011 - MISSIO

Fizeram a caminhada atenta por uma rua, depois outra, e outra, e outra... Nada parecia suspeito o suficiente para que acionassem Luci ou fizessem algum tipo de intervenção. Veja bem, não é que não tivessem motocicletas por lá, pois elas estavam quase que por toda parte - inclusive, pobre Whismur de audição sensível. Só que nenhuma realmente parava em alguma rua mais vazia, ou indicava qualquer tipo de atividade suspeita. Todos os veículos que circulavam por aquelas ruas estavam apenas de passagem, sequer paravam.

Foi lá pela quinta rua transversal, quase ao fim dela, que a dupla de recrutas se depararia com algo diferente. Ainda não era sinal do problema que vieram coibir, mas não deixava de ser um problema que podiam solucionar: quase todo veículo que passava pela rua à frente deles fazia menção de realizar uma curva à direita, reduziam a velocidade e... Desistiam, seguindo reto. A causa disso? Um bloqueio tinha sido feito naquela esquina. Imensos e pesados blocos de concreto foram colocados de um lado a outro da rua, impedindo que carros entrassem ali, mas as motos, com jeitinho, até que passavam. [imagem ilustrativa]

– Ué?! – Tim balbuciou, acionando seu Ranger Pad – Não era p-pra ter isso aqui... L-Luci não m-marcou. – mostrou o mapa para Karen que pôde ver a ausência de qualquer sinalização de tal bloqueio ali – V-vou fa-falar com ela. – sem hesitar o menino mando mensagem para a Cadete que, de prontidão, retornou uma resposta em áudio.

– Bloqueio? A prefeitura não informou de nenhum bloqueio nessa rua. Pode ter sido tralha deixada por alguma obra próxima. Vocês, por favor, conseguiriam desobstruir a via?

Tim suspirava ao ouvir o áudio, contemplando os pesados blocos e ponderando suas possibilidades. Mas, antes que eles pudessem fazer qualquer coisa, Luci mandou uma nova mensagem.

– Hey, agora que eu vi melhor e me dei conta... A Rua Taurus cruza exatamente o fim dessa rua aí. Droga! Isso é muito suspeito. Eles podem ter bloqueado justamente pra evitar movimentação. – supôs a Ranger no áudio – Por favor, desbloqueiem a pista e fiquem atentos. Se puderem, vasculhem o perímetro desse quarteirão. Mas não avancem muito! Eu já tô a caminho. – preocupante. Um novo suspiro de Tim, agora com direito a uma gota de suor correndo pela têmpora.

– D-Desbloquear... S-será que você n-não tem uns do-do-dois desses?! Heh. – sem graça, o garoto levava uma mão até a nuca e, com a outra, apontava para um (atualmente) entediado (de só andar) Arthur.

Ora, dois Arthures (?) para moverem uns blocos de concreto? Karen tinha até cinco! Se duvidar até esse ovo em sua mochila já é capaz de levantar uns pesos. Por falar em seus Pokémon, inclusive, todos estariam bem aptos a um rápido reconhecimento de área. Temos aqui uma seleta dupla de sensores de aura, além de outros hábeis escaladores (Arthur incluso) que podiam tranquilamente saltar por uns telhados, já que nessa zona mais residencial as construções raramente passavam de dois andares.

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Os Lutadores vieram para ajudar, cada um ao seu modo, e arrancaram um suspiro de surpresa por parte de Tim. Diria que Karen estaria acostumada a esse tipo de reação quando a viam ao lado de seu time: pequena e magra, cercada de brutamontes e marombados (sim, tô falando de Urien em particular). Mas isso não vem ao caso.

Lucario foi o primeiro a agir, correndo rua abaixo, fazendo das sombras seu manto de ocultação. Lá no fim ele pararia na esquina seguinte, observaria e então faria a curva, sumindo de vista. Tinha entrado na tal Rua Taurus, de fato, o mapa poderia afirmar isso. Quanto aos que ficaram para trás, Urien e Arthur também começavam sua parte.

