Pokémon Mythology RPG
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Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta [Luch]

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Acredito que nesse momento, se fosse inteligente o bastante, Zapdos já sabia que eu era o "ordenador" dos golpes que vinham sobre ele pelas mãos de meus Pokémon. Isso significava que me atacasse e me derrotasse, poderia facilmente desarticular todo o trabalho que havíamos feito até aqui. Pensando nisso, depois de dar as últimas ordens aos meus companheiros, ocultei-me por trás de uma das grandes colunas que completavam o cenário, observando sorrateiramente a movimentação dos Pokémon. E bem, até que não foi uma má ideia... Assim que agachei-me, escondido, um dos seus fortes raios passou a centímetros de mim, explodindo numa descarga elétrica poderosíssima, que lançou Buddy e Ume para trás, dando cambalhotas pelo chão, fez o casco de Syd - com o Pokémon oculto dentro - rolar para longe até parar rodopiante, como uma moeda qualquer e só não nocauteou Mey e Lenora porque simplesmente protegeram-se por detrás de uma barreira. Essa explosão de eletricidade podia ser muito pior se não tivesse retirado o terreno elétrico daqui e felizmente, apesar do alto dano, lhe cobrava muito, até para um Lendário, permitindo que eu e os Pokémon agíssemos entre um golpe e outro.

Aproveitei o fim do estrago para uma corrida, por trás das colunas, contornando o lugar até tentar me aproximar dos corpos, que dessa vez pareciam não ter ido muito longe desde a última vez que tentei alcançá-los... Enquanto meu olhar buscava as meninas, pudia ver com o canto dos olhos a ação dos meus próprios Pokémon. Buddy me observava e esperava uma reação, então de lá mesmo acabei realizando em conjunto, todos os passos de "dança" que invocavam o BLITZNEAK BREAK. Entretanto, ao invés do golpe normal, o que ocorreu foi a conjuração de uma esfera de ar por parte do Gramíneo, como se ele absorvesse parte da tempestade e formasse uma esfera, que ergueu acima de sua cabeça. A esfera começou a absorver também água da chuva, transformando-se nesse elemento e ganhando mais e mais volume, até ser gigantesca, no ponto exato de ser lançada contra Zapdos. Ao tocar o Lendário, o movimento transformou-se em um grande redemoinho, que arrastou o poderoso Pokémon com uma força descomunal, que nem suas asas rapidamente agitadas podiam acompanhar e repelir.

— ISSO! — Gritei, cerrando os punhos, ao ver o grande impacto que Buddy causava. Aproveitei para encarar o Pokémon e pedir para que ele viesse junto comigo para onde estava indo. Foi a vez então de Ume agir, com seu movimento poderosíssimo de dreno, que uniu todos os tipos de Boost que poderia ter, potencializando ao máximo suas habilidades, além de recuperar parte de suas energias. Por fim, foi a vez de Dwebble agir, sendo tão pequeno que era quase imperceptível diante do Lendário. Ele usou suas pinças para cravar as patas no solo, numa parte sem piso e erguer um punhado de terra, que parecia ganhar vida e dominar o cenário. Como uma grande bolha de areia, o movimento de Syd bloqueou a visão para o exterior, deixando a tempestade distante de todos nós. Em seu lugar, uma tempestade ainda pior, completamente de areia. Tentei pegar meu próprio cachecol e tampar o rosto para evitar o impacto dos grãos, mas só então lembrei que o acessório havia sido dado para Naty... Uma nova punhalada de sentimentos em meu coração. O pior de tudo, é que nesse caos tempestuoso, ficava ainda mais difícil achar seus corpos. Em seu lugar, encontrei Buddy, que vinha até mim para que eu usasse a Poção prometida. Um Spray em cada parte mais ferida foi o suficiente para lhe dar um fôlego a mais, segundos antes de um novo golpe ser lançado por parte do Lendário.

Bem, dessa vez eu realmente não estava esperando a descarga elétrica... Atravessando o globo de areia, um poderoso raio veio dos céus, de encontro ao corpo do pássaro, que distribuiu a energia uniformemente entre todos nós presentes. Com o impacto, Buddy foi lançado sobre mim e eu, por sua vez, fui lançado contra uma coluna, ficando sem ar e vendo meu corpo deslizar lentamente até o chão, sentado... Mey e Lenora novamente tentaram proterger-se, mas a Honchkrow, diferente da sortuda da Meowth, levou a pior. Foi chicoteada por um forte lampejo de relâmpago que quase a fritou, lançando-a no chão, aos pés da escada que nos trouxe até aqui, assim como Syd, que novamente escondeu-se em seu casco e de lá não voltou. Ume resistiu bem aos golpes e novamente teve a possibilidade de usar todo o seu potencial para absorver mais uma grande quantidade de energia do Lendário, que debateu-se tentando desvencilhar, perdendo altitude a cada tentativa de libertar-se. Além do golpe da Ivysaur, houve o envenamento passou a cobrar bem mais do Zapdos, que ainda tinha de lidar com areia entrando e acumulando-se em seus olhos e bico, minando suas últimas forças, até cair no chão, com um impacto profundo, que reverberou por todo o Monte.

