05 - O primeiro dia como um Ranger... ou quase isso!

Ao ver a reação do instrutor à minha pergunta, tive que usar todas as fibras do meu corpo para me conter e não gritar a plenos pulmões e voar no pescoço do gigante. Mas acredito que minha expressão tenha dito o suficiente. Olhos arregalados, narinas abertas, respiração forçada, senti até uma veia pulsar na minha testa. Estava irado.. “SEU IRRESPONSÁVEL!”, era o que tive vontade de gritar. Como, por Arceus, um instrutor leva dois candidatos à recrutas para um local a ermo, os manda adentrar em uma mata fechada e achar um objetivo sem um kit de primeiros socorros? Dane-se o quão a vida de uma Guarda Nacional era, dane-se que um Ranger precisa lidar com todos os tipos de situação, NINGUÉM em sã consciência sai para esse tipo de atividade sem algo como isso! Todo o discurso que ele fez sobre “suicídio premeditado” caiu por terra com aquela situação. Francamente, esperava mais dos Rangers…

Ok, agora eu estava tendo um ataque de pelancas interno. Só respira Galvanis, Hasgard vai agir caso algo saia muito do controle. Só respira e segue o fluxo, isso não deve demorar muito. Apenas uma missão de localização, só uma missão.

Obviamente Rukia teria a pior das reações. De fato já tinha pensado em deixar ela liderar essa coisa toda apenas para evitar a fadiga. Diz o ditado que “peixe morre pela boca”. Nada que eu disser vai mudar essa perspectiva quebrada de mundo que essa garota tem, então vou deixar que a vida faça seu papel: soque fortemente a cara de quem se acha senhor ou senhora da razão. O pior dessa história é que se algo der errado nessa missão eu iria para o buraco junto com ela. Então faria as coisas do meu jeito, dançando a música tocada com meus próprios passos. O que quero dizer com isso? - Pode brincar de rainha do parquinho o quanto quiser. Ainda não percebeu o que está acontecendo, não é? Francamente… - revirei mais uma vez os olhos, deixando com que a garota falasse sozinha o quanto estava preparada para algo que definitivamente não estava acontecendo. Aquela não era uma prova convencional, era uma ocasionalidade articulada por um lunático. Não existe protocolo para seguir nessa situação. Parando para pensar, o acontecido no mar algumas horas atrás era um mero engano comparado com todo esse cenário! Ainda dava tempo de desistir? Não dava pra saber…

Ao menos a descida foi tranquila. Rukia era péssima, tinha que trabalhar vários pontos. Em algum mundo paralelo meu eu de lá estaria tentando ajudá-la, mas não o desse mundo! Apenas fazia o controle de danos e deixava com que sua própria mente perfeccionista a atormente com a avaliação das suas falhas. Estava sendo cruel? Naturalmente. E definitivamente não ligo. Pessoas amadurecem pelo amor ou pela dor, e naquele cenário deixaria que a dor agisse. Ao menos Kinney e o Graveler da garota pareciam se dar bem, trabalhando lado a lado, se esforçando ao máximo para nossa segurança. Ou talvez fosse só impressão minha, no fim das contas. Enfim, chegamos ao solo em segurança. Enquanto ela retirava sua PokéNav, recolhia os equipamentos e os reservava em um canto. Retirei minha bússola para ajudar a me localizar, e saquei meu canivete. Aquele seria o ponto 0 de extração: se tudo desse errado, voltar para cá era melhor opção. Observei ela sacar seu Grotle e espalhar aromas para afastar Pokémon selvagens para longe da nossa posição. Por um lado, isso era ótimo. Pelo outro, inutilizou quase por completa. Minha principal ferramenta para essa situação era rastreamento pelo faro, e com aquele quantidade de pólen pelo ar, isso ficaria mais difícil. Mesmo assim, iria fazer meus preparativos. Retirei as pokébolas de Logan e Elune, e Kinney já estava solta. - Pessoal, a situação é o seguinte… - chamei os três para perto, para passar as primeiras instruções - Precisamos localizar uma pessoa no meio dessa floresta, porém não temos nenhum ponto de partida. - abria o jogo para meu time, realmente tínhamos poucas informações - Logan, você é o mais experiente em rastreamento. O aroma expelido pelo Grotle se dispersa para cima, então talvez possamos achar alguma coisa no solo. Mais uma coisa Logan, Elune é nova na equipe, ajude-a a se localizar, tenho certeza que será uma boa parceira de rastreamento! - olhei confiante tanto para meu Electrike quanto para minha Rockruff  - Mantenham a cabeça abaixada e rastreiem apenas no solo. Tentem localizar qualquer rastro humano, por menor que seja. Sei que são comandos vagos, mas é o que temos por agora... No mais, apenas me acompanhem - dei as instruções para meus parceiros, mesmo sabendo que não eram tão precisos - Kinney, já sabe o que fazer. Vá pelas árvores, olhos no alto. Mas fique próxima. E tenha muito cuidado. - dei agora as instruções para minha Weavile. Usando o canivete, marquei o tronco das árvores pelo caminho. A cada trinta passos, uma marca na forma de seta, indicando o caminho que passamos. Usava a lanterna do capacete para iluminar, e levava a bússola em mãos, sempre de olho na localização. Enfim, caminhamos na direção nordeste… pelo menos era isso que esperava que a bússola indicaria.                            

