011 - MISSIO

– Virtuum... Sim, claro! Já lembrei. – disse o homem, girando nos calcanhares e fazendo um gesto rápido com a grande e tatuada mão – Me siga, por favor. – sinto muito, Karen, mas você previu certo as duas coisas: não dava para tratar desse assunto no meio do saguão da delegacia e, portanto, você vai precisar ficar a sós com o homem.

Sem cerimônia, o investigador passou pela recepção, direto por uma catraca exclusiva para funcionários, indo ao lado dela para abrir um portãozinho que dava passagem para Karen e Arthur cruzarem aquela linha.

O interior da delegacia era intenso. Naquela primeira parte, gabinetes laterais separavam as diversas subdivisões do departamento. Atrás das mesas, cada policial desempenhava sua função e, sentados a frente deles, um e outro civil se sentava para relatar um problema, prestar um depoimento, ou simplesmente aguardar, como era o caso dos algemados. Mas, Zayne não cumpria nenhum desses papéis, por isso só passou reto pelo corredor até encontrar as escadas lá no fim.

A sala do investigador ficava no segundo andar, onde outras salas especiais também estavam, devidamente indicadas com as plaquinhas nas portas. Quando o policial entrasse na sua, um cômodo único e não muito amplo, seguraria a porta aberta para que seus visitantes entrassem, antes de fechá-la e também fechar as persianas em seguida, impedindo que qualquer um visse o que se passava lá dentro.

Um par de poltronas acolchoadas eram liberadas para que a dupla de viajantes sentasse, de frente para o homem que sentou em sua própria cadeira (muito mais confortável, é claro), apoiando os cotovelos em sua mesa bagunçada, cruzando os dedos na altura do queixo, e fitando com seriedade a treinadora diante dele.

– Conte-me o que sabe, senhorita. Não se preocupe, não seremos incomodados nem ouvidos aqui. – resumia e aguardava.

Star City – Manhã | 28ºC – Food

A expressão concentrada e invariável do investigador deixavam uma grande incógnita sobre como ele estava recebendo o relato. Ou seja, não dava para saber se ele julgava que Karen sabia de mais, ou de menos. No fim, os dedos entrelaçados dele só se torceram num ângulo estranho, provocando um estalar múltiplo das juntas, dali ele baixou os braços e deixou as costas descansarem no encosto da poltrona.

– Okay, você sabe o suficiente. Confirmado que seja mesmo uma Virtuum. – suspirou depois de dar uma última olhada no que a garota mostrava em seu Rotom Phone. Zayne puxava uma pasta de arquivos de dentro de uma das gavetas de sua mesa e a coloca diante de Karen – Esse caso tem me tirado o sono há alguns dias. Fazia tempo que Star City não via uma ameaça como essa. Tive até que passar alguns casos aos Rangers, antes que a cidade começasse a se tornar uma bola de neve de caos. – tinha mesmo uma nota de lamento e cansaço na voz grave do homem enquanto ele comentava – É um caso nebuloso, realmente. O problema por trás dele? Meus instintos dizem que ainda estamos longe de descobrir por completo. Estamos só nadando na beirada.

Voltando a se curvar em direção a mesa, Zayne só precisou de uma mão e um gesto para virar todo o monitor de seu computador num ângulo que Karen pudesse ver. Ali, uma versão digital do mapa de Star City estava aberta, tomando toda a tela, quase completamente rabiscado de linhas, anotações e ícones.

– Desde que soubemos que esse grupo suspeito poderia vir se reunir aqui, reforçamos a patrulha em algumas áreas da cidade, pra ver se conseguimos alguma coisa. Aparentemente, sim. – apontou a área mais da periferia, onde círculos vermelhos marcavam determinadas áreas – Uma movimentação suspeita começou a acontecer nessas áreas. Suspeita porque se tratam de lugares abandonados, basicamente. Mas um grupo de pessoas vem circulando por aí, apesar de nunca conseguirmos pegar ninguém em flagrante... – numa outra "mãozada", abriu a pasta de arquivos, mostrando à Ranger pouco mais de uma dúzia de imagens reveladas.

"Foto" é uma palavra meio forte para o que pareciam prints impressos de uma filmagem. Então, nem todas as imagens eram nítidas o suficiente, mas dava pra ver, no mínimo, a silhueta de pessoas em duplas ou trios, caminhando por lugares claramente abandonados. Nas com uma melhor resolução, era possível visualizar algo das feições de alguma das pessoas. Por mais aérea que Karen estivesse com tanta informação, algo em sua mente provavelmente se inquietaria ao ver algumas das fotos, em particular as que uma certa figura feminina de cabelos ruivos aparecia. Ainda que fosse difícil ver por completo e de frente o rosto da moça, aquela sensação de familiaridade persistiria... Quem poderia ser?

> Imagem ilustrativa da personagem familiar em questão <

Star City – Manhã | 28ºC – Food

Zayne bateu com o punho fechado na palma da mão assim que Karen fez a constatação da familiaridade. Era como se tivesse comemorando o que devia ser um novo passo para dentro do caso, tanto que era quase possível ouvir as engrenagens trabalhando na cabeça do investigador, que imediatamente se curvou para as fotos, para ver o mesmo que a garota via.

