029 - [MISSÃO DE SOCIEDADE] O Bacomel Vegano é Viciante

Tá, aquele Lava Jato me impressionava! Eu achei que iria encontrar um bando de mecânico "mal encarado", sem muita paciência e tentando me dar um golpe enquanto fico "de molho" numa fila, mas na verdade fui atendido por uma Blissey bastante experiente e objetiva na sua abordagem. Apesar de não entender bulhufas do que ela dizia, por gestos e meras ações da Pokémon eu já sabia o que fazer (ou o que não fazer). Além disso, eu conseguiria matar mais de uma tarefa só naquele lugar, afinal havia o serviço de limpeza e também almoço... Considerando que essa quebra no meu planejamento, talvez fosse melhor almoçar logo mesmo ao invés de ficar perambulando com fome, né?

—Eu! Vou querer! Kit Completo! Eles e eu! Um seco e resto molhado! Comida para todos! — Dizia, igual um idiota. Por algum motivo eu achava que falando devagar ia ser compreendido pela Blissey, mas peraí, né? A gente fala normal com todos os Pokémon e eles nos entendem. O que deu na minha cabeça? Deve ser insolação... —Digo... Vamos fazer a lavagem normal para a maioria, menos para o Charmander, esse vai ser à seco, mas acho que você já sabe disso... — Corrigi, dando um "sorrisinho amarelo" ao final. Em seguida,  me virei para os pequeninos e comentei com eles o que aconteceria.

—Kawaii, minha querida, você vai precisar retirar a peruca e a bolsa para não molhar... Vamos lavar separado! Mas depois vamos retornar para você. Não se preocupe! — Comentei com a Machop, já me preparando para retirar os acessórios e entregá-los à Blissey, que certamente saberia cuidar deles. Já minha preocupação com o Dratini era a força do Lava Jato. Ele era mais frágil e praticamente um bebê, então precisava ter cuidado com o seu corpinho e o impacto da água, mesmo com resistência à ela. Para tentar mitigar isso, segurei ele no colo tal qual a criancinha que era. Em seguida, comentei com a Blissey que estava pronto.

— Senta o dedo, Blissey! Estou pronto!

Depois de dar o "ok" para a Blissey, rapidamente fechei os olhos e contraí cada músculo do meu corpo, esperando o impacto. Esperei, esperei e ele veio. E COMO VEIO! Um forte jato de água me arrancou um grito involuntário, mas depois acabei me acostumando com o deep cleaning (e bota deep nisso). Era um mal, mas um mal necessário que Kawaii e eu simplesmente suportamos até o fim. Por outro lado, o Dratini parecia muito à vontade com tudo isso... Ele na verdade parecia ADORAR o banho, o que foi realmente surpreendente. E FOFO! Peraí, talvez eu até tivesse uma ideia de nome para o Pokémon.

— Olha só, um dragãozinho que "domina" essa tempestade toda que jogam em nós... Eu posso então chamá-lo de Furyu? É um nome quase trocadilho, porque parece algo furioso, mas "Fu" remete à gentileza e "Ryu" à dragão. Um dragão gentil de apetito furioso, né? Hahahaha! O que acha Kawaii? — Comentei, encarando o Dratini no ar e depois olhando a molhada Machop para ver sua reação. Talvez não fosse a melhor hora para isso, mas não perderia a oportunidade de nomear o Pokémon dragão. Enfim, o batismo!

Resolvido isso, recebemos toalhas para aplacar a umidade e fomos levados até onde Ishikeru já estava limpo, acomodado e até decorado com um laço lindo demais. Eu tinha certeza que ele nunca mais tiraria aquele acessório — Você ficou maravilhoso Ishi... Já tenho que fazer um estoque desses laços pra quando pegar fogo nele... Já tô até vendo... — Comentei com o Pokémon de Fogo que sacudia as perninhas e estava todo orgulhoso de seu lacinho laranja.

Enquanto limpava e acomodava os dois Pokémon, entendi que aquela mesa em nossa frente seria o espaço de almoço. Apesar de ser uma oficina, felizmente não havia óleo ou algo do tipo espalhado no ambiente e poderíamos almoçar sossegados. Inclusive Tatum, a quem deixava sair da Pokébola para almoçar também... E aliás... Os ovos que estavam aqui, eles... CHOCARAM? Abri rapidamente a mochila ao verificar as incubadoras vazias e, para a minha surpresa, o que saiu de dentro da bolsa não foram ovos e sim dois Pokémon. Um casal de Eevees! Que maravilha! Bem a tempo de precisar pagar mais dois almoços para esses recém-nascidos! Hahaha Felizmente eu os adoro  — Senhora! Ou seria senhorita? Enfim, Blissey! Por favor, consiga para mim mais dois pratos de comida Pokémon. Chocamos mais esfomeados!

Quando chamei a Blissey para "colocar mais água no feijão", não esperava que a rosácea também garantiria uns lacinhos para os dois lindos Eevees recém nascidos. Eles ficaram umas graças! Então só nos restava sentar para nos alimentarmos. Éramos sete, contando comigo, então a mesa ficou bem cheia, como a de uma grande família feliz. Estava fresco hoje, apesar de não poder dizer que estava frio, havia uma brisa e era o suficiente para ficarmos confortáveis. Então, assim que o almoço chegou, não perdemos tempo em começar a devorá-lo, mas não sem antes eu guardar a minha balinha frutada que serviria à minha sobremesa.

