Desventuras #04 - A Grande Família

A introdução da peça terminava com Tuco mostrando Agostinho uma prova que poderia acabar com seu casamento, mas como todo mundo conhece o pilantra, ele acharia um jeito de contornar a situação quando precisasse. Na cena seguinte, os dois se encontravam com as crianças do Sítio, que era um programa infantil bastante popular a alguns anos atrás, mas que as crianças atuais nunca tinham ouvido falar.

Agostinho era o primeiro a interagir com as crianças. Fazendo piada com o Saci e Pignite, e tentando tirar vantagem dos menores. Tuco vinha logo em seguida, e tentada ser convencido a participar de tal corrida. Mas como seria essa corrida? Será que valeria a pena a premiação? Eles logo descobririam. Narizinho parecia animada com a proposta de terem novos participantes, mas primeiro precisava convencê-los a participar. Pedrinho parecia mais interessado era nas apostas.

- Então, quanto estão pretendendo apostar? Saibam que sou o mais rápido daqui, já até acertei um Raikou com meu bodoque. – Dizia Pedrinho se vangloriando de seus feitos lendários.

- Oque? Acertou nada. Rápido sou eu. Eu sou mais rápido que um tornado. – O Saci dizia e dava uns pulinhos girando no lugar.

- Parem com isso todos vocês! Não vamos ter nenhuma aposta. Tia Anastácia disse que isso não é uma coisa legal. Deixem eu mostrar logo o que será o prémio. – Narizinho tirava de seu bolso um pequeno saquinho plástico com um pozinho dourado dentro. - Tenho aqui comigo, uma pequena quantidade do melhor e mais raro pó de pirlimpimpim já criado. E ele será todo de quem vencer a corrida. – Ela dizia toda orgulhosa de si mesma.

Banette e Pignite não pareciam nenhum pouco interessados no prémio, mas os dois garotos pareciam muito interessados. Saci retirou seu gorro vermelho e de dentro dele tirou um pequeno cachimbo. Em seguida ele colocou o cachimbo na boca e começou a pitar. - Eita! Tô ficando animado. – Pedrinho até começava a se alongar, fazendo uma expressão de desafio ao colega.

- Parece que os dois já se decidiram, agora só falta vocês. – Ela dizia guardando novamente o pozinho em suas roupas. - Sobre o que perguntaram, não sei nada sobre Ana Maria e nem Chatot José, mas conheço uma vilã muito perigosa que mora no interior da floresta. Posso levar você lá se um dos dois vencer a corrida, além de ganharem o prêmio já proposto. O que me dizem?

Agostinho e Tuco, que não pareciam nenhum pouco interessados em participar da corrida, agora pareciam não ter muitas opções. O lado bom era que se vencessem, ganhariam o prêmio e ainda conseguiam as informações que queriam. O problema era que se perdessem a corrida, eles poderiam ter problemas para prosseguir. O que escolheriam fazer?

Agostinho parecia uma criança igual as do sítio, com uma proposta de aposta e algumas brincadeiras tentava tirar o máximo de proveito da situação. Narizinho, a única pessoa que parecia que tinha mais maturidade entre todos presentes, vetava as apostas; inclusive citando uma outra famosa do sítio, a tia Anastácia. Tuco ficava observando com toda atenção possível o que cada um estava dizendo e tinha resposta de sua pergunta: a premiação seria o pó pirlimpimpim, seus efeitos não era de conhecimento do jovem.

— Depois de uma erva das boas, um chá alucinógeno e um azulzinho... Vem aí mais uma droga pra completar a coleção. Hoje tá sendo do caralho, Agostinho. Estou me sentindo até em Las Vegas, que venha as maquininhas. — Disse enquanto dava uma forte fungada no ar e passava a mão em suas narinas, encenando o que iria fazer com o pó que fosse ganhar.

Enquanto Tuco fazia algumas graças e procurava entender mais a respeito da corrida, os competidores começavam a se preparar da sua maneira. Pedrinho e Agostinho começavam a se alongar, Saci dava umas cachimbadas que poderiam ser facilmente confundidas com uma espécie de dopping. Já Narizinho passava as ultimas instruções sobre a corrida, além do pó iria bonificar a dupla levando ambos até uma vilã no interior da floresta.

