Missão Possível - Protocolo Fantasma

Protocolo Fantasma

Se o objetivo é chamar atenção de quem-quer-que-esteja dentro daquela sala VIP, o jeito é mergulhar de cabeça. Nisso os dois estavam de acordo.

O coro dos presentes na pista de dança, em determinado momento, virava um barulho de fundo qualquer. A música, altíssima, funcionava mais como uma lenta trilha sonora para o momento do que outra coisa. No instante que os olhos rubros de Asami e os azul-turquesa de Ayzen conectaram-se em meio à recente-embriaguez, tudo a volta deles virou ruído branco - a visão periférica dos dois borrava, como sob a lente anamorfica de um filme onde o foco é unicamente o que está diante de si.

As luzes dançantes iluminavam seus rostos no ritmo que seus corpos, grudados, friccionavam um no outro. A Especialista, com um sorriso travesso repentino, colocava seu braço esquerdo ao redor do pescoço do Ace-Trainer e, com a outra mão, arranhava sua nuca de leve: Nada para deixar marcas, mas o suficiente para fazer cada pêlo do corpo de Ayzen levantar. Mordeu seu lábio inferior, aproximou seu rosto do Ranger e, quando parecia que ia tomar a iniciativa de consumar a tensão sexual que dominava ambos os corpos e todo aquele ambiente, recuou a cabeça.

... Asami se lembrou: É preciso dar um show.

Ainda grudados um no outro, no que a morena recuou a cabeça, pegou a vodka da mão de Ayzen. Levantou a garrafa aberta sua cabeça e abriu a boca: O líquido transparente, caindo em cascata, preenchia sua boca e escorria pelo seu queixo, pescoço e decote, reluzindo a iluminação que vez ou outra passava por ali. Com a boca cheia de vodka, inclinou-se de uma vez só para beijar Ayzen, mas não sem antes dar outro sorrisinho provocativo.

Sim, isso mesmo.

Um beijo carregado de desejo: Sujo, envolvente, profundo, como o tesão - em português claro - que percorria ambos os corpos embriagados in-loco. O que é uma brincadeira comumente conhecida em baladas, tornava-se o consumo, ao menos inicial, daquela tensão que se construíra em meio a pista de dança.

Passaram alguns minutos assim. Minutos até demais, honestamente - sendo interrompidos quando alguém tocou o ombro direito do loiro. Uma mão pesada, sem qualquer cuidado de que talvez incomodaria o que estava acontecendo. Ao olhar para trás, Ayzen veria um dos seguranças, que sinalizava para que Asami e Ayzen o acompanhasse para dentro da misteriosa sala.

Passado o momento explosivo por parte dos dois Rangers, a consequência era o fim iminente do transe que colocaram um ao outro: O rubor no rosto de Asami era evidente, mesmo naquela luz precária. Experientes em disfarces, nenhum dos dois poderia demonstrar estar sem graça com o que acabara de acontecer, mas ambos sabem, vai... A morena, inclusive, caminhou na frente, estendendo a mão direita para que Ayzen a segurasse. Deixou, também, seu casaco com o rapaz - vai que precise esconder algo nessa breve caminhada, né?

Porta adentro, então.

Para nossa sorte, dois Rangers do mais alto escalão, infiltrados, davam a vida - os fígados e a moral, para ser mais específico - para a missão ser um sucesso.

... Coisa linda.

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Ayzen estava correto - Asami estava, sem duvidas, mais embriagada que ele. Não ao ponto de passar mal , não conseguir andar ou algo do tipo, mas o efeito daquela cascata de vodka começava a atingi-la.

-  ... - de mãos dadas com o Ranger, ela apoiava vez ou outra na parede do corredor para manter a postura; ela disfarçava, mas era claro o leve desequilíbrio que vem com a embriaguez - Nossa.

A fala da Especialista era para o salão que encontravam lá dentro. No mesmo estilo do anterior, mas em menor proporção: Aqui era tudo limpo, cristalino, com cerca de vinte pessoas dentro. Parte estava na pista de dança, parte sentada no bar e outras em mesas espalhadas pelo local. A seriedade da situação que estavam começava a reverberar... Não havia uma pessoa no local que não estivesse sob efeito de bebida ou drogas. O cheiro de marijuana, charutos e as fileiras pequenas de pó-branco sobre as mesas descritas anteriormente denunciavam que não havia nenhum tipo de pudor aqui dentro.

Outra coisa a se observar era a vestimenta. Se do lado de fora todos pareciam mal arrumados perto de Ayzen e Asami, aqui estavam uma categoria acima, de forma que a Especialista pegou o casaco de pele de volta para vesti-lo.

Lembra que eu disse que não havia UMA única pessoa no local que não estivesse sob efeito de álcool ou entorpecentes? Mentira. Uma única não estava e ela vinha cumprimentá-los.

Cercado de puxa-sacos na mesa mais próxima ao bar, um homem de grande porte, pele escura e cabelos longos pretos se levantava e, de imediato, seu consciente disparava...

... É ninguém mais e ninguém menos que o alvo da missão.

- ... Você sabe se divertir. - o sorriso do homem era perfeito, quase saído diretamente de uma propagando de dentistas; caminhou até Ayzen e Asami com uma mão no bolso e um copo de "whisky" na outra - Por isso te convidei para vir pra cá... O Paraíso de Rinshin, como gosto de chamar.

