011 - MISSIO

– Perfeito! Sabia que podia contar com a senhorita! – óbvio que ele não iria insistir demais, vai que Karen desiste? – Eu lhe asseguro que vai ser tudo tranquilo e vai dar certo. Bem, eu preciso cuidar dos preparativos. Camila vai lhe ajudar a se preparar. Até mais.

Com Zayne fora de cena, Camila logo veio ao encontro de nossa protagonista. Devia ser algum tipo de estratégia daquela equipe botar a pessoa mais carismática para lidar com a pessoa mais inexperiente naquele tipo de situação, e também a que mais iria se expor.

– Vamos lá, temos um trabalhinho daqui até amanhã! – começou a moça, conduzindo Karen até sua mesa – Primeiro, muito obrigada! Era quase impossível conseguirmos um flagrante desses, até termos as informações que você trouxe. Eles andavam se encontrando em vários lugares diferentes, sempre alternando entre pontos abandonados da cidade. Se não tivéssemos uma pessoa específica pra seguir, talvez demorássemos dias pra saber onde era o próximo ponto e plantar escutas lá... Enfim, sua ajuda foi essencial! Agora temos a chance até de ir mais além do que imaginávamos com essa reunião marcada. – tinha uma certa empolgação na voz de Camila, mas também alívio pelo progresso repentino que tiveram – Bem, temos que estudar os espaços com as imagens que temos, definir onde você entra, onde vão estar as equipes de apoio pra sua retirada segura, nossos códigos, seu disfarce... Está pronta?

A pergunta era retórica, praticamente. Os trabalhos começariam e não seriam poucos. Como apontado pela policial, elas passaram o fim de tarde e boa parte do começo da noite estudando as imagens externas e internas do lugar onde o tal encontro aconteceria. Karen veria exatamente onde Pokémon voadores, de resgate, estariam posicionados para uma fuga de emergência. Policiais de campo também ficariam em outras áreas, para dar cobertura se necessário.

Antes de avançarem mais na noite, Camila levaria a jovem Ranger para um "passeio" no shopping da cidade. Lá elas providenciariam as roupas do disfarce: peças confortáveis e práticas de usar, discretas, em cores escura (tons de cinza de preferência), com uma boina adequada o suficiente para "sombrear" os olhos da espiã e torná-la quase invisível nas sombras. Ali também as duas comeriam algo equivalente a um jantar. Ah, claro, vale ressaltar que foi tudo por conta da própria delegacia; era o mínimo!

No fim da noite, Karen poderia voltar para o Centro Pokémon e descansar, para no dia seguinte seguir com os preparativos. Imagino que a noite não seria tão fácil, repleta de tensões e expectativas. Importante é que a Virtuum trabalhasse sua própria segurança pois, pelo menos, estava realmente bem amparada pela força-tarefa dos policiais de Star City.

Na tarde do dia seguinte... – Tudo certo? Tem alguma dúvida? – Camila perguntaria quando faltassem algumas horas para a missão de espionagem finalmente ter início.

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– Ah-haha, justo! Vamos repassar as coisas aqui rapidinho então.

Prestativa e paciente a policial se encaminhou com Karen de volta àquela sala, dessa vez fazendo mais de um trajeto entre seu próprio computador e os monitores onde as imagens do lugar alvo estavam expostas para serem estudadas. Um mapa também tinha sido montado esquematizando tudo e serviria de auxílio para todo mundo. Nele estariam marcados, em pontos de cores diferentes e com a devida legenda, quais seriam as rotas de fuga, os mecanismos de emergência e, principalmente, o ponto de "inserção" e "remoção" de Karen na futura cena: ficava na mata a alguns metros daquele galpão abandonado, num trecho comumente usado pela população rural durante os períodos de sol.

