Pacify Her 2.0

Ainda que desejasse saber as verdadeiras motivações, não conseguiria. Ao menos não agora. Ninguém bateria um papo durante um resgate tão árduo. Um trovão cortou a cena e a claridade que devia dar-visão, cegara nossos três homens em terra firme. Talvez por isso nenhum dos dois irmãos lhe vira de imediato; fora só em uma pausa mínima de "respiração" que o mais novo reparara sua presença.

Ali Seth estava inserido: parado, analisando. O homem então gritou em súplica "Ajuda aqui!", "Ele vai morrer", "Faz alguma coisa"; foram frases seguidas que imploravam ao Seth sua ação, ao meio do desespero. Infelizmente há de se admitir; o garoto não estava certo que iria ajudar. O segundo irmão percebera isso logo que o viu: se não correu para puxá-lo com eles, não tinha intenção alguma de prezar pela vida de alguém desconhecido.

Não tinham nada a oferecer; não eram pessoas ricas e exuberantes. Talvez por isso o mais velho nem tento convencê-lo: usou seu repúdio à Seth como força motriz e tentou puxar ainda mais forte a rede. O mais novo continuava suas súplicas fatídicas, achando que a única chance que teriam era com uma ajudinha.

Ele estava certo até.

Se por coragem não soltavam à rede, em contra mão vinha a biologia factual: há de se admitir que músculo se cansa, fadiga. Aos poucos o elo mais fraco ia afrouxando e homem-ao-mar percebia que caia ainda mais. Ali ele já havia desistido: sem por panos quentes na situação, silenciou-se. Dali de baixo não conseguia ver, nem ouvir e nem sentir a presença de Seth, mas sabia bem que algo sobre sua cabeça havia mudado. Ficara ali por mais alguns segundos: quando entendeu que estava já prestes a cair e não havia como salvar-se, largou mão de tudo e lançou-se ao mar.

O peso descarregado do corpo fizera os dois irmãos darem para trás sem entender o ocorrido. Conseguiram!!! É isso?! Claro que não. O tal do 'irmão do meio' só pulara e desistira de tentar, livrando-os do fardo físico. Como nada se perde, nada se cria e tudo se transforma, a dor muscular virara culpa rápido demais. Ainda desorientados, correram juntos até o pé do abismo e, quando não viram seu irmão seguro ao meio de alguma lasca de pedra, entenderam a situação.

Um chutara um pedregulho enraivecido, porém mudo. Machucou o próprio pé mas nem se importou. Havia algo que doía bem mais que seus dedos. Continuou marchando na direção oposta ao mar, no caminho para o "Monte Pyre". O segundo?! Se jogara no chão, bem próximo do local do crime e ali ficara, de face para baixo; com lágrimas mais grossas e continuas que a própria chuva.

Seth decidira não fazer nada e, por conta disso, ele morreu. Ninguém o culpava; até porque, não era sua culpa. Mas ambos sentiam ódio pela forma cética e insensível que agira. Ainda que não o culpassem, lhe odiavam pelo simples fato de estar ali e nada fazer. Lugar errado na hora errada. Isenção e dúvida quando se necessita de imediatismo.

ROUTE 121

Talvez Seth foi o pior dos Rockets que já pisou em Hoenn. Nessa hora, Jessie e James estão gritando para que o tal do C.E.O não aceitasse o rapaz. Ele acha que uma missão Rocket é feita como?! Andando por ai?! Ele está se confundindo com um historiador?! Algum tipo de Explorador?! Ah pronto, agora que é loirinho se confundiu com o próprio Ezreal. Assim como ele: ele não tinha um mapa. Se dera de ombros e fora embora, os dois irmãos dera graças a deus; já basta lidar com a morte do irmão, quem dirá lidar com um serzinho sonso como aquele, né?!

Pois bem, já que precisa desenhar para o garoto entender, vamos lá: assim como Ezreal, o garoto não cogitou trazer um mapa. Não sabia nada sobre o terreno local e muito menos como entrar no cemitério. Ele não tinha informação e, menos ainda, noção de como um Rocket agiria numa operação em grupo. Veja bem, faltou-lhe intuição e interpretação de "misce in scene" para o óbvio: três irmãos, sem roupas, sem equipamentos, ao topo do morro, com uma rede de pesca... só podia vir de uma família que vive de pesca pelo Monte Pyre. Eles podiam até não entender do morro em si e morar em Lilycove (o que não era o caso), mas certamente entendiam de clima e do relevo da região. Além disso, a tempestade não começara hoje; há exatos 15 dias isso está acontecendo. Se eles são, no mínimo, moradores de Lilycove, já teriam mais informações do que Seth.

