Um alívio imediato me tomou o peito quando a esfera alva flutuou em minha direção e desfez o que quer que tenha acontecido para que minha voz tivesse sumido. - Aaah! - um suspiro. Foi a primeira coisa que vocalizei depois de tudo isso. Levei a mão ao pescoço e pisquei inúmeras vezes antes de entender que não havia nada de errado, era só minha voz de volta onde não deveria ter nunca saído.
- Winnie! - uma exclamação. Foi a segunda coisa. O nome da garota que mal conheci e já devo minha vida, por tudo que aconteceu. A derrota e o aprisionamento foram amargos, duros de engolir. E talvez nunca consiga digerir. Mas tínhamos de sair dali, e não dava para fraquejar como antes. Fechei os olhos, inspirei fundo e com, como toda a força e determinação que há em mim, bati com a palma das duas mãos contra o rosto, gerando um estalo e tanto. - Desculpe a demora. - pronto, agora estava 100% em mim novamente. Não era mais um peso ou fruto das escolhas que tomaram por mim. Era eu no comando novamente. E não importa o que o destino reserve ou queira decidir por mim, essa é a última vez que deixo essas mãos conduzirem minha história.
E essa não é uma promessa. É um descreto.
Na estante havia uma série de outros Pokémon. Inclusive pude ver Sleipnir e Hati, parceiras de Winnie! Apontei para a jovem antes de seguir na direção dos meus. - Kinney… - sussurrei o nome de minha primogênita, minha primeira parceira. Logo me veio a lembrança de quando ela evoluiu e fugiu, espantada com o que aconteceu. Uma luz envolveu sua peça, indo para um canto da sala, onde estavam minhas coisas. Mas isso era o de menos. “E ai parceiro, pronto pra quebrar tudo?”. Aquela voz. A mesma que ouvi saindo de sua boca durante a viagem até o Dream World. Era Kinney! - Leona… - disse o nome de minha fada, e logo a visão dela enfrentando Wrong Turn acertou meu peito em cheio. “Não foi sua culpa! Nós lutamos juntos, se lembra?”. Sim, eu me lembro, Leo. - Bahlok… - o som de trovões ecoa em minha mente, mas a lembrança era outra. Um pequeno Bagon, pronto para me acertar uma cabeçada, depois ele em meus braços, caindo em uma nascente. “Heh. Tá bom, agora eu fiquei irritado!”. Nem me fala, garoto. Nem me fale. - Ciri… - a pequena Vulpix alolana que surgiu de um ovo, logo cresceu e lidou com um bando de Taillows. “Isso acontece, Gal. Vamos lá, temos trabalho a fazer!”. - Groen… - o gentil Seel, aprendendo a nadar e superar desafios desde seu primeiro momento conosco. “E-eu vou dar o meu melhor!”. Sei disso, garoto. - Howlett…- meu caçula, por assim dizer. O mais novo recruta. Sua vida em minhas mãos naquele Centro Pokémon em meio a tempestade. “Sniff… sniff… alguém… qualquer um… me ajuda…”. Essa voz. Não conheço, mas de alguma forma sei que é de Howlett. - HOWLETT! - não dá, é mais forte do que eu. Ouvir ele sussurrar por ajuda, com medo… é demais pra mim.
Os focos de luz terminam de pousar em minha bolsa. Tento liberar algum deles, mas não foi possível ainda. Eles ainda estavam presos em algum lugar. - Perdão pelo grito, achei ter ouvido Howlett pedir por ajuda… - eu sabia que ele tinha pedido, mas Winnie não tinha como saber disso. E pior. É bem provável dela pensar que enlouqueci. - Quando fui ao Dream World, meus Pokémon conseguiram falar comigo. E depois disso, às vezes consigo ouví-los na minha mente. - tentei explicar, por alto, o que se passava - Aparentemente tem a ver com os poderes de Leona, mas não sei ao certo. Howlett… ele está com medo. - fechei o punho e senti o sangue ferver. Lancei um olhar para Winnie, sério e determinado. - Vamos dar um fim nisso.