029 - [MISSÃO DE SOCIEDADE] O Bacomel Vegano é Viciante

Quando entrei e anunciei que estava em busca de ver o macaco, o que eu vi foi uma cena, digamos... Dócil. A menina estava delicadamente ESFREGANDO o macaco para retirar toda a grossa camada de sujeira de ser lá quantos anos? Provavelmente a mesma quantidade de anos que o macaco tinha. E pelo nível da água que cobria o chão, ela estava tendo muito sucesso, graças aos céus. Contudo, minha necessidade de ver o Passimian não era exatamente por saudade do símio, mas dúvida se realmente ele havia comido cocô e espalhado em tudo que é lugar, inclusive na Karen. Por um momento, pareceu isso mesmo, mas antes que eu pudesse me expor em perguntar, a própria garota tratou de informar o que havia acontecido. No fim, era chocolate... Além disso, Karen lamentava ter escolhido a vida de treinadora ao invés de fazendeira, como os Okido gostariam.

— Ah... Pois é, vim ver o Arthur e você. Eu vim correndo exatamente por ter visto o vídeo viral e estava em choque pela possibilidade de... Você sabe. Mas pelo visto, tudo está bem! Eu fico aliviado e, perdão por isso, estranhamento decepcionado, pois ao menos seria HILÁRIO! Mas enfim... Prefiro o termo aliviado... — Comentei, terminando com um enrubescido sorriso para retribuir o aceno do próprio Passimian. Karen informava que logo me cumprimentaria devidamente, quando acabasse o serviço pesado — Hmm.. Sobre a Fazenda, eu te digo por experiência própria que não é tudo as mil maravilhas. Na minha última temporada de Vida de Fazendeiro, eu tive que expulsar um bando de Rocket que caiu por lá.. ... ... Digo, os carinhas que são da Equipe Rocket, caso tenha parecido que jogaram foguetes no meu quintal. Não, isso seria loucura, o que caiu foi uma nave inteira mesmo com esses caras. Enfim...

Já que Karen havia terminado o serviço, ela acabou vindo me abraçar. Acho que era o tal cumprimento correto que tinha ficado devendo. A garota até aproveitou o momento para fazer uma graça com a minha altura! — É que quando eu era criança meu pai disse que eu caí no pote de fermento... Dai cresci igual pão e minha mãe esticou com rolo de macarrão, por isso sou alto e fino... — Complementei, fazendo uma besta piada. Contudo, antes que eu mesmo pudesse rir da palhaçada, fui surpreendido por Arthur que veio e me abraçou. Retribuí o abraço, mas ele não parecia disposto a soltar, então primeiro fiquei reticente, mas depois acabei aceitando o meu destino — É, eu também sinto saudades daquele Natal, Arthur... Quase conseguimos cortar o Pinheiro, pena que era a Amarílis... Bem, como me perguntou... — Disse brevemente ao macaco, enquanto era esmigalhado por ele, meio torto e com tapinhas nas costas de Arthur, direcionava o assunto de volta à Karen:

— Eu sinceramente não tenho ido à Fazenda, fiz recentemente um longo tour pelas regiões junto da Artemísia, mas chegou a hora de seguirmos caminhos distintos, então por isso te chamei para essa Missão! Quero interagir melhor com todos os membros da Virtuum e acho que não era o bastante apenas interagir com a sua versão Machop! — Comentei, apontando para trás, onde uma Machop de peruca rosa chiclete acenava para a sua ex-treinadora — Enfim, eu espero que a gente não encontre nenhum desafio épico, digno de epopeia em uma simples hamburgueria. Né? Aliás... Toma esse folheto que vi por aí, nosso contratante tá apressado e já tá fazendo esses péssimos cartazes. Se a gente não se apressar, ele vai falhar miseravelmente e vai culpar a gente! — Informei à garota, tentando esticar o braço, apesar do abraço do MACACO, para lhe entregar o folheto.

