Pokémon Mythology RPG
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[01] Após a tormenta

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Pelo menos Yoshiro ainda tinha energia para tentar desvendar aquele enigma, e o fazia com um sorriso no rosto. Eu honestamente já nem me lembrava de como ele terminava… algo sobre um espelho zombador? Não, isso não parece certo… acho que vou ter que confiar esse desafio à minha humana. Ela até comentou o quão sortudos tínhamos sido por Arbok ter sido tão prestativa - a cobra não era obrigada a dizer nada além da direção que Yoshiro lhe pedira, e mesmo assim nos dissera tanta coisa. A garota parecia até meio… grata? Como ela podia sentir qualquer gratidão por alguém que tinha tentado nos devorar?

Bem, ao menos agora já estávamos longe de Arbok e do seu “ssssss” que doía em meus ouvidos. Essa é a notícia boa. A notícia ruim é que, seguindo na direção que a reptiliana indicou, tudo o que encontramos foi um beco sem saída. Seria plausível pensar que ela tinha mentido para nós… se as paredes ali não tivessem abandonado a cor verde que lhes era tão característica, abrindo espaço para um vermelho alaranjado, tão vibrante quanto aos folhas no outono. Criava um contraste interessante com o resto do labirinto, como se naquele local o verão, tão verdejante, abrisse espaço para o ciclo seguinte. E tudo aquilo convergia para um único ponto - a parede que demarcava o fim daquele corredor.

- Encontre a cerca rejeitada… - Minha treinadora murmurou, parafraseando início do enigma. Assenti, só podia ser aquilo. Uma parede destoante de todas as outras, separada das demais não apenas por uma cor, mas por toda uma estação. - Meninos, parece que achamos.

Ainda estávamos longe para ver se havia algo diferente naquela parede. Uma abertura, uma porta ou até mesmo um cogumelo - qualquer um dos três serviria. No entanto… Arbok tinha falado alguma coisa sobre grande esforço, não foi? Chegar ali tinha sido muito simples. Quero dizer, lógico que para mim não seria difícil, eu nem tive que caminhar. Yoshiro e Poochyena provavelmente não tinham achado o percurso tão fácil assim. Contudo, algo na minha consciência me diz que aquela cobra não teria dito “grande esforço” para referir-se apenas a uma caminhada…

- Sapphire, fique aqui um pouquinho, tá bom? Talvez eu precise das minhas mãos livres. - Ela me colocou no chão e andou até a parede no fim do corredor, seguida de perto por Poochyena. Eu não estava nada feliz por ter sido deixado de fora, mas pelo menos Yoshiro não tentou me colocar na Pokébola dessa vez.

Se essa foi a parte difícil, aposto que aquela cobra nunca andou em um deserto.

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A waterful start
Route 110


Os enigmas continuavam a ocupar a mente deles enquanto continuavam a andar. Yoshiro, como já dito, estava divertindo-se. Foi quando chegaram no até onde imaginavam ser a primeira parte do enigma. De fato, aquela parte da cerca viva era muito diferente do restante. Era como se não tivesse o vigor e força do restante. Uma falha no perfeito labirinto do Minotauro. Minotauro este que não aparecia já há um bom tempo.

Ainda assim, tinha sido muito fácil, não? Arbok havia citado esforço, coisas do tipo. Até então, não havia sido nada demais, já tinham enfrentado coisas piores que uma caminhada no Labirinto do Éden (tudo bem que, para um cobra, qualquer tipo de caminhada é meio complicado, mas ok). Mas bem, de qualquer forma, era uma barreira que estava na frente do trio. Aproximaram-se para checar melhor o que se passava ali.

Bem, ela cumpria seu papel de parede. Separava um espaço de outro, delimitando-os. Ainda assim, algo de estranho era notável ali. Só não poderiam dizer o que, ainda. Não, nada de cogumelos. Na verdade, era até estranho, não viam um deles já há muito tempo. Também não havia uma porta ou janela camufladas na vegetação outonal. Hmm... Curioso.

