029 - [MISSÃO DE SOCIEDADE] O Bacomel Vegano é Viciante

#029

Depois de uma puta viagem de 36 horas entre diferentes cidades, finalmente consegui chegar até a tal Cidade de Oreburgh, uma das mais icônicas de Sinnoh, conhecida por ser um polo de extração e comercialização de minérios e pedras preciosas. Oficialmente, eu não estava aqui para lidar com esses tesouros enterrados e sim para ajudar um investidor a fundar uma hamburgueria nova no local. Entretanto, extraoficialmente, tinha uma missão pessoal de conseguir material suficiente para montar algo... Interessante... Mas deixa baixo, né? Pelo menos, por enquanto... O que era mais importante, aqui e agora, era visualizar seu Karen iria realmente participar também dessa missão. Seria uma oportunidade única, pois apesar dos anos de convivência na Virtuum, acho que nunca tínhamos realmente trabalhado juntos em alguma missão ou ação. Eu até trouxe a minha Machop, um presente de Okido, para que elas pudessem se rever.

— Kawaii, nós vamos rever a sua antiga treinadora, então tem que estar preparada para fazer a surpresa! — Disse para a pequena Machop, que mantinha uma engraçada e colorida peruca rosa saturada, no corte de cabelo parecido com o último que havia visto em Karen. A Pokémon também mantinha uma "bolsa tiracolo" em formato de Coco, referenciando Arthur e seu coco.

Além de Kawaii, também trazia comigo alguns recém-nascidos: Charmander e Dratini, além de Tatum, o Fletchinder, e ovos de um casal de Eevees que faziam parte de um projeto meu de Criação, em busca de um Eevee Shiny. É claro que esse processo poderia ser demorado e, até alcançar o objetivo, acabaria com a Sede da Virtuum inundada desses Pokémon. Nada demais, né? Acho que assim teremos Eevee para todos os membros e futuros membros. Uma infinidade de possibilidades...

Apesar do combinado com Karen anteriormente, resolvi que seria uma boa ideia contatá-la através do PokéZap para perguntar se viria. Abri o app e comecei a digitar:

para Karen, escreveu:Então... Estou em Oreburgh!
Vou ficar esperando você por aqui, não vou adiantar nada por enquanto.
Aliás, você vem, né? Enfim... Quando puder responda.

Depois de digitar e enviar a mensagem, peguei a mochila e fui fuxicando ela em busca de algum item perdido no fundo. Nessa 'brincadeira', acabei achando um Candy S lááá no cantinho, o qual assoprei, limpei e resolvi dar de lanche para o pequeno Dratini, "netinho" de Karinna, filho de Ivy. Lembrei que a loira comentou sobre alimentar bem essa cria, que se puxasse a mãe, gostaria de comer toneladas de comida o tempo todo e que ela queria que estivesse BEM GORDINHO quando o visse novamente, por isso não pensei duas vezes em dar o doce par ao Pokémon, que rapidamente o devorou.

É, agora era esperar...

A mensagem já havia sido enviada para Karen no PokéZap, mas a garota ainda não havia visualizado... Pois bem, não adiantava eu ficar ali esperando e encarando o celular para sempre, né? Por isso aproveitei para dar uns mimos ao Dratini, que não apenas gostou e devorou o docinho que lhe dei, mas também ficou perambulando e roçando por entre as minhas pernas pedindo mais. O problema? É que não tinha mais! Eu precisava distraí-lo de alguma forma para que essa ânsia por doces passasse...

— Ô, meu gordinho-ainda-sem-nome... Eu tô sem mais aqui, mas assim que a gente passar por uma loja eu faço a boa para você e compro um monte deles, tá? — Comentei com o Dratini, abaixando-me de cócoras para fazer carinho em sua cabeça, entre aquelas escamas proeminentes que mais pareciam orelhas ou chifres do que qualquer outra coisa. O Pokémon dragão parecia gostar de cafuné, tanto quanto gostava de comer doces. Mas afinal, quem não gosta, não é mesmo?

E enquanto eu dava atenção para o Dratini esfomeado, notei que Kawaii não estava sozinha. A tímida Machop era rapidamente cercada por algumas crianças curiosas. Era notável que ela estava um tanto desconfortável pelos olhares inquietos, mas ao mesmo tempo era uma Pokémon doce e entendia se tratar de "filhotes" humanos, então - mesmo que a contragosto - a Machop fez algumas poses típicas de bodybuilders. Não deu, não me aguentei e tive que rir dessa cena! Porém, tudo por um preço... Os segundos de distração com a lutadora foram suficientes para que o Dratini simplesmente escapasse do meu controle. Quando dei pela sua falta, o dragãozinho já estava serpenteando em alta velocidade para uma loja de doces próxima!

