Hard Out Here_Lily Allen

Com tanta gente tentando me tranquilizar, era difícil parar de pensar numa possível morte. Se não fosse de fato perigoso, não tomariam tantos cuidados, né?! Engoli a seco, abaixei a cabela e fixei meu olhar em meus pés.
"Esses pés vão ter que pular..." pensei, murmurando pra mim mesma a ideia. Num instante eu me tornei outra; uma melancolia veio me abraçar.

Eu nem consigo fazer isso... eu acho. Para pra pensar, atirar, correr, esquerda e pular. Isso me parece muito com meu sequestro em Galar, mas diferente de Galar, eu to fugindo. Fugindo para me jogar... não são pokémons, são armas de fogo. Se tivessem armas de fogo em Galar, certamente eu também fugiria.

Na verdade, eu devia aprender a fugir. Bem... a mulher disse corta, é minha hora né? Fecha os olhos, concentra e lembra da correria que foi aquele corredor. Aponta com a arma pra frente, morde um dos lábios, deixa o suor pingar e vai.

Corri. Segurei a arma rente a minha perna, corri na direção que me mandaram e me virei rapidamente para atacar; só ai que me toquei do óbvio, eu estava com os olhos fechados. Não há como se mirar com os olhos fechados! Abri um dos olhos e junto deles a boca, segurei um grito fino que sairia com a adrenalina, dando lugar a uma respiração ofegante e cansada. Atirei. Corri para trás de uma pilastra, virei para frente de novo, peguei impulso em uma das paredes e me joguei para a esquerda, caindo no chão.

Bati com força um dos joelhos e entendi: Anabeth realmente não deveria fazer essas cenas. Ao menos o calor-do-momento me anestesiou. Levantei rápido, olhei para trás e vi dois homens. Mirei, atirei e fui para frente, mas quando vi a janela de vidro... ai amigos, não consegui atuar.

Fui obrigada a frear; felizmente freei muito mal. Meu pé parara na ponta, me fazendo continuar e avançar mais um passo contra minha vontade. Num ato-reflexo, coloquei as mãos no vidro para me equilibrar, mas o espelho cinematográfico se esfarelou, me fazendo cair por pura inércia.

É isso: se nada me impediu de continuar, continuei. A verdade era que mesmo 'contra minha vontade' eu acabei caindo daquele andar. Quinze andares ao chão; um grito abafado pela minha torpe lembrança de que aquilo era só um filme. Não é real, não é real, não é real.
Bem, abri os olhos, procurei no ar certa esperança de que o Pidgeot viesse me buscar.

Eu fui... bem? Pra ser bem sincera, eu não tinha entendido que o pokémon sairia de mim, mas felizmente ele fez isso por conta própria. Pokeatores são sensitivos? Graças a deus. Acho que precisa de sensibilidade para entrar nesse ramo.

Bem, eu vou parar de devanear atoa; a verdade era que eu ME CAGUEI. Completamente surtada no princípio. Eu só não gritei porque eu simplesmente não tinha o que gritar; no máximo eu me xingaria pela ideia horrível que eu tive. O problema é que situação mudou; eu já havia passado alguns 'perrengues' voando, mas me jogar sem um pokémon a vista? Isso era inviável para mim.

Quando Pidgeot surgiu e coloriu o cenário com suas plumas beges e salmão, eu abri um sorriso. Espero que a câmera não foque nesse ângulo; se assim fizesse, pegaria uma satisfação. O pokémon me pegou no ar e me pousou no chão. Nesse mesmo instante, eu levei uma das mãos no peito, medi a velocidade do meu coração e suspirei, extremamente aliviada:
- Cara isso foi incrível - Falei, olhando para o alto; buscando Anabeth que provavelmente ficara no hotel, lá em cima. Como ela poderia se dar o luxo de perder essa sensação? - Tem certeza que eu não preciso fazer de novo? - Ri. Era uma brincadeira; mas poderia ser verdade.

Parando pra pensar, acho que perderia a graça se eu ficasse repetindo, né? É melhor que o sentimento seja original, outra ora eu repito em um outro ambiente controlado; Queda-Livre é um esporte radical, né?!
- A próxima cena é de batalha você disse, né? - Sinceramente, acho que nisso eu não preciso atuar - Tem algum pokémon específico para eu usar? Acho que podemos seguir então. Vou tentar fazer essa cena melhor, ficar repetindo isso pode ser bem ruim para os pokémons... Eu ganho ou eu perco?

Apesar de já não ligar mais para a batalha em si, uma batalha encenada era realmente ruim. Seria um tanto quanto incômodo jogar um pokémon em campo apenas para desmaiar. Havia a possibilidade de tirá-lo antes, mas adicionar isso torna justo? Bem, não serei muito chata; estou sendo paga para isso. Seja lá quem me acompanhe nisso, eu posso compensar com um 'desculpas' e mimos depois.

Qualquer tipo de arrependimento saiu de mim ao ouvir aquela assistente. Ao que tudo indicava, ela seria MINHA assistente. Vocês sabem o que isso significa? Eu poderia pedir para brincar de queda-livre de novo se eu quisesse! Ok que gastar vidro cinematográfico assim deve ser um trabalhinho. Não para o fazer, eu sei que ele é bem fácil de produzir, mas o realocar, encaixar e transportar deve ser no mínimo trabalhoso.

No fim dei de ombros: eu já tinha aceitado que esta ideia não seria viável. Apenas ri e levei uma das mãos na cabeça, sinalizando a moça:
- Ah não, to brincando - Meu sorriso era um tanto quanto bobo; me segurava para não rir demais e estragar a maquiagem - Como é seu nome, moça? - Perguntei. Era estranho falar com alguém que eu não sabia como chamar.