Podia não ser nenhum deserto escaldante, mas certamente teria sua dificuldade, tal como Arbok dissera. Eles apenas não tinham percebido o que era. Outro fato interessante a se ressaltar era que não parecia haver nada do outro lado... Como explicar? Desde que entraram no labirinto, a sensação que tinham era de estar no meio de um grande mar verdejante, que ia e vinha, seguia e voltava, virava e desvirava.

Mas ali... Era quase como se não tivesse nada depois daquela parede avermelhada. O próprio solo do qual a cerca emergia parecia mais pobre a exposto, como se escavado. Será que significaria alguma coisa? Yoshiro poderia conseguir alguma informação preciosa com base nisso. Não sei. Vejamos o que ela pode fazer.





PROGRESSO — HANAKKO :

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Eu definitivamente detesto ser deixado pra trás, mesmo quando é para o meu próprio bem. Estiquei-me o máximo que pude, mas ainda assim não consegui ver o que os outros dois estavam analisando com tanta atenção. Minha curiosidade só aumentou quando vi Yoshiro se abaixando, ao mesmo tempo em que Poochyena começava a farejar o chão. Tinha alguma coisa ali embaixo? Eu não podia ficar ali esperando que eles tivessem a boa vontade de vir me informar!

Levantei-me e andei até onde os outros estavam. Senti minhas pernas fraquejarem no início, mas forcei-as a obedecer, e teria chegado muito bem no fim do corredor se Poochyena, olhando mais para o chão do que para onde andava, não tivesse esbarrado comigo. Esse cachorro não facilita a minha vida… perdi o equilíbrio e rolei um pouco pra trás, até esbarrar em algo. Esse “algo”, aliás, era a perna da minha treinadora. Yoshiro me olhou, parecendo meio surpresa, provavelmente nem tinha notado que eu já estava em condições de andar.

- Ah, Sapphire, eu já ia te buscar… vamos precisar de você. - Obrigado por querer minha ajuda logo depois de ter me deixado de lado, Yoshiro. No entanto, sei que só estou sendo rabugento… minha humana me trouxe até aqui, carregou-me por tanto tempo mesmo também estando exausta. Prestar um favor era, àquela altura, o mínimo que eu poderia fazer por ela. Por isso, fiquei quieto, esperando que ela prosseguisse. Ao invés disso, o que fez foi remexer a mochila, procurando por algo. Um biscoito? Dessa vez, não. O que tirou de lá era totalmente distinto - um frasco arroxeado que eu imediatamente reconheci como uma Potion. A garota aplicou-a em mim e, em primeiro momento, senti os machucados que ainda estavam abertos arderem. Meu rosto turvou-se em uma careta de dor, contudo, felizmente o ardor durou pouco, e foi substituído por uma sensação refrescante que renovou as minhas forças. - Nossa, isso funciona mesmo…

Não a toa minha humana parecia tão surpresa com o efeito do remédio, eu me sentia muito melhor! Totalmente preparado para enfrentar outra toupeira, ou outra bola de gosma venenosa. Não que eu quisesse reencontrar qualquer um deles, claro. Mas por que será que Yoshiro não usou essa medicação em mim antes? Não acho que ela tenha simplesmente esquecido… mesmo quando penso que estou começando a entendê-la, sempre aparece alguma ação que não consigo explicar.

- Sapphire, consegue cavar um pouco esse chão? Acho que deve ter algo nele… um túnel ou coisa do tipo. - Ela franziu o cenho enquanto falava, provavelmente recordando-se dos desenhos e filmes nos quais havia visto situações semelhantes. Olhando para baixo, notei que o chão ali de fato era diferente, parecia mais pobre, como se escavado. Fazia sentido que ele escondesse algo. - Em baixa escala e grande esforço, terás vossa entrada.

Então o esforço era de cavar? Não era muito animador, principalmente com dois doentes na equipe. Se é que nosso estranho trio pode ser chamado de equipe. Assim que Poochyena começou a cavar, lançando areia para trás com grande facilidade, tanto ele quanto Yoshiro voltaram a espirrar, o cãozinho bem menos que a menina. Poochyena merecia ser dispensado do trabalho, embora não parecesse nada disposto a ficar de fora. Sei bem como ele se sente. No fim, apenas Yoshiro não participaria da escavação, a humana ficaria a uma certa distância para que a poeira não piorasse ainda mais sua gripe.

