April Fools... Ou quase isso.

O turno terminara com o pequeno Teddiursa incapacitado de prosseguir em combate, que não apenas levava Pangoro à cólera, em fúria pela ação daquelas criaturas desprezíveis, mas também servia de confirmação à Lysander. O rapaz, apesar de manter uma expressão mais neutra que a de Pangoro, tinha seus olhos marejados por lágrimas de raiva, que logo eram lavadas pela água da chuva que caia sobre si incessantemente.

- Bacchus... Termine com Drain Punch. Repita-o, se necessário! - Instruíra o rapaz. Seus comandos eram diretos, e ao menos por enquanto, pouco se importara em recorrer alguma cura, ou mesmo recobrar a consciência de Freyr; até por que, para o pequenino, por enquanto, seria melhor que de fato estivesse inconsciente.

Sem esperar pelo cumprimento de seus comandos, Lysander enfim retirara sua mão do interior do bolso esquerdo, retirando consigo um objeto de tamanho razoável... Um objeto que com um rápido movimento de seu punho e dedos, tinha suas partes movimentadas de maneira a revelar sua real intenção durante todo o tempo que mantivera sua mão em seu bolso. Era um canivete borboleta. Bem... Poderia não ser a arma mais letal já adquirida pela humanidade... Mas podia apostar que serviria bem a seu propósito... Assim como já servira anteriormente, afinal, não foram raras as vezes que tivera de recorrer a ele.

Pois bem... Bacchus já estava a se divertir... De maneira que agora era o momento de Lysander.

O rapaz avançava até um dos malfeitores, sem diferenciá-los. Seus olhos, a arder em fúria, focavam-se em uma única coisa. A garganta do homem.

Certificando-se de que o serviço com aquele cultista já havia sido finalizado, e que a figura misteriosa já tinha presenciado mais do que esperava demonstrar-lhe, Lysander enfim se colocava de pé. Isto é... Não sem antes limpar precariamente os resíduos presentes em sua lâmina na camiseta do indivíduo. A agua da chuva já lhe fariam o favor de limpar o restante em seguida. Sua expressão facial, apesar do que acabara de realizar, mantinha-se um ar de tranquilidade, como se não passasse de um evento qualquer em seu cotidiano.

- Eu tive de fazer isso... - Mentira o rapaz, convincentemente. - Desculpe, mas foi necessário... Esses cultistas são bem mais violentos que o que imaginara. Tive de agir, em legítima defesa, é claro.- Abaixara-se uma vez mais pegar o dispositivo que encontrava-se com o cultista a seus pés. - Vê isso? - Continuara ele, a apontar o dispositivo à misteriosa figura de cabelos prateados. - Isso não é tecnologia que um qualquer teria acesso... Tecnologia de mais é sempre perigoso... E sua irmã está em algum lugar lá dentro, segundo você mesmo. Não temos tempo a perder.

Jogara o dispositivo à distancia para o homem que o acompanhava, na esperança de que ele entendesse melhor o que seriam aquelas coisas. Em seguida, caminhara até seus parceiros, recuperando primeiro Bacchus e em seguida Freyr, que ao fim parecia um tanto confuso... Ou talvez sonolento, mas ainda assim, bem.

- Hm... Mais uma vez, peço desculpas pelo que aconteceu. Mas, bem... Em uma luta, você luta com aquilo que tem a sua disposição, não é? Olha pra mim... - Gesticulara, a abrir seus braços. - Eu sou fraco... Nem um pouco preparado para um, como dizem, mano a mano. Então sim... Se precisar cortar algumas gargantas destes corpos vazios e deprimentes para salvar as vítimas desta facção ou quem quer que tenha sido preso em suas teias, pode ter certeza que irei. - Finalizara ele, após um pesado suspiro.

- Enfim... Entenderei perfeitamente se não quiser me ajudar na invasão... Mas gostaria que pudesse contar com sua ajuda. - Dizia enquanto já caminhava para a entrada criada por Bacchus com seu soco. No trajeto, lançara um rápido sorriso ao sonolento Teddiursa, agradecido por ele estar bem, agora em seu colo.

- Puuh... - Suspirava aliviado o jovem treinador, por saber que poderia contar com o apoio do rapaz para os eventos que se seguiriam. Veja bem... Lysander não era de todo ruim, ou sequer enxergava a si mesmo como um vilão; pelo contrário, estava a ajudar aquele estranho sem quaisquer outras intenções. O único problema eram os meios que utilizava para fazer o bem, por assim dizer.

- Obrigado... - Sussurara o rapaz em um baixo tom enquanto fechava o canivete e o devolvia para o fundo de sua mochila. - Não se preocupe... Farei o possível para não utilizá-lo... - Prometia a si mesmo, em pensamentos, mesmo que houvesse a chance daquilo não se concretizar.

