Ruas de Oldale - Novas amizades

Sentar até que trazia um alívio após o treino. Vi que Pig respirou mais aliviado, porém, quando os sanduíches chegaram, ninguém parecia mais reconhecer o que eram as boas maneiras. Acabei pedindo sucos cítricos, ouvindo o que o rapaz falava e vendo o sorriso maquiavélico ao olhar meu Fire e deduzir que eu era um treinador capaz da proeza. Aquilo soava quase como um pedido do que uma sugestão. Estava me sentindo aqueles heróis à paisana. Dei uma olhada para Pig e ele deu um sorriso como se estivesse afim de uma briga.

— O que você acha? Eu topo, se você topar!

Dependendo da resposta, só terminaria de comer para partir e ver se encontrava a tal gangue.

Assim que acabamos de comer, as energias voltaram aos corpos e conseguimos seguir até onde as instruções do garçom nos mandaram. Por um momento se passou pela minha cabeça que aquele cara poderia estar envolvido num esquema maior que minha mente foi capaz de bolar, durante o almoço. E se ele estivesse aliciando viajantes a desafiarem esses caras e ele ganhasse alguma comissão encima? Que doido! Preferi acreditar que eram um bando de otários importunando crianças por serem uns inúteis.

Ao chegar na divisa da cidade com a rota que levava à Petalburg, eu parecia estar certo. Eram uns otários mesmo. Mas uns otários estilosos!

Acompanhei a cena patética ao lado de Mr. Pig, ouvindo detalhes no final. De braços entrelaçados como um policial faria para descansar, elevei minha voz já percebendo que Pig estava pronto para o combate.

— Ei, para de implicar com o moleque! Por que não procura um desafio mais justo e para de importunar os jovens que passam por aqui? - acabei fingindo mascar um chiclete para parecer mais descolado, me segurando para não rir e estragar a brincadeira. Se eu tivesse uma moto ou ao menos uma bike, a entrada seria melhor - Escuta, eu não to afim de muito papo, mas to ligado que vocês curtem apostas. Que tal uma interessante? Se eu ganhar, vocês me devolvem todos os Pokémon que conseguiram até hoje com essas apostas, inclusive o Taillow do menino, e nunca mais darão as caras por aqui. Se eu perder... bem, eu tenho três insígnias da liga de Hoenn. Podem pedir o que quiser.

Arriscado brincar com gente que eu não conhecia, mas se os safados estavam amedrontando novatos, não deveriam ser grandes coisas sozinhos. Ao menos assim esperava. Todavia, Pignite teria uma prova do nosso treino de hoje com uma ação contra malfeitores. O senso policial do Fire estava a ponto pressão máxima. Só não via quem não queria.

Santa ignorância. O cara nem ao menos sabia que aquilo eram provas de força por ter conquistado três ginásio de Hoenn. Mas a coisa começava a ficar séria quando ele me dizia que só devolveria as 20 "roubadas" esferas se eu apostasse meus seis que portava e vencesse uma disputa contra alguém que eu sequer conhecia. Minha confiança ficou abalada. Eu olhei para o Pignite me perguntando se ele seria capaz de cumprir aquela aposta e não deixar ser levado pela gangue.

Tentei acalmar o garoto, dizendo que faria o possível, pedindo para ele ficar do meu lado. Testemunhas imparciais eram sempre bem vindas. Apesar que duvidava muito que ele fosse com a cara do careca e a gangue. Só de zueira soltei o cabelo que estava preso por conta do treinamento e balancei junto ao vento, tendo uma expressão de indiferença no rosto.

— Quem vai me garantir sua palavra? De qualquer forma, estão aqui minhas outras cinco com meu time, mas não vou mostrá-los. Já que a aposta é grande, me parece justo que seja um 3x3. - disse, mostrando o cinto, com eles ao redor. - O que me diz? De acordo com os termos? Se sim, já pode escolher o seu primeiro Pokémon, chefão.

Podia não parecer, mas o suor voltou a escorrer pela lateral da face. Talvez o guri podia escutar minha palpitação crescendo por me envolver demais em um lance que não era meu

Ouvir tamanho deboche não me fez bem. Eu tinha algo de ruim dentro de mim, mas só era despertado contra um mal maior do lado de fora. Era um defeito que eu tentava transformar em qualidade, por isso fazia tantas boas ações, como bancar o heróis, as vezes. Mas aquela situação foi diferente das outras que já enfrentei. Talvez estivesse cheio de pessoas como o careca e seus seguidores, ou simplesmente meu passado vingativo tivesse despertado do sono.

Umedeci os lábios, trincando os dentes, alisando as esferas que portava.

— Você quer ver meus Pokémon? - suspirei pesadamente ouvindo o choro do menino e pressionando uma das esferas, que por acaso era do Litleo, que antes quis tanto aparecer. Elevei a pokébola do outro Fire e sussurrei - mostre que é o Alpha.

Sendo assim, o liberei e esperei que fizesse a sua mágica, com o mais belo Noble Roar que conseguisse rugir. Em seguida, mostraria Fera e Festus, para ajudar a intimidar, ainda sem expressão nenhuma no rosto. Por último, Ledian e o Trubbish com cores vibrantes. Ainda assim, Pignite estava a frente da tropa. Infelizmente, dois dos seis não tinham experiência com a equipe, mas nada que uma pose de segurança não resolvesse de instante.

— Aí estão eles. Só tem mais uma coisa. Por tentar me fazer de otário, se eu vencer, vou levar um dos seus Pokémon junto com os outros 20. Ta bom pra você ou vai embora com seu rabo entre as pernas? - agora sim eu mostrava uma face superiora, tentando manter a calma, por mais que estivesse enojado com eles.

Franzia o cenho como se estivesse tentando interpretar outra língua. Shiny? Só podia estar falando do Pokémon que parecia um um monte de doce cuspido em cores berrantes. Até uma criança, portando uma Pokémon, veria a diferença e não chamaria ele daquilo. Tive que suspirar e revirar os olhos, com certa arrogância. Ainda fui obrigado a ouvir um monte de blá blá blá, como se eu não pudesse muito bem voar para os meus destinos sem mais caminhar por longos dias em caminhos estranhos me deparando com pessoas inoportunas como, bem, aquela gangue. O que mais me instigava era a confiança dele, mesmo após ver Fera e os outros o encarando. Duvidava muito que com aquele conhecimento ele fosse mais que um valentão. No máximo, tinha roubado os Pokémon que não queria apostar e os adotou para si porque os achou forte. Eu queria salvar das mãos sujas dele ao menos um.

As risadas e o choro do garoto se fundiam na minha mente, me fazendo arrepender ter feita a pergunta ao garçom.

Que seja!

— Que venha o primeiro. - proclamei de acordo.

Estava pronto para usar minha experiência, inclusive contra desafios maiores dos que eu podia derrotar, para não me deixar ser vencido pela força do mal e matar as esperanças que aquela criancinha depositou em mim e nos meus Pokémon.