não ter sido exatamente assim, mas as pessoas não ligavam muito.

Não demoraria para que chegassem no lugar estipulado, e em pouco tempo, o helicóptero pôde ser visto. O que Thomas faria? Simplesmente esperaria? Na verdade, estou dando esse tempo mais para ele terminar de interagir e para não ficar massante, mas não sei, vai que ele tem alguma ideia... Acho que também é importante citar que Ralts pareceu confusa ao olhar pro helicóptero. Dizem que a espécie é capaz de sentir os sentimentos alheios, não? O que será que ela estava sentindo?





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Thomas fazia o clássico "fist bump" com sua amiga Ralts e a levantava da cama. Após se arrumar o grupo seguia para fora do Centro Pokémon. Ali encontraram rapidamente outra das voluntárias, aquela mesma do Phantump, que acompanharia o grupo até o local do desembarque. A jovem loira apenas cumprimentou o treinador e não falou mais nada, o moreno respeitava isso e deixou que ficasse assim.

Após alguns minutos de caminhada se separaram, com ela dando um mapa para o ponto onde o helicóptero pousaria. A jovem recepcionaria os novos voluntários que viriam de barco para Mahogany, enquanto Thomas ficaria encarregado dos outros. O treinador seguiu mais um pouco até o local, ao seu lado os monstrinhos que não haviam sido recolhidos para a Pokébola. Ralts estava montada nas costas de Abel e parecia curtir o passeio que ganhara, enquanto Sadie e Néftis iam lado a lado e Bonnie vinha mais atrás observando tudo.

Quando chegaram no local o helicóptero podia ser visto e o moreno ficara um pouco nervoso. Sabia que seria um simples trabalho receber os novos voluntários, mas mesmo assim tinha medo que fossem muitas pessoas. Ralts olhava obsessivamente para a máquina voadora, parecia sentir algo. O treinador parou em um local que quem descesse do helicóptero pudesse o enxergar.

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Não posso falar que Ralts não ficava feliz em encontrar seu bro fist, chocando seu pequeno punho contra o do treinador. Ora bolas, até mesmo eu não consigo evitar de sorrir ao descrever, mesmo que em pobreza de detalhes, tal cena. Era simplesmente inevitável, tão fofos! Bem, logo eles foram seguir em frente, cumprir sua tarefa.

A treinadora dos gramíneos de outrora não parecia lá tão sociável quanto seus monstrinhos, mas bem, isso não significava que era uma pessoa "má". Apenas mais reservada. Thomas parecia compreender, e deixava a garota na sua. Afinal, ele tinha seus próprios afazeres, não? Ah, aliás, por falar em fofura, tinha também Abel. A ovelhinha e fadinha, juntas, eram nada mais que deleitante.

Ficar em um ponto visível era inteligente. Bem, não era como se o treinador quisesse matar os voluntários de susto, surgindo do nada, e também não seria nada legal passarem por ele sem nem mesmo reparar em sua presença. O veículo pousou sonoramente, relativamente distante de Thomas, e as pessoas começaram a sair.

Uma senhora vivaz, aparentemente com muita energia, foi a primeira a sair, apertando fervorosamente as mãos do rapaz. Ela foi seguida por um jovem esguio, uma mulher deveras musculosa, e um homem vestido de Machoke (não era uma visão tão agradável). Eles foram acumulando-se atrás do treinador, fazendo uma espécie de fila enquanto esperavam por instruções.

Contudo, algo parecia errado. O piloto parecia discutir com algo — ou alguém — e gesticulava suas mãos fervorosamente. O curioso era que, de onde estava, Thomas não conseguia ver nada. Ainda assim, Ralts parecia sentir também. Ela fez uma careta assustada, como se estivesse meio desconfortável, mas cutucou o rapaz, apontando para o helicóptero. Parecia importante. E talvez estivesse relacionado com uma estranha "antena" avermelhada que saía pela janela. O que seria?





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Alguns voluntários saiam de dentro da máquina voadora, haviam pessoas mais jovens, mais velhas e até mesmo um cara vestido de... Machoke? É sério isso? Mas ele está tipo com uma roupa de Machoke com... músculos e tal ou ele tá de sunga? Ah, sério? Bom, acho que é isso então. Não importa de que Pokémon lutador você esteja vestido, o importante é ajudar eu acho.

