Friozinho de Outono

Friozinho de Outono

Em passos firmes corria em zigue-zagues, na brincadeira com meu Pokémon, Growlithe, a qual pulava em minha direção na tentativa de conseguir abocanhar o galho que eu carregava na mão direita. De um lado para o outro o fazia de bobo e mesmo assim ele se animava e se determinava a conseguir.
Não demorou para que ele me surpreendesse e conseguisse pegar o graveto, correndo e parando a frente, olhando para mim e abanando o rabo, me pedindo para correr atrás dele agora.
Eu estava um pouco ofegante e parei um pouco para respirar, mas não enrolei e voltava para a brincadeira tentando alcança-lo, adentrando assim mais uma vez na rota cento e oito.

Era mais um dia, mais uma aventura para o jovem Mahiro e seus pokémon. O dia estava excelente para sair de casa, explorando mundo afora, ou até mesmo para brincar com os seus pokémon ao ar livre. Haviam algumas nuvens no céu, além de um vento refrescante, que passava pela vegetação rasteira e as folhas das árvores, as agitando ligeiramente. A temperatura tendia ao frio, mas nem por isso era um motivo de utilizar roupas super quentes. Por ser ainda de manhã, era presumível que pela tarde esquentaria um pouco mais, talvez numa máxima de 25 á 28°C.

Correndo pela rota junto a seu Growlithe, estava Mahiro Fuwa, que brincava com seu companheiro. Era uma brincadeira inocente, como de um garoto e o seu cachorro. Enquanto eles se divertiam, o terreno da rota foi se formando aos seus olhos. Nada espetacularmente diferente do habitual, ainda mais porque eles já passaram por aquela rota anteriormente. Uma extensa pradaria, cercada por árvores, com uma pequena estrada de terra seguindo á oeste era o ambiente em que eles se encontravam.

Esta rota era, entretanto, a menor das rotas que ele iria passar em sua viagem á Mauville. Seria uma viagem cansativa e até perigosa, pois por todo o percurso ele estaria rodeado de criaturas com poderes incríveis e diversos, mas, por sorte, ele tinha consigo seis dessas criaturas, que seriam seus companheiro nessa jornada e o protegeriam dos perigos que haveriam á frente.

Porém, para um local pequeno, haviam diversas coisas para fazer por lá. Havia um lago mais ao leste, enquanto a floresta deveria possuir uma boa diversidade de espécies, além de diversas berries que poderiam ser encontradas. Em certos lugares haviam alguns rochedos, que dizem possuir as mais saborosas das berries daquela rota.

A dupla passa então por uma placa, nela estava escrito: "Rota 108", legitimando o começo daquela rota. Á frente do treinador, um estradinha de terra, cortando a planície florida. Ao seu lado, uma outra placa, apontado para o Sul, "Lago", era o que dizia, apontando para outro braço da estrada, que deveria levar para o lago que havia naquela rota. Além disso, á sua direita e a sua esquerda haviam várias árvores, que davam início á floresta. Se ele passasse pela floresta, talvez pudesse cortar uma parte da rota, mas com a possibilidade de se perder ou acabar em um beco sem saída, devidos aos rochedos da região.

Qual seria o próximo passo do treinador?

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Se Growlithe queria brincar eu estava ali para brincar com ele. Superei a pouca fadiga e voltei a correr atrás do canino tentando pegar o galho de sua boca. Mesmo que conseguindo o mesmo era insistente e não largava de jeito algum. Força para cá e para lá o pequeno me vencia e voltava a me fazer de bobo por entre o caminho que nos estava à frente.
Seguindo por essa estradinha de terra éramos acompanhado pelo frescor de poucas flores que ainda insistiam a aparecer, normalmente as resistentes que só brotavam nessa época do ano. O friozinho de inverno estava chegando. Era anormal ao que estava acostumado, pois a região em questão era bem quente. O outono ainda prevalecia um pouco, porém mesmo não sendo oficial dia vinte eu já podia dizer claramente que o inverno chegou.
O clima tropical não permitia frio intenso, então era agradável. As árvores ainda estavam intactas com suas folhas nem tão secas, e o vento soprava sobre elas como de costume.
Continuei a correr atrás de meu Pokémon. Sua companhia me mantinha seguro de certa forma, não gostava de andar sem a companhia de um Pokémon ao meu lado. Seguimos reto, sem nos aventurar muito, nos mantendo na estrada de terra batida, pelo menos assim até eu chegar ao cansaço.

