#013 - Homesick

Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora

Apesar da incerteza de Margaery, no final tudo deu certo. O trio sairia da Cabana de Nottrewood para uma aventura juntos, um pouco mais de tempo para que Artemísia aproveitasse da companhia desta família fofa, ao mesmo tempo que Enzo e sua mãe teriam mais o que aprender com Lovari. Porém, antes de partir, a mulher e o anfitrião pareciam compartilhar um momento bastante íntimo, com direito a carícias, mesmo que sutis, no rosto da mãe por parte do homem. Neste instante a curiosidade de Mísia se aflorou, o que fez com que a treinadora se aproximasse sorrateiramente para tentar ouvir melhor, apesar da insistente tentativa de Enzo em ser ouvido. O que ela conseguiu ouvir foi...

— ...im... Você.... tempo... casou.... Precisa voltar... luz, alegre, chei.... ida... Não importa.... inda... e amo... — Foram as frases de Nottrewood, enquanto Margaery se mantinha inabalável, sem se mover demais. Apenas fechou os olhos em algum momento, mas não esboçou fortes reações, talvez por estar em uma situação que não gostaria de abrir seus sentimentos. Enfim... Terminada a "conversa", Nottrewood virou-se e caminho na direção de Mísia e Enzo, acertando os últimos detalhes do kit de camping, enquanto a mãe ficou de costas, ajeitando suas próprias coisas. Um pouco antes disso, Artemísia teve que deixar a fofoca de lado para responder o garotinho, afirmando que adoraria fazer dupla com ele em alguma batalha futura. Além disso, perguntou o que o garoto achava de capturar um Poliwag.

— Eu acho muito legal, mas gosto mesmo é da evolução final, o SAPÃO! — Dizia o garoto, imitando o que claramente era um Poliwrath ou o que ele imaginava ser um pelo menos... Enfim... Lovari trouxe quase todos seus Pokémon para dentro das esferas e foi falar com o anfitrião, em busca de mais daquelas berries que havia recebido. Em um primeiro momento, Nottrewood se assustou com o pedido, mas depois apenas sorriu, mostrando para ela duas Poké Balls, uma em cada mão — Definitivamente não nego berries, mas você terá que me vencer em uma batalha em dupla. Acho um preço justo! Vamos até a arena dos fundos....

Chegando lá, era notável que a estrada próxima estava vazia. Não havia ninguém para assistir a batalha, pelo menos por enquanto. Margaery ainda tinha muito o que arrumar lá dentro, então pediu desculpas, mas se manteve no interior da Cabana. Já Enzo, como se espera, saiu correndo e já se prontificou a ser o juiz, imitando o Sr. Nottrewood há pouco tempo atrás...

Antes do comando de Enzo para que começassem a batalha, o homem lançou duas criaturinhas curiosas em campo, deixando o início do comando dos Pokémon para Artemísia, que poderia fazê-lo no momento em que o garotinho baixou os dois braços, dando início à luta. Porém, antes...  — Senhorita, independente da sua escolha, deixe-me por favor curar sua Lapras...

 

Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora

Com Daphne devidamente curada, os dois treinadores assumiram lados opostos do campo de batalha de antes. Diferente da última vez, talvez pelo horário, existiam alguns outros treinadores passando pela estrada próxima e, como esperado de jovens empolgados, começaram a se aglomerar para ver o que sairia daquele embate, ainda mais com dois Pokémon tão chamativos do lado de Mísia. Dracovish era bastante raro por ali e muitos jovens talvez nem o conhecessem. Já a Lapras era até famosa, mas de rara aparição, pelo menos por essas bandas. Todos conheciam a história do Lapras das Sextas, mas quase ninguém havia visto um de verdade.

Pois bem... Se Mísia observasse bem o time adversário, veria que o Furret era imenso! Além disso, o Pokémon tinha uma pelagem meio castigada, sem muito brilho e com uma coloração pendendo tanto para o grisalho quanto os cabelos do próprio Nottrewood, o que sugeria que poderiam ser companheiros de longa data. Já a Bayleef, por outro lado, exalava juventude, como uma das plantas que florescia cheia de vida nos jardins da Cabana do homem. Contudo, ambos pareciam bastante dispostos para batalhar e estavam atentos às ordens do homem.

— Ótimo começo! — Disse o adversário, ao ouvir as ordens de Artemísia — Furret, aplique um duplo Play Rough sobre o Dracovish... Bayleef, recue e use Reflect, depois ataque com Leaf Storm o Dracovish também...