— É o jeito, vamos ter que participar dessa corrida para podermos enfrentar essa vilã e metermos o pé daqui, Agostinho. — Em seguida puxou uma faixa verde neon que pegou no camarim e colocou em seus cabelos, fazendo uma pose de bodybuilder e soltando uns grunhidos estranhos, sendo tudo aquilo uma cena lamentável. — Boooora, é hora do show, porra. BIIIIRRL! — Terminou sua encenação, ficando ao lado de Dominic. — Se valer tudo, já sabe né? Vamos puxar a banda no Saci na linha de largada, ele falou que é o mais rápido. — Sussurrou para seu parceiro, Joe estava realmente entrando no personagem e deixando se levar pelo mau-caratismo de Agostinho, coisa que em seu juízo normal jamais faria.

Aquela devia ser a peça mais sem noção e engraçado de todos os teatros abertos pela cidade. A plateia ria alto de todos os movimentos de “Agostinho”, mas “Tuco” não ficava para trás com suas poses de força. A peça havia sido censurada por causa do linguajar dos atores e por causa das substancias que estavam sendo insinuadas ali, mas apesar disso, ainda tinha algumas crianças na plateia que estavam acompanhadas dos pais.

A cena seguia. Os dois heróis pareciam estar bastante animados com o tal pó, apesar de Joe não fazer ideia de seus efeitos. Os dois se juntavam para discutir as estratégias para vencer a corrida, e falavam de forma disfarçada para que as crianças não ouvissem. Depois que todos terminaram de se alongar, Narizinho se colocou à frente dos quatro competidores e começou a explicar as regras da corrida.

- Boa tarde! Senhoras e senhores. – Ela dizia a Emília e Rabicó, como uma criança que brincava de apresentadora. - Esses quatro cavalheiros serão os competidores da 1ª Corrida de Comitê anual. As regras são as seguintes. Regra número um: vocês só podem correr em círculos. Regra número dois: não há outras regras! – E ela terminava com uma reverencia aos competidores. Pedrinho e Saci não pareciam nada surpresos com aquelas regras estranhas. Narizinho então se dirigia até um local mais aberto e pegava um pedaço de madeira no chão. Ela começava a tracejar um circulo no chão, que na verdade já estava demarcado ali com uma fita adesiva branca. - Estão prontos? – Ela dizia assim que terminava de simular o circulo em cima da fita adesiva.

Assim como no conto original de Alice no País das Maravilhas, a corrida de comitê era um evento totalmente sem noção. Era uma corrida em que os animais do conto corriam em fila indiana formando um circulo sem chegarem a lugar nenhum. (Video ilustrativo)

- Todos em suas posições. E corram para a direita por favor. Podem começar! – Ela dizia se afastando do circulo. Rabicó continuava comendo seus petiscos, mas agora dava uns pulinhos em torcida à Pedrinho. Emília continuava imóvel no mesmo lugar desde o início. Será que a boneca era mesmo um pokémon, ou era apenas uma boneca mesmo!?

Os rumos que aquela peça estava tomando eram positivos. Joe estava adorando contracenar alguém que fez parte da sua infância em família e isso fazia com que a atuação saísse naturalmente, não sentindo dificuldade e nem vergonha em nenhum momento daquela hilária peça. O feedback positivo do público também era importante, em um determinado momento da peça, o jovem tirou um breve tempo para observar todo o pessoal e conseguia constatar que também estavam adorando, com altas risadas. Sem dúvidas aquilo só aumentava sua confiança para continuar.

Após todos os participantes se prepararem da sua maneira, Narizinho se colocava à frente de todos os competidores e começava a explicar as regras da corrida. Se tratava de uma corrida um tanto quanto estranha, só poderia correr em círculos em um determinado espaço. "Que porra é essa?", ficava Tuco se perguntando em seus pensamentos...

— Boa tarde, boa tarde! — Disse interrompendo a menina, levantando sua mão pouco a pouco. — Como ganha a corrida mesmo? — Perguntou, enquanto caminhava para o local aberto e tracejado pela Narizinho. — Já sabe né, Agostinho. Cuida do Saci com aquela estratégia, verei algo contra o Pedrinho. — Sussurrou mais uma vez para seu parceiro. — Rodando, rodando! Ma oeeee. — Disse com uma voz conhecida por todos da televisão, porém era uma voz de uma figura da concorrência, chamado de Silvio Santos. Quando soube das regras de ficar girando, não podia deixar de fazer essa piadinha fazendo alusão ao pião da casa própria.

Tuco fazia seu ultimo alongamento e se posicionava em sua marca, ficando atrás de Pedrinho. O sinal para iniciar a corrida era dado, no mesmo momento o malandro aproveitava para cutucar fortemente o competidor que estava em sua frente para desconcentrar o mesmo e atrasar o seu lado, uma tática bem infantil e que poderia dá certo. Imediatamente começava a correr para o lado direito em disparada, o rastafari mesmo sendo um usuário de cannabis raramente fazia seu uso recreativo, apenas medicinal e religioso, com isso seus pulmões não estavam tão gastos e seu condicionamento era bem preparado, melhor que muito crossfiteiro, já que ficava carregando peso de um lado para o outro na fazenda de sua família até altas horas.