Tim voltaria a se impressionar. Dessa vez foi por ter feito uma projeção diferente daquela cena pois, ao perguntar sobre "dois Arthures", o garoto tinha visualizado a imagem de dois Pokémon fortes carregando, juntos aqueles blocos pesados. Mas isso além de não ser necessário, graças ao treinamento exemplar dos Pokémon de Karen, também não seria possível por conta de suas personalidades vaidosas. Então, o resultado já sabe: cada um tratou de levantar um bloco, sozinho, com pressa para colocá-lo... Onde iam colocar?

Havia um pequeno detalhe sobre aquela rua. Ela era estreita, de mão única, do tipo que só passa um veículo por vez. Consequentemente, as calçadas também eram estreitas, comportando apenas uma pessoa caminhando sobre elas. Por isso tinha sido fácil assim bloqueá-la num único ponto. Enfim, se o bloco na rua precisava ser removido, só havia um lugar para ele ser recolocado: nas calçadas. Assim, logo teríamos dois grandes blocos, lado a lado, sobre a calçada no começo da rua, dois em cada lado.

– T-tá ótimo. Os carros p-passam. – Tim constatou com otimismo, o que era verdade. Nem tinham pedestres por lá e os que viessem poderiam só contornar o obstáculo usando a rua rapidinho, né?!

Só esse pequeno processo levou um tempinho, daí adicionamos uns minutos extras até que Lucario voltasse. Ele estava sério e, no momento em que chegou, já fez seu relato: levantou ambas as patas, agitando os dedos. Seria um três? Ou um seis? Não, pera, ele tentou expressar de outra forma: "latiu" apontando para cada um que estava ali, incluindo o pequeno Whismur, aí finalizou o diálogo com dois latidos rápidos na sequência. Aquilo seria um oito? Se bem que eles estavam em seis...

Em todo caso, parecia ser um número razoável. Além disso, Whismur, o próprio, voltou a se tremer todo no ombro de Tim, levantando as orelhas em alerta. Lucario pareceu interpretar aquilo como preocupação e então ficou também muito atento ao fim da rua. Um som de moto podia ser ouvido à distância.

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– Bom trabalho, pessoal. Se estiverem confiantes, podem se aproximar com cautela, mas não ataquem se não for pra se defenderem. – as orientações breves da Cadete vinham em áudio mais uma vez, em resposta ao aviso de Karen. A voz de Luci vacilava, sugerindo que ela vinha montada em seu Stoutland.

Apesar do som de moto ser um alerta e relativamente alto nos minutos que se seguiram, um pouco de atenção permitiria inferir que o veículo não se afastava, nem se aproximava. Quase como se só ficasse concentrado num mesmo ponto. Depois, houve uma pausa curta e, em seguida, dois outros sons de moto com as mesmas características tomaram conta do ar. Em outras palavras, não havia apenas uma motocicleta lá na outra rua e, independente do número, elas não se deslocavam para lugar algum também.

– V-vou lá. O que-que pode dar erra-ra-rado? – Tim sugeria, dando de ombros e caminhando com alguma "furtividade" pela rua, se esgueirando nas paredes das propriedades vazias daquele lado da rua.

Tim era corajoso, há de se admitir. Mas, ele também confiava em seus Pokémon, a ponto de convocar um novo parceiro para tomar a dianteira naquele avanço. Seu Persian de Alola era ainda mais silencioso que o rapaz e depois de receber um punhado de instruções murmuradas, saltou entre marquises e varandas até sumir de vista num telhado, na direção dos sons.

E agora, Karen vai ser ainda mais cautelosa e ficar esperando pela superior? Ou vai acompanhar seu parceiro e dar aquela espiada no que acontecia lá embaixo, na rua? Você decide...

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Quando Karen e Arthur chegaram na esquina da rua Taurus, viram Tim alguns metros mais adiante. O garoto estava se esgueirando por detrás de uma motocicleta estacionada no meio fio ali. Seu Whismur tremia feito vara verde, tendo se escondido dentro da camisa do Ranger, pondo apenas as orelhas para fora, pela gola.

