April Fools... Ou quase isso.

Lilycove

Tentar resolver um enigma dentro de um calabouço comandado por cultistas é para poucos, viu? Principalmente se você partir do princípio que, bom, os próprios adoram a um ser maligno de outro universo, que facilmente poderia vir buscar sua alma a troco de uma resposta errada.

Foi isso que aconteceu?

Ah, não...

Mas seria legal, acho.

Assim que o monotreinador ajeitou as letras da trava, demorou um tempinho, mas a caixa fez um click e abriu bem pouquinho - o suficiente para Lysander ver que não havia nada de muito perigoso naquela caixa, a não ser... Lollipops. Três Joke Lollipops. Inclusive, aquilo chamou bastante a atenção de Freyr, que já queria pegar um para ele. Criança sendo criança, nem dá para culpá-lo.

Seguindo seu caminho dentre o corredor de celas, o moreno percebia que as próximas duas estavam vazias, mas igualmente bagunçadas e abertas, como as duas primeiras: a única diferença é que a da direita parecia ter sido recentemente usada. Inclusive, mesmo com a pequena iluminação, Lysander perceberia que após as celas havia uma espécie de saguão - dali tudo que conseguia ver era uma mesa e uma cadeira.

Ainda faltam as duas últimas celas...

Será que teremos alguma surpresa?

Lilycove

Freyr era uma criancinha muito bem comportada, viu? Não é todo dia que um bebê é negado um docinho e fica de boa, mas Lysander conseguia contornar a situação. Sorte dele, acho... Imagina um ursinho fazendo um escândalo em um calabouço que sabe-se lá onde dá?

Coisa boa que não daria.

Com atenção o monotreinador prosseguiu para as próximas duas celas. Ambas estavam abertas, com restos de comida espalhados por parte de suas extensões - comida relativamente nova, não estava mofada ou com qualquer tipo de descompositor. Isso significava que, há pouco, pessoas estiveram prisioneiras por ali.

Mas essa não era a grande surpresa.

Ao passar para as duas últimas celas, a da esquerda estava como as outras duas anteriores, mas a da direita tinha algo surpreendente: um ser humano. Isso mesmo, a fraca luz da lamparina que iluminava o local denunciava uma pessoa encolhida em um dos cantos, com cabelos grisalhos e vestes que denunciavam se tratar de um idoso. Uma senhora, para ser mais específico, com um vestido florido e óculos de armação arredondada.

Freyr foi o primeiro a reparar nisso, inclusive. Tentou abrir a cela, mas estava trancada. Ao perceber sua presença, a idosa ergueu a cabeça e cobriu a luz com sua mão - com certa dificuldade, sem duvidas estava fraquíssima - e balançou a cabeça:

- Chegou a minha vez, não é? - suspirou - ...

Lilycove

Prevenir é melhor do que remediar, ao menos é o que dizem por aí. Mas, Lysander, realmente você acha que uma senhorinha toda ferrada e sequestrada faria alguma coisa contra você? Acredito que nem se ela tivesse fingindo seria capaz de acertá-lo antes que pudesse ter qualquer tipo de reflexo, mas tudo bem, entendo... Em uma situação como essa é difícil não desconfiar de tudo.

A primeira coisa que a senhora fez, inclusive, foi um tanto quanto inédita - quando Bacchus a liberou e a ajudou a se levantar, ela o abraçou. Deitou a cabeça no braço do urso e abriu um sorriso. O noturno não sabia exatamente o que fazer, então olhou para Lysander meio "que que eu faço, pai do céu". Não demorou muito para que conseguisse ficar em pé sozinha.

- Muito obrigada, meu filho. Vejo que você tem um coração muito bom. - a sua fraca voz denunciaria a idade avançada se seu semblante já não o fizesse - Me chamo Cora, estou aqui há... um tempo já. Acho. Não tenho muita certeza. O tempo aqui é difícil de contar, não temos janelas, nada. - suspirou, pedindo para que Bacchus pegasse um pedaço de madeira do chão para usar de bengala - O que está fazendo aqui? Qualquer um deveria passar longe desse inferno. - parou para observar Lysander melhor, contra a luz ficava um pouco difícil, mas apertou seus olhos e ajeitou os óculos para fazê-lo - Você está muito magrinho, estava preso aqui também?