Por tudo que é mais sagrado, onde é que fui amarrar meu Mudbray? Se não bastasse ela tomar as decisões sozinha e esquecer completamente a parte do trabalho em equipe, o modus operandi dela inutiliza completamente o faro de meus dois rastreadores. Elune mal aguentou a situação, pediu para voltar para a pokébola imediatamente. Tive que usar todas as energias do meu corpo para não explodir, ali mesmo, ou abandonar a prova. Será que mesmo que todo esse estresse valia a pena? Quero dizer, para realizar meu objetivos, eu preciso mesmo ser um Ranger? Não coloquei essas questões na balança antes da inscrição, e agora elas estão bem mais acentuadas graças à todo a situação. Essas e outras questões martelavam a minha cabeça todo o tempo. Aquela missão na verdade era para manter a minha compostura, não uma busca na mata.

Paramos próximo a uma árvore onde a garota abriu sua PokéNav e disse que estávamos perto. Já tínhamos caminhado por uma hora, segundo ela era apenas mais alguns minutos. Foi nesse momento que Kinney me alertou sobre algo que ela avistou do alto das árvores. Parece que ela havia localizado algo. - O que foi, garota? - a questionei, ignorando completamente a presença de Rukia. Lembra o que disse sobre fazer as coisas do meu jeito? Pois então… - Certo, fiquei de olho nas coisas ai em cima, já volto. - disse para minha parceira, para logo voltar-me para Rukia, com os olhos explodindo de raiva, ficando próximo o bastante para que ela pudesse sentir minha respiração. - Você é uma imbecil iludida se acha que está na liderança aqui. Um líder inspira respeito, e isso é última coisa que sinto por você. Olho pra você e só consigo sentir uma misto de nojo e pena. Cale sua boca e comece a agir como a pessoa preparada que você pensa que é se quiser ser um milímetro o que você acha que seus pais são. - as palavras saíam, e eu não tinha filtro algum por elas - Faça o que quiser, eu vou ouvir a minha equipe, coisa que você não fez desde o primeiro passo dentro dessa floresta. - dei as coisas e deixei que ela fizesse o que achasse melhor, para então seguir para árvores que Kinney estava - Vá para uma árvore mais afastada desse fedor e desça, me explique em detalhes o que você viu. - instruí minha parceira, e iria acompanhá-la até um ponto seguro para saber o que ela tem a me dizer.                                

Pronto, ao menos eu estava livre daquele encosto no formato de protótipo de Ranger. Sinceramente, se todos os Rangers fossem como ela, eu teria mais problemas que vantagens para crescer ou fazer o que desejava. No entanto minhas chances eram poucas, praticamente escassas, então não havia muito o que ser feito.