Thomas cumprimentava todos do jeito que podia, um pouco tímido de fato, mas feliz com a ajuda que sua cidadezinha natal estaria recebendo. O treinador esboçava um sorriso principalmente ao ver aquela senhora que parecia tão positiva e pronta para ajudar, era revigorante ver que haviam pessoas que ainda se importavam. Entretanto o moreno reparou que algum problema acontecia, ao ver o piloto gesticulando rapidamente e falando com alguém. Um sinal de alerta logo tocou na cabeça do jovem, seria um problema no helicóptero? A princípio não, pois não parecia ser sobre isso que o homem falava. Notou também que Ralts parecia incomodada com algo e ele acreditava ser a discussão, a monstrinha podia sentir os sentimentos (dã) e era de se esperar que ela ficasse agitada em meio a isso. Bonnie também não parecia normal, pois a Shuppet ficara agitada desde o momento do pouso do helicóptero e agora esboçava um sorriso comprido e macabro. Thomas sabia que a fantasma se alimentava de sentimentos negativos, o que indicava que as coisas não estavam nada bem. A psíquica por sua vez apontava para o veículo , especificamente para o que aparentava ser uma "antena" vermelha saindo da janela, seria o dono dessa o causador do problema?

Antes que fosse verificar entretanto o treinador se lembrou dos voluntários. Néftis estava no meio deles claramente buscando alguma atenção e parecia até tentar instruí-los pelos movimentos que fazia com suas patinhas. Decidiu que lidaria com isso primeiro, para depois falar com o piloto.

- Bom dia gente, me chamo Thomas Wilkerson e sou um dos voluntários que ira auxiliá-los em seu primeiro dia. Vejo que se inscreveram para ajudar na reconstrução de Mahogany e fico feliz com isso, pois ela também é minha cidade natal. Aqui vocês vão ajudar com um pouco de tudo, mas principalmente na limpeza das ruas da cidade. Devido as inundações muito entulho e detritos se espalharam, é papel de vocês limpá-los. Devem retirar tudo do meio das avenidas e empurrá-los para os cantos, onde Grimers e Muks ficarão encarregados de retirá-los por completo dali. A ajuda de seus Pokémon é sempre bem vinda. Nossa sede fica no Centro Pokémon da cidade que fica para lá - disse apontando para o local do CP com o indicador levantado - Bom, acho que se vocês não tem mais perguntas podem seguir. Escolham uma rua e comecem o trabalho. Caso precisem de ajuda se dirijam até o Centro, um dos outros voluntários ficará feliz em recepcioná-los. Além disso podem anotar o número de meu Pokénav e entrar em contato comigo caso precisem de algo. Agora mãos a obra.

Após as instruções aos novatos o treinador se voltou ao seus monstrinhos, apenas para notar que sua fantasma enveredava para onde o piloto e o desconhecido - provavelmente - discutiam.

- Ei Bonnie, volta aqui.

O treinador caminhava na direção da fantasma, mas ali aproveitava para ver o que acontecia com o piloto e se ele precisaria de ajuda. Era um mistério para ele o que acontecia ali, mas devido a sensação de Ralts ele suponha que não era nada bom.

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As instruções e orientações do jovem foram bastante claras e precisas. Apesar de ter notado um pequeno alvoroço dentro do helicóptero (não só ele, alguns dos monstrinhos também), Thomas manteve a calma e fez a coisa que parecia ser mais sensata, no momento. Ele foi até os voluntários e disse o que deveriam fazer, onde deveriam ir, como deveriam comportar-se.

Alguns aceitaram o número do jovem, outros não acharam necessário, mas todos pareciam ter entendido e começavam a deslocar-se para a tal base sem mais problemas. A senhora até mesmo segurou a mão do jovem, animadíssima, agradecendo-lhe pela ajuda, uma fofa.

Enquanto isso, Bonnie aventurava-se pelas proximidades do veículo aéreo, aparentemente curiosa com o que quer que estivesse acontecendo por lá. Assim que o notou, o treinador seguiu a fantasminha, visando aproveitar a situação para verificar o que estava acontecendo por ali. Ralts estava um pouco hesitante, mas logo seguiu seu bro fist, balançando a cabeça.

Senhorita, eu realmente preciso que você saia, tenho uma programação a seguir! — eles ouviram uma voz dizer, conforme aproximavam-se. Parecia ser a do piloto, que tentava convencer alguém, uma moça, a sair do helicóptero. Estranho... — Não, você não entende! Eu não posso sair! Eu... Eu não sei o que diria! — rebateu outra voz.

Certo, algo ali definitivamente não estava certo. Thomas poderia estar imaginando o que era, quando viu uma cabeça levantar-se — nada discretamente — pela janela, aparentemente verificando se havia alguém por perto. Cabelos curtos e avermelhados, grandes óculos cobrindo o rosto repleto de sardas. E estranhamente, parecia um tanto quanto familiar.

Ainda assim, ele apareceu por pouquíssimo tempo. Assim que seus olhos encontraram a figura de Thomas, agora mais próximo que nunca, ela deu um gritinho e voltou a se esconder, encolhendo-se no assento do helicóptero. Mas bem, não conseguiu ocultar-se por completo. Uma extremidade de seu cabelo estava à mostra, saindo pela janela, sendo esta a tal "antena", vista anteriormente.