Segundos se passaram desde a queda e o gramado feito por Buddy perdeu a vida e murchou até tornar-se seco. Já a tempestade de areia, cessou e caiu de uma vez só como as areias de uma ampulheta. No chão, um Lendário que tentava erguer-se, mas não tinha forças e simplesmente cessou seus movimentos, entregando-se a derrota. Tossi um pouco de areia que havia entrado na minha boca, no instante que senti a chuva, agora mais fraca, cair sobre minha cabeça. Notei os corpos inertes de Lenora e Syd no chão e tratei de trazê-los de volta à cápsula, guardando as esferas em seguida. Buddy, Mey e Ume, ainda de pé, aproximaram-se de mim com cautela, claramente exaustos e detonados. Observei apenas Zapdos por alguns segundos e então sorri, mesmo que estivesse tão quebrado quanto ele — Eu te disse... Eu ia tirar tudo de você... — E ajeitando a roupa amassada e um pouco rasgada, virei de costas, caminhandoa até próximo templo onde o Pokémon se encontrava antes e os corpos das meninas ainda deveriam estar... Precisava conferir se ainda estavam vivas, se Natalie estava lá com ela. Se aquilo era REAL afinal!

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Em meio ao caos, a única coisa palpável e com "ar realístico" era, muito provavelmente, os sentimentos que chicoteavam o giratinista com a mesma violência que a tempestade fazia, há pouco tempo, com todo o terreno do cemitério - fosse saudade, desespero, medo, ira, arrogante confiança; E todos juntos, até. Entre a tormenta da tempestade, de água ou de areia, testemunhando o inferno elétrico que o lendário invocava com facilidade por sobre todo aquele projeto de equipe de resgate, era difícil saber que tipo de resultados seus monstrinhos seriam capazes de desenhar naquela tela mórbida pendurada no cume do Pyre - golpes e defesas eram trocados com agilidade quase impecável, arrebatando guerreiros do campo ou forçando-os a suportar por mais um único momento que fosse, um a um. Assim sendo, é compreensível a fagulha de alegria que se acendeu em seus corações diante da pesada queda que o rei alado sofreu de seu trono, levando consigo a tempestade de areia e a relva esverdeada que, até então, recobria o templo que se tornara coliseu - ao se voltar de costas para o caído, uma brilhante luz no fim do túnel parecia surgir para o unoviano, afinal.

...Infelizmente, aquela não era uma luz de esperança.

A tal luz, aliás, veio fortíssima, radiante como os relâmpagos que há pouco coloriam os céus, exatamente das costas do rapaz: E o que o esperava, garanto que tenha sido a cena mais desesperadora de toda a sua odisseia até então. O corpo da gigantesca ave cintilava em um ofuscante brilho esbranquiçado; Aos poucos, os músculos do selvagem encontravam forças outra vez para se erguer, enquanto seus ferimentos se dissipavam como pétalas de dente-de-leão ao vento, absorvidos pela iluminação que o acolhia em ninho. Quando pôs-se outra vez de pé, exuberante, as asas se abriram de uma vez e o bico se ergueu aos céus, emitindo um poderoso guincho que ribombou com a potência de um trovão por toda a ilha - em perfeito estado, como se todo o confronto até então sequer houvesse ocorrido.

Devagar, o bico se baixou, para que o olhar indiferente repousasse sobre a insignificante imagem do giratinista. Suave e discreto o suficiente para que pudesse pensar ser coisa da própria cabeça, o elétrico balançou a cabeça em negação de um lado para o outro; Aos seus pés, a eletricidade expulsa há momentos atrás encontrava espaço para invadir mais uma vez, as faíscas amareladas pulsando sobre o piso de marfim - o peito da ave se inflou, e as asas se acomodaram pacientemente junto ao corpo. Naquele momento infinito, com soberba, seus olhos sorriram.

Oh, pobre rapaz.
Você realmente acreditou ser capaz de destronar um soberano elétrico?

A tormenta, há pouco apaziguada, rugiu uma última vez. Exuberante, Zapdos volveu a atenção para os céus e tomou um impulso sobre o piso para zunir na direção do manto celeste, que se manchou novamente com pesadas nuvens escuras e, do fundo do peito, mais um de seus guinchos ensurdecedores ecoaram pelo templo, reverberando entre as estátuas do lugar e fazendo estremecer suas luxuosas colunas. Mais uma vez - entretanto, sem dar tempo para que nenhum dos fracos companheiros restantes de Valassa encontrasse brecha para reagir -, o inferno elétrico desceu sobre o relevo, castigando as criaturas vivas que por ali residiam: Em especial, um dos raios virou-se certeiro sobre a carcaça do giratinista, provocando uma dor excruciante que se espalhou por todos os seus músculos e células e talvez, só talvez, também serviu-lhe de karma sobre o ocorrido em certa fonte, há algum tempo atrás.

