off :
Tenho nem ideia do que vocês tão falando
Gente eu fiquei viajando aqui vcs me perdoe qualquer coisa ta, acendeu uma lâmpada repentina na minha cabeça e foi isso
TO VIRADA NÃO ME JULGUEM
@Luch, oi — Só se você tiver sorte com as tais ruínas, loirinha. — Retrucou, dando uma piscadela que foi suprimida pelo riso diante do óbvio arrependimento da outra quanto às próprias traquinagens.
— Perdeu o equilíbrio e ganhou cleptomania. Algumas coisas mudam, mas de certa forma até que continuam iguais. — Debochou, virando de costas para a borda e descansando a cabeça contra a parede dela por alguns segundos, fechando os olhos e respirando profundamente, permitindo que o vapor morno das termas invadisse seus pulmões.
Sabia que tinha concordado em ir embora mas, naquele momento em específico, optou por não fazê-lo; Ouvindo o barulho alegre dos pokémons interagindo nas proximidades, se presenteou com o pequeno luxo de não só esquecer todo o caos que era obrigada a lidar nos últimos tempos mas, sobretudo, de apreciar a calmaria que antecedia a - imaginava - longa caminhada que enfrentaria para atravessar (seria esse o seu objetivo, afinal?) o deserto Shimmer que se assentava ao horizonte. O interior do seu peito pulsava, quente, e arriscava dizer que não por culpa das águas aquecidas nas quais mergulhava - os músculos, há tanto tesos, descontraíam, em singular apaziguo que era incapaz de lembrar a última vez que experienciara.
"Seus olhos, Karinna.", a mente sussurrou, segredando lembranças que, ironicamente, não lhe serviam mais de maldição.
"Eles lembram o mar.", completou, sem temor. Em singela serenidade, as pálpebras se entreabriram, ameaçando libertar os orbes cinzentos de sua prisão dérmica - molhada, a franja longa era incapaz de se opor como obstáculo à visão, e foi com um sorriso ameno que a ruiva se permitiu observar quando, um a um, os psíquicos se retiravam das fontes, em obediência muda à companheira de infância. Tal como os próprios a moça fez: Desencostou-se sem pressa da borda da fonte e, relaxada, movimentou-se na direção das escadas para que pudesse sair das águas - ao fazê-lo, porém, ainda estancou no lugar por um breve instante, observando a neblina turva que escorria para a superfície por conta do calor.
— É essa sua lição, Dama do Lago? — Questionou para si mesma, em murmúrio que se perdeu no vapor.
— Ou é o seu presente? — Quis saber, consciente que jamais teria uma resposta que satisfaria os próprios nervos e, pelo menos naquele instante, não pareceu se importar. O canto dos lábios torceu-se numa curva torta, e a moça balançou a cabeça em negativa, apertando as pálpebras uma última vez antes de deixar as termas para trás, levando as mãos às madeixas ruivas para que pudesse espremê-las. Puxou a toalha branca que pendia de uma cadeira e, sem cerimônias, secou-se, tomando o tempo necessário para fazê-lo; Ao dar-se por satisfeita, enrolou e amarrou o tecido na altura do peito, encaminhando-se na direção das mochilas para que pudesse usar as esferas bicolores e retornar, um a um, os monstrinhos recuperados que também já começavam a sair da piscina aquecida.
Foi ao tirar seu tempo para guardas as pokéballs que, então, os dedos esbarraram no aparelho eletrônico alaranjado em um dos bolsos, há muito esquecido - afastou-os de imediato, em centímetros, como se um choque elétrico percorresse pelas pontas dos dígitos e lhe açoitasse os nervos. Um arrepio inquieto percorreu pela coluna, gélido, impondo dualidade térmica ao ambiente que a envolvia: E, em silêncio, enquanto Bley ainda lidava com seus apetrechos e coisas e tal, ousou recuperar o pequeno pokénav com uma das mãos, observando seu visor escuro por longos segundos que, particularmente, era incapaz de contar.
Veja: O objeto em si, bem, não a preocupava - o significado e peso do fantasma que ele trazia, porém, já era outra história. Arranhava-lhe a garganta a angústia que da alma ecoava, em preocupação eterna quanto à uma comunicação que não mais existia não só há um ou dois dias, mas semanas, meses, ou sabe-se lá quanto tempo se havia passado no interior das masmorras arquitetadas e titereadas pelo próprio Criador; Foi com delicadeza sóbria que o polegar afagou a superfície das teclas, o tremular dos dedos contrastando com a temperatura na qual era submetida naquele pequeno pedaço de um Paraíso que não lhe pertencia e, em conjunto com ela, o gosto ocre se arrastou pelo esôfago ao recordar-se da memória distorcida com a qual o Celestial ousara atormentar-lhe mais uma vez.