Depois de saber que a corrida praticamente não teria regras, Agostinho ficou bastante animado, mesmo sem entender como é que se venceria aquilo. Por outro lado, Tuco ficou abismado com a situação, e seguiu para seu lugar sem deixar de questionar sobre o fim da corrida. Narizinho o olhou com um olhar de impaciência e fingiu não ter ouvido a pergunta. Os dois então reforçavam o plano de impedir os moleques e se posicionaram cada um próximo de seu alvo. Tuco ficava logo atrás de Pedrinho, enquanto Agostinho se aproximava de Saci.

Assim que a garota fez sinal para iniciarem, Pedrinho foi distraído com uma cutucada em suas costas, fazendo o se distrair da corrida e deixando Tuco passar à sua frente. Agostinho usava uma técnica bastante comum para vencer o Saci, e assim que ele começava a se mover, logo agarrava a carapuça do garoto perneta e corria rindo de sua careca.

- Ei! Devolve isso? – Dizia o Saci saltando na direção de Dominic com bastante dificuldade.

- Vocês dois estão agindo de maneira errada. – Pedrinho dizia com um pouco de raiva.

- Não reclamem. Eles estão seguindo todas as regras da corrida. – Dizia Narizinho segurando uma risada. E ela estava certa, já que os dois mais velhos seguiam correndo em circulo na direção indicada por ela.

Depois de duas voltas completas, Saci acabou desistindo de continuar, já que sem seus “poderes” ele não era mais rápido nem que um Slugma. Pedrinho ainda persistia, e tentava pensar em uma forma de tirar os outros dois da corrida. Parecia que o vencedor seria quem sobrasse de pé. O garoto então pegava seu bodoque no bolso de trás da bermuda e procurava por algo que pudesse usar para arremessar com ele. Saci percebeu o plano e foi procurar por uma pedra cenográfica par dar ao amigo. - Aqui Pedrinho! Use isso! – Ele disse jogando a pedra para que o garoto pegasse.

A corrida começava com uma grande vantagem para os nossos protagonistas. Tuco cutucava o competidor da sua frente na tentativa de atrasar o mesmo em relação aos outros competidores da corrida, uma atitude anti-jogo bem infantil e clichê, porém que dava certo no momento e era isso que importava. Agostinho não ficava para trás com suas traquinagens, como telespectador assíduo do programa em questão, conseguia neutralizar o Saci roubando sua carapuça e fazendo o personagem desistir da corrida.

Mesmo com muitos contentamentos por parte da outra dupla, eram as regras do jogo, segue o baile.

— Menos... um... Agustinho. — Disse pausadamente, recuperando o fôlego a cada pausa.

Em um determinado momento da corrida, Pedrinho ainda indignado com o que tinha acontecido, puxava seu bodoque e com auxilio do Saci, conseguia uma pedra para tacar nos outros competidores.

Tuco estava concentrado na corrida, com a testa cheia de suor, o jovem só se preocupava em correr e deixava de reparar no que os outros concorrentes faziam. Porém com um grito de Agustinho e a palavra "agressão" despertava sua atenção, em um breve olhar para trás reparava Pedrinho se preparando para atacar. Agostinho ainda no desespero, tentava usar a carapuça de Saci falando algumas palavras estranhas para executar alguma mágica. Joe não ia esperar que a sorte tivesse ao lado deles e rapidamente sacava a pokebola de seu Gastly, liberando o fantasminha em campo.

— MAS QUE PORRA É ESSA. — Gritou a respeito do ataque de Pedrinho. Foi diminuindo o ritmo da corrida e protegendo seu parceiro que tentava fazer algumas magias para salvar ambos. — Gastly, salva a gente. — Ainda correndo, parou de falar para recuperar mais um pouco de fôlego. — Assuste esse moleque aí de trás. Se não der certo, Hypnosis! — Mais uma vez, iria utilizar seu fantasminha camarada para colocar alguém para dormir, uma técnica que sempre dava certo em momentos de apuro do treinador.

Os três competidores restantes continuavam a correr enquanto decidiam como vencer a corrida de resistência. O primeiro a ter alguma ideia interessante, era Pedrinho, que com a ajuda de Saci, decidia acertar os outros corredores com pedras para tira-los da corrida. Já que era para usar táticas ilegais, ele também faria.

