[EVENTO / 001] — THE ROAD COMES WITH A MYSTERY.

Para a sua surpresa, a senha do cadeado havia sido correta. O que a fazia pensar que as pessoas daquele lugar eram estupidamente previsíveis. O que poderia ser algo bom... para mantê-la sempre um passo à frente. Ou ruim, porque ela tinha um palpite muito específico do que a aguardava. Mas Lyla, naquele momento, apenas agradeceu pela centelha de sorte em seu destino e guardou os doces que havia achado no fundo daquela caixa.

Voltando ao seu caminho, ela se deparou com outra escadaria. Esta, por sua vez, levava para um caminho acima, talvez para a tão esperada saída do local sufocante, algo que já esperava há muito tempo. Contudo, havia outro caminho a seguir. Um que seguia adiante. Mas já dali a treinadora conseguia ver algo estranho — um brilho esverdeado vindo do que quer que fosse e que provavelmente a aguardava caso optasse por aquele caminho. Respirou fundo. Respirou mais fundo ainda.

— Escute, eu tenho quase certeza de que a escada irá te levar para um lugar seguro. Você pode tentar sua sorte por ali... Mas eu perdi um companheiro aqui, então preciso resgatá-lo. Eu vou por aqui. — ela se voltou ao ex-prisioneiro, aconselhando-o. Nunca fora uma pessoa exatamente altruísta em seus tempos de criminalidade, mas talvez ela precisasse se redimir de todos os seus pecados.

Antes de prosseguir, a loira voltou a retirar os pokémons de suas pokebolas e pegou as duas poções restantes em sua bolsa. Queria que eles estivessem cem por cento revitalizados e prontos para o que estava por vir. Utilizou os itens de cura em cada um deles e buscou passar confiança para Kyuubi e Thanatos.

— Haja o que houver, vamos dar um jeito de sair daqui. — Ela tocou na cabeça de cada um e respirou fundo.

Agora ou nunca.

Seguiu em frente.

STONJOURNER EGG — (15/40)

Um "boa sorte" ressoou na mente de Lyla quando se separou do prisioneiro. Ele deveria estar ansiando por sua liberdade, louco para sentir o ar da superfície novamente após passar tanto tempo sob a terra, confinado a uma cela fria e poeirenta. A treinadora, por sua vez, tomou um caminho diferente; seguiu adiante no que seria a opção mais burra possível, pois evidentemente expressava perigo, apenas porque tinha uma dívida com alguém que havia acabado de conhecer. Ou talvez porque, no fim, tivesse um bom coração.

Chegou ao fim do percurso. Seus olhos se depararam com o ambiente mais estranho possível; era um laboratório, munido de todas as configurações, objetos e disposições que um laboratório comum — ou tão comum quanto fossem os laboratórios de pesquisas misteriosas — poderia ter. Excetuando, é claro, aquelas cortinas com estampa de oncinha que pareciam destoar de todo o ar que o restante do ambiente proporcionava. Lyla nem conseguiu registrar como era cafona e ultrapassado, porque algo atraiu sua atenção.

Passando rapidamente por suas pernas e parando em posição de ataque à sua frente, surgia novamente aquele infernal Caterpie. Porra, ela já estava ficando de saco cheio daquela lagarta verde com estilingue extremamente forte. E como diabos um pokémon em estágio larval como aquele conseguia ser tão poderoso em questão de força física

Uma voz soou pelo ambiente.

— Não e possível. Só pode ser brincadeira. — Era um teste, afinal. Ela teria que lutar, querendo ou não. Achou piamente que teria de enfrentar alguma mutação medonha criada em laboratório, até mesmo aquelas geléias gosmentas que podiam se transmutar em seus pokémons. Mas acabou com um Caterpie. O fucking Caterpie. — Você quer briga? Briga é o que você vai ter. — Kyuubi e Thanatos, que a acompanhavam, pularam à sua frente para assumir posição de combate, tal qual a própria lagarta. Lyla havia feito bem em curá-los totalmente antes de se embrenhar em mais luta. — Kyu, use Ember duplo nesse Caterpie dos infernos. Thanatos, use Fury Swipes duplo também!

STONJOURNER EGG — (16/40)

A batalha acabou antes do que Lyla esperava. Aquilo a pegou de surpresa, na verdade, porque aquele Caterpie havia puxado Luan com tanta força e havia jogado uma rocha tão grande sobre ela que a treinadora havia achado que ele teria maior resistência a Kyuubi e Thanatos. Aparentemente, estava enganada. As chamas da Vulpix combinadas com os ataques furiosos do Mankey foram o suficiente para que pudessem subjugar a lagarta verde. Bastou investirem duas vezes para que o pokémon adversário caísse em combate.

As falas daquele que se comunicava pelos auto falantes, no entanto, eram no mínimo preocupantes. Ele não parecia estar nem um pouco preocupado com a derrota. Inclusive, agora sabia de sua localização e sabia exatamente a equipe que a loira carregava consigo. Isso a deixou apreensiva com o que poderia haver ao fim daquela caminhada misteriosa. O que a esperava, se uma batalha perdida não surtia efeito nos líderes daquela palhaçada toda.

— Eu sei que você está com Luan. É melhor soltá-lo antes que eu chegue em você. — Lyla não estava brincando coma as ameaças. Ela podia estar seguindo um caminho bom agora, mas sabia como ser cruel. E sabia como fazer o trabalho direito.

Dando atenção aos seus parceiros, a mulher se agachou ao lado de Kyuubi e a ajudou a se desvencilhar daquele fio branco e pegajoso, também com o auxílio das garras de Thanatos. Assim que haviam tirado todo e qualquer resquício dos pêlos sedosos da raposa, ela se pôs de pé. Não os devolveu às suas poké bolas.