Continuava, treinador e pokémon, a correr e brincar pela rota. Eles não pareciam estar incomodados com o clima, mesmo já próximos do inverno. Isso, é claro, vinha pelo fato daquela região ser tropical, então até mesmo o frio vinha de maneira mais calma e menos notável que em outras regiões.

Corriam alegres pela estrada de terra, sem preocupações. Aquela jornada seria longa, mas há quem diga que o tempo passa mais rápido quando está se divertindo, então, no final, a dificuldade daquela viagem seria baseada na resistência física e mental de Mahiro e seus companheiros.

Após algum tempo já caminhando, o treinador se depara, na sua frente, bem de longe, uma figura humana. Era difícil perceber quem era essa pessoa, qual a sua intenção, mas ela parecia seguir em a direção ao treinador. Seja lá que fosse, estava ainda bem longe para ser considerado um perigo. Era provável que fosse apenas um treinador ou um viajante, que estava naquela rota de passagem, assim como nosso protagonista. Mas ao falar com estranhos era sempre bom possuir um pé atrás.

O figura se aproximava.

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Growlithe havia me cansado definitivamente. Não o culpava... Minha forma física não é a melhor. Minha mochila pesava um pouco também, não estou carregando coisas pesadas porém mesmo assim é desgastante correr junto dela.
Troquei os passos acelerados pelo normal, voltando minha respiração e batimento cardíaco aos poucos. Growlithe entendeu minha falta de stamina e vinha ao meu agrado pedindo carinho. Sem recusar eu passei a mão sobre seu topete, lhe pedi uma pausa e ele aceitou, entregando o graveto para mim.
Nessa paradinha acabei percebendo depois do canino que de longe alguém se aproximava. Era a primeira vida móvel que encontramos desde que entramos novamente na rota. Parecia humano e vinha até nós.
Não sei se deveria confiar que possa ser apenas um treinador querendo me desafiar, mas como muitas histórias que passei até agora é bom tomar cuidado ao se relacionar com qualquer um. Continuei a caminhar com minha respiração a qual voltou ao de costume na companhia do canino que ficava atento sempre um passo à frente comparando a minha desconfiança. Se ele quiser algo comigo talvez nos pare, caso contrário basta apenas passar reto e dizer “bom dia”.

Apesar das cobranças do seu pokémon, Mahiro era ainda um humano comum, não possuía um fôlego infinito, logo eventualmente não conseguiria mais acompanhar seu colega em uma corrida. Ele decide acalmar as coisas, poupar suas energias para a jornada que teria e começa a caminhar.

Ele não parecia assustado com a aparição daquela figura humana, só parecia ter cautela, pois nunca se sabe quem pode o atacar nesse mundo de hoje em dia. Ao se aproximar cada vez mais dele, sua silhueta foi ficando cada vez mais visível. Era possível ver que deveria ser um homem adulto, trajando roupas pretas, mas não necessariamente um macacão, como utilizado por alguns grupos criminosos. O mais notável de sua aparência que poderia ser observado de longe, era uma careca bem característica. A falta de careca daquele homem parecia bem cuidada, brilhava ao se expor ao Sol como uma bola de cristal.

Ambos estavam se aproximando, e quanto mais perto, era mais possível observar a cara da pessoa em questão. Ele parecia meio corcunda, andava de maneira estranha, como se mancasse. A sua expressão ao avistar outro treinador foi de completa surpresa. Ele parecia estar preocupado com algo, mas o que seria? Quando ele finalmente está próximo ao treinador, ele anda ainda mais rápido em direção ao treinador. Ele se apresenta, de maneira corriqueira:

- Olá amigo! - Ele cumprimenta o treinador com um aperto de mão - Vejo que você é um treinador... Eu me chamo Pete, o bom mercante. Estava agora a procura de alguém para me ajudar. Teria como você ajudar um bondoso mercante em busca de um objeto?