No primeiro momento Agostinho não sabia o que fazer, já que se fosse pagar Pedrinho com a mesma moeda, ele poderia sofrer algumas consequências que impediriam a continuidade da missão. Porém, ele ainda estava na posse do item magico de Saci, e precisava usá-lo de alguma forma. Enquanto isso, Tuco estava apenas concentrado com a corrida, já que tinha bastante dificuldade para manter o ritmo e o folego.

Pedrinho se preparava para atirar a primeira pedra, e mirava o traseiro de Agostinho. O taxista magricela corria e se escondia atrás de seu parceiro para evitar ser atingido pela pedra do garoto. Tuco deu um grito e rapidamente sacou a esfera de seu inicial, enquanto seu parceiro tentava usar a carapuça para fazer algum tipo de magia insana. No momento seguinte, tudo aconteceu muito rápido. Pedrinho atirou a pedra, um brilho estranho tomou conta do objeto que Agostinho segurava, e Gastly surgia do nada fazendo seu movimento hipnótico enquanto ria diabolicamente.

Com os olhos brilhando, Banette fez um leve movimento com suas mãos, fazendo Tuco e Agostinho trocarem de lugar em um giro rápido e em meio a tropeços. Em seguida os olhos de Pedrinho também começaram a brilhar junto com os de Gastly, e o garoto capotou imediatamente para frente, dormindo como uma criança. Por fim, a pedra acabou acertando Agostinho bem na barriga, além de fazê-lo terminar de tropeçar e cair por causa do giro da troca rápida. No fim, Gastly ria da cara de todos ali, e Tuco era o único que permanecia de pé.

- Parabéns! – Dizia Narizinho em um tom animado. - Esse ilustre rapaz é o vencedor da corrida. Agora venham todos aqui para a cerimonia de premiação. – Ela dizia enquanto fazia sinal para Pignite retirar Pedrinho dali. Saci não parecia nada feliz com o resultado, e talvez Agostinho também pudesse não estar.

Narizinho pegava um graveto no chão e pedia a Tuco para se ajoelhar à sua frente. Saci, Agostinho e Gastly ficaram atrás observando enquanto a garota fazia sua tal cerimônia de premiação. Ela batia o graveto no ombro direito de Tuco, e depois no esquerdo, da mesma forma que uma rainha fazia quanto ia nomear um cavaleiro. - Eu te nomeio o vencedor da 1ª Corrida de Comitê anual do Reino das Águas Claras. Aqui está seu prêmio. – Depois de terminar os movimentos, ela jogava fora o graveto e entregava o pó de Pirlimpimpim ao vencedor. - Também tenho algo mais para vocês. Uma senhora estranha me pediu para entregar esses itens para uma dupla de desconhecidos que aparecesse por aqui. Acho que são vocês. Emília! – Ela terminou chamando a boneca pela primeira vez. A Banette finalmente se levantou e retirou de dentro de si dois conjuntos idênticos de itens, embrulhados separadamente em sacos plásticos transparentes. Cada conjunto continha 3 Sitrus Berry e 3 Full Restore. - E como prometido, vamos te levar ao esconderijo da Cuca.

Assim que Narizinho terminava de falar, uma nova musica começava a tocar (Tema da Cuca), e lentamente as cortinas começavam a se fechar para a troca de cenário. Dessa vez tudo acontecia muito rápido, o novo cenário não era tão diferente do que já estavam. No lugar da casinha de madeira do fundo, era colocada uma entrada de gruta, cheia de cipós e um efeito de neblina feito com gelo seco. A cerca também tinha sido retirada para parecer que estavam mais a fundo na mata. O cenário de fundo era uma mata densa, típica de uma região tropical. Os atores da peça agora seriam apenas a dupla de treinadores, Narizinho e Saci. Visto que Pedrinho estava dormindo e os pokémon não tinham utilidade nenhuma ali. Assim que as cortinas se abriam novamente, a música se encerrava com a rizada da Cuca e era substituída pelo som ambiente de uma floresta. Agostinho e Tuco deveriam se preparar, pois a primeira batalha estava prestes a começar.

- Sinto cheiro de crianças por aqui. Graça a Arceus!!! – Dizia uma voz bastante cômica e conhecida por alguns. - Como diz o ditado, aquele que aparece, quer ser devorado... – E depois de pronunciar essas palavras sem sentido, uma figura icônica saia de dentro da gruta, vestida com um figurino que lembrava muito uma Salazzle, só que com um cabelo loiro e chamativo como o de um Alolan Dugtrio.