— Vamos. — Obstinada, Lyla seguiu em frente.

STONJOURNER EGG — (17/40)

Lyla agora estava sozinha, seguida apenas pelos seus pokémons que estavam bem e revitalizados o suficiente para permanecerem fora de suas poké bolas. Kyuubi estava tão atenta aos arredores quanto sua treinadora, os olhinhos castanhos da raposa de fogo vigiando qualquer tipo de mudança brusca, aparição repentina ou armadilha. Thanatos se mostrava curioso e um tanto afoito — a emoção de batalha ainda o dominava, dava para ver, ele não era cem por cento controlado; contudo, seguia suas parceiras e também permanecia atento o suficiente para não ser pego de surpresa, e ficava a uma distância mínima da Vulpix, que claramente não tinha seu espaço pessoal respeitado pelo símio.

O corredor do laboratório seguia por um caminho repleto de caixas. Algumas abertas e vazias, algumas fechadas. Por vezes, Mankey tentava se aproximar de uma das que mantinham-se fechadas, mas Kyuubi o impedia todas as vezes. Afinal, sua curiosidade poderia acabar em alguma situação perigosa caso mexessem com algo errado. Ali, no subterrâneo, nas imediações de um laboratório pertencente a um cientista louco, não podiam confiar em nada além de si mesmos.

Lyla pôde ouvir um som de baque amadeirado que a fez parar de andar. E então, de uma das caixas fechadas, algo que parecia um brinquedo eletrônico saiu, andando de um lado para o outro como uma espécie de pegadinha sem graça. A voz voltou a soar do autofalante, fazendo a loira se assustar com a repentina quebra de silêncio.

— Fiquem atentos, okay? Não mexam e não encostem em nada — Lyla relembrou à sua equipe, logo antes do esqueleto mecânico começar a falar. Ele soltou uma espécie de charada que a deixou intrigada. — Slugma menos Meowstic... mais Zorua? — Aquilo parecia uma conta matemática. Mas o que uma conta matemática teria a ver com pokémons? A menos que esses pokémons fossem ou detivessem representações numéricas. Hmm...

Lyla buscou o Rotom Phone de dentro de sua bolsa e acessou a Pokédex. Ali, cada pokémon catalogado era representado por um número específico. Tinha que ser isso. Não havia outro raciocínio a seguir. Com calma, Lyla buscou pelo Slugma. Número 218. Depois buscou pelo Meowstic. Número 678. Ali, ela já tinha a conta básica de 896. A treinadora buscou, por último, o Zorua, e então tinha o resultado da operação. 896 menos 570.

326. Esse era o...

— Grumpig. A resposta é Grumpig.

STONJOURNER EGG — (18/40)

Vou evoluir a Vulpix nesse post. Aliás, a batalha do Caterpie contra BC também ou não por ter sido rápida?

Lyla incrivelmente havia acertado a resposta. O enigma havia dado abertura para um prêmio assim que o esqueleto mecânico se desfez e revelou o conteúdo em seu interior. Aa sobrancelhas da loira se arquearam em uma breve incredulidade ao deparar-se com o brilho amarelado que refletia em seu rosto e nas carinhas curiosas de seus pokémons. Era uma pedra evolutiva, ela sabia; seus anos de contrabando a haviam lhe fornecido uma vasta gama de conhecimento sobre aqueles tipos de itens, já que também eram moeda de troca para enriquecerem, junto com pokémons roubados. A chama no interior do mineral não deixava dúvidas — uma espécie de presente. Seu olhar voltou-se para a Vulpix, que parecia mais estonteada com o brilho vibrante da pedra do que qualquer outro naquele cômodo.

— Você quer usá-la, não é, Kyu? — a mulher perguntou, mais retoricamente do que uma dúvida exata, porque a resposta estava intrínseca nos olhos fixados da raposa vermelha. Ela desejava a pedra, desejava tornar-se mais forte ao evoluir. — Está bem, vamos lá. — A treinadora estava nervosa. Era a primeira vez que dava aquele passo; mesmo que sua parceira desejasse exatamente aquilo, tinha receio de que algo pudesse dar errado. Mas Lyla havia aprendido que aquela jornada era muito mais do que apenas tornar-se uma treinadora de verdade, muito mais do que abandonar o crime — era arriscar-se fora da zona de conforto e abandonar antigos traumas.

Kyuubi recebeu a pedra de sua treinadora. Em alguns segundos, sua estrutura toda ficou incandescente, como que a chama existente em seu interior migrasse para o exterior. Mankey estava curioso, mas não tinha coragem de se aproximar — Lyla o segurava em seu lugar também, impedindo-o de tentar tocar. Aos poucos, a estrutura da raposa mudava; crescia, aumentava. A forma de suas seis caudas dava lugar a caudas mais longas e em maior quantidade. Vulpix havia se tornado Ninetales. Thanatos estava maravilhado, assim como a loira.

— Você ficou magnífica, Kyuubi. — Lyla acariciou os pelos sedosos da raposa, agora de um tom amarelo bem clarinho, puxado ao creme. — Mas temos que ir andando agora. Vamos.

Chegaram ao lugar final, ou ao menos Lyla imaginava que fosse o lugar final. Ali estava ele, o cientista de jaleco branco e que era o responsável por todas aquelas sandices. Ele não lhe dava atenção — parecia incrivelmente despreocupado com a presença feminina ali, ou com o que ela pudesse fazer. Lyla poderia atacá-lo, fazê-lo de refém, mas ele definitivamente não estava preocupado com isso.

A treinadora e seus pokémons o encararam.

— Por que você está fazendo tudo isso? Qual o motivo? E por que você deixou a pedra para me ajudar? — antes de qualquer coisa, ela queria respostas.

STONJOURNER EGG — (19/40)