Ouvi minha treinadora murmurar baixinho que estava feliz por não ter que sujar as mãos e encher suas unhas de terra. Definitivamente não foi por isso que a deixamos de fora do trabalho difícil, mas tudo bem. Preferi só ignorar o comentário dela e me foquei na tarefa que tinha para fazer.

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A waterful start
Route 110


Os milagres da tecnologia moderna. A fatiga nunca deixou a curiosidade de lado, e não seria diferente com Sapphire, que mesmo cansado, aproximou-se para ver o que acontecia. Yoshiro aproveitou a situação para curá-lo com um dos itens que havia salvado da água marinha, um medicamento para fazer os pokémon sentirem-se melhores. Não era nenhum Centro Pokémon, claro, mas dava seu jeito.

Tendo suas forças restauradas, o aquático finalmente pôde analisar melhor o ambiente em sua volta. A treinadora parecia ter desvendado um trecho do enigma, e acreditava que cavar fosse a chave para sair daquele lugar. Arriscado, diria eu, mas ainda assim, extremamente perspicaz. Cavar. Por que não. Todo mundo adora deitar no chão e raspar a terra com suas unhas até que elas estejam completamente encardidas e quebradas!

Ok, ela não. Apesar de ter ficado para trás para não correr o risco de ser prejudicada pela escavação (afinal, mesmo não parecendo às vezes, estava doente), ela parecia mais aliviada por poder manter-se limpa que qualquer outra coisa. Não é como se eu pudesse julgar, provavelmente faria a mesma coisa.

Pois então o Mudkip e Poochyena passaram a melecar as patinhas na terra. Diria eu que o anfíbio até que gostava daquela sensação, como se uma afinidade latente com aquilo fosse percebida no âmago de seu ser. Estranho. Tenho certeza de que ninguém aqui saberia o por quê. De qualquer forma, Sapphire e o cãozinho ficaram revirando a terra marrom por algum tempo, até então sem nenhuma novidade.

Argh, por que tudo ali era tão frustrante?! Foi quando o pokémon noturno, visivelmente deprimido por não ter conseguido nada até então, começou a cavar com uma força e dedicação inequiparáveis. Chegou perto da cerca avermelhada, e logo estava com a cabeça completamente oculta na terra. E, no tempo de um piscar de olhos, já não estava mais lá.

É. Em um momento, Yoshiro podia ver sua cauda balançando no ar, no outro, o mamífero simplesmente sumira. Ela ouvira um som estranho, como o de algo caindo no chão, e depois, um latido. Parecia bem. Mas teria encontrado alguma coisa? Se sim, que coisa seria essa?





PROGRESSO — HANAKKO :

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Até que cavar era divertido. Embora eu nunca tivesse feito aquilo, estava gostando, podia até virar um hobbie. Mal reparei que o tempo estava passando e, por mais que nos esforçássemos, não tínhamos achado nada. Talvez Yoshiro tivesse errado e, no fim, não tivesse nada ali debaixo? Ora, mas não tinha outra possibilidade! Aquele local se encaixava perfeitamente no enigma que Arbok nos dera. É claro, sempre havia a possibilidade de aquela cobra ter mentido para nós… no entanto, essa chance era mínima. Ela não tinha razão nenhuma para fazer isso e realmente pareceu sincera quando falou conosco.

Se eu estava começando a ficar frustrado com a falta de resultado, Poochyena estava muito mais. Paciência não era mesmo o ponto forte dele. Desesperado para achar qualquer coisa, começou a cavar com uma força exagerada, espalhando terra pra todo lado e quase afundando a cabeça no chão. Parei o que eu estava fazendo para ir pedir que ele fosse mais devagar, já que tanta poeira com certeza o faria voltar a espirrar. Contudo, assim que tentei chegar perto do canídeo, tudo o que recebi foi areia na cara.