E então, tudo ficou escuro.

***

Quando acordou, não existia mais templo: Era algo que com certeza poderia dizer, mesmo que (garanto) o rapaz precisasse de alguns segundos (ou talvez até minutos) para acertar a visão turva, embaçada. Seu corpo ainda doía, àquela altura - quanto tempo deveria ter passado, desde todo o caos? -, mas felizmente repousado sobre uma superfície macia, para variar. Além disso, em contraste com a tormenta que o assombrara por uma longa viagem, tudo o que o rodeava agora era um silêncio quase sepulcral, maculado somente pelo barulho suave de movimentação pelas proximidades.

Estava escuro - muito mais do que estaria caso houvessem raios rasgando os céus, mas não o suficiente para que o horário pudesse se passar por noite fechada. A penumbra bailava pelo cômodo, e uma tímida luz fraca, quase insignificante, era a única responsável por iluminar o local. Ao lado da maca, uma enfermeira de madeixas avermelhadas pacientemente fazia a substituição da bolsa de soro ligada à veia do unoviano: E, acredite, não foi fraca a surpresa que a atingiu ao se dar conta da movimentação e despertar do moreno.

— Deus! — Exclamou, baixinho, se inclinando em alguns centímetros por sobre o corpo do treinador. — Você acordou! — Disse, antes que um sorriso enfim passeasse pelo rosto. Era difícil dizer se por alívio ou contentamento com o fato mas, bem, de que isso importava, afinal? — Como se sente? Consegue falar? — Perguntou, com um toque discreto no braço do rapaz, buscando alguma reação - se é que já não havia tido alguma.

...
Certamente uma companhia melhor que um lendário imparável, hmm?

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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?
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Eu poderia ter fingido não ver o Zapdos, deixá-lo desmaiado no chão e seguir o meu caminho junto aos meus Pokémon e pronto. Bem, não que isso fosse resolver o problema e tornar tudo melhor do que está. Mas... Não... Eu precisava abrir a minnha boca enorme e falar algumas bravatas para o caído Lendário. Bem, quando se está nas nuvens, voando alto, a queda sempre é maior, não é verdade? Valeu para o próprio Elétrico e agora para mim... No momento em que virei as costas para o Pokémon e caminhei na direção do Templo onde os corpos pareciam estar, fui surpreendido por uma mudança repentina no ar, no ambiente. Uma sensação, sabe? Meus pelos do braço arrepiaram e não era apenas causado pela corrente de ar frio que passava por ali com força. Era estática... Os céus reclamaram quando as nuvens movimentaram-se sobre mim, chocando-se e retumbando-se, uma verdadeira orquestra percursionista da natureza. Se fosse apenas um som qualquer, não ligaria, mas uma sequência ininterrupta deles me chamaram a atenção e me fizeram ver os céus, deixando os corpos novamente para segundos mais tarde. Mal sabia eu contudo, que esses segundos não chegariam.

Ao encarar as nuvens, como um teto preto de matéria indiscritível, viva e contorcida, eu pude ver as pequenas fagulhas. Eram pequenas, mas logo foram unindo-se e formando uma rede de eletricidade que iluminava o céu em tons de amarelo, branco e grafite. Os raios uniram-se ao redor de um único ponto desceram até o topo do Monte, certeiros! O alvo? O corpo desfalecido do Lendário. Virei-me na direção de Zapdos, no instante do encontro com o raio. Simultaneamente, uma luz muito clara dominou todo o lugar, obrigando-me a tapar os olhos para não ficar completamente cego e bem... Talvez eu preferisse ser para não ver o que aconteceria a seguir. Movendo um músculo de cada vez, a criatura a muito esforço derrotada, ergueu-se novamente. Primeiro a cabeça, depois uma asa, então a outra e por fim o corpo inteiro. Não demorou muito para que chegasse aos céus e mais trovões soassem como tambores a lhe receber. Zapdos absorvia a energia do ambiente para se reerguer imponente. Com os olhos voltados para o alto, abriu suas imensas asas e estufou o peito, demonstrando uma completa recuperação. Instintivamente, comecei a dar passos para trás, preparando para comandar os Pokémon ainda restantes ao combate, mas... Não haveria algum desses... Até mesmo a energia que infiltrava-se pelo chão antes da intervenção de Buddy, voltava a preencher cada fresta do piso, como se houvessem lâmpadas instaladas bem abaixo deles.