Com as ordens dadas, o mais rápido era Torte, graças ao treinamento de Lovari... Juntando água do ar, o Pokémon fez uma bocarra com presas utilizando a união das gotículas de água e as solidificou o bastante para uma fortíssima mordida no furão. O Pokémon Normal ficou com a parte central do corpo presa entre os dentes aquáticos e urrou de dor, se debatendo. A "prensa" só terminou com o movimento do Furret, que segurou Torte pela mão, para saírem dançando por aí. Uma brincadeirinha, sabe? Só que brincadeirinha mortal. O furão, segurando o Dracovish pela mão, o ergueu com um braço só e o acertou no chão em todos os lados, como se fosse uma criança puxando uma boneca. Loucura total!

Um pouco distante dali, Bayleef se preparava para produzir uma barreira protetora física, protegendo qualquer um dos adversários contra golpes corpo-a-corpo. Uma excelente estratégia para parar o Dracovish, mas não o bastante para parar o raio do trovão da Lapras, que se carregou com a estática do ar seco do dia para um ataque elétrico no Furret, que se afastou momentaneamente de Torte. É claro que o Dracovish não aceitou bem tudo isso e, mais uma vez, aplicou a mordida letal no Pokémon Normal, o qual só não foi "de caixa" pela interseção muito oportuna do Reflect da Bayleef. E aliás... o Furret aproveitou a sobrevida para mais uma seção de brincadeiras DURAS com o Torte, que dessa vez também levou um redemoinho de folhas CRÍTICO direto sobre si...

Por fim, Daphne manteve a ação anterior e eletrocutou mais uma vez o velho furão, deixando-o à beira do nocaute, mas ainda vivo. O Dracovish também não estava em sua melhor forma e Nottrewood não perderia tempo em dar mais ordens — Furret, continue com duplo Play Rough! Já você, Bayleef, Light Screen e Razor Leaf!
 

Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora

Continuando a batalha, Artemísia se vê obrigada a "desperdiçar" um ótimo movimento de Torte para derrubar o incômodo Furret e garantir que o Dracovish não cairia cedo demais em batalha. Em seguida, mantinha os golpes super efetivos de Daphne sobre a Bayleef do adversário, aguardando que o seu colega de equipe finalizasse as barreiras de suporte construídas pela gramínea adversária.

— Excelente leitura de batalha, Senhorita... Bayleef tem diversas fraquezas de tipo, mas possui defesas até decentes para compensar e um arsenal de movimentos de suporte à disposição. Já o Furret é ágil, versátil pelo tipo normal, mas frágil... A ideia é trabalharem juntos, mas é claro que diante de um Pokémon tão incrível como esse Dracovish, uma simples estratégia dessas não parece ser suficiente. De antemão, parabéns! — Dizia Nottrewood, satisfeito com o desenrolar da batalha, apesar de estar claramente em desvantagem, mesmo com mais experiência.

Enfim... Torte realmente derrubou o furão, apenas para ver mais uma barreira surgir em campo. Essa barreira foi especialmente ruim para Daphne, pois mitigou a sua capacidade ofensiva. Contudo, felizmente, sua Psychic Fangs foi o suficiente para retirar as proteções extras, bem como infligir um dano considerável na Bayleef, que ainda sofreu o dano cheio do Freeze-Dry da Lapras. Além disso, a gramínea atacou com Razor Leaf, um golpe físico que apesar de pouco afetar o Dracovish, era um perigo para Daphne. O que Artemísia ordenaria agora?
 

Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora

Nottrewood e Bayleef sabiam que não teria como vencer, nem por um milagre. Porém, terminariam esse conflito lutando com firmeza contra o oponente e sem baixar a cabeça, quem sabe um crítico não lhes serviria de alguma forma? Por isso, o Criador manteve a postura ofensiva anterior ao ordenar o que seria seu último comando de batalha — Vamos, Bayleef! Vamos honrar o Furrret e manter a pressão. Avance com duplo Razor Leaf!

Torte também reagiu, dando seus passos desengonçados, mas velozes para interromper o avanço da Bayleef, lhe aplicando uma mordida gelada que quase a levou ao nocaute. Porém, a Pokémon conseguia resistir e lançar a saraivada de folhas navalhas contra a dupla adversária. O Dracovish foi o primeiro a sofrer algum dano, nada grave, apesar de qualquer dano ser considerável quando se está com a energia baixa. Já a Lapras, um pouco mais distante, levou a pior com uma pancada super efetiva em seu corpo aquático, precisando revidar o mais rápido possível com o fatídico Freeze-Dry para decidir essa luta e afastar o perigo. Por fim, o Leftovers serviu apenas para um breve apoio de cura...

