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001 • Rota 29
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Uni duni tê. Salamê minguê. O sorvete colorê, o escolhido foi vo... — o indicador apontava pro leste de Mahogany, rota 29. Não que fizesse diferença, Hiei tava mais perdido que Psyduck em dia de avaliação psicológica. A essa altura, restava abraçar o desconhecido e viver o momento de peito aberto. Conforme ia avançando rota dentro, ele se encantava com todos os pormenores, como se tivesse renascido e aprendesse tudo de novo; as cores mais vivas, o oxigênio mais revigorante, a passada pesada e cambaleante. A empolgação irradiava não só do garoto, mas também da única pokebola que carregava consigo. Ela dançava dentro do bolso de Hiei como se o próprio Godzilla pedisse passagem. A mensagem foi recebida.— Foi mal, esqueci. — Hiei suspendeu a pokebola de Aipom no ar, o libertando. Apesar de compartilharem os mesmos neurônios da loucura, a dupla ainda não possuia tanta intimidade, e era nessa missão que o pirralho estava focado. — Aliás, precisamos de um nome pra você, né? Sabe... uma parada que imponha medo, que faça os adversários tremerem na base logo de cara. Hmm. Mas também precisa ser um pouco simpático, senão nossos futuros fãs vão ficar meio pá de pedirem autógrafo. — Quem vos narra espera que esses trechos não cheguem na grande mídia e a magia de Kasandoro permaneça intacta, de tapada já basta minha narina esquerda. — Seria bem mais fácil se tu já viesse com um, hein? Tipo, se tua mãe tivesse te dado um quando nasceu. — Aipom boiava em solo firme, não pescando nem um pouco a lógica do raciocínio — nem eu —, embora se divertisse com os trejeitos do jovem treinador.
O pokemon enfiou a cauda em um dos bolsos de Hiei e de lá sacou o rotom phone virgem que acabara de receber. Como se tirasse uma selfie, ele a apontou para si mesmo, enquanto sua careta de deboche para Kasandoro crescia à medida em que o aparelho emitia sua descrição: "Aipom, o pokemon cauda longa. Aipom é capaz de escalar...". Em meio a todo o bla bla blá científico, Hiei se tocara que de fato não conhecia esse pokemon pelo nome próprio, mesmo envolvido há meses com ele. Em resposta a isso, ele fez o único comentário lógico e palpável: — Você é mais bonito na foto.
...
Hiei cruzou um dos braços enquanto com o outro coçava o queixo, um pensador moderno enfrentando mais um de seus dilemas importantíssimos. Aipom escalou o corpo e pairou na cabeça do garoto, também coçando o próprio queixo com a cauda. Gêmeos. Juntos, bolavam um nome próprio. Ainda que tivesse usado o artifício do rotom em sentido contrário, o símio também gostaria de certa exclusividade. Ele não era mais um Aipom, era O Aipom. Com vocês, sugestões tiradas de um site na quarta página do buscador do rotom:
— Mega Macaco Sônico. Que tal? — Aipom negou de maneira 'delicada', arrancando um tufo de cabelo de Hiei. O Rattatoile tá diferente.
— JÁ ENTENDI, JÁ ENTENDI. É... é... e se for só Mega Macaco? Eu entendo que Sônico pode ser um pouquinho de prepotência... — Lá se vai mais um tufo. Obviamente, não. Ele já tá suando frio, refém de uma criaturinha com menos de um metro pesando a sua nuca. É aquilo: dias de luta, dias de g... luta, luta, luta.
— Macacomon? Clóvis? Mopia? — O último é de trás para frente, pela representatividade de quem tá vendo do espelho — um salve, Alice. Aipom não é Pedro, mas negou três vezes. Mais algumas atrocidades dessas e Hiei vai jogar no time dos calvos.
— E se for... — É agora. Hora de usar 100% do cérebro ao menos uma vez na vida. Os pelos de Hiei se arrepiam e de suas orelhas ele expulsa fumaça, como um Torkoal ou qualquer modelo de trem do século XIX. Silêncio, Kasandoro está trabalhando e algo brilhante virá. Segue a thread: Aipom era roxo. Ok, fato consumado. O que também é roxo? Beterrabas. Não há dúvidas, são roxas desde que me entendo por gente. E o que são beterrabas? Para além das definições filosóficas possíveis, alimentos. Beleza. Beleza. Beleza. E que outro alimento pode ser roxo?
Nasa, estuda esse moleque.
— B A T A T A!
...
Discussões à parte, Aipom não conseguiria negociar nada menos constrangedor que isso, então acabou aceitando. Batata. O nome é ruim, mas tem carisma; igual Aipom, o maluco beleza dos pokemons, camarada demais. A grande verdade é que nomes são apenas... nomes. Tanto faz se seria Batata, Feijão ou Eletropaulo, o importante é que esse momento serviu para aproxima-los minimamente, e isso bastava. Se seriam parceiros dali em diante, desenvolver química seria de vital importância.
Formalidades pactuadas, o agora Batata rejeitou a ideia de viver dentro da pokebola e Hiei de prontidão o alocou no ombro esquerdo, aposentando sua pokebola até segunda ordem. Enquanto não desenvolvesse problemas na coluna, tudo numa boa. Nesse ritmo, Hiei avançou pela rota e quando percebeu, já estava correndo para consumir a empolgação. Ele só tinha um objetivo em mente no auge de sua recém iniciada carreira aos 12 anos: caçar algo divertido pra fazer.
Rota anterior aqui
Eu sei que é comum fazer uma listinha de objetivos em cada rota, mas eu sinto que perco muito a imersão com isso —embora meu pokemon favorito esteja aqui e isso possa me fazer mudar de ideia a qualquer momento.
Ou seja, quem pegar pra narrar aqui tem passe livre pra viajar na maionese e levar a rota pro caminho que quiser. Eu me importo mais com o jogo de interpretação em si do que avançar minha ficha rapidamente.
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