Acariciei a cabeça de Kinney. - Eu sei que falei muito nos últimos dias sobre tudo isso aqui, mas não há mais o que ser feito. Agora vamos fazer a as coisas do nosso jeito, sim? -. Soltei todos das pokebolas, teria de usar minha equipe toda. - Certo. Logan e Elune, tomem a frente e identifiquem o odor. Kinney, nos acompanhe do alto das árvores. Lucy, você fica atrás de mim e espalhe um odor para ocultar nossa posição nas laterais, deixe a linha de ação livre para podermos andar. Cassidy, fique com Lucy a acompanhe a retaguarda. - deleguei funções para todos no meu time e acompanharia a comitiva logo atrás dos dois caninos. A sorte estava lançada.                                  

Parecia que tudo iria correr bem a partir daquele momento. A caminhada pela mata foi bem tranquila, e meus rastreadores faziam um trabalho primoroso. Para uma pessoa não acostumada em caminhar na mata, aquilo seria desgastantes. Mas eu já tinha uma certa experiência e isso não foi dificuldade alguma para mim. Aquilo de certo modo me lembrou uma caminhada tranquila pela mata à noite, mas meu foco não saiu da missão em momento algum. Assim, fomos avançando.

Até o momento que Elune, acredito eu empolgada em mostrar seu desempenho para o time todo, saiu correndo mata adentro! Logan até tentou pará-la, mas foi em vão. Arregalei os olhos e somente consegui correr, ao lado de meus companheiros, atrás dela. Isso poderia se tornar um grande desastre! Ao menos algo de bom surgiu disso: Elune nos guiou até uma rota criada por humanos, talvez por Rangers mesmo! - Puxa! Bom trabalho, Elune! Só não vá… - antes que pudesse terminar de falar e orientar melhor minha caçula de equipe, ela novamente saiu correndo - … sair correndo de novo! Vamos! - e volta para o corre-corre!

O cenário ia mudando aos poucos. A mata ia se abrindo em uma espécie de clareira formada por um conjunto rochoso bem singular. Uma grande árvore frutífera solitária reinava soberana sob a luz da lua cheia. Que cena, meu amigos! Haviam inúmeros frutos ao chão e na árvores propriamente dita, formando quase que um campo minado aos nossos pés. E, de fato, era um campo minado. O resplendor do local deu lugar a uma cena nem um pouco agradável. Havia um grupo de Slakoth e Vigoroth naquele espaço, e entre eles dois Slaking enormes. Era uma iminente ameaça para todos nós! Elune começou a rosnar e já ia latir quando rapidamente me abaixei e coloquei as mãos sobre seu focinho. - Não faça isso! - sussurrei para ela, bem baixinho, levando o dedo indicador em riste até a boca. Lenta e suavemente, peguei minha jovem canina nos braços - Fique bem quietinha, não faça barulho algum, tudo bem? - voltei a sussurrar no ouvido dela, seguido de um leve beijo. Não estava irritado com ela, muito pelo o contrário, ela havia nos levado até a trilha. Só bastava um pouco mais de treinamento, nada mais. - Vamos continuar sem fazer barulho, ok? Cassidy, use seu poder psíquico para levitar, e cuidado com galhos soltos nas árvores! Logan, atenção nos passos. Kinney, ajude a todos a saber onde pisar. Lucy, sei que os frutos parecem suculentos, mas não pegue nenhum deles. Isso serve para todos, até pra mim mesmo! - dei as instruções seguintes, ainda no ambiente do sussurro e olhei nos olhos de todos para confirmar que entenderam. Não me preocupo com Kinney, ela sabe muito bem ser sorrateira. - Vamos! - me levantei devagar, e passo por passo fomos na direção para contornar aquele local e voltar para a trilha, pelo caminho de onde viemos.