Eu sabia que não seria fácil enfrentá-lo novamente, ainda mais contando apenas com praticamente metade do time. É claro que não me entregaria tão simplesmente e o enfrentaria até a morte se fosse preciso. E bem, parecia ser preciso... Eu tive certeza absoluta de que não havia mais luta quando finalmente o pássaro abaixou sua cabeça e apontou o longo bico em minha direção. Seus olhos, energizados de vingança pareciam quase sorrir de maneira plástica diante de meu desespero e, alguns segundos depois, os céus caíram sobre mim e meus companheiros. Uma chuva de raios, mais densa e pesada do que qualquer tempestade que já havia enfrentado desceu das nuvens. Entretanto, ao invés de vir diretamente sobre a minha cabeça, foi absorvida pelas céulas eriçadas do corpo de Zapdos. De lá, não demorou nem um segundo para serem expulsas numa velocidade inacreditável, com uma força descomunal e imparável. A última lembrança que tive foi a visão daqueles olhos... Os olhos... Era meus olhos, era a minha tortura, agora contra mim. Num lampejo de luz fui ao limite da dor. No outro, nada senti. Por algum tempo - que não podia precisar quanto - meu corpo deixou de existir e eu senti um peso ficando para trás. Ao meu redor, apenas escuridão e um vazio. Um vazio tão silencioso que eu não sabia dizer se era mesmo silêncio ou um zumbido dolorido no ouvido.

— Então... É assim estar morto? — Comentei para mim mesmo, mas sem emitir qualquer voz. Afinal, não tinha boca ou ouvidos. Tentei observar minha mão e reconhecer meus dedos, mas não haviam olhos ou pele, ou membros, ou corpo. Seria esse o castigo eterno? A danação? Sem fogo ou espetos incandescentes em nossos corpos materiais? Sem Giratina ou um suposto Mundo Invertido? Era apenas a solidão de um vazio, com sensações incontroláveis aos quais éramos oferecidos sem defesa? Precisava pensar sobre isso e parecia ter muito tempo para tal, mas antes mesmo que tivesse a liberdade e o sossego de tentar lidar com essa perda física, uma luz abriu-se abaixo de mim. Primeiro era como um ponto, um pixel morto em uma tela gigantesca de cinema de alta definição e resolução. Entretanto, esse "ponto" foi crescendo, tão qual a angústia que invadia meu inexistente coração. Em segundos, ela era maior do que a mim. Seja o de antes ou de agora. Eu não queria ficar por ali abandonado, mas tinha medo de agarrar-me àquela luz que poderia ser uma mudança ainda pior. Tentei "nadar" no vazio para afastar-me, mas... Eu não existia! Qual é? Que tipo de brincadeira doentia era essa? Por mais que buscasse me afastar, a luz crescia e ficava mais ágil, me alcançando em segundos. O que antes era um grande borrão preto, agora tornava-se um borrão branco, mas por trás de pálpebras imaginárias, também haviam cores prestes a serem vistas... E foi com essa sensação estranha que abri os olhos para observar.

Primeiro havia o vermelho e bem, ele era o mais importante. Havia branco, creme, tons pastéis, mas esses vieram só depois e flutuavam ao redor do vermelho. Semi-cerrei os olhos e suspirei pesadamente, sentindo o corpo voltar a existir. Como eu sabia? Bem, pela dor... Não havia uma parte que não doesse, como se tivesse sido atropelado por um caminhão. Usei os cotovelos para me ajeitar naquela cama... Não, era uma maca. Fiz uma careta e encarei novamente o vermelho, que começava a tomar forma de um... Cabelo? Tremi os lábios e a voz, que tentava sair, engasgou. Forcei um pouco mais, abrindo a boca e tentando mexer a língua. Praticamente tentando dizer o que cada parte dela deveria fazer — N... Na... ty? — Consegui emitir, mas praticamente tendo que lançar a cabeça toda pra frente para dizer. Primeiro, achei não ter sido ouvido - ou era imaginação - só que antes de tentar falar novamente, consegui chamar a atenção. A figura feminina, ainda borrada, virou-se para mim e surpreendeu-se. Eu estava tão terrível assim? Enfim... Ela veio até mim e perguntou algo que não consegui compreender. Apesar de ainda estar muito mal para ter certeza, não parecia a voz de Natalie... A segunda frase já era mais audível, ela estava mais inclinada na minah direção, questionava se eu tinha acordado. Sacudi a cabeça afirmativamente e respirei fundo, tentando manter um ritmo de respiração. Por fim, ela perguntou como eu me sentia e se conseguia falar. Assenti novamente com a cabeça — Est... ou. Bem... Ss..sim... Co... Consi...go... Meus Po- Pokémon? Natalie? Zapdos? — Questionava ainda desorientado, mexendo o braço e sentindo que estava "preso" a uma bolsa de soro, com uma agulha enfiada no braço. Instintivamente minha mão foi até ela para retirar, mas não tinha condições e nem noção para fazer isso, por isso ela acabou caída, desfalecida de volta á cama. — On... de esto..estou? — Questionei por fim, levando a mão até a cabeça, como se isso fizesse a sala parada de lentamente girar e os latejos parassem. O que havia comigo?

