Ato 07 — Descanso...

Ainda que o seu gramíneo tivera de cair, a vitória lhe era cedida graças ao poder de fogo do canino rochoso. Os pequenos ganhavam corpo pouco a pouco, e ademais de que passavam alguns perrengues conforme combatiam com adversários muitas vezes ímprobos, davam a volta por cima. Ora, não era como se pouquíssimos combates inseririam o seu trio no patamar de seus mais poderosos que garantiram insígnias em desafios complicados, mas evoluiriam em seu devido tempo.

Com o noturno estatelado inerte no chão e o canídeo já arfando, o louro recolheu-os sem pestanejar, direcionando-os um singelo aceno com a cabeça; por mais simples que fossem, entendiam nas breves interações que tiveram que o kantoniano não era de tantas palavras assim. Despediu-se, enfim, de Tom após um sucinto aperto de mãos, vendo o garoto dirigindo-se às demais arenas, onde, quiçá, expectaria as demais lutas.

Ser a primeira a acabar era um bom sinal; a ruiva que organizara as batalhas que fora apresentada outrora vinha até o louro, inferindo que era o tempo para recuperar os seus dois pequenos para uma eventual segunda batalha — quem sabe até mesmo não repetiria os monstrinhos, afinal, o foco era aquela dupla e mais um, não? Taciturno, Nicholas seguia Eris.

E ali não tinha mais muito do que fazer, a não ser aguardar pela chamada da segunda batalha e recuperar Nuzleaf e Rockruff sua vitalidade e livrá-los daquela estática — mesmo que os recolheu às suas respectivas cápsulas, seguiriam sofrendo com aquela condição infernal. Bom, curá-los era o primeiro passo de todo modo.

Agora, se é que vai ter alguma segunda luta, Nicholas aguardaria, vez ou outra dando uma olhada em seu pokénav somente para passar o tempo.

Fora guiado até uma sala alheia ao campo de batalha; caixas empilhadas, algumas mochilas e poções das mais, digamos, caras, adornavam aquele cômodo de uso dos participantes. Quiçá, ali estavam para não congestionar o trabalho das enfermeiras, médicos e afins. Claro que o louro não delongou em arquear duas, o suficiente para aplicar em seu gramíneo nocauteado e afligido por paralisia como em seu canídeo rochoso, sofrendo apenas com a estática.

Eris comentou de não tentar levar nenhuma consigo, inferindo que fazia contagens de cada um dos itens e tinha as anotações; bom, se tem aviso, tem história, huh?

— Eu não ligo pra essas coisas — sucinto, direto e reto, o austero kantoniano exprimira após borrifar os medicamentos sobre os monstrinhos e logo depois recolhê-los. Deu dois singelos passos para trás, e logo virou as costas para seu canto mais reservados.

E, bem, não é que a ruiva desconfiava de todos que adentravam o cômodo? Arceus, ou realmente teve algum trombadinha que fingiu ser um treinador pra roubar os medicamentos para si ou era apenas paranoia — ou segurança — diante do dinheiro investido em um simples torneio para andarilhos. Bom, fazer o quê...

Não passou muito tempo desde que Nicholas resolveu ficar à mercê apenas de si mesmo para que a ruiva volvesse novamente à sua presença, chamando-o para a sua arena. Calcorreou acompanhado de Eris até uma arena livre, onde sua oponente já estava a aguardá-lo; trajando vestes mais casuais, curtos cabelos negros e postura mais relaxada, apenas mascando um chiclete. Cumprimentou de maneira ainda mais informal, entretanto, não era muito do feitio do louro conversar com os outros — fazia-o, à vezes, mas eram raras as vezes em que a iniciativa vinha de Nico.

Com o auxílio da tecnologia, a ruiva então fazia os sorteios de quem apresentaria os monstrinhos primeiro, revelando o nome da adversária: Shauna. Ademais, Nicholas ergueu uma das suas sobrancelhas quando Eris o chamava por “Nico”; ora, quando foi que ele havia dito o seu nome para a organizadora? Ou ainda assim, era íntima a esse ponto por chamar por um apelido que, hm, pouquíssimas pessoas o faziam? A garota de rubras madeixas tinha um traço de personalidade deveras irreverente, matutou, e não parecia ligar muito para cordialidades, se é que podemos chamar assim.

No fim de tudo, apenas deu de ombros.

Taciturno, tomou para as mãos duas esferas bicolores metálicas, em movimento brusco evocando o feixe alvo enérgico que materializava dois de seus monstrinhos para a arena: dessa vez, era a vez de Makuhita e de Nuzleaf combaterem.

