[EVENTO] Where Is My Mind_Trainspoting

off:

Ok, ok, tenho que dar o braço a torcer; É verdade, no fim das contas, que independente da situação, circunstância ou tragédia, quase tudo se resolve com um lanchinho - e, para a felicidade de ambas, apesar de ter perdido uma de suas perninhas no meio do caminho, Gilatina não era um bichinho que dispensava um agrado daqueles. Quer dizer, tudo bem que teve a tentativa de Kathryne e tal mas, sinceramente, o grandão sequer parecia fazer a mínima ideia do que a menina estava falando: Tudo que tinha certeza era que, apesar de tudo, ela aparentemente não queria cortar outro de seus membros ou nada do tipo, e foi essa percepção que fê-lo parar de... bem, de rosnar, porque era só isso que o coitado estava fazendo, sem nenhuma energia para algum outro tipo de confronto com a dupla da Rindo-com-quem.

Mas a verdade é que... Foi a gostosura estendida que realmente baixou a guarda do grandão ali. Não sei dizer ao certo como que funciona o olfato do bendito, levando em consideração que sequer nariz ele tinha (quer dizer, parecia que não, né?), mas os olhinhos pequenos se estreitaram e os "ombros" relaxaram um pouquinho, piscando algumas vezes antes que o pescoção se inclinasse para frente, a carinha enorme chegando bem, bem pertinho da mão estendida de Freda, o encarou de um lado, encarou de outro.....

CHOMP.

É agora que eu digo que talvez você possa se desesperar um pouquinho porque, bem, o (não)hexápode simplesmente botou a mão toda da rosada para dentro da bocarra, com guloseima e tudo. E ele ficou lá, com os olhinhos encarando os da moça, enquanto a língua gelatinosa e gosmenta se enroscava pelo punho e lambuzava palma e superfície do docinho com sua saliva que... que era bizarramente gelada, devo mencionar. Quase como mergulhar o braço em um potão de gel e ficar brincando com ele, sabe?

A parte boa, porém, é que quando ele recuou, mesmo sem abrir a boca, não levou junto o braço da treinadora. Claro, deixou o membro todo melecado com uma gosma meio lilás que provavelmente era algum tipo esquisito de saliva, mas veja bem, levando em consideração todas as circunstâncias que nos trazem até aqui, certamente um bracinho sujo é bem menos do que você poderia merecer. Eu te digo mais, porém: Não foi ali que ele parou. Entendendo o Alfajor como algum tipo de sacrifício (?), Wrong Turn concluiu, muito sabiamente, que se existiam duas pessoas ali pedindo desculpas, certamente ele deveria ganhar dois daqueles mágicos docinhos!!!

...então, aquele pescoção se moveu na direção de Keyron, rápido e decidido, os olhinhos chegando perigosamente perto da sua mão e, sem parar pra checar se estava certo ou não, abocanhou uma das mãos da menina, com Potion e tudo - ficou lá, saboreando, saboreando, até que decidiu que não gostou daquele gosto plástico esquisito e cuspiu braço e recipiente, oferecendo então às duas uma belíssima oportunidade de ficarem mais próximas por conta de fluidos salivares de um bicho esquisito que, apesar de não ser estudado pela pokédex, parecia vivo o suficiente para não se tratar de algum animatrônico de mau gosto que fora solto por aí. O animal até fez careta, afastando a carinha de perto da loira e erguendo mais uma vez o pescoço, olhando de uma para outra com certa dúvida no olhar; Achou engraçado, aliás, quando um Togekiss bobão veio perto fazendo barulho de sininho, deixando escapar um eco gutural que parecia um riso bizarro: Acredite, Gilatina até deu uma "testada" na cara de Bragui que, apesar dos pesares, não pareceu machucar o voador, ainda que servisse para concedê-lo a bela de uma confusão.

Uma criança grande.
Talvez filhote se encaixe mais, mas era isso: Aquele bicho era, simplesmente, um bebê grandão.

...

Já ouviram os boatos?

Não os de Goldenrod; Não os de monstros invadindo a cidade, os de "erros de Arceus" espalhados pelas ruas vindos dos confins do inferno ou sabe-se lá de onde. Me refiro àqueles que mencionam dimensões paralelas, mundos sombrios ou maravilhosos, realidades alternativas que simplesmente existem, intocadas, até que alguma falha no espaço-tempo se faça responsável pela interação entre uma e outra. Me refiro às desgraças do Limbo, às dúvidas de Black Hole, ao paraíso de Happiness Forest.

Eu não sei ao certo como se fez, ou o que foi o responsável pelo desenrolar das cenas breves que vieram a seguir. Sei que, entre um momento lambuzado de treinadoras e uma cantiga de sino emitida por Togekiss, alguma coisa aconteceu; Como se o próprio ar ficasse mais espesso, as lâmpadas piscantes explodiram no teto da loja, espalhando estilhaços de vidro e uma penumbra mórbida por todo o estabelecimento. Veio a corrente fria, e era incerto se por conta da passagem que ligava aquela área à sorveteria ou se garras gélidas se agarravam repentinamente aos corpos da dupla - o chão, por um momento, estremeceu.

Foi quando o rasgo apareceu.

Não em um boneco, em uma roupa, cortina ou coisa qualquer; No próprio ar, um barulho anômalo de zíper que ecoou e provocou impulso para empurrar todas as estantes próximas que ainda estavam de pé. Um vórtex de tons sombrios, de pulsantes tonalidades rubras, negras, violetas, até mesmo uma sombra de dourado que pulsava como limiar daquela fenda de multiverso. Era difícil dizer se preparava para a invasão de um exército ou coisa do tipo, mas sei que a visão daquilo foi mais que suficiente para alertar e alegrar o nosso querido Gilatina, as patas restantes se batendo no chão e o corpo virando na direção da passagem que bem parecia provinda de algum tipo de obra 2D.

Se são tão bem conhecedoras de fábulas, talvez não lhes seja tão surpreendente a maneira como o gigantesco espécime alienígena simplesmente se dissolveu em luz. Inúmeras esferas pequeninas de luz, mais precisamente - como uma grande horda de vagalumes púrpura atraídos por, bem, por sabe-se lá o quê. Era um pouco engraçado pensar em toda aquela massa se dissipando daquela maneira, como se fosse simplesmente nada, mas foi exatamente isso que aconteceu - com exceção da grande perna que, num barulho ácido, e distorceu, evaporou e derreteu em uma fumaça negra como o mais puro carvão.

...e um barulho metálico ecoou, de dois pequenos objetos se espatifando no chão - não sei dizer ao certo se do corpo desfeito ou da perna desmembrada, mas posso adiantá-las que, caso se aprofundassem e investigassem um pouquinho mais, descobririam duas pequenas facetas do criador largadas próximas de alguns algodões, pequeninas moedinhas que serviam simplesmente de lembrança e prova dos acontecimentos que agora tomavam cena.

Sobre as luzes? Ah, sim; Elas se foram, rápidas e de uma só vez, para o interior do vórtice que as convidava - e ele bem as acolheu, fechando e desaparecendo de maneira abrupta assim que o último brilho mergulhou na escuridão confusa da passagem, mergulhando novamente as meninas no silêncio e na escuridão.

Ao longe, o barulho de sirenes denunciava o que todo mundo já sabe: A polícia só chega quando já é tarde demais.

...
Talvez nem todos fossem robôs, afinal.