Enfim, segundo os planos do rapaz, a dupla iria uma vez mais se dividir, com Lysander tomando aquela entrada em que se encontravam, enquanto o outro seguiria por uma suposta entrada secundária do outro lado do prédio. Um plano que fora acatado prontamente pelo jovem especialista em criaturas noturnas, assentindo positivamente enquanto ele continuava a relatar a situação e o plano. - Tudo bem. Precisando de ajuda, basta gritar... Ou melhor... Aqui, tome meu contato. Assim talvez a comunicação seja melhor. - Prosseguia ele, a entregar um pequeno cartão à figura misteriosa. - Boa sorte... E tome cuidado. - Finalizava o rapaz, a realizar uma breve reverência ao outro, em despedida, mesmo que temporária.

Assim, com Teddiursa, agora ligeiramente mais desperto, a apoiar-se em seus ombros, e seguido de perto por Pangoro, Lysander e seu grupo de ursinhos seguiam por aquela entrada.

A situação no interior da construção era tão deplorável quanto seu interior, ou talvez até pior. O odor claramente torcia-lhe as narinas, forçando-se a evitar a qualquer custo a inação daquele ar bisonhamente púdrido. - Tsc... - Resmungava Lysander, a caminhar pelo ambiente, notavelmente incomodado com a situação precária daquele ambiente. Pangoro, por sua vez, reagia um pouco pior à situação do que o esperado, de maneira que estava a andar nas pontas dos pés para evitar maior contato com o lugar.

Sabe aquele vídeo da internet? De três Rillaboons passando por uma poça de água? Pois a cena de nojinho de Pangoro lhe lembrara Lysander imediatamente dos mesmos.


A mera lembrança lhe causara grande diversão, permitindo-se a forçar um largo sorriso em sua face pálida e pouco iluminada naquele ambiente estreito e escuro pelo qual prosseguia. Era até incrível, como a personalidade de Lysander mudava quando ao redor unicamente de seus parceiros, permitindo-se a viver mais tranquila e levemente, ao contrário de quando rodeado de outros seres humanos, que fossem de seu gosto ou não.

Enfim. A verdade era que não chegara a alcançar uma bifurcação, onde claramente havia uma passagem para uma área subterrânea, que logo deduzira ser a referida passagem dita pela figura misteriosa ainda a pouco... Figura esta que parecia saber demais, até. Mas de qualquer forma, não era muito de questionar, então sem pensar duas vezes, tomara a decisão de descer para o piso inferior.

E lá vamos nós...

Ai... - Resmungava Lysander, a se levantar com a mão no bumbum. Claramente o impacto havia sido maior do que o esperado, mesmo que surpreendentemente pudesse ter sido bem pior. Tivera sorte? Provavelmente. Mas ainda assim a dor o incomodava. Pangoro, que chegara até ali em um simples salto, parecia em uma situação muito melhor que Lysander, o que o fazia lançar um olhar de inveja ao mesmo. - Você tem é sorte de ter essas pernas fortes para aguentar o impacto. - Continuara ele a resmungar, meio que ainda a massagear seu popô. Bacchus e Teddiursa, por sua vez, pareciam entreter-se com a situação. Isso é... Se fosse possível fazê-lo por muito tempo.

Isso por que o clima naquele ambiente era pouco, ou nada, propício a brincadeiras, o que os fazia retornar à seriedade logo em seguida, afinal, pouco podia ser visto de qualquer coisa além de dois a quatro palmos de distância. Lysander movia seu braço agilmente, de maneira a posicionar sua mochila em frente a seu corpo, a vasculhar algo que pudesse ajudá-los. Não demorara muito para encontrar um velho farolete, mas após alguns cliques e batidas, certificara que sua bateria havia se acabado. - Essas porcarias... - Resmungara em baixo tom enquanto devolvia o objeto à mochila, e então retirava um segundo objeto.


Não era sua melhor opção, mas era o melhor que tinha em suas mãos por enquanto. Era uma pequena lamparina que há muito tempo atrás usara para apresentações de contest. Mas que agora viriam bem a calhar. Com um fósforo a acendera, de maneira que ao menos poderia agora ter uma melhor visualização de onde estava a pisar e o ambiente a seu redor, mesmo que fonte de luz não fosse ainda das melhores. Apontara o objeto à frente e girara em seu calcanhar, como para se observar onde exatamente se encontrava.

As celas lhe causavam um rápido arrepio, mas não tinha tempo a perder com aquele tipo de bizarrice, isso por que na imaginação do rapaz, logo viera a imagem de corpos há muito tempo abandonados, e que hoje seriam apenas ossadas. Bem... Isso provavelmente não era a realidade, mas era o que sua mente esquisitinha formara. Ou talvez... 6... É o número máximo que um treinador poderia carregar por vez. Talvez sejam celas para pokémons... Mas como disse, Lysander preferia não focar nas celas. - Venham... Vamos por ali. - Confirmara o rapaz, a apontar a lamparina na direção do corredor que tinham à frente. Assim, o grupo seguira por lá.