– Te deixaremos de carro aqui nesse ponto em azul e é pra ele que você deve voltar quando tudo acabar. Estaremos de olho nas câmeras pra sabermos quando o momento chegar. A sinalização lá, no lugar, é essa velha placa de ônibus aqui. – dizia mostrando uma foto do ambiente, que se resumia a uma estrada de asfalto bem gasto e muito mato nos arredores – A princípio nós nunca os vimos [os suspeitos] passarem por aqui, já que eles saem da cidade, então não há de ter ninguém. Daí, você caminha pela mata mesmo até o galpão, pois como alguns circulam de moto pelo perímetro, você pode ser vista se andar pela estrada. Mas, não tem erro pra ir de um ponto a outro, só seguir a estrada. Também, deve ter iluminação lá, hoje, pelo que suspeitamos. – o trajeto em questão, dava para ver no mapa, era uma reta simples, que podia ser seguida na parte arborizada sem se distanciar do caminho aberto.

– Uma vez lá dentro... Bem, você só precisa ser o mais discreta possível. Procure uma sombra, um canto levemente afastado dos demais, de preferência, fique de costas pra alguma parede, isso vai te dar segurança de que ninguém se aproxime por trás sem que você veja. A propósito, a ideia é que ninguém lhe aborde ou tente lhe reconhecer. Inclusive, se ver que é possível ou achar necessário, tente ficar próxima de uma saída ou destas grandes janelas aqui. – numa foto externa do galpão, Camila apontava para os janelões do lugar – A última vistoria feita por lá alega que elas não estão trancadas, então podem ser um meio de você sair. – uma pausa curta seria o suficiente para a moça relembrar mentalmente as informações seguintes.

– Você vai tá equipada com uma escuta na orelha, que vamos cobrir com seu cabelo e manteremos contato constante. O microfone vai entre seu peito, como lhe disse quando escolhemos aquela blusa ontem. Assim saberemos quando você estiver voltando pro ponto de encontro, ou se precisar de resgate ou algo... Aqui entre nós... – nessa parte, a mulher se aproveitou de a sala estar mais vazia para sussurrar algo – Tem um chip localizador em algum lugar da sua roupa, pra gente saber exatamente onde você tá. – e então voltava ao normal depois da pequena confissão – No mais, já sabe: botão de pânico no cinto, pílula de vômito no bolso esquerdo. Heh... Espero que você não precise desse último.

A menção daqueles dois últimos itens fariam Karen lembrar da conversa da noite anterior. A tal pílula, apesar do nome, não faria a Okido vomitar de verdade, mas sim produzir um bom volume de uma substância gosmenta e esverdeada na boca, quando entrasse em contato com sua saliva. Soava meio tosco, mas evidentemente era um mecanismo emergencial para o caso de algum dos suspeitos abordá-la para uma conversa a qual ela não gostaria de ter - e nem poderia, já que não conhecia basicamente nada dos planos dos Usurpadores.

O botão de pânico, por sua vez, era basicamente um dos últimos recursos para a jovem espiã. Uma vez que o acionasse, uma viatura "abandonada" na floresta acionaria suas luzes e sua sirene. A ideia disso era causar pânico nos suspeitos, que provavelmente correriam em fuga, permitindo que Karen também o fizesse, dispersando a multidão. Na pior das hipóteses, os agentes espalhados pelos arredores iriam pessoalmente até o local fazer tal dispersão.

– Então. Esqueci de alguma coisa? Se tiver uma dúvida, é sinal de que eu esqueci! – finalizava com carisma a policial.

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Era chegada a hora do plano ser posto em prática. Sem mais adições. Além da preparação ofertada pelos policiais, Karen teria apoio do seu time pessoal, que levava consigo naquela missão mirabolante que sua Sociedade indiretamente a colocou. Assim, a Ranger foi colocada num carro discreto mais uma vez, porém nesse início de noite eles percorreram um caminho diferente. Ah, e não era Zayne na direção, tampouco Camila. A delegacia inteira tinha sido mobilizada para aquela missão - e já não eram muitas pessoas naquela cidade pequena -, então naturalmente aquele era outro dos policiais envolvidos.

