011 - MISSIO

Definitivamente aquilo estava rumando para uma situação mais perigosa agora que havia até mesmo uma falsa Karen na cena! Se estou falando da espiã ou da Rocket? Nem eu sei mais. Fora as outras infinitas e arriscadas possibilidades. Se, de repente, eles tivessem algum tipo de lista de presença para chamar? E se tivessem exatamente o número de kits correspondente à quantidade de agentes? Alguém poderia ficar sem seu kit e então isso causaria suspeitas. Enfim, inúmeras possibilidades.

Por enquanto, Karen estava tentando se livrar de um impasse. A boina caiu sobre os olhos e a cabeça ficou levemente inclinada para baixo. Ela mirou na direção de um outro Rocket entregador - um de rosto desconhecido, de preferência - e traçou seu caminho até ele. Reto, rápido, sem vacilar; de um jeito que só o nervosismo e a adrenalina poderiam proporcionar a uma pessoa. Bem, se existe alguma divindade aqui envolvida, agradeça a ela por esse pequeno sucesso. A Falsa Karen foi devidamente evitada e, agora, uma das mãos da Verdadeira Karen carregava aquele saquinho, levemente pesado por conta das três frutas lá dentro, e volumoso pelas penas fofinhas.


Depois daquela tensão, dava para relaxar um pouco. Mas só um pouco pois, ao mudar de posição no ambiente, nossa espiã acabou se aproximando dos pequenos grupos de Rainbow Rockets espalhados. Um desses grupos, ela pode entreouvir na conversa, combinava de se encontrar posteriormente numa tal de Rua Taurus; o rapaz que falava, inclusive, gargalhava dizendo que levaria um saco cheio de pão velho para lá (?).

– Rainbow Rockets. – mais uma vez o líder retomou a palavra, quebrando as conversas. Dali em diante ele não deu nenhuma nova informação, a não ser as ênfases necessárias para que cada agente terminasse suas missões, que seguiam importantes mesmo com a conclusão dos planos principais. Também, reforçou a orientação de sigilo e cuidado com suas identidades.

No fim de tudo, um sonoro "Rainbow Rockets, dispensados." era a deixa que Karen queria para poder sair daquele lugar. Mas, mesmo para isso, ela precisaria ser esperta: se apressaria e tentaria ser uma das primeiras a sair pela porta principal? Ficaria para trás e tentaria ser uma das últimas, quando não houvesse risco de cruzar com ninguém na porta? Ou, ainda, encontraria uma outra saída daquelas entre suas rotas de fuga?

Star City – Noite | 26ºC – Food

Adrenalina? Check. Pressa? Check. Olhar para o chão? Check. Algumas pessoas sendo esbarradas por acidente? Check. A garota até pode ouvir um "calma, pô!" dito quando seu braço esbarrou no cotovelo de alguém. Nesse caso, foi até melhor andar cabisbaixa, porque vai que ela reconhece mais alguns rostos, não é?! Ainda mais assim tão de perto.

Vou só me aproveitar aqui das intenções mais profundas de Karen em sair logo dali e traçar seu trajeto para fora do velho galpão, cruzando a estrada mal acabada, se embrenhando no mato e desparecendo na mata mal iluminada. Se alguém a notou entrar ali ou a seguiu? Ela mesma não saberia dizer, pois nada notou. O único sinal de que os outros Rainbow Rockets partiam eram sons de seus veículos (motos e carros) ou Pokémon. Ah, Karen também não veria, mas eles deixavam o lugar em grupos, como uma medida de segurança para não serem pegos em emboscadas. Sendo assim, fica por conta do mistério se alguém notou a moça solitária ou não.

Importante é que, ainda nesse clima automático e quase emergencial, Okido refez seu caminho. Ela nem precisou ter treinado aquilo antes, simplesmente foi cruzando por detrás das árvores, até enxergar lá longe a luz do poste na rua onde estava seu ponto de encontro. O carro já estava lá, com as luzes apagadas, quieto e discreto, estacionado no meio fio. Estava segura numa fuga bem sucedida, aparentemente.

– Bom trabalho, senhorita Okido. – talvez a voz grave e repentina de Zayne em seu ouvido a assustasse, quebrando tanto silêncio e tensão. Mas, também podia ser mais um sinônimo de sua segurança; lembrança de que estava sendo vigiada e guardada pelos profissionais.

Star City – Noite | 26ºC – Food

Alívio, uma palavra que resume bem esses instantes finais. A sensação só se potencializou quando Karen relaxou o corpo dentro do carro. Vale ressaltar: era exatamente o mesmo que a tinha deixado lá, com o mesmo senhorzinho motorista, tudo pensado para dar essa segurança de que as coisas iam bem. Até o caminho de volta foi essencialmente o mesmo, com exceção de uma rua ou outra que foi alterada por ser de mão única. Mas, tanto faz, talvez a moça nem estivesse tão atenta a isso já que tinha um excesso de informações e emoções para processar.

A viagem silenciosa se encerrou mais uma vez na delegacia de polícia, naquela salinha compartilhada e cheia dos computadores. Estavam todos lá e um pouco mais de pessoas. Inclusive, ao abrir a porta Karen poderia se assustar ao reconhecer rostos que tinha visto na reunião dos Rainbow Rockets. Pior, nem mesmo teriam sido cópias, pois vestiam-se igual às pessoas que ela viu lá. Os dois homens se entreolharam com Zayne assim que a treinadora apareceu.