...
Vagarosos, os dedos se movimentaram para desbloquear a tela do eletrônico - e foi com surpresa alguma que, ao se direcionar ao contato do unoviano, os orbes cinzentos foram cumprimentados pelas inúmeras mensagens não enviadas, fosse por falha no envio ou simplesmente falta de conexão. Os ombros caíram, devagar, e as pálpebras acompanharam a trajetória realizada por eles - discreto e inquieto, um suspiro escapou, sutil, por uma fresta ínfima que se abriu entre os lábios. Já era praticamente incapaz de discernir fantasia da realidade mas, por um breve momento, as pupilas negras se esquivaram na direção de Karinna enquanto a monotreinadora reunia seus pertences e se preparava para partir.
...Se um fantasma tão antigo era capaz de retornar, seria possível que um mais recente simplesmente desaparecesse em pleno ar, transparente como as camadas de vapor que as termas emanavam?
Para Luch escreveu: "Por onde anda? Já faz tanto tempo - e me sinto estúpida de pensar que nem bem sei quanto. Quão ridículo isso pode parecer, agora?
Era para Arceus quem costumava pedir por você - mas, nessa situação, para quem mais posso? Até por Giratina já considerei, e não sei quão traidor isso poderia parecer. Ou, será que não se importaria, se soubesse? Eu não sei.
Sinto falta do seu cheiro e, céus, como é difícil não querer me afogar nele outra vez - e, às vezes, tenho medo de esquecê-lo.
Sinto falta do seu toque, das pontas dos dedos roçando pela pele, da sua presença; É difícil dormir em uma cama vazia, ocupada por pensamentos que não se permitem freios ou rédeas - bons, ruins, saudosos.
Sinto sua falta.
...Tudo está...
Estranho.
Tem tanta coisa, tanta coisa acontecendo. Más, boas, ambas; Desgraças, presentes. Tenho medo de estar perdendo a sanidade para distorções que sequer existem ou, talvez, distorções que sejam reais demais - e, se for, eu ainda vou ter chance de te ver mais uma vez? Já não sei nem quando posso tentar continuar mandando mensagens, ou se elas algum dia vão chegar.
É angustiante, de certa forma.
E, de outra, também me diz que não posso ter a certeza de que não vão.
...
Parece dramático, não é?
Acho que, de tudo isso, a única parte que me acalenta é ter Karinna ao lado - e, ah, como queria que você a conhecesse. Teremos a chance de sair juntos, algum dia?
Além disso, tenho um filhote novo, que nasceu há pouco tempo: Uma... Fletchling...?... E, ironicamente, até ela consegue me lembrar de você: Não é engraçada essa marca que alguém pode deixar na vida de outra pessoa?
...
Eu...
Não sei se sei o que estou dizendo, se quiser me perguntar. Eu só queria tanto, tanto, falar contigo e te ouvir outra vez.
Agora, meu coração apenas urge (que palavra engraçada, não?) para ter despejado as tantas coisas que não consigo nesse instante.
...
Se essa mensagem chegar, dessa vez, tem alguma possibilidade de que ela seja cringe demais? Talvez chegue, se realmente for. Não é só quando passamos vergonha que o universo resolve dar uma mãozinha, afinal?
Bem, Senhor Drac, fique o senhor sabendo - a culpa é toda sua se pareço uma adolescente tosca e apaixonada.
Talvez eu não tenha dormido bem, e talvez eu possa culpar tudo isso por esse pequeno detalhe. Se estiver ridículo demais, exijo absolutamente que leve isso em consideração.
... ... ...
Por favor, esteja bem. Por favor. Por favor.
...
Que essa Roda Gigante volte para o topo, meu bambolê de gelatina."
"P.S: É oficial, acho que eu odeio raios."
