#03 - Reincorporação

Funcionou. Quer dizer, o garoto conseguiu "dar um mijão" e com isso eu queria dizer, encontrar sinal.

Não foi difícil encontrar um lugar isolado, só não era fácil sair do meio da multidão. O ranger apanhou por nadar contra a maré, não propositadamente, claro, mas porque esbarrava nas pessoas que curtiam a festança. Mal sabiam elas que o baile estava comprometido com o guarda extremista. Se soubessem ia ter linchamento (?)

O problema surgiu quando Tyrant estava enviando a mensagem. Ele conseguiu clicar em "enviar" mas antes que pudesse mandar a localização como anexo, tanto ele quanto Eevee sentiam uma pressão lhes apertando o corpo com força, impedindo que a segunda ação fosse feita. Lembra daquele Machamp que avistou antes do baile começar de fato? Pois é, por algum motivo - que o ranger deixou escapar - ele tinha brotado por de trás do agente Torres, usando dois braços pra segurar o ranger, um para o Eevee e o outro carregando o aparelho de comunicação e a bolsa do rapaz. O Pokémon não estava com a melhor das expressões, então era melhor eles cooperarem.

Uma caminhada por entre a mata, circundando o evento, era feita com os dois ainda sendo carregados até que em instantes chegaram naquela tenda grande que ficava ao lado do palco. Um cara grandão abriu a tenda para que Machamp entrasse e lá Tyrant via o rapaz de antes, que tinha catucado seu ombro dando o aviso das imagens do festival. Não só ele, mas um homem mais velho que o restante dos jovens presentes, mas não acima dos 30. Ele tinha uma barba bem cuidada e algumas tattoos cobrindo um braço subindo até o pescoço. Ele usava cordões de prata e relógio de marca, fora o estilo street das roupas e os dreadlocks verde limão. Com ele havia uma mulher de mais idade, usando roupas mais confortáveis e quentinhas, que poderia ser a mãe dele, com exceção que a mulher era ruiva e o rapaz negro retinto.

- É esse? - O cara estiloso perguntava e o outro rapaz assentia. - Obrigado mano, pode pegar uma bebida por minha conta lá no bar. Pode nos deixar a sós com o ranger, por favor?

O rapaz passava por Tyrant com certo ódio nos olhos e voltava pra festa.

Aqueles que pareciam ser os gestores do evento assentiam para os seguranças, que soltavam Tyrant Torres, mas não sem antes tirar o cinto de pokébolas dele e reter com o Machamp, junto com a mochila e demais itens, por "segurança".

- Peço desculpa pelas maneiras, mas achei que se eles pedissem com educação você não viria. Senta aí pra gente trocar uma ideia. - pedia o mais jovem, já sentado numa cadeira confortável. A única de pé, fora o Pokémon lutador, era a moça que permanecia em silêncio e de braços cruzados.

- Que? - Ele gargalhava realmente achando graça. - Cara, cê ta bem?

O rapaz apontava pro frigobar e a senhora, de cara azeda para o ranger, ia pegar algo lá dentro, relutante. Ela tirava duas garrafas de água dali. Oferecia uma ao guarda Torres e a outra colocava diante do negro e ele continuou com o que interessava.

- Eu só quero saber o que um power ranger faz no meu festival vestido com o uniforme de trabalho... - agora ele já não parecia mais tão divertido e parecia aguardar uma resposta séria, sem gracinhas ou rodeios.

O rapaz bebia metade da água que estava em sua garrafa enquanto ouvia Tyrant falar. Sua expressão mudava durante alguns momentos, principalmente quando ele levava algumas delas pro pessoal.

- Por que você acha que não ligamos pra natureza? Só porque a gente não é capaz de montar um plano de cuidado ambiental não significa que eu tenho o interesse de prejudicar o meio ambiente. - Aparentemente alguém tinha ficado ofendido. - Rude da sua parte, mano!

Ele cruzava os braços e ficava encarando Torres com a cara fechada.

- Agora eu fico pensando que a sua visita, mesmo estando em missão, não é muito amigável pra você pensar que eu não te ouviria pra "resolver esse problema". Não sou nenhum mafioso ou agiota, não mano! Você nem me conhece, aliás, nem se deu ao trabalho! Só quero proporcionar boas experiências musicais e sensoriais pros meus parças que dividem esse gosto comigo.

Ele relaxava mais ao se explicar. Naquele momento algo apitava e ele pausava a conversa para ler uma espécie de pager e levantava, tendo que resolver alguma coisa, mas não sem antes terminar de lidar com aquele problema.

- Você não é uma espécie de técnico ambiental? Por que não faz uma sugestão de como resolver sem criar conflito? As vezes a forma mais fácil de resolver as coisas é na base da conversa. Vocês tão tão acostumados a usar a força que até esquecem os bons modos. Se me dá licença, eu sou o próximo a tocar. Cristina, da atenção pro garotão aí, mas ninguém ta liberado até eu terminar. Vai ter 2:30h pra bolar um bom plano com nossa gerente de infra-estrutura. Divirtam-se.

Ele saiu pela tenda e a mulher que sentava na cadeira diante do ranger, com cara de poucos amigos, e diferente do rapaz, não parecia empolgada em cooperar.

Tyrant tinha uma missão extra dentro da missão oficial que poderia desencadear o cumprimento de ambas as duas se cooperasse de forma pacífica,a final, NEM TUDO SE RESOLVE COM BATALHAS! Os treinadores de hoje em dia ficam achando que a vida é um game, quando na verdade é um eterno role-play. Enfim, eles eram deixados a sós, com o Machamp de olho, claro, e começavam a discutir algumas coisas que Torres achava necessário.

- É proibido consumo no transporte, pode provocar acidentes. Temos sacolas de lixo próximo da barraca de comida e bebidas, mas não é proibido trazer artigos de consumo próprio, sendo eles os responsáveis pelo próprio lixo. Não temos uma equipe pra isso, muito menos plano para evitar um problema que nem sabíamos ter.

A mulher ainda parecia relutante, mas ao ouvir a voz do rapper e dj nas enormes caixas de som conectadas ao palco ela suspirou e fez um esforço para tentar. Não pela natureza, muito menos pelo ranger, mas pelo rapaz.

- Talvez fosse interessante penar numa proposta de incentivo ao cuidado com o meio-ambiente. Consigo encaixar você num intervalo para falar com os jovens no baile, mas vai ter que ser... cativante e persuasivo. - ela fez as últimas palavras soarem como se ele não tivesse tais ferramentas para desempenhar a tarefa de conscientização ambiental.

- E...? - ela realmente esperou que ele continuasse.

Quando viu que esse era o GRANDE plano do ranger, deu até uma risada irônica, mas não se prolongou muito.

- Não acha que vou parar o festival pra você ir lá encima e dizer o que der na telha, não é mesmo? Faça-nos o favor e nos poupe de um desastre! Aqui - ela pegou um bloco de papel e caneta, entregando a ele - começa a rascunhar um roteiro e depois eu vou avaliar. E aí de você se resolver mudar o script.

Ela estava levando o "trabalhem juntos" a sério.