Sabe, eu já tinha falado demais. Depois das fotos reveladas, fora fácil passar horas conversando com Matthew sobre sua vida. Sua história de inauguração e seu relatório com a bebida parecia muito mais divertido que o meu e nessas horas eu desejei, do fundo do meu coração, conhecer os amigos do rapaz. A Avengers como um todo me parecia agradável e vê-lo feliz com eles me confortava.
Ora ou outra eu conhecia novos 'fulanos' pelas suas histórias, ouvia do festival de Gray e pedia desculpa pela ausências... no fundo, eu QUERIA estar lá com ele, mas esse querer é retrógrado. Hoje, agora, neste exato momento, eu quero passar todos esses momento com Matthew... inclusive os passados.
Mas eu não tenho como reformar suas memórias perfeitas; o máximo que posso, é reescrevê-las com meus pequenos comentários. Talvez agora, quando ele for contar para alguém que 'não lembra quando chegar no quarto', lembrará de minha piada idiota alegando que, na verdade, fora 'Daisuke que o levou'. Perguntei sobre o teatro, acariciei e pressionei seus ombros quando admitiu temer descobertas sobre Thito, falei sobre meu tempo na fazenda de Robin e conversamos sobre tudo, sem muito pudor. Numa hora qualquer, sentamos num banco, deitei em seu colo e brinquei com os fios de seus cabelos, enrolando-os em meus dedos. Fora isso, até ver a primeira estrela nascer no céu.
Era Vênus. Apontei para o planeta vizinho e esbocei algum discurso tosco, típico de menina apaixonadinha:
- É Afrodite, faz um desejo para ela... mas não conta - Ri, em um sinal claro de timidez. Tirei uma das mãos de sua nuca e a levei até os lábios do rapaz. Desenhei com o indicador uma chave, e deixei bem óbvio que aquilo seria um segredo
- Ela sempre nasce antes do sol se por de vez... Existe um motivo para eu ter dito isso; no fim eu não sou tão cética assim. O acaso sempre me é desconfortável, e eu não acredito que essa 'tendência' seja culpa minha... e nem de ninguém, na verdade. Quando eu tenho certo reconforto, prefiro acreditar que alguém quis assim; ora ou outra eu luto contra o ceticismo e procuro a razão de viver em pequenos detalhes. Vênus era um desses detalhes.
Coincidentemente, Matthew também.
Parece tosco escrever isso; eu não sei o que é bem estar apaixonada. Eu não entendo quase nada sobre o amor humano; salva-guarda a minha família. Ora ou outra eu penso com certa paixão em um ou outro ídolo, mas tudo se esvai muito rápido. Eu não sei me portar, eu não sei o que falar... eu só sei que naquele momento, eu queria pedir a Vênus algo sobre amor. Era idiota, eu sei, mas eu queria aquele espaço para um desejo simples, que não fará com que ela se ocupe demais tentando conceder. Vênus, eu só quero que esse sentimento dure.
Eu não só quero como vou fazê-lo durar, e pra isso te peço ajuda... em formato de oração.
Quando reabri meus olhos, vi Matthew. A partir de agora, cada segundo que passo com ele, seria um presente... cada aproximação, cada suspiro. Há de se esperar que eu tenha vários mais; e quando eu digo 'esperar', subtendo também o 'desejar'. Voltamos a caminhar e, num instante, garoto age num movimento (in)esperado. Antitético, mas real.
Eu não calculava aquilo, mas certamente ansiava por. Matthew Monclar se aproximou de mim, tocou meus lábios com os dele e me forçou a largar suas mãos. Agora seus braços pareciam ocupados passando pelo meu corpo e pela primeira vez eu sentia aquele tipo de toque. Não tinha como evitar; é impossível apenas olhar para o chão. Respirei pelo nariz, forcei minha boca contra a dele e mordi seu lábio num ato um tanto quanto atrevido. Eu não sei te explicar o 'porquê' de ter feito isso, mas desejo não se explica, desejo se faz (quando consensual
#militei).
Estiquei-me com as pontas dos pés, passei meus braços por trás de seu pescoço e repousei meu peso em seus ombros. Meu peito estava colado ao d'ele. Ergui uma das mãos até seus cabelos, passei os dedos por detrás da nuca e apertei bem devagar; pegando para mim um espaço entre suas madeixas. Aos poucos aquele ato se tornava um tanto quanto natural e - naturalmente - ia acabando. Talvez pela simples ideia de 'querer que aquilo se torne comum', eu não desviei o olhar, terminei o beijo ainda fitando seu rosto e tentei procurar um sinal de felicidade em seus trechos, mas ao invés disso encontrei dúvida.
Uma dúvida que encarnara palavras logo mais. Ao ouvi-las, minha boca virou sorriso e meus cabelos moldura:
- Vênus foi rápida dessa vez... - Deixei que o z se prolongasse e ficasse um tempo no ar, só depois de findar seu eco e seu impacto, eu respondi de forma mais plausível
- Matthew Monclar, perguntando nesse tom, você é o que você quiser e eu sou o que você mandar...