Minutos antes das oito da noite, pontualmente, o velho policial sai um pouco da estrada e, no ponto marcado pela placa de ônibus, deixou Karen com um gentil "boa sorte". Dali em diante, a garota estaria por conta própria. Daqui, até certo ponto, tomarei a liberdade de adiantar alguns passos até o início de nosso clímax.

Não houve, mesmo, nenhum contratempo para Okido no caminho que precisou fazer até o galpão abandona, que essa noite estava mesmo cheio de luzes lá dentro, dava para ver pelas grandes janelas de vidro. Não havia som nos arredores, exceto as ocasionais motocicletas barulhentas que se encaminhavam para lá também. Na mata atrás da garota, um Fearow resmungou pelo barulho; mas não era dos selvagens e sim uma das inúmeras "aves de emergência" para a fuga, então tudo bem. Assim que estivesse próxima o suficiente do galpão, pronta para entrar, uma voz familiar falaria no dispositivo auricular que Karen usava.

– Espere um pouco. Tem duas pessoas se preparando pra entrar. – era Camila quem se comunicava, provavelmente antecipando movimentos e os orientando com base no que via pelas câmeras – Ao meu comando, você entre atrás deles. Siga mantendo uma distância segura pra não te abordarem... Okay, pode ir.

Ao dar seus passos para a estrada livre, Karen os viu: dois rapazes desconhecidos, vestidos com o mesmo padrão de roupas escuras e discretas, conversando distraidamente enquanto se dirigiam para dentro do galpão. Seguindo os dois no que julgou ser a melhor distância para não os perder de vista, nossa protagonista entrou lá também.

Abandonado, como o próprio adjetivo já previa, o galpão tinha um espaço considerável, além do aspecto padrão de um lugar que antes fora uma indústria. Karen já tinha visto aquilo ali antes, através de fotos. Agora, a única diferença é que ele estava bem iluminado e ocupado com quase meia dúzia de pessoas. No alto de uma cabine azul, em destaque no centro do galpão, um homem de meia idade, sério, conversava com ninguém mais, ninguém menos, que a Usurpadora Natalie. [imagem ilustrativa]

– Somos os Rainbow Rockets, o que você esperava? – um alguém aleatório comentava com certa altivez na voz, deixando o nome do grupo ecoar levemente no espaço amplo. Bem, até o momento, ninguém tinha notado nossa espiã que, por hora, precisa saber o que vai fazer para continuar assim, indetectável.

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Em seu reconhecimento de área, Karen pode constatar que os elementos estudados estavam lá: as paredes estratégicas, as áreas menos iluminadas, os janelões. A propósito, deu para ver que as janelas da metade anterior do galpão, a parte mais próxima da rua, por onde Karen entrou, permaneciam fechadas, mas as janelas da metade de trás do galpão, que davam para uma grande área de mato alto, tinham sido parcialmente abertas naquela noite. Bem, não é porque são criminosos meio desatentos que não terão suas próprias rotas de fuga, não é?!

Dali em diante as coisas permaneceram mornas. Mais gente foi se acumulando no lugar, alguns se reunindo em pequenos grupos tagarelas, outros se isolando em cantos e aguardando. Inclusive, talvez tenham sido essas pessoas que ajudaram no disfarce de Karen, pois de certo modo normalizavam o isolamento entre os membros daquela organização. Enfim, como não havia nada para acontecer além da tensão - nem mesmo novas instruções da polícia pelo fone -, saltamos para a parte em que o suposto responsável pela reunião finalmente se pronunciou.

– Boa noite, Rainbow Rockets. – chamou a atenção o homem lá em cima da máquina azul, conseguindo com sucesso o feito – Como sabem, tivemos uma pequena perda até chegarmos neste ponto, mas fico satisfeito em nos ver ainda em um bom número. Por isso, não vamos nos demorar, pois cada minuto é precioso e também um risco. – por falar em números, àquela altura tinham pelo menos vinte pessoas ali reunidas – Dito isso, é com orgulho que digo que nosso plano avançou! E que finalmente teremos o que tanto batalhamos para ter! – houve um agitação comum ali, com pessoas aplaudindo, gritando "vivas", comemorando o anúncio – Comemorem, comemorem. Pois nosso portal dimensional finalmente está pronto pra funcionar...

