[Skies (were) blue] – Mt. Silver –

A resposta que a moça ofereceu diante o questionamento de Bley não poderia ser mais simples do que havia sido. Por um instante, os orbes acinzentados escorregaram arrastados em sua direção, observando-a em silêncio pelo rabo do olho, os ombros se movendo com discrição displicente antes que a atenção voltasse à dupla que, não muito depois, se viu derrotada pelos avanços contínuos de seus pokémons.

Eu não vou dizer que... Ela queria lidar com aqueles dois. Em realidade, não se importava o suficiente - eram peças sujas e baixas que só serviam para, literalmente, nada mais do que fazer baderna (ou, naquele caso em específico, tentar explodir alguns obstáculos pelo meio do caminho). Apesar do sorriso torto, da atitude quase desleixada, acredito que possa dizer que aquele era o tipo de insânia contida que, de certa maneira, era até... Racional.

...ou talvez era o que parecia, já que a animação da situação recaía completamente sobre os ombros douradoss de Cofagrigus.

Eu não sei bem se você lembra mas, no Egito Antigo, sarcófagos eram utilizados como, bem, como tumbas. Eram neles, envoltos em riquezas e expectativas, que os mais privilegiados repousavam um sono profundo, eterno, enquanto seus conscientes aproveitavam sabe-se lá o quê (ou se) existia pós-além. Enfim, dito isso, também preciso informar que não exatamente sei se os pokémons estariam cientes ou não desse fato...

...mas o fantasma efetuou um belíssimo trabalho de compreensão quando, e eu irei colocar isso da maneira mais simples possível, efetuou seu papel.

Você quer uma versão mais alongada dos fatos?

Bem... Rezem e peçam perdão para quem quiserem mas, quando as gosmas arroxeadas cederam e o desespero tomou conta dos Grunts, o mais animado da situação foi, como você já pode imaginar, Navi. Mesmo para um espécime lento, eu admito que sua velocidade de reação chegou a ser exemplar - e, aliás, os braços escuros chegaram a parecer um brinquedo inofensivo quando se esticaram e enrolaram, um par por homem, nos rapazes derrotados.

Não sei como posso dizer isso sem que não seja, de certa forma, anticlimático; De qualquer maneira, posso te pontuar que a tampa do sarcófago se abriu de uma vez só e, por mais estranho e improvável que pudesse parecer (até mesmo por questões de espaço), o egípcio agarrou os dois corpos e os fisgou como um belíssimo grab de Blitz, forçando suas massas para dentro do espaço estreito do túmulo e, num baque abafado, o sarcófago mais uma vez se fechou.

...o destino da dupla não foi o mesmo que o de Karinna, isso eu posso te dizer.

— ...Huh. — Foi o sussurro que deixou escapar, um riso curto - mas a atenção não estava em seu pokémon e na degustação colorida que se desenrolava à frente. Em realidade, as pupilas direcionavam-se para algo bem maior, mais colossal e agressivo que, até então, desenhava-se simples e somente como plano de fundo de toda a situação. — Parece que ele percebeu.

E foi dito e feito.

A aproximação de Steelix não chegou a ser uma surpresa, mas não era por isso que se tornava menos imponente. A ira do pokémon era pura, intrínseca, um golpe de emoções fortes que mesclavam-se, de maneira até sutil em cada um dos elos que compunham o metálico, com a sensação óbvia e bem justificada de perda. Aquele, aliás, era o tipo de sentimento que tão bem conhecia, que tanto havia tido de lidar, que tantas vezes a assaltara da maneira mais cruel possível, independente de quando, como ou por quê.

— ...Pode vir, grandão. — E o sorriso se abriu, divertido, os passos ousando galgar alguns centímetros em direção ao colosso que avançava em ofensiva não exatamente convidativa - e tampouco amigável. — Eu já tava morrendo de saudade de você. — Soprou ao animal, os dedos puxando do bolso lateral da mochila uma pequena pedrinha flamejante que arremessou, quase meio que sem propósito, em direção ao ar...

Pedrinha esta que prontamente foi agarrada por Balthazar em um simples golpe de mangueira.

