Dar os dois Exp Candy para Charmeleon, e evoluí-lo para Charizard (+3 bottle caps, uhul!); tentar capturar Magikarp fêmea para Nicholas e o macho pra Emma (os de nível 30);
Ensinar Cotton Guard para Swablu no lugar de Fury Attack (ainda não evoluir para Altaria);
Resistência não era muito o forte das carpas carmins. E foi com singela facilidade e ligeireza que a dupla se saiu vitoriosa em um confronto completamente inesperado — ainda não haviam deglutido a ideia de que parecia um peixe se afogando, por Arceus. E foi logo no fim do combate que Charmeleon correu até o seu mestre, segurando na barra de sua calça, dando alguns puxões para o louro volver a sua atenção até ele. Sem dizer nada, Nicholas fitava o réptil; o inicial de Nico friccionava os seus braços um no outro, como se estivesse com frio.
— Calma, garotão, tá tudo certo. Mas preciso de você aqui fora mais um pouquinho, só até a gente confirmar de que vá aparecer mais uma leva de peixes doidos, beleza? — afagava o lagarto, que apenas cerrava as pálpebras e aceitava o raro chamego do louro. Nicholas pegou de seu bolso aqueles dois doces que outrora Lanette o entregou antes de saírem de sua casa. Charmeleon tomava-o em suas mãos, curioso, coçando a sua nuca com o membro canhoto, meio confuso. — Come algum docinho aí, pra você não ficar com fome.
Swablu também se achegou de Emma, e diferente do inicial do louro, apenas piava, como se estivesse cansado depois de comer tanto e um combate que exigira um pouco mais de seu físico. Piou, rapidamente abrindo a sua boca, pedindo mais algum quitute para a garota. A kalosiana riu brevemente, antes de entregar mais um bombom para a ave. Arqueou o tronco para frente, afagando também o pequeno.
— Você não tem jeito, né, seu pilantrinha. Depois que a chuva passar, o Xatu vai ajudar você a voar melhor, tá bom? — absorto aproveitando o palatável doce, quiçá até em demasia, Swablu assentiu, antes de a garota recolhê-lo para sua cápsula metálica. — Nico, a gente vai levar alguns deles com a gente, né? Eles ficam bem fortes quando evoluem, e esses daqui pareciam mais fortes que o normal.
— É, você tá certa. Eu vou jogar naquele, e você no outro, tudo bem?
Emma assentiu em um sucinto movimento com a cabeça.
Foi quase simultâneo o arremesso da dupla na direção dos peixes já exauridos: o kantoniano arremessou contra o corpo da fêmea, enquanto Emma tentou capturar o macho; miravam justamente os derradeiros monstrinhos a caírem, que se mostraram mais forte naquele curto embate. As cápsulas bicolores de início apenas chocavam contra o corpo dos Magikarps, acionando o mecanismo de captura do apetrecho. Evocou um feixe de luz vermelho-sangue que envolveu o corpo dos aquáticos, fê-los tremeluzir, suave, antes de se unirem à energia carmim e recuarem de volta para a esfera. A partir daí, se iniciava o mecanismo de captura; em silêncio, torciam para que conseguissem novos companheiros.
Distraídos aguardando enquanto a captura ocorria, Nicholas sentiu algo tatear a sua perna; rapidamente, tornou o corpo na direção do estímulo. As pálpebras outrora semicerradas, abriam-se por completo; o olhar frio agora se tornava surpreso, os lábios descolavam, deixando a boca entreaberta, admirando um lampejo azul que começava a tomar o corpo de seu lagarto que outrora o cutucou. Tal o kantoniano, as pupilas de Emma se dilataram no momento em que se achegou do louro, ficando ao seu lado, e rapidamente Charmeleon se tornava o centro das atenções.
Por outro lado, o ígneo ainda parecia meio confuso aquilo, e apenas deixou que a energia tomasse conta por completo de si — mesmo não entendendo ao certo.
As suas dimensões corpóreas aumentavam significativamente, deixando-o mais corpulento em relação à forma anterior: braços e pernas pareciam mais musculosas, quiçá para suportar o corpo mais pesado. Suas unhas pareciam ainda maiores, tal a sua cauda, ostentando aquela chama intrínseca com ainda mais vigor. A transformação mais significativa era justamente aquilo que mais chamava a atenção na sua forma final: em suas costas, cresciam duas grandes asas, suntuosas, pesadas, entregando-lhe um ar augusto.