As mãos rapidamente volveram aos bolsos. Semicerrou as pálpebras, estreitando a visão na direção de Shauna, como se tivesse tentando adentrar a casca de carne da garota e chegar aos confins de seu âmago; metáfora e hipérbole para dizer que Nicholas tentaria lê-la analiticamente, claro, e a partir dali, fazer suposições acerca de suas escolhas. Mas isso, de fato, era impreciso demais.

Bom, o que é que a morena realmente faria, huh? Apesar que tentasse, Nicholas sabia que somente teria alguma estratégia no momento em que os monstrinhos fossem revelados. Restava apenas aguardar.

Muita conversa diante de uma batalha pode fazer, de fato, os lutadores desviarem o foco do principal. Diante de uma apresentação tão breve como a de outrora, Nicholas presumiu que a morena assimilava esse aspecto a ele, e tudo isso fora confirmado no momento em que Shauna revelou dois monstrinhos que participariam daquele embate.

O primeiro deles era a forma intermediária de um gramíneo incomum das terras tropicais de Hoenn, e ainda assim, alguns novatos iniciam com aquele monstrinho. Ao seu lado, um canídeo de aparência intimidadora e assim que fora materializado, rosnou para os dois pequenos do louro, forçando-os a dar dois singelos passos para trás, sentindo aquela aura atroz partindo do noturno acinzentado. Ora, assim que fitou aquele pequeno, a mente do louro disparava em seu consciente um emaranhado de emoções, no geral boas, as memórias de seu Mightyena que agora descansa no laboratório de Birch longe daquelas experiências que o traumatizaram.

Sorria, tão simples; cerrou as pálpebras por ínfimos e não delongou em erguer a sua fronte novamente com aquele semblante sisudo que lhe era intrínseco. A morena de cabelos curtos então ordenara aos seus pequenos as ordens que iniciariam um combate, e ao menos era possível tirar vantagem daquela situação, apesar de a habilidade do canídeo cinzento fosse prejudicial.

Ainda assim, Nicholas rapidamente matutou e já tinha os movimentos na ponta da língua.

— Mirem em Mightyena. Makuhita, Fake Out e Brick Break; Nuzleaf, duplo Energy Ball — pediu.

Shauna adotou de precaução, e buscava apenas conquistar certa vantagem de terreno para então iniciar, quem sabe, uma ofensiva poderosa o bastante que atrapalhasse os planos do louro no combate. No entanto, seu movimento fora mais favorável a Nicholas do que a morena imaginara, e com todo o tabuleiro estar de acordo como queria, avançou com torres, bispos e cavalos — quiçá, até mesmo a dama — e tomava o controle das ações.

Com um perigo iminente como o canídeo cinzento de fora do caminho, as coisas ficariam mais fáceis, não? Apesar de Grovyle possuir ataques poderosos e uma habilidade que lhe seria útil ao ser adicionada com o terreno, ainda tinha uma defesa, uh, débil.

Bom, com a vantagem já conquistada, quem sabe não conseguiria um nocaute? Restava apenas tentar.

— Continue com Brick Break em sequência — ordenou ao lutador rechonchudo, logo em seguida voltou-se ao noturno, já aguardando o que lhe seria pedido. — Duplo Dark Pulse.

Diante daquela situação melindrosa, como Shauna se moveria? Ademais, será que o inicial hoenniano tinha alguma carta na manga que poderia virar o jogo? Isso Nicholas veria em pouco tempo.

Claro que não se podia dizer que já estava tudo ganho; Giga Drain era um coelho tirado da cartola e com todos os adicionais, seja de terreno ou habilidade, aumentaria a duração de Grovyle no embate. Soma-se às poucas defesas, seja de Nuzleaf e Makuhita, e a vitalidade sugada era em demasia. No atual cenário, o lutador hoenniano precisava de apenas mais um golpe para ser finalizado, e o noturno ainda jazia de pé apenas pela resistência natural.

Shauna percebeu, e logo ordenou que o ataque inicial fosse no lutador, e muito provavelmente, restaria ao gramíneo decidir o combate — seja com a vitória ou a derrota. Bom, não tinha muito o que fazer, não é?

— Makuhita, Brick Break em sequência — pedia, mesmo sabendo que, quiçá, o lutador rechonchudo nem iria se movimentar naquele turno. — Nuzleaf, ataque com duplo Rock Slide.

Era uma manobra arriscada, de fato; apostar no maior ataque físico de Nuzleaf em detrimento da chance de acerto, contando com a defesa ínfima de Grovyle. Entretanto, se tudo estivesse certo, a vitória poderia ser decretada logo ali.

Isto é se a sorte sorrisse para o seu lado, huh?