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É engraçada a maneira como uma realidade pode se estilhaçar com a mesma simplicidade de um estalar de dedos além de, é claro, se moldar à bel-prazer de acordo com o protagonista que a domina (ou pelo menos possui a ilusão de) como titereiro. Também cômica era a noção de que existia a possibilidade de, nem que por uma única atitude diferente da tomada, toda uma linha do tempo poderia ser completamente modificada, fosse para o bem ou para o mal - ou seja, imagine só se toda essa finalização imponente poderia simplesmente não ter existido, se não fosse a arrogância do giratinista ao considerar todo o problema com o alado solucionado e, no ápice da auto-confiança, ousou desprezar o soberano e, por isso, teve suas asas podadas. Não valia a pena pôr em mesa todos os "e se" que o rondavam ao longo de toda a viagem através não só da 121, como também do cemitério vertical; Tantas eram as coisas que poderiam ser alteradas para uma versão mais leve nos últimos tempos que, se sobre elas refletisse, seria apenas como assumir a responsabilidade ao convite da própria insanidade.

Morreu, naquele lugar - sepultado foi, literalmente ou somente em essência. Paranoias desenterradas sobrepunham ética, moral e caráter, sufocando-os entre o abraço mórbido de fantasmas esquecidos pelo tempo. Arrastada foi sua consciência, para um lugar distante e vazio e, nele, permitiu-se desabrochar os temores e reflexões que não mais fariam diferença no vácuo. Refletir sobre os próprios pecados ou se permitir martirizar por eles, quando uma escolha não anula a outra, são opções fatais para uma alma fragmentada pelas provações - e provocações - do vasto universo.

Então, acordou. Fosse tragado para que enfrentasse as consequências dos próprios atos ou meramente por uma oportunidade cedida por seu anjo protetor, lá estava: Finalmente junto à quem tanto procurava!... ... ...Quer dizer, pelo menos foi o que pensou, em um primeiro instante. As lembranças de um amor desaparecido foram suficientes para rasgar em pedaços a ilusão de sua presença e, em sílabas vacilantes e enroladas, questionou sua experiência - e, naquele momento, ela só foi digna de pena.

O cenho da ruiva se franziu com suavidade e, por alguns segundos, se reservou ao direito de não responder. Com delicadeza e paciência, as mãos ampararam o corpo do unoviano diante de sua tentativa rebelde de se erguer, controlando e contendo-o com a gentileza e toque macio de uma pluma, acomodando-o mais uma vez sobre o colchão, ajeitando o travesseiro sob sua cabeça. Era questionável pela dormência do próprio tato, porém, a movimentação da mão e o repousar em seu braço o permitiram sentir as faixas que cobriam-lhe a pele, centímetro por centímetro.

— Não se esforce. — Aconselhou, com um suspiro cansado, antes de finalmente se dar ao luxo de tentar decifrar as palavras quase confusas do rapaz. — Seus pokémons estão bem. — Assegurou, apoiando os dedos sobre seu pulso em uma tentativa discreta de transmitir um pouco de calma. — Estão todos descansando, assim como você... Bem, com exceção desse aí. — Acrescentou, o olhar se voltando para a lateral da maca, à esquerda do unoviano. Ali, em uma pequena cadeira, a imagem borrada e oval de um bebê brincava com uma esfera vítrea e de um vivo escarlate entre as mãos, distraído o suficiente para sequer dar-se conta da consciência de seu treinador. — Não sei como ele está tão bem, considerando como vocês foram encontrados... — Murmurou, quase inaudível - uma informação passada de maneira provavelmente acidental, fato explícito na maneira como logo emendou outro assunto por cima. — ...Natalie... — Deixou o nome brincar na própria boca, e então a atenção se voltou para o giratinista, mais uma vez. — ...É a garota que estava com você? — Arriscou. Então, o corpo se virou parcialmente na direção oposta à maca do treinador (e à sua direita, mais precisamente), apontando para o leito ao lado.

Lá, de fato, existia alguém. Uma moça, mais especificamente, ainda que todos os curativos fossem responsáveis por torná-la em um projeto moderno de múmia - ao contrário de Valassa, porém, desacordada. Uma máscara de ventilação cobria seu rosto, auxiliando em sua respiração: A treinadora estava quase irreconhecível, não fosse o detalhe das madeixas ciano escorrendo por seus ombros - Brooklyn.

— ...Você está em Lilycove. — Explicou, ao enfim desviar o olhar na direção do moreno mais uma vez. — Se lembra de alguma coisa que aconteceu? — Perguntou, ignorando completamente a menção ao pássaro lendário. — Pode ser qualquer coisa, por menor que seja. Mas, não precisa se forçar a falar. — Incentivou, com um discreto aperto sobre a mão do rapaz, suave - o suficiente para sequer machucar, por mais que todo o seu corpo gritasse em agonia.

