RAYSSA
A garota começava a perguntar pelos corredores sobre algum local com recursos, tipo medicinais e afins. A melhor pessoa para saber sobre o assunto era com as mesmas pessoas que cuidavam de seus Pokémon: Selene e Chico! O rapaz então dizia para Rayssa esperar um pouco que ele iria falar com “alguém”, e deu as costas, sem dizer mais detalhes. Bom, ele tomou uma das entradas do esgoto e sumiu por um momento. Restava a garota esperar para ver o que aconteceria.
O sentimento que brotava nos rostos de cada um era uma fagulha, uma centelha. Mas dizem que para todo incêndio, só uma mera centelha já basta. E pelo visto, a figura de Rayssa era essa centelha. Imagine um ambiente onde não há cores, ou as cores presentes possuem um só contraste em tons pastéis, apagados e depressivos. Eis que um pingo de tinta vermelho vivo cai sobre essa tela, esse cenário, e já chama a atenção. E esse pingo de tinta produz uma reação em cadeia, iluminando toda a cena, até que aqueles tons pastéis sem graça ganham vida, dinâmica e alegria? Rayssa era esse pequeno ponto de tinta vermelha. Ela só não sabia da dimensão disso ainda.
De um lado, Marina tentava solucionar alguns pormenores restantes da tecnologia, com aquele Rattata a tira-colo o tempo todo. O bando que era mais independente agia por conta própria. Então a especialista encontrou propósito em preparar a sua equipe, depois que Selene deu a “alta”. Então Chico retorna, chamando a garota até um canto mais isolado. Nesse ponto havia um homem, com cigarro fedido na boca, encostado na parede do esgoto, todo despojado. Assim que se aproximaram, ele só abre um lado do sobretudo e mostra seu “stand” de vendas!
Compras feitas, uma movimentação diferente surgia no local. Surgia aquela expectativa sobre um novo ataque. Mas não, era uma coisa estranha! Uma Arcanine, grande e poderosa, surgia de um lado dos esgotos! Junto dele um homem muito ferido, sobre suas costas. - Tio Malvin! - JJ saía correndo ao reconhecer o homem sobre as costas da canina!
GRAY
Depois da intervenção de Lauritis, Gray começa um monólogo. Bom, o primeiro ponto aqui foi a motivação. O DJ já não aguenta mais ter a morte como chacota diante de sua vida. Um bando de invasores toma a cidade, mata os seus e ainda usam seus corpos de forma tão despojada e desrespeitosa. Apesar da fama da cidade, a morte não é algo tão bem aceito dentre os locais como a percepção que Gray possuía. Para alguns era uma perda, um fim, um trauma e algo para se experienciar poucas vezes durante a vida. Eram poucos que gostavam da companhia da morte e de seus acolhidos.
Logo no começo, o DJ pensou em algum motivo para o especialista trazer sua família para a conversa. Ele estava preocupado, e do seu modo tentou dizer que não deixaria seu amigo para trás. E então, como resposta, recebe um prólogo de como lida de uma forma emocionada com sua vida. A resposta do DJ foi erguer o dedo do meio na cara de Gray e começar a organizar algumas coisas enquanto ele continuava.
E então Gray seguia com seu discurso. As pessoas pararam para ouvi-lo. Comentários como “Não é aquele cara da banda?”, “Não é aquele rapaz que…?”, “Não foi ele que uma vez foi…?” enquanto o jovem de cabelos brancos seguia. Alguns tombaram a cabeça quando ele fez a alusão dos Persian com os Rattata. Outros ergueram o braço em resposta às perguntas sobre guerra e pessoas sádicas, afinal ali havia pessoas veteranos de outros conflitos, talvez companheiros do famoso Lt. Surge. E assim, o discurso de Gray se seguia.
Uma mulher apontou para Gray e fez uma careta para o homem que estava ao seu lado, que em resposta deu de ombros e fez outra careta. O rapaz que Gray abordou ao invadir o armazém, olhava para o jovem com cara de “WTF??”.No fim, quando o especialista foi tocar no ombro do DJ, recebeu um tapa na mão em resposta. - Você é um babaca. - sentenciou Lauritis. O homem mais velho, então, limpa a garganta e toma a palavra - Olha, moleque, não sei quem é esse seu “capitão” e não dou a mínima para ele. A gente viu uma pá de coisa pra no fim das contas ter que ouvir um discursinho de um moleque que chegou ontem. Olha, se eu tivesse com meu cinto te daria umas boas chicotadas para aprender a como falar com os mais velhos! - um punhado de risadinhas ecoa pelo local. - Desde quando tá na cidade? Se é tão bom assim, deveria estar aqui para evitar essa merda! Não vir aqui e tratar sobreviventes como inválidos. Sabe o que é inválida? Sua presunção! Seu amigo se preocupa com você, dizia sempre que ‘se Gray estivesse aqui, nada disso aconteceria’, e quando o famoso chega, quer deixar aqueles que lutaram até agora de canto, como um personagem de filme? Sim, não se trata de ser um herói, você passa longe disso. Se trata de uma criança que precisa de seu fantasma pra dar ênfase no discurso! - as palavras do idoso eram pesadas, pesadas demais pra qualquer um. Mas eram palavras carregadas de dor e angústia por tudo aquilo. Uma mulher, enfim, joga uma bolsa de munições no peito de Gray. - Quer ser útil? Ajude a carregar. Do contrário, pegue seus Pokémon e faça como bem entender. Vamos para a prefeitura! - eles então, sem nem sequer olhar para Gray, pegam as armas e as munições seguem para a saída. O último a sair foi Lauritis, seu amigo. - “É bom te ver Lauritis. Obrigado pela preocupação, amigo, mas tenho um plano melhor. Vamos para os esgotos e de lá traçar algo” - ele começa a falar enquanto toma a bandoleira de um rifle - Não custava nada ser mais humano e menos fantasma, Gray. Você passou tempo demais com os mortos, velho amigo. - e então, seguiu com o grupo de guerrilheiros para a saída.