— Voltem... Fizeram um excelente trabalho, agora descansem... — Disse Nottrewood, retornando seus Pokémon para suas respectivas esferas que foram guardadas delicadamente, uma em cada bolso da camisa quadriculada — Mais uma vez, parabéns senhorita Artemísia! Como eu prometi, aqui estão mais três Sitrus Berry, é o que tenho no momento disponível. Já você, Enzo... Leve consigo algumas Lum Berries, poderão ser úteis... — Informou o Criador, entregando as frutinhas para a jovem e a criança. Enquanto isso, os vários transeuntes que assistiam à batalha, aplaudiam os treinadores, principalmente Mísia. Alguns iam embora sem expressar nada e outros ficavam apenas observando, fofocando entre si.

— Bem, sobre o que falou ali, de ter aprendido com outras pessoas. Acho que é sempre assim, né? Aprendemos com nossos amigos, nossos adversários. Em vitórias e derrotas que nos recompensam com experiência. É por isso que peço que realmente dê um ensino prático à Margaery sobre viver o sonho, abrir a mente para aprender. Ela precisa expandir seus horizontes... Por ela e pelo menino também...  — O homem conversava com Mísia, explicando o que sentia e pensava sobre a mãe do garoto. Enzo ouvia tudo, mas não necessariamente compreendia — Agora, é hora de vocês partirem. Não é mesmo? Vai acabar ficando tarde e quando a noite cair vão precisar acampar, chegando ou não no Lago. Então... Boa sorte!

Ao desejar boa sorte à dupla, quem surgiu da cabana foi Margaery, trazendo bastante coisa para a viagem, tudo compactado em uma mochilinha improvisada para Enzo e outra um pouco mais pesada, que a própria usava nas costas. Ela até andava bem, apesar do peso, mas estava um pouco desconfortável com a situação incomum — Eu acho que estou pronta... Fiquei me olhando no espelho e nem me reconheci, mas vai ser bem interessante e divertido. Eu tenho certeza! Vamos?

Agora, bastava à Mísia decidir seguir logo ou não. O caminho era único, uma estrada paralela àquela que levava à Violet e que se embrenhava cada vez mais no bosque da Rota 19 onde os segredos de Pokémon se escondiam, bem como Teddiursas e um Lago prometido.
 

Erga essa cabeça, mete o pé e vai na fé, manda essa tristeza embora

Depois de conversar com Nottrewood e confirmar que ajudaria Margaery, a própria mulher havia surgido, pronta para partir em uma "aventura". Dito isto, todos se despediram do anfitrião seja Enzo e a mãe com um abraço ou com os agradecimentos de Artemísia pelas frutas que recebeu. Era hora de seguir em frente pela grama alta dos bosques da Rota 19, caminho pelo qual o trio começava a partir. Lovari fez uma menção sobre os Teddiursas para Margaery, o que extraiu um sorriso de seu rosto, a fazendo até andar mais rápido um pouco — É isso aí! Eles costumam dormir bastante de dia, adoram sair de noite para ver a lua e pegar mel... Vamos em frente, então!

Depois de um tempo caminhando, Artemísia se aproximou de Enzo e perguntou se a criança ainda estava disposta a batalhar em dupla contra algum treinador no caminho. Isso fez o rosto de Enzo ficar radiante — Siiim! Você é muito forte, não tem nada que possa vencer a gente! — Gritou o garoto, dando saltinhos na frente da treinadora, enquanto caminhavam. E era isso... Estava decidido que enfrentariam alguém, mas... Não haviam muitos treinadores por ali. Depois de andarem por uns 10 minutos só haviam visto um jovenzinho vestido de escoteiro e ele nem parecia muito disposto a batalha, pois apenas sorriu timidamente e acenou para o grupo, antes de apressar o passo em direção à Cherrygrove.

Porém, uma boa notícia, depois de atravessarem uma leve inclinação com rochas emaranhadas em raízes escorregadias, o trio alcançou um primeiro ponto de interesse. Um lago pequeno, bem abaixo de uma clareira. Era um lugar bastante bonito, com a superfície da água coberta com musgos que passavam um ar etéreo àquele cenário. Enzo encarava aquilo boquiaberto, como se quisesse "fotografar" com a memória o cenário. O garoto trouxe até a sua Wooper para fora da esfera, a fim de que pudesse vislumbrar também e, quem sabe, dar um mergulho. Já Margaery, achava melhor seguir — Enzo, precisamos andar um pouco mais... Precisamos chegar em um lugar melhor para montar acampamento...

— Só um momentinho mãe! Juro que vai ser rápido! — Dizia a criança, enquanto Woop corria e se jogava no laguinho, espalhando os musgos e então nadando feliz de um lado para o outro. Enquanto isso, Enzo se equilibrava em umas pedras próximas, contornando o laguinho para obvservar melhor aquele cenário. Enquanto isso, Artemísia podia ficar livre parar dar uma espiada ou conversar com a mãe do garoto, como preferisse...