E agora é que começa a brincadeira.
Vamos aos poucos: o tapete púrpuro introduzia um enorme, gigantesco salão. Seu teto era grandioso, circular, com pinturas de Arceus dispostas por toda sua extensão, combinadas com lustres luxuosos que pendiam e reluziam os cristais dourados cravejados. As janelas eram compridas, de vitrais, também do Pokémon Gênesis, contando a história da criação do mundo em
sabe-se-lá-quantas-muitas-janelas. Dezenas de bancos de igreja uniformemente espalhados separavam Lysander, Cora, Bacchus e Freyr de um altar, também em mármore, com um púlpito onde repousava um livro de cor também púrpura. Atrás dele, um homem de vestes pretas compridas e uma máscara de metal
plague doctor recitava o que parecia ser algo em latim. Na parede logo atrás dele, há uma bandeira exibindo a imagem adornada de Gilatina. O que mais chamava atenção, entretanto, era o que se encontrava repousado sobre o ar diante do altar: uma orbe de energia negra, de tamanho mediado e esfumaçada, que aos poucos aumentava e demonstrava ser um portal; junto com ela, uma corrente de sucção que parecia aumentar a cada palavra dita pelo homem. Ao perceber a presença de Lysander, parou brevemente.
- Não demorou para vocês chegarem! Observem a ascensão do verdadeiro Deus! - a máscara abafava a voz do homem, mas ainda assim era fácil escutá-lo; seria muito difícil tentar pará-lo uma vez que a força de sucção era grande e todos ali presentes precisariam se agarrar em algo para não serem levados
- Essa criatura vil, sádica, será desmascarada para sempre! - no altar, próximo ao homem, havia uma estátua de médio tamanho de Arceus; o líder da seita conseguiu empurrá-la para fora do altar, o que a quebrou
- Vocês chegaram tarde demais! O nosso herói, que surgiu das cinzas, que veio de outro universo para salvar o nosso! Venha, Gilatina! Tome o que é seu! "ducitur per caliginem
A lacte lunae
Omne quod perierat, revelatur
O quam lenis ventus!
Annuit per folia
Sicut autumnus colores cadunt
choris in volu
et auream memoriam
Venite, diabolus omnium!"O homem continuou recitando e, conforme falava cada palavra, a esfera aumentava de tamanho. Em determinado momento, já do tamanho do saguão, era possível que Lysander enxergasse algo do outro lado - aquilo não era simplesmente uma esfera de energia, mas também um portal. As coisas do outro lado pareciam distorcidas, quase quebradas e um grito assustador ecoou de dentro para fora dali. No entanto, algo não estava certo. O portal, aos poucos, começava a perder força: era visível que a sucção, agora monstruosa, falhava vez ou outra.
- ... Que? - o líder da seita começou a folhear o livro
- Venite, diabolus omnium! - mas nada acontecia; para piorar, o portal perdia cada vez mais força
- ... NÃO! VENITE, DIABOLUS OMNIUM! Em um piscar de olhos, o portal se fechava e a orbe desaparecia. As coisas que estava sendo sugadas pelo próprio, desde os vitrais, lustres e bancos de igreja, caíam no chão de volta, causando um belo estrago e levantando um pouco de poeira, que fazia todos presentes serem obrigados a fecharem seus olhos. Quando a poeira abaixou, havia uma outra esfera no lugar da primeira que desapareceu, mas dessa vez, amarela. Em vez de esfumaçada, ela parecia pingar - mas não quaisquer pingos e sim com uma textura melequenta, grudenta. Assim como a anterior, essa esfera aumentava, mas em uma velocidade muito mais acelerada. Ao chegar no tamanho do saguão, em vez de sugar as coisas para dentro de si, parecia expeli-las. Era um portal, também, mas Lysander não conseguiria ver nada antes que, bom, uma quantidade absurda de meleca amarela cobrisse todos ali presentes, incluindo todo o salão, em uma cena digna da cena do elevador em O Iluminado (1980).
Se não conhece, dá um Google. É um primor da cinematografia.
Em um
cry semelhante ao anterior, ao limpar o que parecia ser, hã,
gelatina, de seus olhos, Lysander veria uma criatura semelhante ao Pokémon do Mundo Invertido passar pelo portal, tão magnífico e gigantesco que suas asas mal cabiam dentro da igreja. Sua cor e textura, entretanto, eram diferentes: além de ser completamente amarelo, sua textura era esquisita, quase se fosse feito da mesma matéria que agora ocupava todo o local.
Aqui, Lysander, lhe apresento:
Gelatino.