Poochyena, olhe pra onde joga isso!” Recuei uns passos no mesmo instante, balançando a cabeça para tentar tirar a terra. Aquilo me deu um nada agradável  déjà vu da minha batalha com Diglett. Se esse lobo não sabia o Sand-Attack antes, com certeza aprendeu depois dessa escavação toda. Eu estava prestes a reclamar de novo quando ouvi o som de algo caindo. Abri os olhos, ainda com a vista meio embaçada, e notei que ele não estava mais lá. “Poochyena?

Cheguei perto do buraco que ele cavara e vi Yoshiro vindo nessa direção também, parecendo tão confusa quanto eu com o sumiço do cãozinho. Minha humana suspirou aliviada ao ouvir o latido dele, mostrando que estava bem. Mas onde raios aquele lobo tinha ido parar? Provavelmente achou alguma coisa… se a teoria da minha dona estivesse certa, com alguma sorte encontraríamos algum túnel ou passagem ali embaixo. Bem, só há uma forma de descobrirmos.

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A waterful start
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Realmente, o cãozinho não era a existência mais dotada de paciência naquele mundo. Não que isso fosse de todo ruim, afinal, ele acabara descobrindo algo, não? Apesar de a tarefa de cavar, em si, não fosse difícil, era massante, quando não se viam os resultados. E Poochyena não gostava nada disso.

Então cavou e cavou, até achar, de fato, uma espécie de túnel subterrâneo. Eba. Não foi a experiência mais confortável para Sapphire, que acabou sendo acertado por alguns torrões de terra, mas ele podia lidar com isso, ainda mais por esta não ser sua primeira experiência tendo solo a ser jogado em sua face (sim, Diglett, foi para você).

Não é todo dia que cães aprendem a usar Teleport, então Yoshiro e seu inicial ficaram evidentemente confusos quando aquele sumiu. Talvez, ainda mais quando ouviram o mesmo latir... Abaixo deles...

O que?

Ah sim, o túnel subterrâneo. Esqueci que já havia citado-o. Ops. O pokémon noturno havia conseguido encontrar uma entrada para uma cadeia de túneis, e felizmente, não havia machucado-se na queda. Parecia ser bem extensa, quase como se cobrisse toda a área do labirinto. Provavelmente o Minotauro não ficaria muito contente ao saber que encontraram uma forma de evitar seus joguinhos no labirinto. Droga.

Mas bem, será que Yoshiro realmente escolheria ir para lá? Ela não sabia o que mais tinha lá, e era arriscado, não? Provavelmente, ela conseguiria encontrar um outro caminho também, mas será que valeria a pena? Eram muitos "será" para serem pensados... Mas de qualquer forma, Poochy estava lá embaixo.

Bem, não é algo que caiba a mim decidir. A treinadora, e apenas ela, seria capaz de decidir seu próprio futuro.





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No fim, tinha mesmo um túnel ali embaixo, e Poochyena conseguiu descobri-lo. Na verdade, não era um único, mas uma rede completa deles, interligando-se e entrelaçando-se de uma forma que lembrava muito os corredores que havíamos percorrido. Parecia muito extensa… será que cobria toda a área do labirinto? Não havia como ter certeza, mas provavelmente era daquilo que Arbok estava falando com “em baixa escala”. Se ela estivesse certa, aqueles túneis seriam capazes de nos levar ao coração do labirinto, ou seja lá como Yoshiro resolveu chamar. E, falando em na menina, ela devia estar bem orgulhosa de si mesma, desvendou a primeira parte do enigma sem problemas. Olhei para a minha treinadora, esperando vê-la com um sorriso vitorioso no rosto. No entanto, o que meus olhos encontraram não foi isso.

A garota estava parada na beira do buraco que o lobinho cavara, olhando para baixo em uma mistura de preocupação e desconforto. Contudo, esse desconforto não parecia ser causado pela descoberta. Ela estava com uma das mãos no pescoço, sem apertá-lo, como se estivesse de alguma forma tentando livrar-se de algum tipo de dor. Foi então que notei que, embora estivesse espirrando menos agora, Yoshiro vinha pedindo por água desde o nosso nada confortável passeio no deserto. Ela andou em um clima árido, comeu doces, fugiu de bestas mitológicas e percorreu aquele labirinto de uma ponta à outra… tudo isso sem uma só gota de água. Para mim e para Poochyena podia não haver tanto problema, somos mais resistentes, mas uma criatura tão frágil quanto um humano precisa de mais cuidados.  