Asami, parada ao lado do Ranger, sorria para cumprimentar o homem e respondê-lo - mas assim que abriu a boca, o alvo tirou sua mão no bolso e a ergueu alguns centímetros do rosto dela:

- Não. Estou falando com seu dono, não com você. - aqui, Ayzen, você conseguia sentir Asami apertando de leve sua mão; aquilo era o máximo que podia fazer sem alguém perceber, mas toda sua fúria estava contida ali - Vem se sentar comigo. Quer uma bebida? Você gosta de cerveja e fuma cigarro, certo? - então Ayzen e Asami estavam sendo observados há BASTANTE tempo, sabe-se lá quanto - Você pode ir sentar com as outras putas pra lá. - apontou na direção do bar, onde algumas mulheres estavam sentadas; o homem, então, esticou a mão para que Ayzen apertasse - Kenji. E mando nessa porra toda aqui. Sua noite acabou de começar de verdade!

Com um último olhar antes de soltar sua mão, Asami abriu um meio sorriso para Ayzen - depois de passarem tanto tempo conectados um ao olhar do outro, o Ranger entenderia que era um "tá tudo bem". Provavelmente não estava, mas a missão era mais importante do que dar o troco em um babaca machista. A Especialista deu um beijo no rosto do Ranger e se encaminhou para o bar.

- Nunca te vi por aqui... Frequentava outro lugar?

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Cachorra? "O pai?" Nossa, acho que ninguém nunca esperou esse palavriado saindo da boca de Ayzen...

O que um disfarce não faz, não é mesmo?

...

Voltando ao que interessa: Asami foi se sentar no bar e parecia já fazer amizade com as outras mulheres presentes. Pareciam comentar sobre a mesa onde Ayzen agora estava sentado, já que não tiravam os olhos dali, mas era impossível escutar ou até mesmo ler de seus lábios o que estavam falando. Kenji parecia não ligar muito para as respostas do Ranger - como todo bom narcisista - mas ao ser perguntado sobre ser o dono daqui tudo, deu uma risada - que era acompanhada pelos outros quatro puxa-sacos sentados na mesa.

- É, mano. Sou. - o rapaz de cabelos longos dava um gole no seu "whisky"; agora mais próximo dele, Ayzen perceberia que o líquido não se comporta como o que finge ser - Tenho muita influência aqui no Lizzie's Bar. Na real, em qualquer lugar de Rinshin... - dava de ombros, como se não fosse nada - Sou chefe de segurança da SecTech. Tenho qualquer puta que quiser, entro em qualquer lugar que quiser, mando e desmando na porra toda. - estalava os dedos para um dos puxa-sacos pegar mais bebida - Isso aqui é um paraíso, Daisuke! Tá servido?

Kenji puxava do bolso um pacote pequeno com pó branco dentro. Fazia uma, duas, três carreirinhas em cima da mesa que estavam e se deliciava em uma - diferente do álcool que finge beber, o brutamontes de fato parecia apreciar a droga pesada, proibida em todo e qualquer lugar do mundo. Sua pupila mudava de imediato, denunciando o efeito que tinha em seu corpo.

- O negócio é o seguinte: Não tem ninguém acima de mim nessa cidade. Influência é muito melhor que dinheiro, parceiro. - dava uma risada meio macabra, aproveitando pra acender um cigarro - Tenho até os tiras daqui da cidade no bolso, se quer saber.

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Ayzen tinha razão: Ser puxa-saco ajudava a inflar ainda mais o ego de Kenji, mas não dava para abaixar a guarda. Pela forma como se porta e se comunica, o brutamontes está de longe de ser algum idiota...

É um idiota, mas não qualquer um, se é que me entende.

A conversa fluía bem. Kenji falava sobre como conseguiu sua posição na empresa tecnológica por sua competência. Citou como lidam com informações tão confidenciais que assustaria qualquer um, mas que no final, como disse anteriormente, é tudo sobre influência. O assunto volta e meia acabava retornando a esse tópico, até que o tópico mais velho do livro entre homens desse tipo surgiu: Medir pau.

... Não, não da forma literal, Arceus do céu. Mas disputar força, poder, virilidade.

Vai dizer que não conhece alguém que é exatamente assim?

- Bora fazer o seguinte. - um sorriso malicioso surgia no rosto de Kenji, que estalava o dedo e se levantava da mesa - Vou levar dois de vocês até a SecTech. Tá tarde, mas eu que mando em tudo, então, é suave. - caminhou até o centro da pista de dança, mandando todo mundo sair de lá aos berros - BORA, trocação 1v1 sem item e nem nada. - apontou para Daisuke e um dos puxa-sacos, mais gordinho, para irem até o centro da pista - Quero ver a força de vontade de vocês.

Uma armadilha? Poderia até ser. Considerado o histórico do que pode estar acontecendo naquela indústria, essa pode ser uma das formas como Kenji e SecTech estão escolhendo seus alvos. De qualquer maneira, o desafio estava dado: Vencer e ser levado direto até a barriga da baleia.

Asami não tirava seus olhos de Ayzen, ainda sentada no bar. Ergueu as sobrancelhas como se perguntasse se estava tudo bem, sem entender muito bem a comoção que Kenji criava na pista de dança.

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A atuação de Ayzen era perfeita - sinceramente, acho que se o loiro decidisse largar os escoteiros e decidir se tornar ator, certamente ficaria milionário bem rápido. Pokéwood está perdendo.

De qualquer maneira, era certamente cômico assistir o oponente do Ranger se colocar na pista de dança (agora pista de batalha). Seus passos eram dessincronizados, em uma mão carregava um copo cheio de whisky e na outra uma Ultra Ball que deixou cair uma duas ou três vezes antes de abrir sozinha. Dali, um Bellibolt gigantesco saía meio sonolento, como se tivesse acabado de ser acordado de um sono profundo. Ao perceber que estava no que seria um embate que se iniciaria em segundos, coçou sua pança e sentou no chão.

- É-e isso a-.... aí! - o puxa-saco adversário tentava imitar Ayzen, mas sem sucesso - Va-*hip* vamo Belli!