Caminhei com ela pelo cenário, tentando passar longe das câmeras e dos fios. Eu não queria atrapalhar a gravação! Ainda que não tivesse mais muitas cenas por ali, quanto menos eu aparecesse melhor... né? Bem, agora meu coração batia mais devagar, eu começava a sentir meu joelho e por um mísero instante esquecia do porquê. Olhava para baixo e voilá, um pequeno rasgado na legging. Rememorei minha queda e disse para mim mesma: aquilo até que ficara bom, né?!
- Eu não só quero massagem, como acho que deveria resolver isso aqui... - Apontei para o meu joelho - Pode ser? Eu vou para o camarim deitar então, acho melhor eu não beber ou comer muito antes de uma cena, mas se tiver comida japonesa eu quero uns Sashimis...

Eu já nem lembrava mais a resposta dela sobre batalhas. Eu batalho? Eu sou treinadora? Ah, sei lá, talvez a carreira de atriz seja pra mim, né? Ouvi dizer que tem uma profissão 'Performer' chegando ai, vai que?! Se tem uma coisa que eu posso me acostumar, é em ser mimada.

De quem foi a péssima ideia de romantizar a massagem? Sinceramente, isso doeu. Isso não só doeu como dói; e eu precisava reclamar. Entre gemidos e contorções, o homem apertava quase todos os meus músculos, me fazendo ora ou outra piorar. O que diabos ele está fazendo? Apertava... apertava... apertava e então folgava. A tática parecia ser o maior morde-e-assopra do mundo; machucar para depois aproveitar o prazer de ter se afastado da dor.

Sei lá, isso parece algo que pessoas com Síndrome de Estocolmo fazem. Eu nunca tinha passado por essa situação, mas sei que nunca passarei de novo! Deus me livre, me jogar de um prédio é muito melhor. Só sei que dei graças a Deus quando ele falou que tinha acabado. Só dei uma esticadinha, uma olhadela desconfiada, caminhei até o meu Sashimizinho e comi o que me pertencia. Sinceramente, eu posso viver assim pra sempre!

Só que sem massagem, por favor.

Tirei as botas, liberei Hati e perguntei se ela queria algo: fazia tempo que não via a pokémon.
- Vocês tem comida para pokémon? Hati ta merecendo ser mimada um pouco com quitutes... - Era uma pergunta um tanto quanto abusada, mas se arranjam massagistas, eles podem arranjar comida pokémon, né?! - Não tem nada que eu precise não, talvez retocar a maquiagem né? Chama alguém pra colocar minha peruca de volta? Acho que não sei colocar isso sozinha...

Eu to abusando? Ah eu devo estar. Se me gravessem, eu provavelmente não acreditaria nisso que estou proclamando... ah, é um só dia de princesa, né?! O que pode dar errado nisso?

Perdi algumas horas passando por aquilo. É engraçado, quando se vive em grupo, se conversa, se ri e se articula algumas relações, a gente acaba esquecendo dos problemas, né? Isso me da certa saudades da vida normal... fofocar é ótimo. Falar sobre a vida dos outros é ótimo; a gente não fica tão mal com a nossa. O problema é que se acostumar com isso deve ser uma droga: imagina quando tem que encarar a si mesma?

Bem, um dia de mal costume não me faria mimada demais... faria? Talvez se Matthew fizesse ser comum nossas saídas eu me tornasse uma pequena princesinha, de um principezinho um tanto quanto bonito. Eu poderia me acostumar com isso? Ou melhor, eu deveria? Acho que isso iria completamente contra quem eu sou atualmente, mas eu estou tão descontente com minha própria identidade que não posso negar; uma mudança cairia bem.

Infelizmente mudanças não caem de árvores. Ouvir toda aquela fofoca me fez crer nisso! Anabeth certamente não seria tão 'mal falada' se pudesse assim evitar. Não faria todas essas coisas prejudiciais se encontrasse Jesus na Goiabeira (nossa ai eu fui longe na referência) toda a semana, intercedendo por ela.

Como não acredito nesse tipo de benção divina, me resta ouvir, rir e até comentar coisas pontuais. Eu evitava perguntas sobre 'quem é esse?' ou 'ele faz o que?', porque já imaginava que iria passar vergonha. Minhas falas se limitavam a 'não acreditoo!' e histórias que sempre começavam com '... conheci um garoto que'. Ora ou outra eu exagerava, mas não tinha problema, né? Eles riam, então tava tudo certo.

Do meu lado... Hati.
- Ei garota, se continuar comendo assim vai passar mal! - Se bem que comida de rico deve ser igual bebida de rico; não da ressaca, não da enjoo, não da nada de ruim.

A canina me olhou com certa confusão. Por um instante ela cogitou que realmente seria melhor parar de comer! Não demorou muito para tirar essa proibição absurda da cabeça, mostrando que não estava nem ai pra situação. Eu ri e apenas confirmei com a cabeça; tanto o seu ato esfomeado quanto o chamado de Bernardete:
- Ok, eu já to pronta, é só chamar... né Hati? - Perguntei a pokémon. Eu não pretendia usá-la, mas me aproximar dela era sempre algo agradável de se fazer.

Antes de sair, tiraria o Lucky Egg e o Power Lens de Freya & Hela, já que poderiam 'estragar' a filmagem. Eu sei, eu sei, eu perco certos status de treinamentos, mas seria melhor se eu realmente levasse a sério a gravação, né?! Não faz sentido encenar uma batalha entra a vida e a morte com itens de treinamento. Se me deixaram ganhar ou perder, ganharei ou perderei direito.

OFF: Não precisa tirar da box/code os itens que tirei :> mas teoricamente não equipei nada ainda, vou esperar pra ver o desafio QQQQQQQQQQ