Desculpe, Yoshiro, não tomei conta de você direito… Não havia sentido em verbalizar aquilo, mas ainda assim aquela constatação me deixou envergonhado. Eu devia ter notado que minha humana estava chegando ao limite… e, acima de tudo, deveria saber como ajudá-la. Yoshiro notou meu olhar sobre ela e abriu a boca para dizer alguma coisa, mas mudou de ideia e voltou a fechá-la. Para alguém que se tornava tão tagarela quando nervosa, ela estava anormalmente calada já há algum tempo. Não precisava ser nenhum gênio para notar o motivo… minha humana precisava de água. Mas onde raios acharíamos isso? Até a fonte que encontramos estava vazia!

Foi então que me lembrei da pergunta que Yoshiro tinha me feito logo após encontrarmos aquele ovo. Será que… meu Water Gun realmente dava para beber? Bem, se ela parecia desesperada o bastante para tentar antes, nem imagino como esteja agora… o olhar da garota mostrava a dor que ela não conseguia colocar em palavras, me senti mal por não ter dado mais atenção ao estado dela antes. Estar cansado pela batalha não era justificativa para não notar como minha parceira estava!

Sem mais escolhas, fiz o mesmo que havia feito no deserto: lancei meu Water Gun para cima. Dessa vez, formei um jato mais fraco, não queria encharcá-la, e me afastei o suficiente para não afetar a terra ao redor do túnel. Yoshiro arregalou os olhos ao sentir as gotas respingarem em seus cabelos e logo se aproximou mais de mim. A menina aproveitou-se da água para lavar as mãos e, em seguida, uniu-as formando uma espécie de “concha” que ela usou para recolher um pouco de água e levá-la à boca. Repetiu a mesma ação algumas vezes e, quando parou, interrompi meu Water Gun. Yoshiro não me disse nada, entretanto, o olhar agradecido que me lançou valeu mais que mil palavras. O rosto da treinadora, antes turvo de desconforto, estava mais tranquilo e o alívio era claro em suas feições. Definitivamente não era a situação mais confortável do mundo, mas suponho que qualquer coisa seja melhor que morrer de sede...

Se o momento fosse outro, eu ficaria refletindo sobre como Yoshiro teve sua vida alterada em um único dia. Quem diria que a garota mimada e de família rica de quem Daisuke tanto me falava, acostumada a ter do bom e do melhor, teria que se submeter a isso para sobreviver? Mas enfim, não havia tempo para tais divagações. Poochyena ainda estava lá embaixo, e nós tínhamos que escolher o que fazer: ou tirá-lo de lá, ou descer com ele. Não foi uma escolha difícil. Nos túneis, estaríamos percorrendo caminhos desconhecidos e possivelmente perigosos, mas sem Minotauro. No labirinto, estaríamos andando por caminhos igualmente desconhecidos e perigosos, mas com o Minotauro. Além disso, a parte subterrânea parecia se encaixar bem com o enigma de Arbok, o qual, no momento, era o nosso melhor guia. Seguir caminho por aqueles túneis era, de fato, a nossa melhor opção, e minha treinadora parecia ter percebido isso também.


Última edição por Hanakko em Sáb maio 23 2020, 21:26, editado 1 vez(es)

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A waterful start
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Cerca de cem horas. Esse é o tempo, aproximadamente, que seu corpo pode ficar sem água. Veja bem, mais de sessenta por cento de sua existência é composta por água. Esse fluido tão simples, mas ainda assim, tão precioso. Alguns dariam suas vidas, por mais miseráveis que sejam, por um copo deste néctar divino. E Yoshiro estava quase.

De fato, ela não era nenhum monstrinho que possui atributos de força e resistência previamente definidos, que são poderosos e capazes do inimaginável. A humanidade em si carece desta tal força. Coexistimos, vivendo nossas vidas em sociedade, seja por bem ou não. Construímos, criamos, incapazes de fazermos por nós mesmos.