Ali era o momento exato para de disfarçar e demonstrar o mínimo de empatia por essas informações. Há de se admitir: se existem Rockets operando no Monte Pyre, certamente a sua entrada e assentamento fora facilitado por moradores ou conhecidos da região. Como um péssimo novato, Seth nem sequer tentou coletar informação. E essa era a parte mais curiosa: sua missão era exatamente essa, coletar informações sobre a movimentação dos Rangers. Grupo estatal que atua com completa transparência! Ele está tão fissurado em 'encontrar Rockets' que, não só deixara uma para trás, como esqueceu por completo o que estava fazendo ali.

Como não ligou e seguiu, os rapazes também não lhe deram nenhuma importância. O novato continuara desesperado enquanto o mais velho ia ao seu encontro, pedindo para que saísse da chuva e fosse com ele para dentro de casa. Seth não podia ouvir muito bem o que diziam; não que quisesse. Fato era que, depois de um tempo, convenceu o irmão e, juntos, foram na direção contrária ao péssimo-ladino.

ROUTE 121

Eu diria que Seth, pela primeira vez no Monte Pyre, estava certíssimo. Não adiantava voltar atrás: eles não o ajudariam mesmo. Gastaria posts e mais posts de persuasão até que o mais velho lhe empurrasse morro à fora, mandando sair dali e respeitar o luto de uma família. Ele não iria querer passar por isso, não é?! Pois bem, montou em Astherion mais uma vez e foi. A pokemon estava bastante friorenta e odiava aquelas condições mas... ah, é inevitável! Era sua vez de sofrer um pouco.

Agora o rapaz já andava mais rápido pela chuva e cortava melhor a planície a frente. Claro que perdia os detalhes: correr nunca é lá muito útil para enxergar o perímetro. Felizmente tinha o faro de sua pokemon, né?! Bem... talvez. Era inviável confiar em cheiros com toda aquela chuva; os dois únicos cheiros que se mantinham persistentes naquele cenário era do medo e da maresia. Apesar dos pesares, um terceiro cheiro voltava o tempo todo e parecia agradar nossa Arcanine: era este o simples e puro cheiro de queimado. Grande parte dele vinha dos locais onde "raios caíram". O cheiro parecia mais forte em direção mata à dentro; justamente onde o terreno ficava mais inclinado.

Se lhe mandara caçar, Astherion apenas obedecia, não é?! Largava o perímetro plano e começava a subir. Tarefa extremamente difícil para um bípede porém apenas árdua à Arcanine. Era um pokemon que conseguia se fixar bem à lama e, além disso, era grande o suficiente para não se afogar com a enxurrada que descia da encosta.

Continuou à cima, conseguiu andar um bom pedaço; seguiu o cheiro ainda mais forte de queimado e, antes que pudesse descobrir o que era, viu-se de frente à uma queda de encosta. Um deslizamento de terra e água! Num súbito, correu rápido-demais, contornando o morro pelo lado contrário. Parou atrás de uma árvore grande e usou-a de barreira caso o horror chegasse até ali. Era um ato muito mais instintivo à que estratégico mas... funcionou. Em um piscar de olhos Arcanine levara Seth à um lugar "seguro", sob o morro mas... bem, perdera seu rastro.

Se o garoto olhasse para baixo, provavelmente se perguntaria o que era menos mortal, descer aquele barranco ou subir.

ROUTE 121

Há uma racionalidade no instinto que não é consciente. Arcanine sabia que aquela encosta não era segura, ela tinha certeza que sim. O que não sabia era porque se sentia "liberada" para continuar morro à cima, justamente pelo barranco que acabara de quase os engolir. A resposta lógica era simples: com o excesso de terra tendo deslizado, a chande de um segundo acidentes desse acontecer logo em seguida era bastante baixo. Talvez com mais alguns longos milímetros de chuva; aquela era sim uma área de risco mas... ah, digamos que levará um tempo para que a tempestade lave e acumule ainda mais lixo e destroços.

