❁ no more nightmares |
Route Ten
Wake Up
Ren estava esperando que seu amigo fosse tentar algo a mais para conquistar o passarinho rosado, então sua sugestão acabou por surpreendê-lo. De uma forma positiva, é claro. O coordenador abria um amplo sorriso, aceitando de bom grado a mão de seu amigo. — Ah... Vamos sim! — respondeu gentilmente, depois de retornar Laurelie para sua esfera. A gramínea havia sofrido alguns danos, e o rapaz não queria que a pequenina sofresse. Poderia continuar tranquilamente apenas com Asherah e Myrsin, que poderiam brincar no caminho.
Ele sugerira irem andar próximos à costa, onde Ren poderia andar descalço na areia fofa e sentir as ondas a molhar seus pés. Ficaria do lado do mar, caso o ruivo não quisesse se molhar, dando para ele mais espaço. Além disso, era também uma boa forma de deixar a pequena Popplio aproveitar a água salgada que nem sempre tinha a oportunidade de sentir sob suas delicadas patinhas. O mar, apesar de muitas vezes ser um pouco... revoltoso, também era comumente um sinônimo de plenitude e tranquilidade. Como o próprio Ren se sentia: volátil, capaz de mudar a qualquer momento. Ele não gostava muito da sensação, mas imaginava que não havia muito o que pudesse fazer.
Ryousuke tinha notado isso. E como não; afinal? O próprio coordenador havia enunciado em voz alta que não estava em seus melhores ares. Mas isso não deixava muito mais fácil de lidar com os sentimentos. Ele suspirou, sem saber exatamente como responder aqueles doces dizeres que ouvia. — Eu fico um pouco confuso, sabe...? São tantas coisas para pensar e processar, tantas coisas para fazer... Acabo me perdendo dentro de mim mesmo, se é que isso é possível — comentou ele, depois de algum tempo matutando. Os próximos comentários do ruivo fizeram com que o especialista em feéricos risse com ironia.
— Forte...? — questionou, como se aquela palavra tivesse um gosto estranho, quando servida por um acompanhamento como ele. — Muitas vezes, eu não consigo ver isso em mim, Ryou... Eu tento, tento de verdade. Só que é difícil manter sempre o otimismo quando você sente que há fantasmas dentro de você, correndo por seu sangue, apenas esperando pelo momento certo para tomar controle — divagou, olhando para as ondas que quebravam-se na areia que pisava. — Sou apenas um garoto covarde que fugiu de casa, e não consegue nem mesmo confiar aos seus Pokémon uma batalha, por medo de que se machuquem... Por conta de meus erros.
— Eu me cansei de me esconder nas sombras. Mas sinto que elas ainda me perseguem. Que estão no meio do turbilhão de meus pensamentos e atitudes, prontas para me pegar. E eu... — ele hesitou, soluçando; quase como se as palavras arranhassem sua garganta. Ele conseguia sentir seus olhos marejarem, mas tentou prosseguir. — ...Eu não consigo nem imaginar o que faria se eu fracassasse. Outra vez. Desculpe, eu acho que estou sendo dramático demais — disse por fim, forçando uma risada e limpando as lágrimas.
Ryousuke mais uma vez conseguiu fazer com que o amigo esboçasse um sorriso; ainda que muito diferente dos que ele costumava mostrar. — Mas acho que eu não mudaria nada. Desde que saí para o mundo, fui capaz de conhecer tantas pessoas, Pokémon, tantos amigos... Agradeço de coração por todos que eu tive a oportunidade de encontrar, sem exceções — ele parou de andar, passando a observar o ruivo diretamente. Então, enlaçou-no em um apertado abraço. — Obrigado, Ryou. Eu amo você. E vou te bater se vier a se atrasar novamente, ouviu?! — disse por fim, rindo um pouco com o que ele dissera.
...A vida é feita de altos e baixos. Como uma montanha russa, ou ainda, uma gota d'água que percorre toda a extensão de uma folha, causando irregularidades, tremendo e desfazendo-se, antes de cair sobre mais uma folha, juntar-se com outras gotas, e assim irem. O problema era que as pessoas às vezes não sabiam o que fazer durante a queda... E quando viam, por não terem agido de forma alguma, chegavam ao chão.
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