Marginalizados, deixados de lado por nós próprios. A única força que nos levanta e faz seguir em frente é um sentimentalismo crente, seja este em si mesmo, em seu próximo, no mundo ou em uma divindade. Assolados por uma imensidão universal, grãos de poeira perdidos dentro de nosso próprio quintal.

Seguimos em frente, acumulando experiências, notando o saber e o não saber. Perdendo-nos em anseios e caminhos traçados por ninguém menos que nós. A mente mente, tão vasta e rasa. O tempo passa, apesar de não passar ao todo. Horas, minutos, suspiros e sorrisos. Preocupações trazidas e levadas. A incrível mágica de dar um passo em frente ao desconhecido, apesar de todas as inseguranças possíveis.

Sim, era esta a mágica que Yoshiro possuía. Sedenta e cansada, mas cercada por aqueles que, ouso dizer, amava. Ainda assim, não se queixava ou clamava. Não tendo controle sobre nada além de seu próprio corpo, e ainda assim, podendo perdê-lo a qualquer momento. Apenas acreditava, sentia, seguia.

Ato de amor, incandescente, apesar de úmido e gélido. Chuva fina, orvalho a cobrir a pele pálida cor de neve. Palmas fechadas, goles rápidos, quase desesperados. Luxúria e sonhos, nem sempre tão fáceis de conciliar. Pensamentos, atitudes, a tão estranha mente humana. Aventura emocionante e mitológica, ousada, irracional.

O silêncio que tudo fala, o olhar mútuo que decide. Uma decisão rápida, que provavelmente nada interferiria no funcionamento de um cosmo, apenas de um completo mundo desconhecido pela sociedade na qual viviam, um mundo que desbravavam e enfrentavam, um mundo que os perseguia.

...

É claro que haveriam encruzilhadas. Como em qualquer ocorrência em nossas vidas, havia mais de uma opção. A treinadora tinha várias destas, disponíveis para serem escolhidas. Seguir em frente, voltar (apesar de ela já não considerar mais essa última), ir à direta, esquerda... Ainda assim, retroceder no âmbito da caverna (ir para trás) parecia ser uma opção diferenciada. Afinal, as risadas vinham de lá.





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Encruzilhadas, encruzilhadas e mais encruzilhadas. Se no início Yoshiro tinha ficado decepcionada com a falta de bifurcações, agora ela não tinha do que reclamar: naqueles túneis subterrâneos, não havia nem traço de um caminho único como o que encontramos no começo do labirinto. Havia tantas opções que eu ficava tonto só de tentar ver qual parecia a melhor. Ou talvez essa tontura fosse por causa de Poochyena, que ficava correndo em círculos ao redor de Yoshiro e latindo, chamando-a pra brincar. Quanta energia cabia em um Pokémon tão pequeno?

Bem, pelo menos as risadas foram capazes de fazê-lo parar. O cãozinho virou-se no rumo de onde elas vinham, em algum ponto atrás de nós, e começou a rosnar. Eu não esperava ouvir aquele som ali embaixo… pelo visto, nossa passagem secreta não era tão secreta assim. Assim como da primeira vez, aqueles risos fizeram um calafrio percorrer meu corpo, eu não gostava da ideia de reencontrar aquele vulto… nem sequer sabíamos com o que estávamos lidando. No entanto, que escolha tínhamos? Era isso ou continuar perdidos. Assim como no deserto, certamente tinha alguma forma de sair desse labirinto, e eu estava convencido de que aquele vulto tinha alguma relação com isso. Encontrá-lo era nossa melhor alternativa.

Para seguir aquelas risadas, precisaríamos retroceder em direção a uma caverna. O caminho a partir dali deveria ser feito com muita cautela, é claro, não sabíamos o que nos aguardava naquele lugar. Olhei para Yoshiro, queria verificar como minha treinadora estava. Parecia bem nervosa, honestamente, mais que o normal. Pela primeira vez desde que a conheci, ela não parecia ansiosa em descobrir a origem de algum som que lhe chamou a atenção. Os olhos da menina, ao invés de focados no caminho a ser seguido com sua curiosidade costumeira, estavam fitando o chão, hesitantes. Depois de tudo o que havia acontecido, será que a menina finalmente estava começando a se questionar se ir até ali tinha sido uma boa ideia?