— ...Trick. — Ordenou ao eletrodoméstico, direta, as mãos se enfiando no bolso com tranquilidade. — ...e Confuse Ray. — Acrescentou; O olhar escapou rapidamenta na direção da bípede normal, e um simples movimento de queixo foi suficiente para convocá-la mais uma vez à batalha. — ...Fake Out e Body Slam. — Complementou, momentos antes de pender a cabeça para trás, suave, e movimentar o rosto para o lado para que a atenção se volvesse, por um instante que fosse, contra a imagem de Karinna. — ... — ... ... ... — ...Espero que você tenha trazido a Manju. — Foi tudo que disse pois, querendo ou não, tinha algo bem maior à frente que precisava agraciar um pouquinho mais de atenção.

É verdade que você é uma muralha fortíssima, Kelsier.
Mas, querendo ou não, ainda há um porém.
Você é lento.

Skill Rocket ativa: +2Sp.A/Atk [Rotom + Kangaskhan]

Rotom (DEIXA ELE NO MEIO EM CAMPO): Flame Orb
Kangaskhan: Lucky Egg

...ah, é.
Tem isso, né.
Esse negócio aí, de efeito secundário que alguém total e simplesmente esqueceu, porque acabou ocupada demais pensando em números e em possibilidades. O que... Pode acabar fazendo outro alguém, que não tinha absolutamente nada a ver com a história, meio que passar um pouco por idiota. O que é um problema, levando em consideração o passo de todas as coisas atuais. Enfim, a verdade a esse ponto é que talvez ou a animação dominou demais, ou a insânia não era tão racional assim quanto estava se dizendo ser - mas, quem sabe, pudesse ser só...

...um bugzinho na Matrix.
Que tal?
Pode ser?

— ...Eu não sei. — E essas palavras foram direcionadas à loira, suaves, os dedos roçando o braço que a envolvia e afagando sua tez com delicadeza imediata em resposta da aproximação. — ...Você pode tentar... Mas eu ouvi dizer que Steelix não são os melhores ouvintes que existem. — Murmurou; Não que isso chegasse a ser surpresa, afinal, não é como se o espécime tivesse orelhas ou algo do tipo. Bem pelo contrário, aliás! — Duplos Hydro Pump e Body Slam. — Instruiu aos seus pokémons. Felizmente, a queimação e a tela protetora de Manju eram suficientes para segurar os danos mais escrachados que poderiam ser induzidos pelo metálico.

Só precisavam de paciência.

A parte boa (bem, não exatamente, mas ainda assim) de ter um e outro engano durante o processo de batalha é que, ainda que as coisas possam desandar por um turno e outro, tudo pode ser revertido no próximo passo tomado e a situação pode seguir aos trilhos mais uma vez. Apesar de que acredito que isso é mais por conta de uma batalha prolongada/em equipe do que pelo engano em si, mas aí é detalhe e não precisamos levar isso em consideração mais do que já é levado, ok?

...O fato é que, muralha ou não, o banho bem dado da máquina foi mais que suficiente para que o gigante de pedra tombasse ao chão, bem juntinho de seu treinador... Ou, pelo menos, tanto quanto era possível que o estivesse.

— ...Karinna, — Foi o sussurro baixo que deixou escapar - enquanto ainda divertia-se um pouquinho com a ideia de que a loira ofertava vingança para o colosso, levando em consideração que quem explodira seu treinador já estava em pedaços ainda menores do que o próprio. — eu tenho a impressão que essa reação toda... — Disse, devagar, enquanto observava a língua esquisita do metálico se esticar para cutucar a companheira. — ...você talvez tenha morrido. — Concluiu, um murmúrio que se perdeu ao vento e à poeira levantada pelo corpo semi-nocauteado do animal.

Foi a vertigem dessa ideia que finalmente agarrou e arrastou seus pés de volta para o chão.

Não quis pensar muito na hipótese, porém, e foi por isso que se aproximou devagar do cabeção largado na terra (logo depois de ordenar, com um gesto simples, que o elétrico se mantivesse atento aos arredores para caso algum outro problema resolvesse se aproximar), os dedos roçando com delicadeza pela bochecha fria da serpente de aço, a mão espalmando-se e apoiando contra a pele dura do animal.

— ...Shh. — Sussurrou, afagando-lhe de maneira gentil com o polegar. — ...Tá tudo bem agora. Você tá bem. — ...porque não, independente dessa ou de outra dimensão... Você sabe; Não tinham motivos pra matar um pokémon.

...bem, ainda não.