Alice e o Cavaleiro Branco através da Quarta Parede

Uma batalha vencida; fora mais rápido do que planejei juntar os cinquenta pontos. Talvez Nicholas não concorde comigo ou nem queira concordar: ele não parecia interessado no máximo. Talvez ao deparar-se com a facilidade que eu tivera havia dado de ombros: só um ganharia o prêmio máximo mesmo. Devo dizer que é um pouco de mérito meu preparar Skoll para isso mas, ao mesmo tempo, Nico era um parceiro mais que perfeito, diferente de Matthew, eu vi nele uma cumplicidade na batalha. Sem precisarmos falar a ajuda foi mútua e acho que tudo, absolutamente tudo, que combinamos fora feito. Nenhuma surpresa, nada à esconder ou alterar; ainda que com dois fantasmas mantivemos o planejado. Era bom tê-lo ao meu lado; soube de muitas duplas que nem sequer conversaram antes de se inscrever e... com Nicholas tudo era combinado, recombinado e feito. Desorganização é boa as vezes mas não nesses casos, né? Talvez eu tenha achado alguém na mesma sintonia. Não seria possível fazer o que fiz, nem tão rápido, com alguém que só atacasse e pronto ou que não pensasse em mim; e vice-versa.

Ahn, que alívio! Olhei para o rapaz ao meu lado, quase atrás de mim; tomara um susto à princípio por vê-lo sem o Elmo, só agora havia reparado que tirara de cima do pescoço e ficara à sorrir. Suspirei encantada e aproximei-me para tirar do rosto seus fios molhados de suor; não sabia ao certo como isso não o incomodava.
A batalha já havia se desenrolado e o cavaleiro vermelho bufava ao ar pela derrota. Não dei importância, fui ao campo e chamei Skoll com um esfregar de dedos e um "pspsps" clássico. Ele veio e como um gatuno maduro se esfregou em minhas pernas. Deixei que a paisagem tomasse holofotes da apresentação por si só; precisava que aquilo acabasse logo e as cortinas baixassem, assim pegaria uma das suculentas Sitrus Berrys que me eram de direito e daria à Persian comer.

Acariciei-o no topo da cabeça e depois escovei seu pelo com as mãos, indo do pescoço até o fim da lombar. Fazia isso quase que num automático; agora tirei o olhar de Nico para me atentar à cena que ocorria bem na minha frente. Até mesmo o aliado de Yoshi cansara de sua queixa sintomática e o interrompera: o chapeleiro enfim surgia como alguém importante.
Era engraçado reparar que ele se tornara vermelho, nunca achei que o definiria como um adversário no xadrez mas, desta vez, teria de correr para ganhá-lo. Ele nunca nem fora uma peça ativa no mundo de através do espelho, ainda assim, decidiu sair do seu mundinho para vir me enfrentar? Na-na-ni-na-não. Não deve ser tão difícil vencer uma peça aposentada:
- Até você veio me atrapalhar - Reclamei - Achei que éramos amigos - Proclamei.

Independente da fala o cenário iria mudar; podia ser meu adversário mas ao menos deu-me tempo para recolher uma das Sitrus Berrys e dar à Skoll, como pretendido. É, só isso fiz neste meio tempo de mudança de cenário. Não havia outra roupa para usar, fala para preparar nem roteiro para seguir, aproveitei para ver a mudança de cenário em ação e reparar na correria que eram os bastidores. Esperei que Nicholas estivesse tão atoa quanto eu na pausa e, se estivesse, lhe encararia em silêncio, esperando que me pedisse para ajudá-lo com o elmo de novo. Será um prazer, meu amor.

Bem, elementos iam e vinham e voilá! Cenário pronto. Numa fala que ultrapassara eu mesma, a própria Winnie, declamei:
- Ah, relaxa, eu sou quase diamante nisso aqui - E numa auto-confusão acabei por soltar um nonsense que, para mim, não significava absolutamente nada - Acho que dessa vez somos um tipo de adversário.
Andei até meu pedestal: dali eu controlaria o campo. Podia comprar, rodar ou upar mas decidi dar de ombros e ignorar todas as indicações do jogo! Skoll já estava comigo então liberei Teddiursa e Furfrou, posicionei-os um ao lado do outro no centro do tabuleiro e esperei:
- Três normais... Três animais... Três físicos Isso aqui deve dar alguma coisa né. Selvagem e lutador talvez? Ah não sei, espero que funcione.