Caso tudo dê errado e os Pokémon selvagem acordem, o que seria um problema e tanto, tentaria algumas medidas para sair o mais ileso possível. Em hipótese alguma daria comandos de ataque para meu time, somente comandos de evasiva. Evitaria de olhar nos olhos dos Vigoroth e dos Slaking, isso poderia soar como um desafio ao território deles. Também evitaria qualquer contato com os Slakoth, isso poderia indicar uma ameaça direta à prole. Iria reiterar para todos os meus Pokémon não entrarem em confronto direto, principalmente Logan que é o mais “cabeça quente” nesse sentido. Para além desses procedimentos, tentaria uma abordagem mais amigável, para não dizer diplomática: - Nós não viemos fazer mal a vocês nem a seu bando. Estamos somente de passagem! - iria deixar minhas mãos visíveis e fazer movimentos lentos. Buscaria em minha mochila algo para comer, talvez aquele Casteliocone perdido entre outras coisas - Aqui, peguem esse doce, pra mostrar nossa boa fé! - como tudo na natureza se baseia em equilíbrio, você precisa mostrar boa vontade se quiser obter boa vontade. Na melhor das hipóteses, se aqueles Pokémon se mostrassem não hostis, talvez até pediria alguma indicação ou informação sobre possíveis humanos passando recentemente por ali. Nada como um nativo da região para dar melhores indicações do terreno, não é mesmo?                                    

Tudo parece correr bem, os Pokémon preguiça não acordaram. Voltamos a caminhar pelo lado contrário da trilha quando nosso caminho foi cruzado por dois Vigoroth. Logan entrou logo em posição de ataque, mas não agiu, esperando meu comando. Apenas disse para ele se acalmar e esperar. Os Pokémon passaram por nós, carregando muitos frutos. Aparentemente eles já estão acostumados com a presença de humanos por ali. Bom, era um grande risco a menos, e agora entendo o porquê estávamos tão no escuro nessa prova. Uma simulação em ambiente controlado, já passei por algo semelhante enquanto treinava com o Corpo de Lavaridge. O estresse da situação limitou minha visão, esse era um erro que não poderia mais cometer.

Continuando a caminhar, Logan me avisou sobre um novo rastro detectado. Elune também respondeu, ficando mais agitada e querendo descer. - Tudo bem, Elune. Mas dessa vez acompanhe Logan. Nada de correr na frente! - deixei a pequena canina descer e dei suas instruções, e todos seguimos pela trilha. Depois de caminhar por um bom tempo, avistamos uma clareira com um pequeno foco de luz, uma fogueira. Havia um homem sentado próximo a ela. trajando roupas vermelhas. Um Ranger! - Isso ai! Conseguimos! - comecei a comemorar enquanto corria na direção da clareira. no entanto, antes de chegar próximo o bastante, um vendaval surgiu do alto. Uma grande Swanna batendo forte suas asas, e dela saltou um colosso humano, não se abalando nem um pouco quanto a altura. Era Hasgard, me parabenizando e elogiando muito a forma com que trabalhei com minha equipe. De fato eles eram bem treinados, e estávamos alinhados quanto ao nossos objetivos. Um resquício de sentimentos passados ainda restava e estes bloquearam qualquer reação mais positiva, me limitando a apenas sorrir e soltar os ombros. Achava que aquilo havia terminado, mas Hasgard guardava um bônus.

Dois Vigoroth surgiam da mata, aparentemente eram amigos de Hasgard. Ele propôs uma batalha. - Sabe, já tive uma experiência com batalhas contra Pokémon descontrolados. Auxiliei um Ranger em uma situação na cidade de Mauville, era um Magnetom raivoso no centro da cidade… - comentei sobre meu primeiro contato com um Ranger dias atrás em Mauville enquanto os Vigoroth se posicionavam - É um prazer conhecer vocês dois, Tico e Teco! Logan, Cassidy, vou começar com vocês! Lembrem-se do treinamento, vamos fazer a manobra de incapacitação! - comandei meus parceiros, com Logan abrindo seu típico sorriso de empolgação e Cassidy assumindo sua postura de batalha, um tanto intimidadora se considerarmos a postura mais pacífica que ele apresenta no dia-a-dia. - Certo Logan, comece com Thunder Wave em Tico! Cassidy, avance na sequência com Force Palm também em Tico! - comecei com os primeiros comandos, meu plano era paralisá-los e incapacitá-los antes de causar muitos danos, afinal deveria proteger aqueles Pokémon. - Continuem em frente! Logan, Thunder Wave em Teco! Cassidy, Force Palm em Tico mais uma vez!