– Você tem o nome dela? Ou uma foto melhor em que dê pra ver seu rosto de frente? – a mão livre ia rápido para o mouse do computador, de modo que o homem pudesse minimizar o mapa e abrir outro aplicativo – É complicado dizer se é ela ou não, por hora. Mas, tente ficar calma. É muito possível que seja uma das tais duplicatas. Pelo que recebi de Viridian, não houve casos de desaparecimento de pessoas. A não ser que... A não ser que a verdadeira 'ela' esteja trabalhando com esse grupo. – Zayne inclinava a cabeça levemente para o lado, como se tivesse ponderando aquela possibilidade pela primeira vez, mas essa expressão logo sumiu da face dele, voltando à seriedade – Se tiver um nome, ou uma foto melhor, consigo ao menos ver se há algum registro recente da sua... Conhecida.

Todos são inocentes, até que se prove o contrário. É o que diz a... Lei? Algo assim. O que importa agora é que Karen, sem querer, acabava inserindo uma nova peça nesse quebra-cabeça do crime. Quer aquela pessoa fosse mesmo sua colega de Sociedade, quer não, essa simples informação parecia ser capaz de desbloquear alguns caminhos na investigação.

Star City – Manhã | 28ºC – Food

– Natalie, Natalie, Natalie... – resmungava Zayne, se arrumando em sua cadeira e focando na tela do computador com um entusiasmo quase obsessivo – Chase... Com Ch? Z ou S? – questionava para Karen, olhando também para a tela do Rotom Phone dela na ânsia de ter as respostas o mais depressa possível – Pode mandar essa foto dela pra mim, por favor? – pedia, empurrando para a garota um carimbo.

"Carimbo?", você deve estar se perguntando. "Sim", eu lhe respondo, porque no carimbo do investigador estaria seu telefone de contato que também era o PokéZap, por onde Okido podia se comunicar com ele e enviar a foto - isso é, se ela quisesse, pois vai que seu senso a direciona para uma ação mais conservadora sobre os dados de uma colega?!

– Acho que você pode mesmo ficar tranquila. Se a nossa rede de informações estiver certa, sua amiga está há quilômetros daqui. Pelo menos, o último registro que temos é da passagem dela pelo Centro Pokémon de Azalea... – ele mesmo começava a ponderar as coisas, ainda naquela perspectiva de que "tudo é possível"; era visível o quanto ele estava ansioso por respostas que ainda não vinham com clareza – Mas, tá ótimo, tá ótimo. Você já está ajudando muito. – Zayne se pôs de pé e apertou uma sequência de botões no teclado que simplesmente apagou a tela do PC por completo – Pode me acompanhar, senhorita? Temos uma investigação pra tocar! – daí, sairia porta a fora, para o corredor da delegacia, mas no sentido oposto ao das escadas/entrada de onde vieram. Iam a um novo lugar.

Star City – Manhã | 28ºC – Food

O corredor os levaria até uma nova sala, dessa vez sem placas de identificação, o que era justificado pelo fato de ela não pertencer a nenhum oficial em particular, mas uma equipe inteira. Aquele espaço era maior que a sala de Zayne, para poder comportar as quatro pessoas que lá trabalhavam, suas respectivas escrivaninhas e computadores, principalmente.

– Se ainda não renovaram o café, essa é a hora. Temos um trabalho a fazer, pessoal. – Zayne anunciava no instante em que abria a porta e entrava, sem cerimônia – Ponha nossas câmeras do caso Refração em ação. – apontou para um senhor calvo no fim da sala, que se apressou a cumprir a ordem junto ao seu computador – Amanda, finalmente temos um rosto para procurar na multidão. Repasse para nossos agentes de campo. Alerta 2. – pedia a uma moça, entregando a ela seu telefone com a foto de Natalie aberta.

Provavelmente a moça teria visto também a mensagem de cumprimento de Karen, junto da foto. Ao contrário de Asako que não demonstrou nada, a outra policial deu um sorrisinho antes de se focar no próprio computador.

– Preciso que você faça o cadastro da senhorita Karen, por favor. Completo. Ela vai nos auxiliar nos serviços daqui em diante. – o investigador apontava para a mulher que ficava na mesa próxima à porta.

Com um riso simpático, a policial se aproximou de Karen e, com um gesto, pediu que a garota se aproximasse de sua mesa, onde o tal cadastro seria efetuado. A mulher tinha um cabelo cacheado, castanho muito escuro, preso num rabo de cavalo que ainda era comprido o suficiente para atingir a altura de seus ombros. Ela retirava com cuidado um Meowth que dormia sobre sua cadeira e, depois de sentar, colocava o Pokémon em seu colo.

– Bom dia. Não se acanhe com a loucura das coisas por aqui. Asako sempre fica assim quando tá empolgado, ainda mais se tiver uma pista quente de algo. Mas, bem... Vamos lá. Você é uma treinadora, né?! Posso pegar suas informações rapidinho se me mostrar seu Rotom Phone. Ah! A propósito, pode me chamar de Camila.

Star City – Manhã | 28ºC – Food