Nas minhas mãos havia uma espátula e uma armadura. Eu poderia os juntar e assim o fiz! Formei um Elmo e dei à Furfrou para segurar. Eu precisava de mais um cavalheiro para colocar em campo. Onde eu ia arranjar um? Encarei em volta; numa visualização rápida corri meus olhares para o campo de Nicholas. Não queria ver nada que o colocasse ali, meu alvo era o próprio Nicholas. Ele era um cavaleiro e... bem, eu poderia colocá-lo no meu campo, né?
Ainda na pausa cruzei o cenário, peguei-o pelo braço e puxei:
- Você vem comigo - Pedi.

Cocei a cabeça um pouco confusa com todas aquelas afirmações do Cavaleiro; em geral não o arrastaria para o campo e talvez nem Alice o fizesse mas, para entrar no papel, eu precisava ser ainda mais competitiva do que já sou (além disso maximizar a concorrência da personagem de Lewis Carrol, até porque, ela está tentando vencer em outros jogos). Imagino que fora desconfortável mas, por via dar dúvidas, botaria a culpa na tal da atuação, né? É... vai ser isso.

Bufei tentando demonstrar insatisfação com a resistência do rapaz. Num singelo "humph" e cruzar de braços ilustrei o sentimento. Aquela era a Alice mimada, que vive em uma das mansões britânicas do século XIX. Levantei o rosto e aos poucos o abri. Adicionei no meu humor um bocado de insegurança e tentei, assim como Lindell faria, contra-argumentar e tentar convencê-lo de porque aquilo era importante:
- Olha, entender isso é parecido com estudar geografia... ou história, eu acho - Comecei, já numa referência à alguns diálogos do livro original - Eu lembro de ter ouvido da minha professora que depois de matar os reis... Oh, não, digo os presidentes... Ninguém mata reis. - Comecei e editei; isso porque não havia como falar sobre matar reis com um personagem de Xadrez. Matar reis é o fim do jogo e o personagem do cavaleiro não o entenderia de outra forma - Bem... como ia dizendo, depois de matar os presidentes e os bispos... digo, os magos do mal - Comecei e editei mais uma vez; pelo mesmo motivo, perder peças não era lá um bom sinal - Parece que as pessoas começaram a viver comprando e vendendo, eu acho... Ficou diferente. Pelo menos era o que ela dizia. Tinha uma tal de revolução industrial que criava produtos, ela é tipo você assim que inventa coisas. Imagina que você começa a vender suas coisas, sabe? Então, acho que você tem que criar elas pra vender e essa revolução industrial criou tipo uma magia boa que faz as pessoas ficarem felizes com coisas que não existem mesmo. Tipo personagem de livro, de jogo e de xadrez. Ai se a gente ganhar aqui a gente deve virar motivo de felicidade das pessoas... eu acho.

Fora uma explicação típica de um nonsense; a confusão de Alice na própria história para contra-argumentar a birra do treinador era marca registrada da garota inglesa que quase sempre tentava explicar por a + b algo que quase nunca passa por isso. Era uma referência à história européia, que era fortemente contada e recontada no século do livro em questão. A revolução francesa e a inglesa - a ascensão da burguesia e a formalização de uma classe industrial-operária - era o que estava em questão mas Alice (e nem eu; mais uma vez um poder superior falara por mim) deveriam saber explicar isso ao pé da letra. No fim dessa volta toda tentei dar um nó cego; cego não por não soltar mas por ser tão mal feito que deve ter sido um nó feito por um cego:
- Bem, é por isso que a gente tem que ganhar - Num a + 3 = φ prossegui meu fechamento pouco conexivo - Então fica aqui. Ta bom? Não é roubo não, ta todo mundo vendo e se ninguém fez nada ainda é porque ta tudo bem... pelo menos foi isso que eu aprendi nas aulas de bons modos.

Fora isso tudo só para encaixar Nicholas à frente de Persian e Furfrou. Teddiursa vinha na fileira de trás; era certo que para colocá-lo em campo eu precisava upar alguns leveis e felizmente podia; como vendi todos os meus campeões e não comprara nenhum, me restou dinheiro de sobra para alcançar o level quatro. Agora era esperar para ver qual seria meu primeiro confronto.