Não havia nenhum sinal de aproximação por parte Luci, mas Galahad e Urien acabaram ficando bem onde foram deixados, o Conkeldurr levemente distraído com os blocos de concreto que recém ergueu, cogitando fazer deles seus novos acessórios. Lucario, por outro lado, era um misto de dúvidas. Observava aflito Karen descer a rua e, nisso, acabava dando alguns passinhos atrás dela, parando no instante em que se questionava se Okido não se queixaria, uma vez que só Arthur tinha sido convocado para a pequena "espionagem".

Na Taurus em si, bem no meio dela para ser mais exato, um pequeno grupo de motoqueiros se reunia. Eram três motos numa posição triangulada, paradas, ligadas a todo vapor, com os motoristas em cima obviamente. Ao redor deles, distribuídos nas calçadas e parte livre da rua, outras pessoas - a pé - formavam uma pequena plateia. O que acontecia ali Karen deduziria rapidamente: a competição do pão; alimento que, por acaso, estava em seu lugar bem no centro de tudo, apesar de não dar para ver daquela distância.

Arthur olhava com curiosidade para tudo, principalmente quando algumas vozes se elevaram e os motores roncaram, assim que a competição começou. A distância também não permitiria que Karen reconhecesse nenhum veículo ou rosto familiar, mas desde a noite passada ela sabia de pelo menos um par de pessoas que estaria ali, hoje.

Independente de tudo, parecia que os motoqueiros estavam realmente mais interessados em seu joguinho nojento do que em vigiar os arredores... Parecia...

"Atrás!", Karen ouviria uma voz firme dizer em tom de alerta - Lucario!? O chamado não tinha nenhuma direção específica, ecoando inteiramente em sua cabeça. Mas, muito provavelmente, seria levada por instinto a olhar sua retaguarda. Se não por instinto, então quando um hálito morno tocasse sua nuca...

– No céu... Tem pão? – dizia uma voz feminina.

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Tudo aconteceu muito depressa naquele esquema de ação e reação. Quando Karen se virou, mal deu tempo dela ver a face da pessoa imediatamente atrás. Seus olhos captaram apenas um borrão branco e, numa fração de segundos, via apenas as costas de Arthur na sua frente.

O Passimian tinha se colocado entre a ameaça e sua treinadora, empurrando a misteriosa figura feminina para longe, mas a mulher também não foi tão longe assim, pois também tinha "alguém" para lhe amparar: uma criatura humanoide e bizarra, quase da altura de Karen.

– Eeeeita! Calma aí, colega, eu só queria... – a menina se apoiava no peitoral de seu Grimmsnarl para recuperar o equilíbrio, mas aí seus olhos alcançaram um esbaforido Tim que, ao ver a situação, tinha vindo na direção de Karen – Hey! Vocês são... RANGERS! RANGERS! RANGERS! – ela esbravejou, certamente alertando aos demais motoqueiros lá adiante – Ora seus... Que saco, a gente não pode nem brincar mais hoje em dia. – dizia, debochada, dando passos ligeiros para trás de seu Pokémon defensor.

Uma luz avermelhada veio de trás de Grimmsnarl também e, sibilando, a imensa cobra galariana também foi convocada. A motoqueira loira sabia que não ia ter como escapar. Mas, e quanto aos outros motoqueiros lá embaixo? Os Recrutas deixariam que escapassem? Não sei... Essa é a hora das decisões rápidas!

Karen estava bem assistida, pois Arthur era seu escudo e logo Conkeldurr e Lucario vieram também, se posicionando ao lado dela, formando um paredão de músculos. Tim estava ali, disponível, com um Persian sorrateiro fora de vista, um Gogoat ágil e sabe-se lá quais outros recursos o garoto poderia ter encapsulado em Pokébolas. Luci estava a caminho. Como disse, hora das decisões rápidas.

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