– Senhorita! Seja bem vinda de volta. Antes de tudo, fico grato pelo sua ajuda e já explico a cena esquisita: estes dois também são espiões que trabalham conosco e estiveram lá. – daí, os rapazes pareceram relaxar um pouco, um deles até cumprimentou Karen com um aceno – Nós não podíamos deixar que soubessem uns da existência dos outros, pela própria segurança do sigilo e da infiltração. Enfim, entre, sente. Alguém traga algo para ela, por favor. Ainda temos pequenas coisas para debater essa noite...

Dito e feito, Camila obviamente seria a pessoa solícita que ofereceria uma bebida e algum aperitivo à Karen. A conversa ao longo da noite teria aquele teor de apreensão, porque as informações que tinham coletado eram ao mesmo tempo graves e quase emergenciais para serem resolvidas. Um suposto portal interdimensional pronto para ser usado. Isso era, no mínimo, cientificamente possível? Pelo sim, pelo não, concordaram que era melhor não duvidar.

Um dos outros espiões cederia os seus "presentes" para análise em laboratórios periciais, só para fins oficiais; os outros poderiam manter o que tinham recebido, sem problemas. As informações coletadas nos áudios e vídeos seriam repassadas para outros níveis de autoridades, para que pudessem lidar com o caso. A Karen caberia apenas um relatório simples daquilo que viu, incluindo rostos familiares que ela pudesse ter avistado entre as tais cópias. Agora, fica a pergunta, ela diria a quem pertenciam aqueles rostos? Principalmente, ela contaria que viu a "si própria" agindo entre eles?

Enfim, fica aí o questionamento. Mais importante que isso, provavelmente, seriam as palavras finais de Zayne:

– Mais uma vez, muito obrigado pelos serviços prestados, pessoal. Principalmente a senhorita Okido. Se não fosse pelas informações que elas nos trouxe, talvez tivéssemos perdido esse evento tão essencial. Enfim, Star City e talvez o próprio mundo ficará em débito com seu apoio. Daqui em diante, nós cuidaremos do que for necessário, mas esse caso já extrapolou as capacidades desta humilde delegacia. Sendo assim, ficamos à disposição para ajudá-la no que mais precisar, senhorita. Mas, para todos os fins, considere sua missão cumprida. Heh.

Star City – Noite | 26ºC – Food

Não haveriam cerimônias para encerrar aquilo, senão a conclusão de algumas burocracias, agradecimentos repetidos pela parte de Zayne e, no fim, um abraço gentil de Camila, o coração daquela equipe. Karen merecia uma medalhinha por serviços prestados? Merecia. E o investigador disse que ela receberia uma, que ia ser enviada depois, ou ficaria ali no pequeno mural da cidade. Algo a ser acertado em outro momento, com mais calma.

De fato, o trabalho de Karen em Star City ainda não tinha acabado e, infelizmente, seu outro compromisso também envolvia um certo combate ao crime. Pensando pelo lado positivo, pelo menos esse não dava a entender que ela mergulharia quase sozinha no problema, até porque os Rangers costumam ter uma divisão hierárquica bem mais definida e funcional.

Em todo caso, another day, another mission. Uma boa noite de descanso no quartinho do Centro Pokémon de Star City seria o primeiro passo para uma recuperação, que daria o salto seguinte após um café da manhã farto também disponível no mesmo lugar. É claro que talvez, só talvez, Arthur tivesse resmungado uma vez ou outra e andasse meio emburrado pelo "desaforo" de Karen em trancá-lo na Pokébola noite passada. Mas, suponho que isso era algo contornável, a não ser que a garota ousasse fazer de novo, agora que precisariam pegar o ônibus para ir, mais uma vez, na direção daquela delegacia... Calma, calma. Hoje visitaremos outro pessoal. Um que gosta de se vestir de laranja e usar trajes radicais.

Star City – Manhã | 28ºC – Food

O Ranger Pad mostrava dados básicos sobre a missão, que contavam de uma incomum reunião de motoqueiros em Star City e sua "competição" esquisita, que terminava num perdedor comendo um pão velho e sujo de toda sorte de coisas que uma roda de moto em movimento pode lançar sobre a comida. Se você acha seu bem cuidado Arthur se lambendo algo nojento, o que me diz disso?!

Vendo por um lado positivo, realmente aquela missão parecia ser um pouco mais leve do que a anterior pois, no texto, dizia que o recrutamento de Rangers era sobretudo para ajudar na patrulha das ruas, numa tentativa de coibir essa prática. Em outras palavras, parece que só fariam o serviço de guardinhas circulando por aí só para "marcarem território".

Agora, vale mencionar alguns detalhes que podem trazer à tona lembranças dos últimos dias para Karen. O primeiro, mencionado no próprio texto da missão, era uma nova moda na cidade, nesse "visual motoqueiro", incluindo motos como veículos muito utilizados. Até os tais Rainbow Rockets pareciam ter entrado nisso! Por falar neles, eis aí mais uma lembrança da noite anterior: os Rockets motoqueiros que marcavam um certo encontro numa certa rua de Star City... Será que tinha a ver com isso? Qual o nome da rua mesmo?

Star City – Manhã | 28ºC – Food