— Na-na-ni-na-não, calma lá mocinho! Vem Kawaii! Vem comigo. — Gritei com o Dratini que se fazia de surdo e continuava avançando. Sendo assim, chamei a Machop para me acompanhar o mais rápido possível e fui na direção do dragão. Sabia que não conseguiria impedir o Pokémon de chegar na loja de doces e muito menos resistiria ao seu jeitinho dócil de pedir um mimo. Então, já fui correndo com a mão no bolso e a outra na carteira, enquanto Kawaii me seguia desengonçadamente por conta da bolsa-coco que carregava. Enfim... Talvez fosse uma oportunidade interessante de comer algo gostoso e ainda tirar algumas dúvidas sobre a minha missão "paralela".

Ok, a última coisa que eu esperava hoje era fazer uma mini perseguição à um Dratini no meio de Oreburgh, mas como as coisas nem sempre são como a gente planeja, né? Certamente a cidade estava achando uma graça esse showzinho, principalmente com uma Machop de peruca rosa e bolsa à tiracolo, que contrastava com as cores terrosas e escuras de uma Cidade Mineradora.

— Meu amiguinho! Eu não tô treinando, ainda... Serpenteia mais devagar! — Disse, me arrependendo logo em seguida, pois falar e andar não era a escolha mais sábia para um sedentário como eu. Isso mostrava o quão urgente era retomar com a prática da dança que havia abandonado há algum tempo. Eu conseguia fazer movimentos muito intensos e não sentir que ia MORRER! Ai... ai... O ponto alto disso tudo foi ver que até a Kawaii já ia me passando. Uma lutadora bombada é outra coisa, né? Que vergonha...

Enfim! Dratini estava no lugar que queria e finalmente parou... Era uma padaria e realmente o cheiro que vinha lá de dentro parecia delicioso. Se o gosto fosse tão bom quanto, até eu comeria pelo menos uns três sei-lá-o-que-fosse sozinho. Contudo, o fim da minha perseguição ainda não tinha terminado! Talvez o dragão só estivesse me esperando chegar por consideração, pois assim que emparelhei com ele, o pequeno disparou loja a dentro, esbarrando em mesas e cadeiras, pés e patas, clientes e funcionários. Fiquei imediatamente enrubescido, principalmente pelos olhares de reprovação que recebia e aos quais respondia silenciosamente com um "sorriso amarelo".

Agora, sem ter para onde correr, o Dratini se colocava sobre o balcão, bem acima de belíssimos doces e praticamente salivava. Coitado... É mesmo um esfomeadinho. Respirei fundo, parando ao seu lado e já até tirei a carteira do bolso, preparando para levar uma cesta de doces quando fui interpelado por um dos garçons, que limpava as mesas e pedia para que eu controlasse meu Pokémon. Ah, fala sério? Hoje em dia não é tudo pet-friendly por aqui, não? Pensei em responder rispidamente, mas é aquela história, né? Não se briga com quem faz sua comida. Então ao invés disso, puxei lá do fundo do âmago aquela capacidade interpretativa e fechei o semblante, mas não de PUTO e sim de tristeza.

— E-eu... Peço desculpas, sabe? Está sendo um momento muito difícil desde que a minha irmãzinha virou uma estrelinha lá no céu. O Pokémon dela... — Fui comentando, com a cara mais lavada do mundo, apontando com o rosto para o Dratini — ...ainda não superou e sempre quer um docinho porque era isso que faziam juntos, sabe? — Fui comentando, deixando a voz mais embargada, pensando em "dor de dente", "carga tributária" e "chute com o mindinho na quina de móvel", aquelas coisas que nos fazem chorar — Mas tudo bem. Nós já vamos embora, eu só vou ver se tenho algum dinheiro para fazer um agrado ao Dratini, é o máximo que posso fazer já que nunca vou ser o amor que a minha irmã era para ele...

Qualé, eu tentei dar o melhor da minha capacidade de interpretação e não comprei o garçom? Esse é duro na queda mesmo, mas tudo bem. Minha vingança veio na parte dos transeuntes que ouviram a triste história e, comovidos pela minha história, compraram uns docinhos para o Dratini, que ficou extremamente feliz. Agradeci, ainda mantendo a expressão digna da "coitadolândia", mas fazendo questão de encarar o garçom por cima do ombro, antes dele finalmente sair. He he he...

— Muitíssimo obrigado! Esse pequenino tá precisando comer bastante para crescer saudável... Um dia vai ser um Dragonite grandão, mas por enquanto precisa de muito carinho e atenção... — Comentei, antes dos clientes se afastarem e eu me preparar para sair. Contudo, antes de passar pela segunda mesa, fui chamado por uma voz de alguma senhora de meia idade que vinha de dentro da cozinha da Padaria. Ela falava sobre alguém passar fome... Será que alguém contou a ela? O garçom? Enfim... Respirei fundo e me virei, me surpreendendo com o Pokémon que estava em cima de seu ombro. Um fletchling shiny!

