Não sei muito sobre túneis, já que nunca tinha entrado em um antes, mas… é normal ter tantos buracos neles? Talvez seja só mais uma das bizarrices desse lugar. E, de alguma forma, aquela voz macabra conseguia se aproveitar disso. Era como se a risada se dividisse em cada um daqueles buracos, tornando impossível saber ao certo de onde ela vinha. O som parecia vir de todas as direções, misturando-se ao seu próprio eco em uma sinfonia caótica e ensurdecedora. Era de enlouquecer. Não estava fácil me concentrar no caminho à frente, aquelas risadas tomaram conta da minha cabeça assustadoramente rápido. Naquele momento, desejei que Poochyena começasse a latir ou que Yoshiro dissesse algo, qualquer coisa que pudesse me distrair daquilo.... no entanto, os dois estavam quietos.
Minha humana estava com ambas as mãos na cabeça, tampando suas orelhas com tanta força que seus braços chegavam a tremer. Uma das vantagens de ser a única ali com braços ao invés de patas, mas ainda assim era óbvio que aquele barulho estava afetando-a. Sempre que ele se tornava um pouco mais intenso, Yoshiro fechava os olhos e deixava escapar um lamento, parecia prestes a chorar. Poochyena não estava muito melhor, ficava tentando cobrir as orelhas com as patas, apenas para descobrir que não conseguia andar sem elas.
Eu nem sabia mais para onde estávamos indo, só continuamos seguindo em frente pelo que pareceu uma eternidade. A cada passo, só desejava que aquela algazarra insana acabasse logo. Aquela situação era tão desconfortável, roubou tanto minha atenção que demorei um pouco mais que o normal para perceber o aumento da umidade sob os nossos pés. Quando me dei conta, já estava com as minhas patas afundando em barro. Embora ficasse um pouco mais difícil de andar, não era nada que me incomodasse muito. Com certeza mil vezes melhor que aquelas risadas…
- Lama… tinha que ser lama…? - Pelo jeito, minha treinadora não concordava comigo, ela começou a choramingar mais alto conforme a lama ia ficando mais profunda. Por favor, Yoshiro, não tá na hora de começar a agir feito uma patricinha mimada… o barro parecia estar incomodando-a tanto quanto as risadas, estava tão atormentada que não conseguia raciocinar direito. Logo agora, ela não estava nem sequer se lembrando do enigma de Arbok.
Eu não tinha certeza de como ele era, e Poochyena, muito menos. No entanto… Yoshiro comentou sobre sons entrelaçados, não foi? E, na parte seguinte, tinha algo sobre lama também. Mas o que vinha depois? Era difícil pensar com aquele barulho todo, mas fiz meu melhor. Luz. Era isso? Onde raios encontraríamos luz em um túnel!? Nem sequer fazia sentido!
Não que alguma coisa aqui faça. Aquele lugar era insano, então tínhamos que jogar conforme as regras. E, por hora, a regra era aguentar aquilo tudo e seguir em frente, na esperança de que, com sorte, alguma luz seja achada. Se não desse certo? Bem, então teríamos que encontrar outra solução. Desistir não era uma alternativa, chegar ao coração do labirinto era a nossa maior chance de encontrar alguma saída.