Essa era a única indicação que tinha; a rastro de destruição da própria lama. O faro já estava perturbado e nem era tanto pelo "indulto" que tiveram; era muito mais pelo lixo que desabou. Há de se lembrar que a natureza é maravilhosa: poucas ou raras vezes ela desmorona sem interferência humana. O monte Pyre, como um ponto turístico-religioso, não estava livre das malignas mãos humanas inconsequentes. Fora esse o maior motivo de Seth quase ser engolido; um pequeno aterro que guardava os resíduos de turistas. Pense bem: há uma problemática aqui, pessoas produzem restos e, para o Monte Pyre, escoar o lixo para um tratamento em Lilycove seria caro demais.

Era esse lixo que tornava o faro de Astherion extremamente desagradável. Ela não queria tê-lo nesse momento; isso quase lhe fizera desistir de seguir trilha-a-cima, pois sabia que só pioraria sua situação. Ainda assim, seu treinador o colocara numa sinuca de bico e, sabendo que ele não poderia resolver nada por si só, foi. Trotou morro à cima, deixando para trás o ponto inicial e enfrentando toda a destruição que o deslizamento causara. Seu pé?! Suja e gosmenta. Sua perna?! Encardida e gosmenta, seu joelho?! Já dolorido de tanto subir. O importante é que, mesmo jogando lama, lixo e restos ao alto, Arcanine chegou até rápido num planalto e sentiu logo o cheiro que tanto lhe agrada: o mesmo queimado de antes. Agora muito mais forte! Aproximou-se da trilha e andou mais devagar; agora o cheiro parecia estar muito mais generalizado e era difícil segui-lo de forma decidida.

Seu passo lento e chuva forte contribuíam para um leve "banho", levando com a água parte grossa da crosta de lama que Astherion ganhou. Aquilo lhe fazia mais level de certa forma; já não tinha como absorver mais água mesmo. No fim, chegou ao tal foco do queimado e encontrou uma situação alarmante: dentro de todo aquele cenário embaçado, Seth conseguia ver restos de tecido ao chão, levemente carbonizados. Algumas toras e galhos de madeiras que outrora foram uma fogueira, dois troços ao chão e um... Marowak?! Ah não, tava muito estranho para ser um Marowak.... Aquilo não era um Marowak.

Bem, voltando aos troços no chão: àquela distância estavam impossíveis de se identificar, mas se aproximasse, veria que se tratava de dois corpos. Eles não estavam... carbonizados, por assim dizer, mas tinham queimaduras severas na perna/dorso, tinha um uniforme meio-azul, meio-carbono e carregavam em suas cabeças bandanas queimadas. Um? Morto. O outro? Na beira da falência. Ainda lhe restava um mínimo de vida que lhe fizera gritar com dor. Um grito fino, fraco e bastante abafado pela chuva. Seth só conseguiria ouvir se estivesse "perto demais".

ROUTE 121

A cena não era lá tão bonita assim; qualquer pessoa normal vomitaria ao vê-los em carne-viva... ou melhor, não tão viva assim. Os rostos estavam até figurados mas o resto do corpo?! Completamente deformado. O falecido já nem tinha mais pele da cintura para baixo e o moribundo perdera por completo as calças e, por consequência, qualquer milímetro cúbico de pele pela sua virilha. Estar deitado para cima gritando não lhe ajudava em nada a melhorar sua aparência.

Independente da situação, Seth se aproximou sem cerimônia. Como um bom vilão e espião, enfim tentava dar sentido ao visto; era sua vez de analisar a situação. Grande parte de suas perguntas não seriam respondidas agora, mas ao menos, tinha perguntas para fazer! Não que o homem-de-azul ouviste a palavra que proclamara, ao invés disso apenas gritara desesperado, clamando por ajuda.

O desespero cega, surda e muda alguém. Por isso não vira que Seth era tão inimigo quanto o responsável por aquilo, também por isso não ouvira sua questão, e ainda por isso, não respondera nada útil. Berrou um vez; nada compreensível. Ao meio do berro, parou para berrar, mas agora de dor. Mesclava e alternava os gritos até... bem, até que não deu mais. Foram instantes extremamente barulhentos; pareciam até ter formado segundos, mas não o fizeram. Logo mais o homem estava morto.

Agora de perto, era possível ver o borrão-Marowak melhor. Ao menos, vê-lo correndo planalto à baixo. Não chegara a descer, mas se escondera por trás de alguma pedra que beirava um pequeno precipício. Não era possível mais vê-lo, mas extremamente plausível o seguir. O cenário podia ser útil ainda, mas diferente do vulto-negro, ele não sairia do lugar.

ROUTE 121