Enquanto comíamos, cada um em seus próprios pensamentos e objetivos, ficava imaginando o tempo que estava perdendo ali e como deveria avançar o quanto antes para a minha "missão paralela" para enfim encontrar Karen e começarmos nosso servicinho pela Virtuum. Fiquei tanto tempo perdido em pensamentos que quando voltei à mim, já estava quase terminando a refeição. Não só eu, os Pokémon também, principalmente Furyu que não parava nem para respirar. DE NOVO! Se eu não fizesse nada isso não terminaria bem! E já sabemos o quão ruim pode ser. Por isso, intercedi com o Pokémon, fazendo-o parar de comer por alguns instantes para lhe ensinar.

— Furyu, meu querido, desculpe, mas acho que não entendeu a gravidade de comer rápido. Esqueceu que comer rápido demais foi o motivo de estarmos aqui ainda meio úmidos da lavagem emergencial? Vamos, espere mastigar bem e engolir primeiro o que está na boca e sóóóóo depois a gente pega mais...  — Comentei, afastando o prato e esperando para ver a reação do pequeno Dratini, antes de podermos voltar ao almoço.

Ops... Acho que além de não entender a necessidade de comer devagar, Furyu também não entendia (ou não queria entender) que eu não o privaria de se alimentar, apenas queria cadenciar melhor sua ingestão, pois coitado do seu estomaguinho, né? Após ter seu prato retirado repentinamente, o Dratini fez aquela famosa carinha de chororô com os olhos brilhantes e entristecidos. Kawaii e Ishikeru não compravam mais essa história, mas todos que estavam próximos e não o conheciam ficaram obviamente sensibilizados, me pressionando para retomar a alimentação do Pokémon. Até a Blissey veio questionar se havia alguma necessidade a mais, mas realmente não havia nada que pudesse ser feito além de voltar a dar comida, mas dessa vez no ritmo que eu considerasse o ideal.

— Está tudo bem, pessoal! O Dratini vai comer tudo, mas deixa ele engolir uma coisa de cada vez! Hahahaha! Vamos lá, Furyu, mais uma porçãozinha pequena, vá abra a boca... — Disse, primeiramente para todos que assistiam a cena, incluindo a Bolota Rosa, depois oferecendo uma mini porção para Furyu. Foi aí que notei que a Blissey também já estava preparada para o pagamento, o que para mim não era um problema, mesmo de mãos ocupadas. Olhei então para o Rotom Phone sonre a mesma, lhe dando o comando do pagamento, — Rotom, por favor, passa no débito essa minha compra, por aproximação...

E enquanto o aparelho flutuava para realizar o pagamento, terminava de dar mais uma porção, a final, de comida para Furyu. Se tudo desse certo, incluindo com o pagamento, me despediria de Pereirão e juntaria a tropa toda para seguirmos adiante no calçadão para encontrarmos o tal Ferreiro. Afinal, não poderia deixar a Hamburgueria e nem Karen esperando tanto tempo...

Ok, Pereirão era verdadeiramente um amor de Pokémon. Ela tratou os meus Pokémon - e a mim mesmo - com muito zelo e profissionalismo, por isso não me importei em dar uma gorjeta, né? Temos que valorizar os bons serviços! Mas chegou ao fim... E eu precisava me preparar para levar todo mundo para o passeio pelo restante do calçadão. Sim, inclusive os recém-nascidos! Coloquei a mochila para frente, semi-aberta e deixei o casal de Eevees ali dentro, assim ficariam ao meu alcance e poderiam ver o mundo com seus próprios olhinhos. Os lacinhos estavam fofos demais, então qualquer um na rua que os visse acharia uma graça e mexeria com eles. Ishikeru ia um pouco a frente, a pé mesmo. Ele estava muito orgulhoso do seu laço e queria ficar olhando o tempo todo para o acessório, às vezes até tomando um tropicão em pedras levemente soltas do calçadão — Ishikeru, cuidado, tá? Na verdade, todos tenham cuidado. Fiquem na minha frente sempre, assim vou estar sempre de olho em vocês. E Tatum, você fica de olho na gente aí de cima, tá? — Comentei, primeiro com os pequenos e depois com o pássaro de fogo que agora livre dos ovos, podia voar bem alto para nos escoltar pelo ar.

No início eu estava distraído demais com os cinco Pokémon menores, então não notei. Porém, após uma boa caminhada no calçadão comecei a notar que estava tudo fechado. Pouca gente, pouquíssimo movimento! Algumas pessoas dormindo. Eu não sou conhecedor profundo da cultura de outras regiões e cidades, então é óbvio que fiz uma pesquisa na internet para descobrir o que havia. Bem, era a tal da "Hora-Pokémon" ou "Horário-Pokémon", que seja. Todo mundo no pós almoço tirava um cochilinho maroto para recuperar as energias e poder finalizar o dia com mais animação, além de digerir melhor a comida. Que choque cultural doido, né? Eu até ficava tentando a tentar também, mas sentia que meu tempo era curto e deveria aproveitar essa facilidade de locomoção para pelo menos chegar perto do meu objetivo, que já era secundário. Se estivesse fechado, esperaria na porta até reabrir para ser o primeiro a ser atendido.

— É, aqui tá começando a mudar de ambiente... Acho que a gente tá chegando... Agora é lembrar o lado que a Senhorinha disse... Que eu me lembre, se eu virar ali, já vou sair de frente com o tal Ferreiro. Vamos ver! — Comentei, mais comigo mesmo do que com os monstrinhos. Eu tinha uma vaga lembrança do mapa e não estava com muito saco pra olhar o tempo todo. Eu sempre faço isso, dá preguiça de olhar, mas não dá preguiça de se perder. Fazer o que... Vamos ver se dessa vez eu acerto pelo menos.