Bem, óbvio que não tinha sido. Todavia, agora que estávamos naquela situação, tínhamos que seguir até o fim. Esfreguei minha cabeça na perna da menina, como Poochyena geralmente faz para dar carinho, e, quando ela me olhou, tentei sorrir para acalmá-la. Nesses breves instantes em que nossos olhares se encontraram, pude ver que Yoshiro estava assustada. Era até preocupante quantas vezes o humor dela tinha mudado desde que nos envolvemos em toda essa confusão… mesmo tentando, ainda não a entendo bem. Não tenho a mínima noção de como a cabeça dessa humana funciona. E, para ser honesto, acho que nem ela mesma sabe.

Ei, vai ficar tudo bem. Você não está sozinha.” Ciente de que ela não conseguiria entender, tentei usar o tom de voz mais tranquilizante que pude. Em retribuição, a garota me dirigiu um sorriso tímido. Será que tinha conseguido interpretar ou só estava sendo educada? Difícil dizer. Bem, o fato era que precisávamos voltar a andar, tínhamos uma missão a cumprir. Descobrir a identidade daquele vulto… sim, eu sentia que isso nos deixaria mais próximos de achar uma saída daquele lugar. E, por mais insegura que minha treinadora possa estar, sei que ela seguirá conosco. Afinal, como acabei de dizer, ela não está só, e não deixaremos que algo ruim aconteça com essa garota.

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A waterful start
Route 110


Apesar de Poochyena continuar sendo aquela incansável máquina de correr, arfar e pedir carinho, os demais integrantes da trupe já não estavam mais tão animados. Yoshiro, outrora empolgada com a situação e oportunidade de desvendar aquilo tudo, parecia agora apenas cansada, com medo e muito, muito afim de ver uma cama.

De qualquer forma, o som de risadas tenebrosas não era o mais acolhedor possível. Ainda assim, ele representava uma mínima esperança para sair daquele lugar. Qual melhor aposta tinham eles senão seguir a voz risonha, assim como o enigma de Arbok? Pois é, Yoshiro, ninguém disse que seria fácil, mas acredito eu que ninguém imaginou que você iria passar por tanta coisa em tão pouco tempo.

Tempo. Uma medida fútil criada pela humanidade para tentar medir algo que não consegue. O presente, o passado, o futuro. Como podia-se ter tanta certeza sobre um e outro? O tempo é imortal, ironicamente, atemporal. Ele segue em seu fluxo, faça este sentido para nossas presenças mortais ou não. Ainda assim, uma boa pergunta a ser realizada era: há quanto tempo estavam ali, naquela loucura toda?

De qualquer forma, era tranquilizante saber que nenhum deles estava sozinho. A companhia que um fazia ao outro parecia ser tudo que os separava da insanidade completa. E como eu disse, as risadas não ajudavam. Resolveram ir para trás, então. Após andarem um pouco, pode-se notar alguns pequenos orifícios nas paredes do caminho que percorriam.

Ah sim, as paredes. Citei haver uma cadeia de túneis, não? Pois bem, e túneis costumam possuir paredes, normalmente de rocha, como até então. O curioso era que, após um determinado período de tempo, a rocha começou a ficar esburacada. Pequenos, de diâmetro curto, os buracos pareciam atravessar toda a rocha, era quase como se todos eles estivessem interligados.

E como qualquer coisa macabra que se preze, a coisa que produzia as risadas abusou disto. Afinal, por meio deles as risadas começaram a propagar-se. De cada buraquinho, parecia sair uma parcela da voz. Ensurdecedor. Confuso. Agoniante.

Ao mesmo tempo, o caminho que percorriam começou a elevar-se, da mesma forma que ficava mais... Molhado? Exatamente. Os sapatos da garota muito provavelmente enterravam-se no barro a cada passo que dava, definitivamente nada confortável. Era isto então. Desconforto. Eles desistiriam e voltariam para trás? Ou será que encontrariam naquilo tudo um sentido a mais...?





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Última edição por Renzinho em Seg maio 25 2020, 08:43, editado 1 vez(es)

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