Parece que minha história sobre os Rockets na Fazenda havia despertado memórias de guerra da infância de Karen. Ela comentava sobre uma Fazenda, que provavelmente era dos seus pais e eu ouvia essa história pela primeira vez. É... Realmente, jamais havíamos tido a oportunidade de nos conhecer nesse sentido, mas como não queria atrapalhar, apenas concordei com a cabeça (da forma que Arthur me permitia se mover), como se já soubesse de tudo, apenas sendo condescendente. Em seguida, após minhas piadocas graciosas, Karen comenta sobre estar com fome (provavelmente pelo meu papo do pão?) e se surpreende com meu comentário para o Passimian quanto ao Natal. Será que, assim como eu que descobri apenas na última semana que a Karen Natalina era na verdade o Arthur, ela também não sabia das peripécias do MACACO na Virtuum?

— Tyrant não gosta do Arthur? Mas por que? Ele é só um MACACO fazendo macaquices. Pior são os humanos fazendo macaquices quando deveriam só fazer humanazices... Digo, acho que me perdi, deixa eu voltar... Ah sim! Acho que é apenas um conflito de interesse. Arthur requer muito da sua atenção e acaba tirando o tempo de vocês ficarem de namorico por aí...  — Disse, encarando o Passimian e depois a Karen, com um sorriso no rosto. A verdade é que eu estava sendo gentil com a situação. Arthur perturbava demais, ainda mais com a Poké Ball quebrada. Nem dava para esconder ele momentaneamente.

Mas enfim.... Após fazer um comentário sobre a Mísia que me arrancou uma sincera risada, eu apresentei a Machop "recauchutada" para Karen que ficou maravilhada com a pequena emperucada. Aliás, a Especialista tratou logo de pegar uma armação de óculos na mochila e colocou na cara da Pokémon, que primeiro ficou encarando a garota, depois me olhou com os olhinhos de quem quer dizer "Misericórdia...", apenas a olhei de volta tentando fazê-la entender que não se nega presente, né? Bastava aguardar um pouco com o acessório no rosto. Nesse instante, Karen perguntava também o nome da Pokémon, o qual prontamente respondi com um sorriso no rosto, pois tinha toda uma história:

— O nome real dela é Kawaiimúsculochan, mas ela parece não gostar de ser chamada assim e prefere só Kawaii, então tá aí, né? É a primeira vez que passeio com ela numa cidade maior, geralmente ela ficava só tomando conta da Fazenda, carregando caixas e tudo mais.... De todo modo, acho que os óculos ficaram chavosos! — Disse, dando um carinho na cabeça da pequena lutadora Pokémon.  E agora, vamos ao trabalho!

Karen viu o pôster que mostrei para ela e tentou ser sutil, não detonar tanto o trabalho manual do empreendedor ex-pescador — Bem, você acha que tem futuro? Mas na verdade tu tá olhando de cabeça para baixo, peraí... — Me intrometi, segurando o papel com a ponta dos dedos de cada mão, virando-o na direção da Especialista — Assim ó. Minha opinião é que a gente pode só amarrar o dono e fazer o trabalho dele, depois pegamos a recompensa e soltamos ele antes de fugir... Esse cara deve ser chato com os pitacos que vai dar... — Comentei, um pouco antes de Karen dizer que já estava pronta para ir, além de me perguntar que ideias eu teria.

— Eu tenho uma MUITO BOA! Eu acho que o segredo de um bom burgão é o tempero, então a minha ideia é trabalharmos em duas frentes. Ajudar no Marketing e na divulgação nas ruas e no tempero, tipo um ketchup diferenciado... uma maionese beeem especial. Assim a gente não mexe na receita do dono também, que costumam ser chatos com isso! Minha única preocupação é sobre como ele vai conseguir tanto frutos-do-mar frescos tão longe do mar. Ninguém gosta de hambúrguer congelado numa hamburgueria BOA! — Opinei.

Bem... Terminado de dar minha opinião, apenas aguardei a garota encerrar seus assuntos para sairmos. Contudo, assim que saíssemos e passássemos por uma lixeira, a Machop aproveitaria a oportunidade para retirar e jogar fora o óculos recebido de presente.