Mesmo de longe dava para ver um sorriso maníaco se estampando no rosto do homem lá em cima, e no da Falsa Natalie ao lado dele. No ouvido, Karen escutaria um "Meu Deus..." incrédulo, sussurrado, que não saberia dizer se era seu próprio inconsciente se manifestando, ou Camila que esquecera o microfone aberto. Mas se tanta informação já não fosse o suficiente, um outro rosto familiar à Karen entraria em foco, bem ali ao lado dela, aplaudindo e vibrando. Cabelos curtos, cor de rosa, porte pequeno e magro, elegante. Sua face não só já tinha sido vista pessoalmente, mas também estampando competições artísticas diversas, famosos Contests... Era Ren Hughes! [imagem ilustrativa] Ou talvez não...

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Definitivamente as coisas não faziam tanto sentido para Karen, principalmente porque havia muita coisa acontecendo e ela mal tinha absorvido a realidade das tais duplicatas de outras pessoas. Até isso, inclusive, era cercado de alguma incerteza: aquele era mesmo uma cópia ou a pessoa real?! Enfim, uma confusão só e que... Bem, ainda parecia longe de acabar.

– É isso, meus companheiros. – retomou a fala e a ordem o figurão lá em cima – Com os preparativos para o portal prontos, agora é hora de seguir nosso plano. Como combinado antes, vamos começar a nos deslocar até o Mt. Silver. Lá, deveremos aguardar a chegada de nossos líderes e, finalmente, por em prática nossa invasão! – houveram umas vibrações breves aqui, um burburinho e conversas paralelas, até que o homem pedisse silêncio para ter a palavra uma vez mais – Temos então uma semana até nosso próximo encontro. Por isso, preparem-se. Continuem com suas missões e encontrem-nos no Mt. Silver até lá. Uma semana! Como uma pequena recompensa e suporte para sua preparação, aqui vão alguns recursos. Façam bom uso.

Houve uma pequena movimentação, de repente. Do "pé" daquela cabine azul, alguns dos Rainbow Rockets começaram a circular entre a multidão. Carregavam consigo uma larga bolsa, de onde tiravam pequenos "kits" e entregavam aos seus companheiros, um a um. Pela embalagem transparente dava para ver os itens contidos ali: 4 Feathers de Stats (2 vermelhas e 2 azuis), um par de frutas verdes (Lum Berries) e uma amarela (Sitrus Berry). É óbvio que, se não tentasse nenhum tipo de fuga ou escape, Karen seria alcançada por um dos Rockets e receberia um desses kits.

Coloco essa questão em possibilidade apenas pelo seguinte motivo: entre os Rainbow Rockets que distribuíam os kits havia uma em particular que inevitavelmente chamaria a atenção de Karen. Ela já viu esse tipo físico e esse rosto muitas e muitas vezes ao longo de sua vida, sobretudo quando refletidos num espelho... É. Não tinha como não reconhecer a si própria ali, replicada! Mesma altura, mesmo porte físico, cor do cabelo. Se tivesse que apontar diferenças além das roupas que vestiam, dá pra dizer que a Outra Karemachena tinha um corte de cabelo alinhado, do tipo tratado por um profissional e, também, ela carregava no rosto um sorriso sínico, do tipo que a Original Karemachena associaria às suas más intenções.

Bom, existe alguma possibilidade das duas Karens se encontrarem ao longo de distribuição do kit? Pela ordem quase aleatória com que os Rockets estavam fazendo as entregas, essa possibilidade era baixa, mas existia. Claro que, sabendo disso, a Karen Original poderia desviar o caminho, ir direto até um outro entregador aleatório, ou até mesmo reforçar seu disfarce baixando a cabeça, tapando o rosto com o adereço que usava sobre os cabelos; ou qualquer outra coisa que lhe ocorra. As possibilidades são várias! A propósito, será que as cópias tem consciência de que são cópias???

Star City – Noite| 26ºC – Food