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No momento que nos aproximávamos pude sentir uma leve ardência nos olhos com um brilho proveniente por parte daquele individuo. Quando pude enxergar melhor já notava que ele estava ainda mais perto e que aquele brilho proveio de sua tão bem cuidada calvice.
Mesmo mancando o senhor parecia bem rápido a vim em nosso encontro. Quando chegamos a cruzar ele me parou e me cumprimentou, ativando a desconfiança de Growlithe que não desgrudava mais o olhar naquela pessoa.
Revelando-se ser um mercante, este me pede um favor: ajudar a encontrar um objeto. Mas eu não conhecia essa pessoa e me pareceu súbito e desesperado me parar de tal forma.
_ Objeto, moço? Eu não sei se posso lhe ajudar. Eu e meu Pokémon estamos seguindo caminho oposto de onde o senhor veio. _ Tentei dar uma leve desculpa, tentando saber se ele me seria mais especifico ou iria embora.

Aquele mercante estava visualmente preocupado com algo. Suas olheiras eram fundas, ele não parecia ter dormido muito naquele dia. Poderia ser um sinal de insônia ou de estresse contínuo. Mas porque um homem livre, que tem como profissão viajar pelo mundo vendendo seus produtos, estaria tão inquieto?

Olhando mais detalhadamente o homem, era possível ver que ele era um pouco mais baixo que Mahiro. Sua idade era aparentemente de uns 40 anos de idade. De vez em quando, ao conversar, ele passava a mão sobre a sua cabeça descabelada, podendo ser um sinal que sua perda de cabelo foi devido à calvície.

A maneira como o homem se apresentou foi muito direta, como se fosse todo dia que algum estranho lhe pede para fazer alguma coisa totalmente fora dos seus planos. A resposta de Mahiro foi tentar dar uma desculpa para saber mais a respeito ou se livrar daquela pessoa. A réplica daquele mercador foi logo depois da fala do treinador. Ele deu uma explicação extensa, já que sua situação parecia complicada:

- Não, não, você entendeu errado! Devo ter sido muito brusco com meu pedido! Eu possuo um cliente em Mauville que deseja muito algumas... espécies de plantas, que são apenas encontradas em ambientes extremos. Os lugares com maior ocorrência dessas plantas são o Mt. Chimney, o Shimmer Desert e suas redondezas. Eu passei alguns dias em Fallabor, mas eu não possuo nenhum pokémon  e não encontrei nenhum treinador disposto a me escoltar por aquela montanha nem caminhar pelo deserto. Todos estavam esperando para ver o Contest que irá acontecer na cidade e... Espera um minuto - O homem pega de sua mochila, que era enorme, cheia de bolsos e locais para guardar coisa, uma garrafa de água, e toma um grande gole dela - Obrigado por esperar! Resumindo o que eu quero dizer, é que estava indo para Fortree para ver se encontraria alguém para me ajudar, e acabei encontrando você por um acaso. Você estaria indo para Mauville? Se sim, teria como eu o segui-lo e, caso encontre um exemplar de uma dessas plantas, você me ajudasse a obtê-las? Meu cliente paga bem pelos meus produtos, eu poderia ajuda-lo com um incentivo financeiro, se é isso que está faltando. Eu preciso mesmo conseguir esse produto. Pode-se dizer que minha vida depende dessa venda. - ele faz uma breve pausa olhando para o nada, como se estivesse pensando em algo. Logo, ele volta a si - Nossa, como sou mal educado! Nem perguntei o seu nome! Quem seria você?

Mesmo dando maiores detalhes a respeito do objetivo dele, ele ainda parecia esconder algumas coisas. Talvez ele soubesse mais alguma coisa a respeito do trabalho que ele iria fazer, mas não queria falar. Ele olhava ás vezes para os lados. Sua atitude dava a impressão de que ele estava envolvido com algo ilegal, talvez mesmo não querendo.

Será que a explicação dele seria o suficiente para convencer aquele treinador?