Karen parecia surpresa e talvez um pouco sem graça por eu ter defendido o Passimian. Ou melhor, por não ter esculachado ele de cara, né? Porque eu meio que só relevei algumas coisas e ainda por educação... Enfim, aproveitei que o assunto não renderia muito para passar adiante a outro tópico, que era o cartaz. Depois que eu virei o papel, a garota continuou encarando a arte e fez um comentário sutil sobre manter a essência... — Só se for essência de bosta Hahahaha Digo, não foi referência ao que vocês passaram com os vídeos e tal, enfim... Para ficar ruim, esse desenho tem que melhorar um pouco...  — Comentei, pegando novamente a propaganda em mãos, tentando entender como alguém achava aquilo uma boa opção.

Bem, que seja... Sobre a receita, Karen também parecia conhecer uma opção de tempero e realmente poderíamos começar daí. Ela até pergunta se eu tenho noção de uma receita e apenas sorrio com o canto dos lábios e olho para o alto, como se refletisse — Podemos usar sua receita sim! Meu toque especial será em apenas um ingrediente, mas é um ingrediente secreto, de... Família... Digamos. Eu usarei para finalizar, mas confio na sua habilidade e na sua receita do seu pai.... — Comentei, entrando em um acordo sobre como trabalharíamos. O marketing eu sinceramente esperava que a própria garota fosse andar pelas ruas com uma placa. Querendo ou não, Karen era o estereótipo de menina fofinha e isso certamente atrairia clientes...

Por fim, a garota de cabelos rosa comenta sobre a questão dos peixes frescos, que o restaurante poderia dar várias explicações para como consegue peixes frescos, mas eu sinceramente não conseguia acompanhar seu raciocínio. Não nesse assunto em específico! — Olha.. Eu acho que não acreditaria não, hein... Além do mais, a questão aqui é que duvido que ele tenha algo fresco mesmo! Mas enfim... Vamos passar ali no Centro Pokémon e retirar nossas recompensas da Olimíada? Lembra que participamos e nos deram um broche? Já tá liberada a recompensa. A gente passa no balcão e solicita, é o que diz aqui no app... — Expliquei para Karen, já parando no balcão durante nossa caminhada, apresentando o broche do evento...

Karen não parecia muito convencida do problema que eu via na logística do Oreburgher e eu torcia para que ela estivesse correta e o dono tivesse uma estratégia, porque caso contrário poderíamos falhar antes mesmo de começarmos e não queria ter perdido tanto tempo viajando para cá sem nem ter chances de alcançar nosso objetivo. Mas enfim... Terminado nosso processo de resgate das recompensas das Olimpíadas, nos restou apenas seguir adiante pelas ruas da cidade até a hamburgueria. E foi exatamente o que a gente fez... ou pelo menos tentou... Passamos diversas vezes pela rua indicada, buscando o número correto, Enquanto isso, Karen me perguntava sobre o ingrediente secreto: ela era mesmo curiosa...

— São... "ervas-de-cheiro", sabe? Daquelas que nasce na natureza e tem um gostinho bom, mas ninguém nem sabe o nome direito? Quando bem escolhidas dão um cheiro bom e o cliente certamente sempre vai querer voltar... É isso... Não tem nada a ver com THC! Digo... Confia, é ótima! — Comentei, quase me enrolando desnecessariamente. Acho que isso talvez solucionasse a curiosidade da garota, sem precisar correr o risco de ser preso por uma colega de Sociedade. Apesar de que nem sei se os Ranger tem autonomia para tal. Que seja...

Depois que passamos umas quatro vezes pelo lugar que deveria ser nosso destino, notamos uma "placa" improvisada que mal conseguíamos ler e, mesmo lendo, mal conseguíamos identificar. E sim, era INFELIZMENTE ali naquela espelunca de madeira carcomida, era o tal lugar que precisávamos transformar em uma boa hamburgueria. Eu apenas fiquei ali, por alguns bons segundos, encarando com seriedade a estrutura que era o Terror da Defesa Civil, então levei uma mão até o rosto, afundando os dedos na pele da face, enquanto gargalhava — HahahahahahahahahahahaahhahaAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA! — O que alguns chamavam de "coringar".

Depois de um tempo, tendo voltado a si, me dirigi à Karen, com o rosto vermelho e a voz embargada — Perdão... Vamos entrar? Acho que temos muito trabalho pela frente...