Lilycove

Não sei se Bacchus já teve que lidar com velhinhas afetuosas antes, mas elas são adoráveis. Não existe qualquer dúvida aqui que Cora, se estivesse no conforto do seu lar, certamente já teria feito um cházinho com biscoitos e oferecido para Lysander, Pangoro e Teddiursa. Isso sem contar nas trouxinhas que faria para que o rapaz levasse para viagem.

Infelizmente, não era o caso. Agora com a senhora em pé, o monotreinador conseguia ver alguns roxos presentes nos braços e na espátula esquerda da senhora, graças a iluminação do flash que passava dentre o fino tecido de seu vestido. Agora com sua bengala, pôs-se a caminhar bem devagarzinho para fora de sua cela, acompanhada dos três mosqueteiros.

- As celas estavam cheias, meu filho. - balançou a cabeça negativamente algumas vezes - Esses cultistas são perigosos, todos seguem esse tal de Gilatina, aposto que você já ouviu falar sobre no rádio ou na televisão... - olhou em volta, apontando para as celas - Como eu disse, a noção de tempo aqui é muito esparsa, mas se calculei bem, apareciam pessoas aqui a cada 2 ou 3 dias, com um resto de comida para oferecer para todos, ou... - levou sua trêmula mão até uma de suas contusões no braço - ... Para aliviar a raiva, se é que me entende. - semi-cerrou os olhos, olhando para o restante do corredor - Nem me lembro exatamente como vim parar aqui, mas lembro de comentar uma vez na fila da padaria do meu bairro sobre como era loucura o que esses cultos estavam fazendo. - suspirou - Talvez tenha sido isso... - afagou a cabeça do pequeno ursinho, que sorriu - Cuide dos seus, meu jovem, os tempos já são outros.

Lilycove

Um gentleman mesmo, né? Não só pai, como filho. Lysander nem precisava vocalizar para que Bacchus fizesse exatamente o que o monotreinador havia pensado: levar a senhora no colo para que não fizesse mais esforço. Cora abriu um sorriso, aceitando de bom grado a gentileza: ser levada no colo pode ser um pouco desconfortável, mas ela não parecia se importar, principalmente porque Pangoro deveria ser o lugar mais confortável que descansa em um bom, bom tempo.

Seguiram, então, até o final do calabouço. Ali não havia nada além de um outro alçapão, que até tentava se esconder com um tapete amarronzado por cima, mas sem sucesso. Ao abri-lo, Lysander se depararia com uma segunda escada vertical, mas dessa vez a altura era quase imensurável: caso iluminasse com seu aparelho eletrônico, sequer conseguiria ver o fundo. A parte boa era que, por sorte, o péssimo cheiro característico e o calor somado ao vapor que saía dali denunciava seu destino fazer parte do sistema de esgoto de Lilycove. O rapaz ainda precisaria descobrir com desceria com Cora e Bacchus, uma vez que a altura talvez fosse maior que o lutador conseguisse saltar, mas tenho certeza que arrumaria uma solução.

Após descerem, a iluminação era ainda mais precária, com pouquíssimas lamparinas distribuídas sobre as grades de um metro que separavam as plataformas do esgoto do líquido em si - líquido esse que quase transbordava, mas para a felicidade de Pangoro, não o fazia por muito, muito pouco. As plataformas eram distribuídas pelos cantos, enquanto o esgoto passava no meio, com algumas pontes conectando um canto ao outro. Haviam diversos caminhos que Lysander poderia seguir, já que o local era amplamente gigantesco (em altura, largura, tudo), mas as lamparinas postas de qualquer jeito talvez denunciassem o caminho que os cultistas seguiram.