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Apesar de meus sentidos estarem completamente bagunçados, a minha mente não estava tão confusa e embolada assim - não mais do que já não fosse. Primeiro, havia sido a visão que me enganou achando ser Natalie... Na verdade, até mesmo o cheiro, provavelmente vindo do perfume da enfermeira, me lembrava a ruiva. Mas enfim... Eu já havia me localizado... Estava dentro de um hospital, bastante ferido, mas vivo... Eu não sabia se isso era bom ou ruim considerando o fato de que não tinha conhecimento sobre o que havia acontecido com Brooklyn e também com o suposto corpo que talvez fosse de Naty... Ou não. Minha tentativa atrapalhada de colocar o "tato" em dia e sentir o que era cada coisa daquelas coladas em mim, havia preocupado a funcionária, que gentilmente tocou meu braço e pediu que me acalmasse. Ela tinha jeito com aquilo, sua voz e toque eram macios e realmente transmitiam uma tranquilidade a mais. Acenei com a cabeça concordando, apesar de ainda querer saber mais sobre meus Pokémon. Felizmente, essa informação veio logo a seguir, junto de uma informação curiosa. Havia um deles ali, o tempo todo comigo. De início, ao ouvir essa informação, deixei passar como se não fosse importante. Entretanto, conforme o cérebro processava os dados, fui me tocando de que não conhecia a criaturinha... Seria...? Não, não poderia... Ou poderia?

Sentado em uma cadeira, de uma maneira tão suave e contrastante com o caos que havia sofrido, havia uma criaturinha fofa. Bem, um Togepi, que provavelmente veio do ovo encomendado e trocado com Haruki, antes de aventurar-me atrás de Natalie. Entretanto, ele não parecia apenas um Pokémon qualquer... Ele tinha uma cicatriz em sua cabeça, não tão perceptível a essa distância, mas que não demonstrava ser convencional. Além do mais, ele brincava com algo que eu não reconhecia. Provavelmente algum presente dado pelo Hospital. Até pensei em chamar ele ou questionar sobre a esfera vítrea, mas a fala seguinte da Enfermeira me "fisgou" de jeito. Ela comentou sobre o estado em que fui encontrado e que achava incrível o Bebê Pokémon estar tão bem. Eu sabia que havia sido golpeado, mas o quão grave ainda era desconhecido. Talvez bastante, diante da forma que a jovem desconversou e resolveu puxar assunto sobre o nome que eu disse: "Natalie". A Enfermeira questionou se era a garota que estava comigo e meus olhos arregalaram-se. Seria possível? Mas em seguida, como um soco no estômago a dúvida abateu-se. Essa "garota" estaria viva ou morta? E por que falou só sobre uma e não sobre duas? Afinal Brooklyn também estava lá... Fiz menção de falar, abrindo a boca, mas antes que pudesse fazer uma pergunta - o que já estava tornando-se costume por aqui - a expressão corporal da mulher me levou a olhar rapidamente para a minha direita. Bem, agora não tinha dúvidas, mas isso parecia corroer ainda mais minha alma, havia ali apenas Brooklyn, pelo visto viva, mas nada de Natalie.

— Não... Não é ela... — Disse baixinho, agora com mais facilidade. Minha expressão facial entregava o descontentamento, quase uma decepção. Então, lembrei que não deveria expressar isso diante da vida de alguém e então sorri — Mas eu a conheço... Se chama Brooklyn... — Comentei, displiscentemente, voltando a olhar a Enfermeira. A mulher então me explicou que eu estava em Lilycove... Em seguida, questionou-me sobre o que aconteceu. Pelo menos um detalhe que os auxiliasse a compreender o que havia acontecido. Imediatamente depois, fiquei calado, apenas aguardando, pensando no que falaria e se não soaria apenas uma loucura grande demais. Bem, alguns segundos depois, falei. Esperava que a espera toda não soasse suspeita — Foi.. Um acidente! Foi um raio. Estávamos andando em trio, mas minha namorada se afastou até um rio próximo. Ela foi... Busca água. Estávamos tentando retornar para Lilycove e então, um clarão veio. Acho que foi um relâmpago. E então, acordei aqui agora. Desculpe por não poder dar mais informações... — Comentei, fazendo uma cara de decepcionado e dando de ombros. Em seguida, voltei a olhar para Togepi e a esfera que ele segurava. Algo nela me chamava a atenção. — Aquela bolinha, vocês que deram a ele? Bem, tanto faz... Eu só queria saber se posso levantar, já me sinto pronto para isso. Andar um pouco pelo quarto. Posso? — Questionei a Enfermeira, agora já mais lúcido e ajeitando-me na cama para ficar sentado e não deitado. Se fosse possível, iria investigar melhor o Pokémon, o objeto e também Brooklyn. Tinha muitas perguntas e não via a hora de esclarecê-las.