Com a reação da garota, o piloto pareceu notar a aproximação do treinador também. Endireitou-se, suspirando, como se estivesse preparando a si mesmo para uma longa e complicada discussão. Como Thomas reagiria?





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Os voluntários pareciam concordar fácil com as instruções de Thomas, agradecendo-o pelas orientações e seguindo seu rumo para a base da Força Solidária na cidade. Sem mais ninguém para instruir era hora de lidar com aquele outro "problema".

Foi Bonnie quem guiou o grupo até o centro da discussão, onde o piloto do helicóptero falava e gesticulava com alguém. Mais próximo da máquina voadora era fácil notar que quem falava com o homem era uma voz feminina e, pra falar a verdade, uma voz feminina que parecia familiar demais para Thomas. Ele não teve certeza a princípio, pois não via a dona daquela voz fazia muito tempo, o que lhe trazia um misto de felicidade e raiva.

O jovem teve sua dúvida sanada quando viu quem o espiava pela janela do veículo voador. Conheceria aquela jovem de cabelos vermelhos e sardas no rosto em qualquer lugar, entretanto não esperava que após sumir durante quase dois anos encontraria sua irmã justo quando voltasse para sua cidade natal.

- E-Emily? - A princípio a surpresa foi tanta que deixou o moreno sem palavras. Desde que havia saído em jornada não havia recebido notícias da irmã e isso só piorou com o tempo. Após a inundação ele não sabia onde os pais haviam se metido e se estavam bem e, para piorar, também não conseguira qualquer contato com a garota. Thomas havia ficado por cerca de dois anos sozinho e largado a própria sorte, sua única família era Paula - sua melhor amiga - e os seus Pokémon. Sua única ligação com Johto era o Professor Elm, que volta e meia conversava com o treinador por chamada de vídeo quando enviava seus monstrinhos do laboratório para o time. Emily era sua irmã e melhor amiga de infância, ter perdido contato com ela era como ter perdido sua ligação com seu passado e agora vê-la ali, saudável e sem nenhum arranhão, deixava o treinador tão alegre quanto frustrado.

- Será que dá pra sair do helicóptero? Esse homem precisa fazer o trabalho dele.

Ele não conseguiria dizer outra coisa, não antes de processar aquilo direito. Sinceramente? Quando Thomas chegou em Johto e viu a destruição do continente ele já imaginava que toda a sua família havia morrido na inundação. Ver a irmã viva ali era como voltar a respirar novamente.

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Não era algo simples de se processar. Imagine, ver um fantasma que há muito atormentara sua mente, simplesmente surgir em frente aos seus olhos? Não uma ilusão, não um sonho, não uma lembrança. A realidade, pura e dolorosa. Não foi feita para ser fácil de encarar. Ah, como somos inocentes. Quando as peças do quebra-cabeça finalmente parecem encaixar-se, somos acometidos por um terremoto que quebra as peças em pedacinhos ainda menores.

Seria muito mais simples simplesmente pensar que tudo havia acabado. Que a página poderia ser virada com menor dificuldade. Que enfim, as feridas cicatrizariam, e então poderíamos aventurar-nos novamente, com apenas memórias do passado. Mas não. Nunca era tão fácil. Os fantasmas do outrora pareciam escolher a dedo os momentos de paz, para então continuar a assombrar nosso subconsciente.

A tormenta nunca cessa. Ela pode parar temporariamente, mas sempre irá voltar. E era isso que Thomas via agora. Quando enfim pensava que as coisas estavam dando certo, uma pá de verdades indubitáveis, mas ainda assim, difíceis de processar, era enterrada bem no meio de sua face chocada. Uma visão, ao mesmo tempo emissária de deleite e de maldições. Um nome. Uma avalanche de lembranças. Dor.

Emily olhou para seu irmão, uma grande e volumosa lágrima a escorrer por sua bochecha esquerda. Ouvir a voz do treinador pareceu ser o argumento que convenceria sua atitude teimosa. A ruiva pediu desculpas ao piloto, descendo do helicóptero rapidamente, tentando ao máximo evitar contato visual com Thomas. Mas bem, imagino que não tenha dado muito certo. Ela parecia não saber como pensar ou agir, como formar uma frase ou mover suas pernas.

Finalmente, virou-se para o moreno, seus grandes olhos castanhos a lacrimejar. — Olá, Thomas. — por fim disse, secando as lágrimas com a blusa. Apenas isso. Sem “eu estava morrendo de saudades!” ou beijinhos de cumprimento. Não. Era quase como se ela não se sentisse no direito de fazer tais coisas. Espírito livre, sim. Mas livre de alma, e não de culpa.





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