I don't wanna wake up

Route Ten

O que diabos era aquilo?

Tudo bem se fosse um fantasma alheio passeando por aí — o rapaz até chegara a considerar a  opção, tendo em vista a alta espiritualidade do lugar. De certo, diversos monstrinhos espectrais eram atraídos pela energia de Lavender. Mas ele definitivamente não estava esperando por um horripilante caranguejo com mãos gigantes e disformes. Para ser sincero, ele se assustou mais com aquela visão do que com qualquer outro fantasma que poderia ter visto.

— A-ah! O que é isto?! — perguntou para si mesmo, em tom mais alto. Depois, repreendeu-se, ao lembrar que aquele era um lugar quase que sagrado para os nativos, e que fazer barulho seria uma falta de educação. Isso não o impediu, ainda assim, de derrubar suas coisas quando notou que aquela coisa assustadora queria comer sua insetinha. — Ei! Pare com isso! — protestou, sussurrando, puxando sua abelhinha para perto de si.

No processo, acabou por tirar o item que estava equipado em Cutiefly, e derrubou também algumas coisas em sua mochila; incluindo um de seus TM's, e até mesmo uma Poké Ball, que abriu-se em um raio rubro. Logo, havia um outro monstrinho do coordenador a voar pela torre. — Kyaan! Ah, desculpe. Você poderia segurar isso para mim, um pouco? — pediu, dando ao voador o disco e o item. — Tem uma... coisa... ali, que está fazendo uma bagunça!

Ren estava irritado com o Pokémon selvagem, interrompendo seu momento, fazendo com que derrubasse suas coisas e inclusive, tentando... beliscar sua pequena fadinha. Este último fato fez com que o rapaz ficasse bastante incomodado. — Kyaan, desculpe pedir, mas... Será que você poderia fazer alguma coisa? Nada que faça muita confusão, só algo para que esse bichinho aí não incomode mais pessoas. Algo com luz seria bom... Talvez o Dazzling Gleam? É, acho que dois desse bastariam.

A intenção era simples: fazer com que aquele caranguejo parasse de tentar... comer... os monstrinhos alheios. Com o uso de um movimento luminoso, não haveria o risco de derrubarem mais coisas, fazendo uma grande bagunça. Ele sinceramente não estava com muita cabeça para pensar além disso.

Route Ten

Pobre Kyaan. No calor do momento, o voador fora quem levara a pior. Viera ao campo no pior momento possível, e seu treinador acabara jogando para ele todo o trabalho pesado. Uma vez que o monstrinho havia nocauteado a Crabrawler com razoável facilidade, Ren pôde finalmente ver toda a bagunça que acabara por fazer. De fato, o caranguejo não causaria mais problemas, mas juntamente ao coordenador, havia feito uma grande bagunça.

O rapaz suspirou, olhando para as velas esparramadas pelo chão. Em seguida, aproximou-se de Arallya, que parecia não ligar muito para o que acontecia ali. — Acho que já chega de exploração para você, não? — perguntou gentilmente, recolhendo a Cutiefly para sua Poké Ball. Em seguida, colocou as mãos na cintura, olhando para o Togetic. — Obrigado pela ajuda, Kyaan. Será que posso pedir mais alguns poucos favores, ainda? — questionou logo em seguida, apontando para as velas.

Depois de recolher os papéis de bala que a lutadora fanática por açúcar, organizar as velas e claro, devolver tudo que tinha caído de sua bolsa aos seus devidos lugares, o especialista em feéricos tornou a olhar para a Crabrawler, incerto sobre o que fazer. — E agora...? Não podemos simplesmente deixá-la aí, né? — disse em voz baixa, olhando para o seu monstrinho voador. Suspirou novamente, e então tirou outra esfera bicolor de sua bolsa. — Muito bem então. Depois podemos pensar no que fazer. Seria indelicado largá-la aqui, nocauteada, para depois incomodar mais pessoas.

E com isso, lançava uma Poké Ball no horripilante caranguejo. Tentou manter o otimismo; ao menos. Tivera seu momento para conversar consigo mesmo, ainda que interrompido logo em seguida. Em uma reverência para os altares com velas, pediu desculpas formais, terminou de arrumar tudo. — Obrigado. Eu acho... — disse, sem saber exatamente se haveria algo ou alguém para ouvi-lo. Em seguida, sorriu para seu voador, esticando a mão. — Vamos então? Acho que já perturbamos esse lugar demais.

Route Ten

Droga... Por que será que Ryousuke estava demorando tanto...?

Ren chutou uma pedra que estava em seu caminho, nervoso. O ruivo não costumava desapontá-lo assim. Claro, era fato que ele não costumava manter muito contato — mesmo tendo o número de celular do coordenador —, mas sempre aparecera; quando combinaram de sair juntos. Será que algo tinha acontecido...? Ele sacudiu a cabeça, negando este pensamento. Provavelmente, era algo como o tráfego. Ir para uma outra região já não era simples em circunstâncias usuais, com o desastre no zoológico, os portos e aeroportos deveriam estar sobrecarregados.