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Trágico, não fosse cômico; Chegava ser divertido pensar sobre como a visão de uma amizade relativamente forte do passado desenhava a decepção sobre a expressão do rapaz diante da inexistência de quem realmente desejava encontrar, por mais que toda a situação se desenrolasse após um forte ocorrido ensopado pelo caos. Foi em completo silêncio, então, que a ruiva assistiu as modificações velozes das feições do unoviano, talvez se questionando se o projeto de "desgosto" que havia se pintado em seu rosto era um sinal de risco à mantê-lo no mesmo quarto que Brooklyn ou, bem, se simplesmente era resultado de um desânimo inocente ao não reencontrar uma pessoa mais... Especial, por assim dizer. O observou enquanto o moreno explicava a respeito de sua aventura e, de início, nada disse; Era difícil afirmar se confiava ou não nas palavras do rapaz - era possível que até mesmo soubesse de algo que invalidava toda a narrativa tola do treinador mas, novamente, não se pronunciou para contestá-lo.

— ...Entendo. — Comentou, dispersa, o olhar se desviando vagarosamente na direção de Brooklyn antes de retornar ao giratinista. — ...Enfim, se você diz. — Balançou a cabeça, suave, e respirou profundamente. — Eu não aconselharia levantar agora, porque você ainda precisa descansar. — Demorou-se nas palavras. A hesitação brilhante no olhar, como se pesasse a vantagem (ou falta dela) de revelar algo que ainda estava escondido. — ... ...Bem, tinha mais uma pessoa... — Arriscou, após alguns segundos. Os orbes volveram para a janela de cortinas fechadas por um instante, enquanto a respiração ia e vinha. — ... ...Mas, não conseguimos reconhecer... — Murmurou, quase inaudível. Após alguns míseros milésimos, as pálpebras se apertaram outra vez, e balançou a cabeça novamente como que para dispersar os pensamentos. — Eu preciso terminar com sua amiga, e vou providenciar alguns exames para você, se estiver tudo bem. — Emendou, abandonando o assunto tão rápido quanto ele havia vindo. Então, dando as costas e se aproximando agora da maca de Brooklyn, começou a também trocar a bolsa de soro que alimentava a veia da menina.

— Não, não fomos nós. Já estava com ele - não é sua? — Perguntou, a cabeça se virando por um momento na direção da dupla antes que se focasse no trabalho que fazia, outra vez. A cadeirinha em que o bebê se sentava, distraído, estava próxima o suficiente da maca de Valassa para que pudesse alcançá-la sem sequer se levantar: E, naquele instante, era difícil dizer se isso era uma felicidade ou maldição.

Explico o por quê: Assim que o filhote ouviu a menção à bolinha, sua atenção enfim se desviou na direção daquele que, querendo ou não, tomaria para si o título de seu mentor. O olhar negro, profundo, se manteve fixo contra os azulados opostos, a mesma intensidade que teria alguém capaz de ler e revirar uma alma sem sequer necessitar de contato físico para tal - naquela escuridão, um caos distinto cintilou, tempestuoso, e o mesmo brilho reverberou no interior da esfera vítrea entre as patas do pequeno, a coloração escarlate parecendo mais vívida, mortal, enquanto suas partículas dançavam naquela prisão essencial à sua existência.

...Então, ele sorriu.
Pequeno, simples, discreto - o tipo de sorriso que passaria despercebido sem uma observação atenciosa. A cabeça se inclinou em pouquíssimos milímetros para o lado, e o animal permaneceu daquela maneira por alguns segundos, antes de enfim retornar o foco para a relíquia cor de sangue que carregava consigo, o sorriso desaparecendo e dando lugar à singular serenidade, movendo-a pacientemente entre as patas em trajeto circular.

...Oh.

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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?
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Sim, eu havia claramente mentido sobre tudo o que havia acontecido na Rota 121 e também no Mt. Pyre. A situação não havia sido nada agradável e eu tenho absoluta certeza que não ficaria nem um pouco melhor, caso eu contasse tudo o que tinha ocorrido. Tortura? Uma Equipe de Vagabundos? Um Pokémon Lendário? Me poupe, quem cairia numa asneira dessas...? Era melhor contar uma tola história com pontos estranhamente incongruentes, provavelmente causados pelo choque da cabeça em uma pedra ou uma "fritada" cerebral do que tentar revelar a verdade. Ainda mais que... Brooklyn e eu parecíamos ser os únicos sobreviventes, com a presença de um corpo que não pode nem ser recolhido, muito provavelmente nem reconhecido. Era óbvio que os médicos já haviam observado as tatuagens iguais no meu corpo e no de Brooklyn, então se juntassem "dois mais dois" poderiam acabar chegando a conclusão de que nós, cúmplices de uma gangue, havíamos atacado algum grupo de pessoas, assassinado alguém e sido nocauteados por outros. E se aquele rapaz que torturei abrisse a boca? Aí sim estaria tudo acabado! É... Em segundos minha mente expandiu a preocupação pela possível MORTE de Natalie - que eu gritava constantemente dentro de mim que não poderia ser real, independente das provas que me revelassem - para um plano conspiratório de nível global. Talvez a Enfermeira conseguisse observar esse desespero dentro dos meus olhos. Talvez já tivesse pescado tudo, principalmente pela forma como reagiu a minha historinha.