Foi com velocidade inconstante que os dígitos dispararam a mensagem, enviando-a antes que o cérebro acompanhasse por inteiro o conteúdo que o coração resolveu transcrever. As mãos tremularam por um breve instante, incertas, e a razão optou pela saída mais lógica para a situação: Bloqueou o aparelho, simples e só, antes de derrubá-lo em algum lugar da mochila e fechá-la de uma vez só, sem esperar para ver sequer se a mensagem seria entregue - sentiu o peito apressado, a respiração falha, os ombros tesos e, então, se permitiu cerrar as pálpebras por um momento para que pudesse tomar para si outra vez o fôlego inesperadamente perdido.
Apertou as pálpebras, os dedos sobre o zíper da mochila e, então, largou a toalha de qualquer jeito para que pudesse se vestir mais uma vez. Tentou se convencer da ideia de que tudo aquilo nada mais era que um passeio passageiro (ignorando todos os desastres que apareceram pelo meio do caminho, claro) e, então, forçou que a consciência se concentrasse unicamente na viagem que teriam pela frente, desviando o foco momentaneamente para o trabalho simples de dobrar pela metade a toalha utilizada e a estender na cadeira, incerta sobre onde deveria deixar e ciente de que ali o lenhador não teria dificuldade de encontrar.
Tudo arrumado, então, encaminhou-se na direção da loira que esperava com toda a paciência que era capaz de acumular. Antes de se retirar, porém, permitiu-se parar a alguns metros da parceira, observando suas feições e analisando a suavidade que tão estranha se destacava em seu rosto, resultado direto do relaxamento privado que haviam tido nas termas há pouco. Estudou, por um ínfimo instante, as feições já tão conhecidas da aspirante à especialista psíquica e, então, o peito subiu e desceu - um sorriso discreto torceu no canto dos lábios e, por fim, se aproximou.
Não segurou sua mão de imediato; As próprias, em realidade, foram na direção das bochechas de Bley, ali se acomodando e aprisionando sua face entre os próprios dígitos - sem pressa, então, encostou a testa contra a da loira, semicerrando as pálpebras e respirando profundamente, permitindo que o fôlego se enlaçasse, tímido, em união ao da moça que acompanhava.
— ...Eu te amo. — Sussurrou, afagando suas bochechas com tranquilidade.
— E não vou deixar que se perca de novo. — Concluiu, no mesmo baixo tom, os orbes acinzentados penetrando nas profundezas dos marinhos opostos - uma promessa sem que se fizesse necessário explicitar o prometer, era isso que era. Se deu ao luxo do silêncio mais uma vez, outra vez, quando os passos retrocederam e as palmas deslizaram por seu rosto, as mãos separando-se do mesmo (logo após apertar-lhe as bochechas, gentil, entre indicadores e polegares) e uma piscadela sendo sua "despedida" do ambiente antes que se voltasse à porta e a destrancasse, seguindo na direção da casa e, daquela vez, permitindo que Shuckle tomasse a dianteira e as rédeas da situação.
Válido dizer que foi em silêncio, inclusive, que se limitou a observar a breve interação entre o lenhador e a contesteira, quando se encontraram mais uma vez. Apesar do odor aparentemente hipnotizando que vinha da panela, bem, não teve interesse em ficar mais tempo para o jantar - a loira fazia questão de partir e, sinceramente, não tinha lá vontade de discutir ou tentar prolongar a estadia, afinal, não era como se tivesse confiança plena e cega em um estranho que nunca tinha visto na vida até aquele momento amaldiçoado. Se limitou, em realidade, a guardar os equipamentos oferecidos anteriormente pelo homem além de, é claro, manter em mãos o diário resgatado pela Rocket.
— ...Desculpe, mas... — Interrompeu, ajeitando uma das madeixas úmidas atrás da orelha.
— Você por acaso teria aquelas barracas portáteis, caso precisemos passar a noite em algum outro lugar? — Pediu, passando a ponta da língua pelo lábio inferior, inquieta.
— Não acho que vá ser um problema muito grande se não tiver, digo, a gente se vira e tudo o mais... Mas só pra facilitar o nosso lado, sabe como é. — Comentou, num encolher de ombros.
— Se não tiver, não tem problema. Provavelmente vamos encontrar um colega nosso mais pra frente, então... — Mentiu, sem piscar ou hesitar. Não queria dar motivo para que o homem tivesse um gancho "válido" para tentar mantê-las ali por mais tempo...
Se Karinna não pretendia demonstrar hostilidade, por qual motivo o faria, huh?
Principalmente que logo se aventurariam pelo deserto solitário - logo,
logo!