O casulo luminoso se esvaiu, e ao fim da metamorfose, era nítido o que ocorrera: Charmeleon alcançou a sua forma definitiva, despertando, enfim, como Charizard.
O réptil ainda assim parecia confuso. Ergueu a sua garra direita na altura de seus olhos, mexendo-a, vagaroso; repetiu o processo com a esquerda. Atônito, pisou no chão algumas poucas vezes, como se estivesse querendo testar o seu próprio peso e conhecer melhor a sua nova forma. Aproximou as asas de suas vistas em um movimento moroso, pois ainda não domava por completo a nova tipagem que o ser etéreo lhe abençoara. Entretanto, foi nesse momento em que vislumbrou seu mais novo membro que caiu na real. Súbito, avançou contra o corpo de Nicholas, próximo de si, envolvendo-o em um apertado abraço, roçagando sua face contra as bochechas do rapaz. Não delongou em começar a lambê-lo em sinal de afeto, tal se agradecesse ao kantoniano por tê-lo auxiliado a chegar no auge de sua força.
— Tá bom, Charme... Charizard. Eu já entendi, não precisa ficar me lambendo não — balbuciava Nicholas, reclamando com o gesto exagerado de seu inicial; o réptil nem ao menos o ouviu, devolvendo, com juros, todos aqueles gestos tão singelos e raros em que o louro lhe parecera mais carinhoso.
E então, desvencilhou-se, dessa vez indo para a frente de Emma. Pulando entre um pé e outro e batendo algumas palmas, as pálpebras cerradas e um jocoso sorriso adornando o tão jovial semblante, Charizard parecia querer noticiar a garota de que finalmente evoluíra. Novamente, avançou contra a kalosiana, tal como fizera com o seu mestre, afogando-a em um mar de gestos aprazíveis. Ao contrário do kantoniano, a garota abraçou-o de volta, sem muitas cerimônias, gargalhando, vívida, tão contente quanto o próprio ígneo com a sua evolução.
— Ai, meu Arceus, que coisa mais linda! Você tá a coisa mais gostosa, Charizard, seu fofo! — balbuciou a kalosiana, conforme dava risada junto com o agora lagarto alado.
O inicial estava absorto demais em sua felicidade. Era como se um cego finalmente pudesse enxergar, sentindo, palatável, todas as cores e as belezas do mundo ao seu redor que nunca antes lhe fora tão palpável. A euforia era por finalmente estar na sua forma final, julgando-se poderoso o suficiente para proteger aqueles dois humanos que tanto lhes eram ternos. Não queria vê-los de jeito algum — principalmente seu mestre — afogados em um mar de agouros e lamúrias, entregando o seu máximo para arrancar nem que seja um breve suspiro de felicidade daquelas criaturas.
Agora com as suntuosas asas, faltava apenas a auréola para confirmar Charizard como o anjo da guarda daqueles dois.
— Você não muda nunca, não é? Por mais que cresça e já pareça um marmanjo, vai ser aquele eterno Charmander que eu ganhei em Littleroot — comentou Nicholas, aproximando-se de seu inicial. Passou a mão na cabeça do ígneo, que retribuía com mais uma lambida em sua face seguido de um sorriso faceiro. O louro deixou um riso abafado adornar o canto dos lábios, finalmente recolhendo o agora Charizard para dentro de sua cápsula.
Sentiu Emma aproximar-se, mais tranquila, ao tocar a mão em seu ombro.
— Você tem muita sorte de ter alguém como o Charizard. Parabéns, bobinho — comentou, em um riso suave, ficando na ponta dos pés para que os lábios se encontrassem em breve beijo.
Nicholas ficou encarando por mais alguns segundos a esfera bicolor de seu inicial. Cerrou as pálpebras por ínfimos segundos, guardando-a a seguir. Um riso trôpego tingiu os finos lábios rosáceos do kantoniano.
— Bom, quem sabe, né... — murmurou para si, tentando disfarçar a euforia ao ver a sua metade por mais oposta que fosse alcançando a forma definitiva.
Era como se ganhasse mais vida, tal se pintasse aquela aquarela envolvida em mórbido preto e branco presenciar aquela cena tão única e especial. Nicholas se enxergava na silhueta de seu Charizard antes de todos os eventos catastróficos ocorrerem em sua vida; era aquela criança que sempre prezou tanto, com uma esperança e luz intrínseca, algo que somente o seu lagarto irradiava.
Nicholas e, agora, Charizard. Opostos, mas ainda assim, complementares. Que duplinha mais excêntrica.