— Oh! Sim, sou eu! — Disse, um pouco tímido pelo quão longe aquela história estava indo... Porém, não tive tempo nem de pensar. A mulher era um furacão, pegou torta, pediu ao garçom para trazer alguma coisa para mim, começou a se apresentar e fez uma infinidade de perguntas que eu nem conseguia responder. Elas se acumulavam e lá pela terceira eu já estava perdido. Naturalmente, enrubesci, sentado na cadeira com o Dratini em meu colo e Kawaii ao meu lado (que, muito independente, puxou a própria cadeira para si, sentou e ainda repousou a bolsa tiracolo sobre a mesa, na sua frente).

— ESPERE, Celeste! Eu... Não posso continuar com isso. — Disse, sério, de olhos fechados e respirando fundo — Peço perdão, mas era tudo uma brincadeira... Eu só fiquei chateado com o seu garçom, o Sr. Salgadir, quando ele comentou do Dratini não estar sendo corretamente controlado por mim. A brincadeira saiu do controle! Hahahaha! — Ri, ainda tímido, mas relaxando um pouco mais ao deixar as duas mãos sobre a mesa — Eu pagarei por tudo isso, não se preocupe. Agora, sobre as perguntas. Muito prazer! Eu sou o Luch, Luch Drac. Sou de Unova, mas minha casa atualmente é em Hoenn. Sou Criador e Especialista em Pokémon Voador. Também faço parte de uma Sociedade chamada Virtuum. Estou aqui a trabalho, vim cumprir um Contrato da Virtuum de Consultoria para a abertura de uma Hamburgueria nova na cidade... Talvez até conheça mais sobre...

Com mais tranquilidade, me deixei relaxar ainda mais, encostado no encosto da cadeira — Estou apenas aguardando uma amiga chegar para começarmos esse trabalho, mas aí o meu Dratini recém-nascido ficou louco por doce depois que eu dei um pouco para ele provar e acabamos chegando aqui... Eu ainda não tive tempo de escolher um nome pra ele, mas essa aqui ao meu lado tem nome. É a Kawaii. E aliás, belo Fletchinder aí contigo! Eu também tenho um aqui comigo... — Disse, deixando o Tatum sair da sua esfera e pousar na minha cabeça, aninhando, observando a mulher e seu voador — Tatum me ajuda a chocar Ovos, tenho dois aqui comigo agora e... Também tenho esse rapazinho, o Ishikeru — Disse, por fim, liberando o Charmander para sentar bonitinho na cadeira livre restante, como uma criancinha mesmo.

É, eu não me aguento em dizer a verdade, mesmo que não houvesse pressão alguma sobre mim... Um sincerão compulsivo? Talvez, mas era melhor isso do que acabar em encrenca e quebrando a cara. Além do mais, seria uma puta 'falta de sacanagem' zoar com uma velhinha tão simpática como a Celeste. Eu certamente faria questão de pagar por tudo isso, mas não deixaria de tomar um café com ela, se ela não se importasse, né? E, pelo visto, não se importou, pois apesar de uma leve repreensão que nem chegava a ser isso de fato, continuou o papo numa boa.

Celeste comentava sobre uma floricultura que estaria fechando em breve nas redondezas e que poderia ser o tal lugar que eu precisava ajudar a se estruturar. Quer dizer... Eu não, né? A Virtuum, mas deu para entender... Enquanto a senhora falava, Ishikeru e o Dratini encaravam a comida. O Charmander, com seus pezinhos "sacudilantes", parecia empolgado para pegar o creme de um dos doces, ao passo que o dragão lhe repreendia com o olhar. Ora, ora... Eram realmente os filhos de Droch e Ivy, não é mesmo, não é à toa que os crio como irmãos. Pois bem... Sem tirar a atenção do que Celeste falava, peguei o doce objeto do desejo dos dois e parti no meio com as mãos mesmo, entregando um pedaço para cada um, depois 'lambendo' os resquícios de creme do meu próprio dedo, antes de pegar o café e dar mais um longo gole.

— Floricultura? Pode ser... Eu só sei que o empreendedor é um ex-pescador, ou algo assim... A especialidade da Hamburgueria serão frutos do mar. Achei bem diferente! Até porque estamos longe da praia, né? Vai dar um trabalhão trazer peixe fresco sempre... — Comentei, ao terminar o gole longo do café, repousando-o sobre a mesa e pegando um biscoitinho amanteigado para devorá-lo rapidamente, mastigando por um tempo considerável antes de falar de novo  — Mas, como eu havia dito, estou esperando uma amiga ainda... Porém... Talvez a senhora consiga me ajudar com uma dica quente! Eu sei que essa é a grande cidade da mineração... E estou atrás de conseguir materiais para fazer uma joia com as minhas próprias mãos. Um anel, mais precisamente! Sabe onde posso conseguir essas coisas?

Por fim, mais um longo gole do café.