Sim, deveria ser isso. Depois de terem passado por tantas coisas no Teatro de Forina, o maior não seria capaz de ludibriar seu amigo, deixando-o sozinho em uma cidade-cemitério, certo...? Enquanto andava, matutava um pouco. Kyaan era uma companhia mais... tranquila de se lidar, quando em comparação com a pequena inseta. Afinal de contas, não saía voando aleatoriamente, enfiando seu nariz em qualquer confusão que encontrar nos mais discretos cantos.

Por exemplo: com a Cutiefly ao seu lado, o coordenador provavelmente estaria ocupado demais, ora perdido em pensamentos e ora observando-a para notar a sorveteria pela qual passaram em frente. Em verdade, o voador até mesmo apontou para lá, caso seu treinador não tivesse visto. Ren cogitou rapidamente a ideia. Logo, chegou a uma conclusão rápida: sorvete é bom. Ainda mais quando se está sozinho, na espera por alguém, sem mais nada para fazer.

Assim sendo, ele entrou no estabelecimento, pedindo um picolé. Pegou um para seu Togetic também, que estava sendo tão prestativo. Saindo dali, pensou mais um pouco em quê poderia fazer para passar o tempo. O clima não estava perfeito para um dia na praia, mas dizem que a brisa marinha ajuda a refrescar a cabeça, não? Parecia ser uma boa ideia. Além disso, poderia ser uma boa experiência. O rapaz conhecia apenas as quentes águas semi-tropicais de Hoenn; talvez colocar os pés na água gelada que banhava Kanto fosse algo inovador e reconfortante.

Decidiu caminhar até a faixa de grãos de sílica então, tirando os sapatos no processo. Queria sentir a areia sob seus pés, a água a subir-lhe os calcanhares. Havia alguns poucos pescadores ali também, lançando suas varas ao mar. Ele riu da cena. Nunca tentara pescar, mas sabia que provavelmente era muito mais difícil do que os mais experientes no assunto deixavam a impressão de ser. Por falar em pesca... Ele nunca dera muita bola àquilo, mas estava quase certo de que ganhara uma vara enquanto fugia de casa, em Petalburg Woods.

Pensar na floresta não era lá muito reconfortante, mas se a senhorinha que acolhera Ren presenteara-o com a vara, talvez fosse bom usá-la. Ele não fazia ideia de como deveria usar aquilo, mas é como dizem: há uma primeira vez para tudo. Pensando assim, aproximou-se da água; ainda não muito distante da cidade, tirando o item de sua bolsa. — O que acha de tentar pescar, Kyaan? Dizem que é possível encontrar coisas interessantes, assim. Talvez devêssemos pedir instruções aos pescadores, mas... Acho que podemos tentar por conta própria, por enquanto.

Route Ten

Antes de mais nada, Ren teve uma ideia. Como estava no mar, talvez fosse uma boa ideia deixar alguns de seus outros monstrinhos apreciarem o mar, também. — Ei, Kyaan. O que acha de mais alguma companhia? Tenho a impressão de que Asherah iria gostar bastante daqui — disse ele, sorrindo para o voador, enquanto pegava mais uma esfera em sua bolsa, liberando sobre a areia fria a pequena Popplio. Ela nascera juntamente com Kyaan, quando este ainda era um Togepi, e tinha uma grande afinidade com a água. Por que não, afinal?

— Ei, pequena! O que acha de passar mais algum tempo na praia? A água não é tão quente como a última praia em que estivemos juntos, mas imaginei que você gostaria de hidratar sua pele um pouquinho — disse então, acariciando a cabeça da pequena foca. Aproveitou que não havia comido todo seu sorvete para dá-lo para a monstrinha também. Passara tanto tempo em sua Poké Ball, merecia alguns poucos mimos. Em seguida, abriu um grande sorriso. — Estávamos pensando em pescar um pouco! Quer assistir?

Asherah assentiu, grata pela atenção do treinador. Ela parecia estar de bom humor, então Ren resolveu alimentar um pouco este sentimento da aquática; deixá-la mais alegre e vaidosa. Tirou uma faixa preta que tinha consigo, e enrolou-a em torno do pescoço da monstrinha, como se fosse um cachecol. Pegou um pequeno disco também, ensinando-a um novo movimento, apenas para ela ter o que fazer enquanto o rapaz fosse pescar. Uma vez que tudo estava certo, lançou uma olhar nervoso ao Togetic, e pegou a vara de pescar.

— Vamos lá, então! — proclamou, jogando o fio o mais longe que conseguia, sem saber ao certo como deveria fazer. Não deveria ser tão difícil assim, certo...? O aprendiz de Lisia esperava apenas que não houvesse nenhum pescador olhando para seu desempenho. Isso seria um tanto quanto... Humilhante. Mas fazia parte, não?