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ma gota do suor de Hiei beijava o solo quase uníssono ao tilintar da pokebola arremessada. Travou, não acreditando no êxito, antes de explodir em saltos de alegria que provavelmente ecoariam por boa parte da rota. Ele correu e agarrou a esfera, a erguendo a altura dos olhos com a maior delicadeza do mundo. Ainda era só uma pokebola, mas que agora representava um divisor de águas na sua vida.
Batata respirou aliviado em não ter de prolongar o confronto. Ainda sentindo o corpo fervendo das pancadas, o macaquinho desabou de costas no gramado, agora mergulhado em um misto de emoções. Seria esse receio todo de lutar apenas falta de confiança? É bem verdade que ali não teve escolha, Snnubull tomou a iniciativa e ele só seguiu a lei da selva, mas a sensação de ao menos ter sido útil já era o apogeu de dopamina. A questão ainda estava bem distante de se resolver, mas agora havia indícios de que essa natureza poderia ser transformada com o passar do tempo. Nascia ali um voraz guerreiro, talvez? É fato também que Hiei permanecia sem o conhecimento desse fator. Ele teria que se acostumar em observar sua equipe para além do físico, ser mais empático.
—
Já cansou, Batata? Corre aqui! Espera um pouquinho... deixa eu só... — usando a mochila de apoio, ele deixou a câmera na grama com as lentes viradas a cerca de 90 ou 100 graus para cima. Brigou um pouco para acertar o ângulo, setou o temporizador e saiu em disparada para chegar a tempo.
Três...
Hiei chegou ao local marcado, sacou a pokebola de Snnubull e a apontou para a câmera, fechando o combo com o sorriso mais singelo possível.
Dois...
Batata chegou à cena e copiou a feição do treinador. Erguia os braços em comemoração, enquanto sua cauda sutilmente se aproximava das mãos de Kasandoro.
Um...
Ele tocara o centro da pokebola sem que o treinador percebesse, liberando Snnubull.
C L I C K. O obturador fez seu trabalho.
Eis o resultado da foto: Snnubull recém liberado da esfera mordiscando a perna de Hiei, que por sua vez tentava entender o que estava acontecendo enquanto perdia o equilíbrio e Batata ao fundo caindo em gargalhada, esquecendo por um momento as dores que o afligiam. Não poderia ser mais perfeito, a fiel representação de como a equipe nasceu, entre choros e risos. Afinal, o que resta sempre são quadros.
...
—
E se teu nome for... — Batata tapou a boca de Hiei com a cauda, balançando o rosto em negação. —
Tá, tá. Vou pensar melhor dessa vez.Hiei estava com um dilema enorme nas mãos. Despreparo tem suas consequências, só não era esperado que chegassem tão cedo. Ao olhar seus objetos, a conta não batia. Uma poção e dois pokemons igualmente feridos. E aí, qual priorizar? Sabendo que teriam papeis importantíssimos no que ele planejava a seguir, só poderia lamentar da impossibilidade de parti-lo no meio e espirrar porções iguais em cada um. Por enquanto, guardaria o item medicinal, ainda decidindo o que fazer.
—
Snnubull. Antes de mais nada, bem-vinda a equipe e... AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! — a cachorra cravara os caninos em sua mão, de forma tão repentina quanto fez com Aipom. —
Você... PARAAAAAAAAA! — ele cachoalhava e cachoalhava, mas a pokemon não largava o osso. Nem doía, era mais o susto. É como um filhote ainda sem noção do quanto as presas podem machucar, mas tentando expressar algum afeto através da mordida. Bem... não é que com Snnubull fosse exatamente isso, ela só tinha um vício tremendo de morder absolutamente tudo que paira no seu centro de visão, mais como um impulso de seu instinto mesmo. Snnubull, o terror dos carteiros. Kasandoro só desistiu de fazê-la soltar, aceitando as marcas que estampariam seu dorso assim que o sangue esfriasse. Talvez essa seja a maneira de lidar com Snnubull, através do tato. De fato, cada um de seus pokemons detinham seus próprios meios de se comunicar, e estar atento a esses modos era uma de suas tarefas de prioridade máxima.
Ignorando os cinco ou seis quilos agarrados a si, ele prosseguiu.
—
Beleza, beleza, nem tá doendo mesmo. Enfim, olha, esse é o Batata, que se juntou a nós ali mesmo em Mahogany. Ele não gosta muito que pulem nele de repente, então sempre que sentir essa vontade, pode vir em mim, tá? Já eu sou Kasandoro, fotógrafo amador bonitão, futuro campeão da liga e cê pode ter certeza que transformarei nossa equipe na melhor! Mas para isso, eu vou precisar de uma ajudinha sua já de agora, viu? É... tipo assim, tá vendo aquelas marcas ali? Eu suspeito que aquele homem que estava aqui tá envolvido com algo muito ruim. Preciso que vá na frente farejando para podermos encontra-lo, ou nem que sejam pistas do seu paradeiro. Conto com você!A Snnubul imediatamente abandonara a mão de Hiei, se empenhando na sua nova tarefa. Ela só era hiperativa e precisava estar sempre fazendo algo, então nada melhor do que a missão incubida para mantê-la ocupada por enquanto. Aliás, ela parecia mais disposta que Batata, ainda que a batalha tenha demonstrado uma distribuição igualitária dos danos. É desse ímpeto de não parar nunca que Hiei apostava, ele não podia perder mais tempo em sua perseguição.
E assim seguiram os três, em formação V com o canídeo na frente. Eles iriam até o fim dessa história, não importa quantos obstáculos fossem postos no caminho.
Com os primeiros roncos tímidos na barriga, ele e Batata aproveitavam para ir procurando alimento enquanto caminhavam, qualquer fruta que parecesse minimamente comestível já tava bom. Hiei não comia desde o raiar do dia.
—
Au au é mesmo um nome tão ruim assim? — questionava a Aipom.
¹ Busca por Berrys e afins
² Seguir as marcas de pneu
No próximo post eu boto aqui em quote a personalidade dos dois pra atualizar na ficha.