09 - Arrumando a casa!

Igneel comenta algo que desperta minha atenção em um misto de curiosidade e espanto. Seriam as engrenagens do destino se movendo? - Kanto, é? Hm, entendo. - levo a mão ao queixo e deixo meu olhar se perder por um instante - Algo me diz que essa decisão irá afetar a todos, não só como membros da sociedade… - muitas coisas passavam em minha mente naquele momento, em especial o encontro com o Fuinha, o contato do mercado negro que eu e Gaulvi apreendemos antes de subir o Mt. Pyre.

Como recompensa pelo desempenho, Ig entrega para sua Pokémon alguns doces, e logo a luz azulada da evolução a envolve, e uma poderosa Tyranitar surge! - Uau! Diane, você está ótima! - bati palmas diante do sucesso de ambos treinador e Pokémon. Kinney ainda estava um tanto cansada, mas reagiu positivamente à nova conquista da rochosa. - Bem, novamente, foi um prazer poder ajudar Igneel! Algo que diz que nos veremos em breve, em um contexto um tanto diferente… - sim, minha fala foi meio vaga, mas meus pensamentos também estavam. Poderia ser um encontro casual na base em Mauville, ou numa ação de desarticulação do mercado negro, numa base Rocket, etc. Esse ponto estaria nas mãos do destino, mas por hora me cabe somente estender a mão para despedir do vice-líder, voltar ao Centro Pokémon para dar um descanso digno para meus parceiros e seguir de volta para onde meu pai, Edgar e Amália estavam.              

O caminho de volta foi bem interessante, pra falar a verdade. Havia muita coisa se passando na minha cabeça, principalmente acerca do futuro. Kinney estava do meu lado, e ela parecia distraída com o entorno. Esse novo passo da sociedade em ressonância com os últimos acontecimentos, a dimensão que nossas atitudes podem ter… é algo que assusta, e ao mesmo tempo empolga. Não é estranho se sentir assim diante de um desafio. Muitos chamam de coragem, outros de bravata. Talvez não seja nem um nem outro, ou uma mistura de ambos. Uma nuvem de fumaça se formava em minha mente, e meus pensamentos eram tão turbulentos quanto as descargas elétricas.

Chegando no acampamento, como imaginava, tudo estava apagado e tranquilo. Possivelmente estavam todos dormindo, principalmente Amália, já que o dia foi bem cansativo. No entanto, o som vindo do lago me chama a atenção. Seria Edgar ou meu pai ainda desperto e tentando a sorte no lago? Bem, não custa nada dar uma conferida.              

Parece que seu Frederico ainda estava tentando fisgar alguma coisa naquela madrugada, já que era ele a figura envolta na penumbra beira lago. Me aproximei e sentei ao seu lado, e fiquei olhando para ele enquanto me dizia aquelas coisas. E nossa, como era bom receber aquelas palavras de meu pai! Olhei para o lago e observei o manto resplandecente da noite refletida no espelho d’água. - Sabe, pai… - comecei falar, mesmo sem ter certeza do que estava dizendo - É muito estranho imaginar que já de passou um ano. Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo… - repousei Kinney sobre meu colo e comecei a fazer um cafuné na felina noturna, perdido em meus próprios pensamentos - Ver Amália hoje cedo batalhando com um guri na cidade me fez pensar em várias coisas que aconteceram nesse ano. Um dia estava salvando Pokémons de um caçador, no outro estava entregando uma carta de amor de um senhor. Dias depois estava no meio de uma crise energética de uma metrópole, para no dia seguinte dar de cara com um receptador do mercado negro. - olhei para minha mão esquerda, enquanto continuava a acariciar Kinney com a direita - Quando entrei para os Rangers, o instrutor chefe me disse que era muito “emocionado”, que haveriam vidas que não conseguiria salvar. Humanos e Pokémon morrendo em minhas mãos. Quer saber? - encarei meu velho, que parecia ter um ar místico naquele ambiente - A intenção dele era desfazer a visão romântica da carreira, mas ele deu com os burros n’água. Sei bem que posso perder vidas durante um resgate, até mesmo a minha. Mas isso não vai me impedir de tentar. Não no meu turno! - voltei a olhar para o lago, afetado negativamente pelas nossas ações. Por sorte, havia algo que poderia ser feito - Mirana, Ciri, podem sair! - liberei minhas duas parceiras gélidas - Por favor, usem o Powder Snow gentilmente sobre a superfície do lago. Vamos tentar fazer ao menos um pouco para ajudar o ambiente a se recuperar.