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Aquele senhor me contou sua história, sua proposta. Seu desespero parecia real e alguns de seus movimentos me davam nervoso também. Eu já não sabia o que fazer. Fiquei quieto por um momento, coloquei as mãos em meu bolso e olhei para cima. Com as mãos ali dentro percebi que estava zerado, praticamente pobre, tendo apenas um pouquinho para comer.
Eu precisava de dinheiro, definitivamente. Apesar de achar suspeito essa ideia de plantas eu olhava para o senhor de lado com apenas um dos olhos aberto e pensava na situação.
_ Bom... Nunca escoltei alguém assim antes. Mas você esta certo de que irei por este caminho. Pode me ser uma boa experiência. Pra ser sincero estou quebrado, um trabalho não cairá mal. _ Levantei o braço e o estendi até que minha mão alcançasse a nuca, fechando os olhos e abrindo o sorriso amarelo _ Temos um trato, seu Pete. Eu me chamo Mahiro, prazer!
Talvez não saiba em que estou me metendo. Growlithe percebia isso e não retirava os olhos mais daquele senhor. Seus movimentos de nervosismos chamavam bastante a atenção do canino, aliás, ele parecia estar procurando alguém, como se estivesse sendo vigiado. Aquilo me fazia olhar para os lados também porém não enxergava nada.
Growlithe estará para fora da pokébola. Sei que se algo estiver realmente nos seguindo ele irá rastejar uma diferença de odor ou então usar de sua audição para ouvir dos mínimos ruídos, ou assim espero. Seguro ou não decidi continuar e não me preocupar com o pior. Meu objetivo é fazer dessa jornada uma experiência agradável.
_ Então? Vamos?

Mesmo ainda desconfiado com as ações daquele vendedor, Mahiro acaba sucumbindo á promessa de uma recompensa em dinheiro. E não era por menos, já mal tinha dinheiro para se alimentar direito, e bem sabe ele que uma vida de treinador, além de emocionante, é também custosa. Além do mais, qualquer coisa que aquele homem fazia estava sendo vigiada pelo fiel Growlithe daquele treinador, que ainda achava Pete muito suspeito.

Com a aprovação do treinador, o mercante ficou visualmente feliz. Uma parte do estresse dele sumiu, mas ainda havia um pouco de nervosismo na fala dele:

- É sério?! Obrigado! Foi realmente muita sorte a minha de ter encontrado um treinador jovem e bem disposto ainda pela estrada! Pode deixar, você não vai se arrepender dessa escolha!

Após algum tempo para se preparar, Mahiro e Pete voltam a seguir em frente, com o cão de fogo á frente, escoltando aquelas duas pessoas. Sua habilidade Intimidate fazia com que pokémon mais fracos mantivessem distância daquele cachorro. Era uma excelente habilidade para impedir encontros desnecessários e batalhar apenas com aqueles que achavam ser fortes o suficiente para lutar contra ele.

Não foi preciso muito tempo para ver aquela habilidade fazendo efeito. Do lado esquerdo deles, entre várias árvores, um arbusto se remexe brevemente, e dele salta algo numa velocidade impressionante. O raio seguia até bater no chão, dando visão a uma espécie de cachorro. Ele era verde, com uma cabeça e cauda em um formato similar á relâmpagos. havia ainda uma listra amarela que iniciava na ponta de seu focinho e se estendia até o fim de sua nuca. Ele parecia estar cheio de energia elétrica, já que faíscas de eletricidade saiam em alguns momentos de seu corpo. O animal, olhando para os dois, começa a latir para eles, os latidos era finos, que, na cabeça daquele bicho, deveriam servir para assustar, mas de nada serviam além de poder ser um motivo de risada.

Disposto a não deixar isso barato, o Growlithe late de volta, de maneira muito mais alta e estridente. Intimidado com a réplica do outro cão, aquele pokémon para de latir e some pelo mesmo arbusto que apareceu, terminando de forma abrupta o encontro.

Tudo parecia bem agora. Ninguém se machucou no final. Porém, antes que esquecessem aquele encontro e fossem embora, um flash de luz passa pelo canto do olho de Mahiro. Olhando para dentro da floresta, o treinador começa a olhar para ela, tentando encontrar a fonte daquela luz repentina. Por alguns instantes não parecia haver mais nada, então, outro flash! Era uma luz diferente do habitual, era uma luz amarela, como se houvesse uma pequena descarga elétrica concentrada em um pequeno local, basicamente um ponto de luz que aparece por uma fração de segundo.

Então, um pouco mais ao lado daquela primeira aparição, mais um flash. Ainda mais a direita, mais um flash. A frequência daquelas pequenas aparições começam a aumentar. Seja lá o que estava ali parecia ter companhia. Pete, após algum tempo, começou a olhar também para aquela mesma floresta. Assustado, ele dá alguns passos para trás.

Diante daquele estranho fenômeno, qual seria a reação de Mahiro?