Enfim... Após terminar comigo, ela disse que cuidaria de Brooklyn, mas que voltaria para alguns exames em mim. O melhor que eu podia fazer agora era fugir, mas... Onde estariam meus Pokémon? Não achava que apenas o Togepi recém-nascido poderia ser o bastante para, sei lá... Nocautear a Enfermeira e escapar? Argh, e eu ainda queria muito falar com Brooklyn, se ela ainda acordasse e pudesse falar novamente alguma vez em sua vida, considerando seu estado... Para evitar mais encrencas, concordei prontamente com tudo o que a Enfermeira dizia, virando-me inclusive de lado, de costas para ela e de frente para Togepi e aquela maldita esfera exótica que ele não parava de manipular. Foi nesse instante inclusive, que a funcionária da saúde disse que não haviam dado nada para ele, além de questionar se não era meu — Sim, deve ser... Ele deve ter achado misturado em coisas antigas... Na verdade, as lembranças ainda estão voltando devagar. Meio embaralhadas... — Comentei baixinho, mas alto o suficiente para ser ouvido. Enquanto isso, alternava meu olhar entre os olhos de Togepi e a Esfera Escarlate. Aos poucos, de tanto encarar o Pokémon, conseguia ver através dos seus olhos, além de sua existência.

Os olhos negros da criatura pareciam me examinar por dentro, profundos como meu próprio olhar poderia estar sendo para o pequeno. Seu olhar me lembrava tudo o que havia passado no Pyre, como uma releitura cruel e resumida, mental, de todos os detalhes mais sórdidos. Entretanto, o ápice dessa viagem introspectiva, foi quando Togepi sorriu, tão discretamente que não sabia se havia sido real. Mas a verdade é que me peguei sorrindo também, talvez não tão discretamente como a criatura, mas ainda assim... Sorria... Estaria eu sorrindo diante das memórias que aquele olhar me trouxe? Mesma as mais terríveis? Entretanto, antes de me afundar em pensamentos e dúvidas sobre mim que já não podia responder, peguei-me hipnotizado pelo brilho escarlate... pela Ruiva da Pedra. Seria...? Mas... Mas... parecia vívo! Parecia querer escapar dali, de alguma chama infernal. Arregalei os olhos e então estiquei meu braço quase como um zumbi até o Pokémon, tocando sua cabeça em um carinho bem "sem vida" para chamar-lhe a atenção — Bom trabalho... Bom trabalho... — Comentei, deixando mais um sorriso transparecer e então recolhendo a pedra das mãos do Pokémon, apenas para analisá-la bem perto do rosto e ver com mais clareza o que havia em seu interior e se era possível decifrar-lhe — Bem Enfermeira... Acho que estou pronto para o exame... — Disse, um pouco mais alto para ser ouvido, mas ainda de costas, deixando meus lábios abrirem em um novo e mais tenro sorriso.

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Eis aqui o desfecho de um capítulo há muito iniciado - embora, certamente não seja o final da história. Apesar de deixar para trás todos os acontecimentos sepultados nas entranhas do Monte Pyre, não estava ao alcance do rapaz se desfazer das sombras, fantasmas e demônios que o perseguiriam a partir de então, seja em presença material ou paranoia agravada pelo olhar enigmático de um filhote: E, pelo menos naquele instante, era difícil (senão impossível) dizer ao certo o impacto que tantos fatores teriam sobre não só comportamento, como também na própria personalidade do atormentado giratinista, à curto ou longo prazo.

Era em meio à devaneios profundos que seu olhar dançava pelas brasas internas da esfera vítrea, repentinamente tomada do recém-nascido. Lamentos e sussurros se pincelavam entre seu conteúdo, minúsculos fragmentos de sabe-se lá o quê que bailavam, entrelaçavam-se e volviam entre si próprios, em confusão infernal que jamais se apaziguava. Perdidos, vultos azulados, pálidos e até negros se embrenhavam nas ondas carmim que tingiam a relíquia - suas imagens segredavam lembranças obscuras abandonadas nas vísceras do cemitério vertical, ecoando o profundo vácuo nos rodopios do material de origem misteriosa.

Nenhum som interrompeu a construção dos delírios sofridos que se empilhavam, pouco a pouco, na mente do jovem - nem mesmo as palavras distantes da enfermeira, que indicavam a necessidade da permanência da dupla por mais alguns dias para que pudessem garantir não só sua melhora, como também a estabilidade do estado físico. Tampouco o olhar fixo de Togepi sobre sua imagem seria suficiente para tragar-lhe a atenção, provavelmente; Então, não é impossível que o unoviano não se desse conta do novo sorriso que decorou sua expressão, um pouco mais aberto - do tipo que degusta a imagem que se desenha diante dos olhos -, enquanto vigiava atentamente a insanidade que, pouco a pouco, se apoderava do senso de realidade (e moralidade, por que não?) do acamado.

E não é ela, a insânia, a mais bela das consequências?


Rota Encerrada. Pode prosseguir!~

Zapdos :


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