Então percebi que Kinney já dormia pesadamente em meu colo. Foi de fato um dia bem cansativo, para todos nós, e produtivo também. - Bom, amanhã penso em retomar o treinamento. Apesar de tudo, precisamos nos fortalecer, e tenho que aproveitar esse momento de folga para isso. - respondi ao questionamento de meu pai, já indo na direção das barracas para descansar. Foi realmente um dia bem longo, e um descanso era mais que necessário.              

Aquela conversa entre pai e filho era o que precisava e ainda não sabia. Talvez tenha sido isso parte do motivo que me fez, subconscientemente, escolher voltar para cá para realizar esse treinamento. Muitas perguntas ainda ficariam sem respostas, talvez pelo motivo mais óbvio: ainda não é hora para serem respondidas. Porém algumas delas já foram contempladas. Posso não ser o treinador ou o Ranger perfeito, mas sentir que todo o esforço para escrever essa história com minhas palavras e meus passos, mesmo com tropeços, é muito reconfortante. Era hora de dormir, encerrar esse dia movimentado e começar outro totalmente novo, com suas infinitas possibilidades. Assim, com uma Weavile adormecida no colo, voltei para minha barraca, e não demorou muito para pegar no sono.

O misto de luz do sol por entre a lona da barraca e o aroma de panquecas frescas foi o suficiente para me despertar. Kinney também acordou, com seu jeito felino de ser ao me dar um “bom dia” recheado de pelos! Assim que sai da barraca, Amália veio toda espirituosa me dar as boas vindas daquele novo dia. - Bom dia, Amália! Dormiu bem? Bem, claro que dormiu! Dava pra ouvir seu ronco lá da cidade, não é Edgar? - pisquei levemente para o homem próximo da fogueira, esperando que ele se juntasse a mim na piada para começar o dia com o humor em alta! Dei bom dia para meu pai também, dando um demorado abraço naquele brutamontes, que parecia menor do que me lembrava. Ou eu que tinha crescido? Enfim, qualquer uma das respostas era válida nesse caso.

Como de praxe, liberei todos os meus cinco parceiros de suas esferas para o café da manhã. Lucy e Mirana estavam iluminadas como sempre. Ciri parecia um tanto mais reservada na manhã, enquanto Arges demorou um pouco para se adaptar a luz do dia. A “novidade” veio por conta da presença de Paarthurnax. O gigante voador rochoso era tecnicamente uma criança crescida, então a primeira coisa que faz foi esticar suas asas e sair voando! - Paarthurnax, não vá para muito longe! Já vou servir o café! - disse para o voador, enquanto respirava fundo - Essas crianças… - olhei para Kinney, que apenas dava de ombros. Retirei as vasilhas de ração e servi porções generosas a todos. - Comam bastante e fiquem preparados, retomaremos o treinamento ainda pela manhã! - eles pareciam estar animados e dispostos, tanto que atacaram a ração com voracidade. Enquanto eles comiam, olhei para o lago, tão cristalino e reluzente como na noite anterior. Um pensamento irresistível surgiu em minha mente, e logo pedi licença aos adultos e a garotinha para fazer algo mui prazeroso. Fui até uma margem mais afastada do lago, quase do outro lado de onde estávamos e retirei a camisa. Um mergulho matinal para começar bem o dia é tudo que preciso!